domingo, 5 de junho de 2016

Aula 14/2016 - Sobre a cultura do estupro


MATERIAL DA AULA

TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - MEDO TORNA ESTUPRO COLETIVO O ‘CRIME MAIS SUBNOTIFICADO’ NO PAÍS
Uma das poucas mulheres à frente de associações de delegados no país, a gaúcha Nadine Anflor, 39, diz que estupros coletivos como o registrado no Rio de Janeiro não são tão raros como se imagina. O medo dos vários agressores, diz, torna o crime o mais subnotificado entre as violências contra a mulher.
"Se a mulher tem medo de denunciar quando é estuprada por um, imagina por 30. Então, acho que a subnotificação é muito mais alta no caso dos estupros coletivos", diz, referindo-se ao caso da jovem de 16 anos estuprada por 30 homens no Rio.
Em entrevista à BBC Brasil, Anflor também defendeu a atuação de Alessandro Thiers, delegado afastado da investigação do delito após ser acusado de conduta inadequada e machismo. Para ela, Thiers não "pecou" ao dizer que estava investigando a existência do estupro e fez as perguntas "de praxe" nos depoimentos.
"Infelizmente, o combate à violência contra a mulher está dependendo muito da força de cada uma."
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
àBBC Brasil: O atendimento à jovem de 16 anos que foi estuprada por vários homens no Rio foi bastante criticado. O que falta para melhorar atender as vítimas de violência sexual?
àBBC Brasil: O estupro coletivo é um crime comum?
àBBC Brasil: No caso do no Rio, o delegado que primeiro assumiu a investigação foi criticado por perguntar à jovem se ela costumava praticar de sexo grupal. Como avalia a atuação dele?
àBBC Brasil: O delegado também foi criticado por, mesmo com vídeos e a palavra da vítima, não confirmar a existência do crime. Essa ponderação é correta?
àBBC Brasil: Quais são os principais problemas nas delegacias quanto ao atendimento dessas vítimas?
àBBC Brasil: Quais são as diferenças do atendimento?
àBBC Brasil: Há pouca atenção do Estado para o combate à violência sexual?
àBBC Brasil: Como vê aprovação da lei que aumenta a pena pelo crime de estupro? O que ainda falta fazer?
àBBC Brasil: Você define esses estupradores como "doentes". Os que participaram do estupro coletivo no Rio se encaixam nesse perfil?
àBBC Brasil: O exame de corpo de delito da jovem de 16 anos não mostrou sinais de estupro. A delegada Cristina Bento disse que o laudo é um indício importante, mas não essencial. Qual é a importância dele na investigação?

TEXTO 2 – O ESTUPRO
Uma em cada cinco mulheres será violentada sexualmente durante a vida. Será que a ciência pode explicar a mais repulsiva das agressões?
Cena 1 - (Paris, França):
Após brigar com o namorado, Alex decide voltar sozinha para casa no meio da madrugada. Diante de uma avenida de alta velocidade, ela resolve usar uma passagem subterrânea para pegar um táxi. No túnel escuro, ela caminha até ser surpreendida por um homem espancando um travesti. Alex fica paralisada, não sabe se tenta terminar a travessia ou volta por onde entrou. Os segundos de incerteza são cruciais e o homem a vê. E se interessa. Ela ainda tenta fugir. Mas é agredida, humilhada, estuprada e espancada quase até a morte.
Cena 2 - (São Paulo, Brasil):
Joana conhece Cristiano em uma festa. Eles dançam, trocam beijos e telefones. Alguns dias depois ela resolve passar na casa dele. Mas, em vez de curtir a garota, Cristiano, embalado por dois amigos, topa dividi-la em um "ménage à quatre". O plano parece simples. No meio da transa, os dois amigos sairiam nus de dentro do armário, tentariam participar da brincadeira e, quem sabe, convencê-la a transar com eles também. Mas Joana não gosta da idéia, resiste às investidas dos dois intrusos, tenta se desvencilhar, grita, apanha, mas não consegue evitar - é estuprada pelos três ao mesmo tempo.
Cena 3 - (Freetown, Serra Leoa):
Forças rebeldes invadem a cidade. A apenas 40 quilômetros dali, a pequena vila de Mamamah é alvo fácil dos revolucionários, que executam a maioria dos moradores e raptam as adolescentes. Mariatu, de apenas 16 anos, é pega após seus pais serem mortos. É estuprada repetidas vezes por todos os homens do grupo. Dezenas de garotas da tribo têm o mesmo destino. Quando tenta resistir, Mariatu é punida com jejum e espancamento. É forçada a acompanhar as forças rebeldes e eventualmente vira "esposa" de algum deles. Quando engravida, é abandonada.
Os exemplos que você acabou de ler foram retirados, respectivamente, dos filmes: Irreversível e Cama de Gato e do site da Anistia Internacional. Seja no cinema ou nos apelos das organizações humanitárias, o relato é da mesma situação cruel, fria e revoltante que atinge milhões de mulheres - segundo a Organização Mundial da Saúde, uma em cada cinco mulheres foi ou será estuprada. São agressões cometidas por maridos, namorados, amigos. Por estranhos que não fazem distinção entre mulher bonita ou feia. Por soldados e rebeldes em situações de guerra. Mas por quê? Como a ciência explica esse comportamento que existe desde os primórdios da humanidade e nos deixa em condições tão próximas da de animais? Selecionamos alguns dos principais tópicos dessa discussão.
Por que alguns homens buscam sexo forçado?
Estuprar é da natureza humana?
O que um estuprador tem de diferente?
Todos os tipos de estupro são iguais?
Os casos de estupro no reino animal
TEXTO 3 – 7 NOTÍCIAS SOBRE ESTUPRO PARA DESFAZER TEORIA DE QUE 'A CULPA FOI DELA'
Após a denúncia de que uma jovem de 16 anos foi estuprada por mais de 30 homens no Rio de Janeiro, comentários em notícias e nas redes sociais questionam se a adolescente não poderia ter evitado o crime de que foi vítima.
De alguma maneira, a ideia é compartilhada por 58,5% dos brasileiros, segundo pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgada em 2014. A maioria dos entrevistados concordou total ou parcialmente com a afirmação de que "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros".
O UOL listou algumas notícias sobre casos ocorridos em todo o Brasil contra mulheres que estavam na escola, na universidade, no médico, a caminho do trabalho, ou que foram violentadas por parentes ou conhecidos.
Em outro estudo do Ipea, a partir de dados de 2011 do Sinan (Sistema de Informações de Agravo de Notificação do Ministério da Saúde), estima-se que no mínimo 527 mil pessoas são estupradas por ano no Brasil.
Relembre alguns casos de estupro
Dentro da escola
"Por que você fez isso? Não sabe o lixo que estou me sentindo." É assim que uma estudante de 12 anos falou com um dos três adolescentes que a teriam agredido dentro do banheiro de uma escola estadual, no Jardim Miriam, na zona sul de São Paulo, em maio de 2015. "Vocês acabaram comigo. Infelizmente, eu nunca mais vou esquecer isso", disse a jovem.
Dentro da universidade
Uma estudante da USP foi estuprada durante uma festa da Faculdade de Medicina. A vitima diz ter desmaiado após ingerir uma bebida oferecida pelo réu. "Ele tampou minha boca e pegou parte do nariz. Não respirava direito", contou. O aluno de medicina a levou para a Casa do Estudante, residência universitária, e a violentou. O caso aconteceu em 2012, mas só foi levado à Justiça em 2015.
No consultório médico
Um nutrólogo foi preso em Florianópolis acusado de estuprar 14 pacientes nos últimos três anos. O médico tocava as costas e os seios das pacientes com argumento de examiná-las, mas, em seguida, forçava beijos e carícias. Algumas mulheres conseguiram escapar, outras foram dopadas e estupradas no consultório, segundo as informações da polícia.
Na casa do tio
Uma criança de sete anos foi estuprada pelo tio, no sertão de Pernambuco. De acordo com a Polícia Militar, os pais da menina informaram que a criança saiu para brincar na casa do acusado que seria marido da tia dela. Um pouco depois a criança teria voltado sangrando. O acusado seguiu atrás da garota afirmando que ela teria menstruado. Após ter sido levada para o hospital foi constatado o estupro.
Perto do trabalho
Uma guarda municipal foi esfaqueada durante uma tentativa de estupro no Rio de Janeiro. A jovem de 29 anos foi atacada pela dupla, que chegou em um carro e fez a abordagem perto do quartel general da guarda, em São Cristóvão, zona norte da cidade. A vítima foi levada para uma região de mata e, ao reagir, levou duas facadas nas costas - uma perfurou o pulmão.
Pelo padrasto
Maria Alice Seabra, 19, foi sequestrada, estuprada e morta pelo padrasto, o auxiliar de pedreiro Gildo da Silva Xavier, 34. Ele confessou ter forçado a vítima a beber Rupinol (medicamento usado para aplicar golpes como o "boa noite Cinderela"). Após espancar Maria Alice, ele a colocou no banco de trás do veículo e tentou estrangulá-la com o cinto de segunça. Em seguida, decidiu estuprá-la ainda dentro do carro, às margens da BR-101 Norte, próximo ao bairro de Paratibe, em Paulista
Por um policial
Um policial militar de 39 anos, do 17º Batalhão da PM do Rio. O cabo é acusado de sequestrar e estuprar uma mulher de 21 anos, na zona oeste do Rio. Ele chegou a ser detido, mas não foi algemado e conseguiu fugir enquanto a ocorrência era registrada, embora houvesse seis policiais civis na delegacia.

TEXTO 4 – “DROGAS DO ESTUPRO” ESTÃO CADA VEZ MAIS DISSEMINADAS
Existem mais de 90 substâncias usadas por agressores para subjugar as vítimas
Em um momento de descuido, Talita (nome fictício), 23, notou que não estava normal. Era um show de rock em São Paulo, há três anos. Ela se sentiu tonta, sonolenta e não conseguia falar. A última coisa de que se lembra é de um desconhecido perguntando se ela estava bem. No outro dia, Talita acordou sozinha em um quarto de motel. Com dores pelo corpo, tinha certeza de que tinha sido violentada, mas não se lembrava por quem, nem como.
Assim como boa parte das vítimas de violência sexual no Brasil, ela não prestou queixa por medo dos julgamentos. Neste mês, o caso do estupro coletivo da adolescente carioca de 16 anos, filmado e publicado nas redes sociais, chocou o país. Casos como esses são frequentes no Brasil e na América Latina, onde mulheres e adolescentes são dopadas para não reagir a um estupro.
Em Minas, de janeiro a maio, mais da metade (54%) das vítimas de violência sexual tinham menos de 18 anos – 438 pessoas foram estupradas no período no Estado. Em São Paulo, de janeiro a abril, houve ao menos um caso por dia de estupro de vulnerável.
A delegada Luciana Libório, da Delegacia Especializada no Combate à Violência Sexual, afirma que esses casos são frequentes. “Chegam à delegacia denúncias em que a vítima acredita que tenha sido drogada. Nessas ocorrências, pedimos um exame toxicológico feito pela Polícia Civil por meio da coleta da urina da vítima para verificar se há algum indício de drogas. Com a confirmação, podemos falar de estupro de vulnerável”, explica.
As substâncias usadas por agressores para deixar a vítima vulnerável são conhecidas como “drogas do estupro”. Geralmente sem cor, gosto e cheiro, agem no sistema nervoso central e deixam pessoa sonolenta e inconsciente. A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou recentemente sobre o crescimento rápido dessas drogas e o surgimento de outras substâncias do tipo. Segundo a entidade, remédios utilizados em prática de violência sexual são de fácil acesso.
De acordo com o médico André Valle de Bairros, professor de toxicologia clínica da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mais de 90 substâncias podem ser utilizadas com o intuito deixar a vítima incapaz de reagir. “As drogas do estupro mais comuns no mundo são álcool, GHB (ácido gama-hidroxibutírico ou ‘ecstasy líquido’), flunitrazepam (Rohypnol) e quetamina. Entretanto, existem outras que, misturadas ao álcool ou ingeridas em grandes quantidades, são capazes de gerar uma submissão química da vítima, como, por exemplo, os anti-histamínicos, como a difenidramina (Dramin)”.
...
O velho clichê de “tomar conta do seu copo em festas” serve como prevenção, pois as drogas do estupro precisam ser ingeridas para surtir efeito. Embora a cultura do estupro possibilite casos como de Talita, de Diana e da garota do Rio de Janeiro, o cuidado é fundamental.
Já para a indústria farmacêutica, a ONU recomenda que medidas de segurança sejam desenvolvidas (por exemplo, adicionar cores e sabores a essas drogas). Entretanto, isso ainda não é feito. (MA)

TEXTO 4 – Dados nacionais sobre violência contra as mulheres
Apesar de ser um crime e grave violação de direitos humanos, a violência contra as mulheres segue vitimando milhares de brasileiras reiteradamente: 38,72% das mulheres em situação de violência sofrem agressões diariamente; para 33,86%, a agressão é semanal. Esses dados foram divulgados no Balanço dos atendimentos realizados de janeiro a outubro de 2015 pela Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR).
Dos relatos de violência registrados na Central de Atendimento nos dez primeiros meses de 2015, 85,85% corresponderam a situações de violência doméstica e familiar contra as mulheres.
Em 67,36% dos relatos, as violências foram cometidas por homens com quem as vítimas tinham ou já tiveram algum vínculo afetivo: companheiros, cônjuges, namorados ou amantes, ex-companheiros, ex-cônjuges, ex-namorados ou ex-amantes das vítimas. Já em cerca de 27% dos casos, o agressor era um familiar, amigo, vizinho ou conhecido.
Em relação ao momento em que a violência começou dentro do relacionamento, os atendimentos de 2014 revelaram que os episódios de violência acontecem desde o início da relação (13,68%) ou de um até cinco anos (30,45%).
Dos 4.762 homicídios de mulheres registrados em 2013, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo a maioria desses crimes (33,2%) cometidos por parceiros ou ex-parceiros. Isso significa que a cada sete feminicídios, quatro foram praticados por pessoas que tiveram ou tinham relações íntimas de afeto com a mulher. A estimativa feita pelo Mapa da Violência 2015: homicídio de mulheres no Brasil, com base em dados de 2013 do Ministério da Saúde, alerta para o fato de ser a violência doméstica e familiar a principal forma de violência letal praticada contra as mulheres no Brasil.

TEXTO 6 – TIRINHA


Aula 13/2016 - Crise na Venezuela



MATERIAL DA AULA

TEXTO 1 – Fato motivador - Maduro deixa a Venezuela entre o caos e a ditadura
Talvez seja tarde demais para evitar que colapso econômico, político e social leve o país à convulsão nas ruas ou a uma aventura autoritária.
“Esse governo vai cair!”, entoavam centenas de manifestantes ao longo da Avenida Libertador, no centro de Caracas. Seu avanço era contido por tropas da polícia, da guarda nacional e do temido Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), que estavam ali para garantir que a ameaça não se concretizasse. Pairando alguns metros acima da cena, via­se o retrato enorme de um sorridente Hugo Chávez.
O objetivo dos manifestantes na quarta­feira, assim como em duas outras ocasiões este mês, era marchar até a sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE). O órgão, supostamente independente, mas claramente comprometido com o governo chavista, vem adiando a validação das assinaturas que integram o pedido de referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro, entregue pela oposição venezuelana há algumas semanas.
Com todas as vias de acesso bloqueadas, os manifestantes não tinham como se aproximar do CNE. Então, um pequeno grupo conseguiu furar o cordão de isolamento e partiu para cima dos policiais, fornecendo a desculpa de que as autoridades precisavam. Com uma série de disparos ensurdecedores, bombas de gás lacrimogêneo choveram sobre a multidão. Pelo menos 18 pessoas ficaram feridas e 26 foram detidas no confronto.
Pamela, uma agrônoma aposentada, já na casa dos 70 anos, estava do lado de fora de sua residência, que fica na avenida, exibindo um pequeno cartaz feito à mão, com os dizeres: “Maduro, renuncie já!”. Com lágrimas nos olhos, ela foi se refugiar dentro de casa. “Isso me corta o coração”, disse.
Para o regime, o saldo do dia talvez pareça positivo. As manifestações não foram gigantescas. Os mais pobres ainda não desceram dos “barrios” para exigir a saída do presidente. Mas também entre a população de baixa renda a insatisfação é grande – e o governo está preocupado. Segundo levantamento recente, quase 70% dos venezuelanos querem que Maduro deixe a presidência neste ano, desejo intensificado pela deterioração das condições de vida, que, impulsionada pela incompetência do governo, atingiu níveis assustadores. A economia venezuelana vive a pior recessão em todo o mundo.

TEXTO 2 – Entendendo a crise e a Venezuela
O PAÍS
Localizada no norte da América Latina, a Venezuela é conhecida por sua indústria de petróleo, além da biodiversidade e recursos naturais abundantes. Antiga colônia espanhola, o país tornou-se independente em 1813. Atualmente, está entre as nações mais urbanizadas da América Latina. A população é de cerca de 30 milhões de pessoas e o PIB (produto interno bruto) em 2013 chegou a US$ 408,8 bilhões. A maioria dos cidadãos vive nas cidades do norte, especialmente na capital Caracas, maior município venezuelano.
ECONOMIA
Há mais de uma década, a economia venezuelana sofre com a inflação mais alta da região (chegou a 56,2% em 2013). Ainda em 2003, o governo de Hugo Chávez (presidente de 1998 a 2013) adotou medidas como congelamento de preços da cesta básica e controle cambial, a fim de frear a saída de recursos do país e aumentar os preços. No entanto, tais medidas tiveram alguns efeitos colaterais como o desabastecimento - em supermercados e no comércio -, além do surgimento do mercado negro (tanto de mercadorias, como de câmbio), o que agravou a situação. O endividamento do governo chegou a 51% do PIB e a dívida pública externa oficial está em US$ 107 bilhões, sem contar a dívida da PDVSA (estatal de petróleo e gás), uma conta que pode chegar a US$ 140 bilhões.
VIOLÊNCIA
Com uma das taxas de homicídio mais altas do mundo em 2014, a violência é uma das causas da revolta da sociedade venezuelana, que reclama também da impunidade aos infratores. Além disso, cidadãos apontam as milícias armadas como parte responsável pelo atual cenário.
Desde fevereiro de 2014, a população está nas ruas e se divide entre apoiadores e opositores do atual governo de Nicolás Maduro, que tenta frear os protestos e alega que sua administração estaria enfrentando uma “tentativa de golpe de nazifascistas”.
GOVERNO CHAVISTA
Seguidor de Hugo Chávez e sua política de esquerda “bolivarianista”, Nicolás Maduro era ministro das Relações Exteriores de Chávez e já havia sido presidente interino da Venezuela, quando o mesmo se licenciou para tratamento médico em dezembro de 2012.
Após a morte de Chávez em março de 2013, Maduro foi eleito com 50,66% dos votos em 14 de abril do ano passado, derrotando Henrique Capriles – governador do estado de Miranda e também candidato da oposição na eleição anterior contra Hugo Chávez, em outubro de 2012 – e assumiu o governo cinco dias depois, em 19 de abril. Sob o comando de um país em crise, com produtos escassos, escalada da violência e descontentamento da sociedade, Maduro tem dificuldades de dar continuidade ao regime de seu antecessor.
PAÍS POLARIZADO
Desde a primeira semana de fevereiro de 2014, Maduro tenta controlar protestos que ocorrem em diversas regiões do país. Sem a simpatia e força política de Chávez para unir políticos, movimentos sociais e as Forças Armadas em prol da "revolução bolivariana", Maduro se juntou aos grupos mais conservadores do chavismo. A própria oposição também está dividida. De um lado, líderes como Leopoldo López desconfiam de instituições chavistas e querem a saída do presidente. De outro, moderados como Henrique Capriles acreditam na alternativa eleitoral. A forte polarização na Venezuela gera sensibilidade política e reforça o cenário de crise atual.
O INÍCIO DOS PROTESTOS
Insatisfeitos com a insegurança e a deterioração econômica, alguns estudantes da cidade de Táchira, oeste da Venezuela, saíram às ruas para exigir mudanças no começo de fevereiro. Mas, o que começou como uma manifestação pacífica se transformou em um duro confronto com a polícia. Jovens foram presos por desordem pública. Após este episódio, o movimento estudantil convocou uma manifestação em apoio aos colegas detidos. A oposição decidiu também aderir à causa. No dia 12 de fevereiro, a situação piorou. Manifestações foram realizadas em diversas cidades da Venezuela. No mesmo dia, o próprio governo convocou simpatizantes para um movimento em comemoração ao Dia da Juventude, data cívica venezuelana que marca uma batalha da guerra de independência. No fim daquele dia, quando a maioria dos manifestantes já havia deixado a mobilização, homens em motocicletas abriram fogo: dois estudantes e um simpatizante do governo morreram e o número de feridos ultrapassou os cem, segundo agências de notícias.
INTERNET: MAIOR DIFUSOR DE INFORMAÇÕES
Depois do dia 12, com a morte de 3 manifestantes, a Venezuela entrou num período de forte enfrentamento entre oposição e apoiadores do governo. A internet tem sido um dos principais meios de divulgação dos protestos – e também das mortes ocorridas em mais de dois meses de manifestações. Foi por meio das redes sociais que os venezuelanos puderam dar continuidade às ações nas ruas. Na véspera do Oscar, por exemplo, uma campanha mobilizou estrelas de Hollywood para fazer referências à crise Venezuela durante a cerimônia. O ator Jared Leto (vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante) pediu paz ao país latino-americano. "A todos os sonhadores do mundo que estão vendo isso essa noite, quero lhes dizer: Venezuela, estamos aqui por vocês", disse em seu discurso.
SALDO DOS CONFRONTOS
Em dois meses, os protestos deixaram 39 mortos ( 31 civis), 650 feridos, 1322 detidos. Além disso, a Procuradoria Geral do país investiga 102 casos de violação dos direitos humanos, dos quais 95 são por tratamento cruel, 3 por homicídio consumado, 2 por tortura e 2 por homicídio frustrado.

TEXTO 3 – Na Venezuela, a militarização avança
"O Equador é um convento, a Colômbia é uma universidade, e a Venezuela é um quartel." A frase, atribuída ao herói da independência sul-americana Simón Bolívar (1783-1830), continua valendo cerca de dois séculos depois.
Sempre parece haver motivo para evocar tais características supostamente dominantes no perfil desses países. A Venezuela, por exemplo, passa há 15 anos por um processo de militarização, indicando que Bolívar tinha razão.
"Já faz um século que o Exército exibe um alto nível de organização. Se agora consegue se fundir com o partido do governo – o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), o grupo político mais forte atualmente –, será muito difícil saber ao certo quem detém as rédeas do país: os civis ou os uniformizados", diz o especialista Víctor M. Mijares, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), salientando que a fusão cívico-militar é o objetivo da elite chavista.
Neste ano, várias iniciativas da ala "bolivariana revolucionária" apontaram para essa direção: a militarização das operações para reprimir os protestos contra o governo; a criação da Brigada Especial contra as Atuações dos Grupos Geradores da Violência (BEGV), com objetivos similares; o incentivo à vigilância e à delação entre cidadãos mediante a figura do "patriota cooperativo"; a decisão judicial que aprovou a participação dos militares em atos político-partidários e a promulgação de uma nova lei de alistamento militar.
O serviço militar é obrigatório para pessoas físicas e jurídicas – entre os 18 e os 60 anos – e não tolera objeções de consciência. Quem não se inscreve não pode tirar carteira de motorista nem receber título universitário ou posto de trabalho no setor público ou privado. "Se impõe, assim, a noção de cidadão combatente, subordinado, sem possibilidade de dissidência, à figura do presidente, que é comandante das Forças Armadas", diz o especialista Ivo Hernández, da Universidade de Münster.
"A isso se soma a pretorianização [militarização] do Exército, sua instrumentalização para alcançar as metas de um regime, como se faz nas ditaduras. Como se isso não bastasse, com a ajuda do regime castrista em Cuba, cruzar a informação proporcionada por esse novo alistamento militar com a de outras bases de dados permitirá ao governo venezuelano saber quem é quem, o que faz com determinadas pessoas, onde, quando e para quê. E isso propicia um controle quase total sobre a população. É uma situação muito grave", acrescenta Hernández. O especialista considera que, para os venezuelanos, isso significa a perda da condição de cidadãos. "O que militariza uma sociedade não a civiliza."

TEXTO 4 – E no Brasil?
Sem perspectiva de solução, a crise política e econômica na Venezuela deveria preocupar o governo brasileiro pela possibilidade de um desenlace violento e caótico, com agudos efeitos sobre os países vizinhos e a região.
Durante 16 anos, o “socialismo bolivariano” interveio de forma crescente na economia, expropriou bens, controlou preços e câmbio, a corrupção se ampliou, a violência e a criminalidade aumentaram exponencialmente. A capacidade produtiva do pais está seriamente afetada, com exceção do setor de petróleo, apesar de crescentes problemas. A queda do preço do petróleo — que poderá se acentuar com o acordo com o Irã — e o crescente custo de produção reduziram a principal fonte de recursos do governo. Esse quadro se deteriorou ainda mais com Maduro, pela crescente escassez de alimentos, desvalorização da moeda, inflação galopante (estimada em 189% em 2015) e crescimento negativo (cerca de 7%).
O Brasil já sente as consequências da crise: o intercâmbio comercial está em queda em virtude das restrições cambiais e companhias brasileiras, inclusive as construtoras, não estão sendo pagas. No âmbito do Mercosul o governo do PT terá de se posicionar, se houver “ruptura da ordem política”, e aplicar a cláusula democrática, com a suspensão da Venezuela do Mercosul. Recentemente duas comissões de parlamentares brasileiros visitaram Caracas: uma, integrada por representantes da oposição, foi impedida de sair do aeroporto; outra, formada por representantes da base de apoio ao governo do PT, produziu um relatório dando conta da total normalidade da situação política e econômica no pais...
Nesse cenário, o governo brasileiro — que mantém, por afinidade ideológica, firme apoio ao socialismo bolivariano — deveria preparar-se para as possíveis implicações sobre nossos interesses. A crise, que parece se avizinha, terá de ser enfrentada levando em conta a defesa da democracia e dos direitos humanos. Mais cedo do que se espera, a política externa do governo do PT vai ser testada pelos acontecimentos na Venezuela.

TEXTO 5 – algumas imagens
  



TEXTO 6 – Cinco retratos da deterioração da qualidade de vida na Venezuela
1. A luz é cortada diariamente
Na Venezuela, há um Comitê de Afetados pelos Apagões, que registrou 8.250 cortes de luz nos últimos três meses em todo território.
Não há números oficiais sobre as interrupções de energia, mas o governo oficializou nesta semana o racionamento em residências, setor público, centros comerciais e escolas em todo o país (exceto Caracas, que é protegida contra falhas de energia).
2. A água que vem fraca, suja e malcheirosa
Em relação aos cortes de água, que também tornaram-se frequentes em todo o país, não há comissão envolvida, mas ao contrário da situação elétrica, o problema atinge Caracas - e com mais intensidade nos últimos dois anos. Como parte da paisagem dos bairros populares do país, às antenas de TV por satélite que estão em cada casa foram acrescentadas tanques azuis em quase todos os telhados.
3. A angústia de que o dinheiro não dê
Muitos venezuelanos sabem o que é bom: o que é passar - e repetir - férias em família em um resort com tudo incluso.
Mas com a inflação, que neste ano se tornou hiperinflação, o venezuelano teve que sacrificar idas a restaurantes, viagens de táxi e a carne e o peixe da dieta.
4. A interação social é cortada
E não há nada mais sagrado para o povo venezuelano que suas relações: a interação com família, amigos ou colegas é uma atividade prioritária no país. É por isso que falam tanto ao celular.
5. Medo de morrer
Mas, além de isolado nas comunicações, os venezuelanos foram trancados por medo de que ocorra uma daquelas histórias de desmembramento, sequestros ou massacres que se ouvem por aí. As noites em áreas de classes média e alta em todo o país tornaram-se um deserto.


Aula 12/2016 - FEMINISMO




MATERIAL DA AULA

TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Como o feminismo virou 'tendência' (e por que deveríamos dar importância a isso)
O que todas essas celebridades têm em comum além de serem mulheres famosas? Nos últimos anos, todas se identificaram publicamente como feministas, na era do “feminismo de celebridade” – ou, como escreve Andi Zeisler em seu novo livro, a época em que o “feminismo ficou cool”.
Zeisler, autora e co-fundadora da Bitch Media, fala da recente chegada do feminismo ao mainstream em seu novo livro, We Were Feminists Once (já fomos feministas, em tradução livre).
De celebridades querendo pegar o bonde do feminismo a marcas como Always e Dove criando campanhas publicitárias sobre o empoderamento da mulher, o feminismo definitivamente é “tendência”.
“É esse mundo paralelo muito bizarro em que, por um lado, o feminismo é considerado muito cool – é uma estética, algo que as celebridades abraçam e que a mídia mainstream usa como gancho para interessar as pessoas”, disse Zeisler ao Huffington Post. “Mas, ao mesmo tempo, o feminismo em si – a necessidade do feminismo e as várias maneiras pelas quais ele é um projeto incompleto – parece cada vez mais desconectado desse ‘feminismo cool’.”
Basta olhar para o seu Facebook: são inúmeros os vídeos e campanhas virais sobre feminismo. Os slogans podem ser empoderadores, mas também são usados para vender produtos como sabão de lavar roupa, absorventes e papel-toalha.
Zeisler chama esse fenômeno recente de “feminismo de mercado”. “Ele envolve escolher a dedo as partes da ideologia ou prática que te servem e ignorar aquelas que não servem”, afirmou Zeisler.
Será que o feminismo de celebridades e de mercado é melhor que nada? Ou será que estamos apenas diluindo um movimento que ainda tem muito a conquistar? O Huffington Post conversou com Zeisler para saber o que ela pensa a respeito.
O que você acha do fato de que o feminismo, como você escreve em seu livro, recentemente ficou “cool”?
É esse mundo paralelo muito bizarro em que, por um lado, o feminismo é considerado muito cool – é uma estética, algo que as celebridades abraçam e que a mídia mainstream usa como gancho para interessar as pessoas.
Mas, ao mesmo tempo, o feminismo em si – a necessidade do feminismo e as várias maneiras pelas quais ele é um projeto incompleto – parece cada vez mais desconectado desse “feminismo cool”. É uma dinâmica muito estranha, porque leva à conclusão de que as pessoas que não têm condições de “comprar” esse “feminismo cool” não têm importância.
Quando, na verdade, essas são as pessoas que deveríamos estar tentando atingir. Essas são as pessoas para as quais o feminismo é incrivelmente crucial. Quero dizer, ele é incrivelmente crucial para todos nós, mas não pode ser apenas relacionado a produtos.
Tem de ser uma ética viva e uma maneira de olhar para as coisas e para o valor que damos a elas.
Um capítulo do livro é intitulado “Our Beyoncé, Ourselves” (nossa Beyoncé, nós mesmas, em tradução livre). Você discute Beyoncé e outras celebridades que se identificaram publicamente como feministas. Você acha que o feminismo de celebridades é melhor que nada?
Sim. Quando eu era criança, o feminismo ainda tinha essa reputação terrível. Muita gente famosa se distanciava da palavra e do movimento. Muitas de nós que crescemos nessa época nos tornamos feministas apesar desse legado pouco lisonjeiro. Mas, quando vi a performance de Beyoncé no Video Music Awards de 2014, meu primeiro pensamento foi: é incrível que uma nova geração inteira de jovens vai ver isso, e esse momento vai ser parte da formação deles.
Elas vão enxergar o feminismo como uma coisa positiva, associada a Beyoncé, que é incrivelmente forte e poderosa e linda e bem-sucedida. Não pode ser só isso, mas já é algo muito poderoso. Não acho necessariamente que todos que assistiram àquela performance vão se aprofundar no feminismo como ideologia ou como lente política.
Mas só por não ter o feminismo associado a essa ideia de raiva ou pernas peludas ou ódio pelos homens – isso já é muito poderoso. Essas associações nunca deveriam ter existido, mas, já que existem, é importante ter visões alternativas.

TEXTO 2 – FEMINISMO – DE ONDE VEM?
Feminismo pretérito
É possível encontrar na historiografia dos séculos 15 e 18 o aparecimento de temas dedicados à denúncia da condição de opressão das mulheres, tendo como principais fatores a superioridade e a dominação imposta pelos homens.
Porém, ainda não se pode atribuir aos mais variados escritos que surgiram nesse período o rótulo ou o conceito de "feminista". Por outro lado, os estudiosos do tema creditam ao contexto social e político da Revolução Francesa (1789) - e, portanto, do Iluminismo - o surgimento do feminismo moderno.
Em 1791, por exemplo, a revolucionária Olímpia de Gouges compôs uma célebre declaração, proclamando que a mulher possuía direitos naturais idênticos aos dos homens e que, por essa razão, tinha o direito de participar, direta ou indiretamente, da formulação das leis e da política em geral. Embora tenha sido rejeitada pela Convenção, a declaração de Gouges é o símbolo mais representativo do feminismo racionalista e democrático que reivindicava igualdade política entre os gêneros masculino e feminino.
Feminismo emancipacionista
No século 19, o feminismo teve um novo recomeço, em um contexto diferente: o da sociedade liberal europeia que emergia.
O núcleo irradiador do feminismo emancipacionista foi a Inglaterra, e a luta centrava-se na obtenção de igualdade jurídica (direito de voto, de instrução, de exercer uma profissão ou poder trabalhar). O aparecimento do feminismo emancipacionista está associado às contradições que permeavam a sociedade liberal da época, onde as leis em vigor formalizavam juridicamente as diferenças entre os sexos masculino e feminino.
Os escritos do pensador inglês Stuart Mill ganharam destaque ao propor o princípio geral de emancipação das mulheres a partir da abolição das desigualdades no núcleo familiar, da admissão das mulheres em todos os postos de trabalho e da oferta de instrução educacional do mesmo nível que estava ao alcance dos homens.
Feminismo contemporâneo
O movimento feminista contemporâneo surgiu nos Estados Unidos, na segunda metade da década de 1960, e se alastrou para diversos países industrializados entre 1968 e 1977.
A reivindicação central do movimento feminista contemporâneo é a luta pela "libertação" da mulher. O termo "libertação" deve ser entendido como uma afirmação da diferença da mulher, sobretudo em termos de alteridade. Com base nessa ideia, o movimento feminista busca novos valores, que possam auxiliar ou promover a transformação das relações sociais ou da sociedade como um todo.
Portanto, o surgimento do movimento feminista contemporâneo representou um divisor de águas e, ao mesmo tempo, a própria superação dos movimentos sociais emancipatórios, cuja reivindicação central estava baseada na luta pela igualdade (jurídica, política e econômica).
A luta pela "libertação" da mulher, que constitui o núcleo da doutrina feminista contemporânea, está baseada na denúncia da existência de uma opressão característica, com raízes profundas, que atinge todas as mulheres, pertencentes a diversas culturas, classes sociais, sistemas econômicos e políticos. E, também, na ideia de que essa opressão persiste, apesar da conquista dos direitos de igualdade (jurídicos, políticos e econômicos).
Desse modo, o movimento feminista contemporâneo atua com base numa perspectiva de superação das relações conflituosas entre os gêneros masculino e feminino, recusando, portanto, o estigma ou noção de "inferioridade" (ou desigualdade natural).
Uma outra característica do feminismo contemporâneo é a proeminência de intelectuais e líderes do sexo feminino. Esse fato positivo é reflexo das mudanças sociais, políticas e educativas que estiveram ao alcance dessa nova geração de mulheres que se projetaram como líderes feministas, entre as quais figuram Simone Beauvoir, Betty Friedan e Kate Millet.
Entre o final da década de 1970 e início da de 1980, porém, o movimento feminista entrou em declínio, em razão das profundas transformações (sociais, políticas e econômicas) que atingiram as sociedades. Crises econômicas, o surgimento do narcotráfico, da violência e do terrorismo, com sérias ameaças à coesão social, foram temas que ganharam maior atenção do público e da cena política.
TEXTO 3 – E O FEMISMO? DE ONDE VEM ESSE TERMO?
Ser feminista não significa incentivar o ódio e a revanche contra o sexo masculino. Menos ainda se trata de instalar um império das fêmeas sobre a Terra, como se as mulheres fossem criaturas incorruptíveis, perfeitas e divinas. Ideias desse tipo, de viés anti-igualitário, são defendidas pelo movimento femista, que julga todos os homens como carrascos horrendos, monstros cuspidos pelo Diabo, altamente perigosos e iguais a uma bomba de estupro prestes a explodir por todos os lados. O femismo é o movimento radical que trata os homens como inimigos, reagindo a eles com intolerância e hostilidade.
Por outro lado, a proposta do feminismo não é ser misândrico, mas sim igualitário e emancipatório, justo e racional, pois não prescreve um combate aos homens, e sim ao machismo. Embora algumas diferenças biológicas sejam visíveis entre os sexos masculino e feminino, elas não devem determinar que a sociedade se baseie na dominação de um gênero sobre outro. O pensamento feminista considera que homens e mulheres são capazes de cumprir, ou dividir, as mesmas tarefas – dentro das limitações e competências de cada um -, seja no lar, no emprego ou em qualquer lugar onde as relações sociais vicejem. Porém, tanto o machismo quanto o femismo discordam dessa premissa. É um tremendo equívoco acreditar que mulheres são sempre melhores que homens ou que homens são sempre melhores que as mulheres. O ideal é difundirmos a ideia de que ambos os sexos podem ser ótimos em tudo quanto puderem fazer.
Até onde sabemos, não é por meio da razão que machistas e femistas desejam controlar uns aos os outros: o que os move é a busca por poder e, às vezes, a sede de vingança. Saber que as mulheres, graças ao machismo, sofreram um atraso histórico quase irremediável, gerou uma distorção dentro do movimento feminista que, em vez de reparar as injustiças praticadas por homens do passado, quer devolver as mesmas injustiças aos homens do presente e do futuro. Tal é a face do femismo. Mas se o nosso descontentamento com as falhas que a sociedade apresenta tiver que ser resolvido por meio do ódio, então nada impede que pessoas negras resolvam massacrar pessoas brancas, inaugurando uma nova fase de “opressores”. Ora, sabendo que esses atos são verdadeiros absurdos, logo, nada justifica a “teoria” de que um sexo, etnia ou classe social deva se sustentar na hierarquia do mais forte contra o mais fraco.
Portanto, o que o feminismo nos proporciona, ao contrário do femismo, é um ideal de igualdade, equanimidade e cooperação social. Um novo sentimento de harmonia que permita que todas as pessoas, sem discriminação, desfrutem das mesmas oportunidades para se realizarem como seres humanos. Se questionarmos as instituições políticas que impedem esses avanços, e se desafiarmos os parâmetros culturais e históricos da nossa civilização, estaremos contribuindo com uma causa efetivamente justa para o mundo.

TEXTO 4 – PAUTAS FEMINISTAS, NÃO É TER QUE ACEITAR, É RESPEITAR OPINIÕES!
- Mulheres são pessoas. Portanto, merecem direitos iguais;
- Mulheres devem ganhar salários iguais aos dos homens no desempenho da mesma função;
- Mulheres não devem ser discriminadas no mercado de trabalho e suas oportunidades não devem ser limitadas aos papéis de gênero que a sociedade impõe sobre elas;
- Não é obrigação da mulher cuidar da casa, dos filhos e do marido. Os afazeres domésticos e cuidado com as crianças devem ser de igual responsabilidade para homens e mulheres;
- Nenhuma mulher é uma propriedade. Nenhum homem tem o direito de agredir fisicamente ou verbalmente uma mulher, ou ainda determinar o que ela pode ou não fazer;
- O corpo da mulher é de direito somente da mulher. A ela cabe viver a sua sexualidade como bem entender, decidir como vai dispor de seu corpo e da sua imagem, com quem ou como vai se relacionar;
- Qualquer ato sexual sem consentimento é estupro. Nenhum homem tem o direito de dispor sexualmente de uma mulher contra a vontade dela;
- Nunca é culpa da vítima;
- Assédio de rua é uma violência. A mulher tem o direito ao espaço público (e também ao transporte público) sem ser constrangida, humilhada, ameaçada e intimidada por assediadores;
- A representação da mulher na mídia não pode nos reduzir a estereótipos que nos desumanizam e ajudam a nos oprimir;
- Mulheres não são produtos. Não podem ser tratadas como mercadoria, isca para atrair homens, moeda de troca ou prêmio;
- A representação das mulheres deve contemplar toda a sua diversidade: somos negras, brancas, indígenas, transexuais, magras, gordas, heterossexuais, lésbicas, bi, com ou sem deficiências. Nenhuma de nós deve ser invisível na mídia, nas histórias e na cultura;
- A voz das mulheres precisa ser valorizada. A opinião das mulheres, suas vivências, ideias e histórias não podem ser descartadas ou consideradas menores pelo fato de serem mulheres;
- O espaço político também é um direito da mulher. Devemos ter direito ao voto, a sermos votadas, representadas politicamente e a termos nossas questões contempladas pelas leis e políticas públicas;
- Papéis de gênero são construções sociais e não verdades naturais e universais. Nenhum papel de gênero deve limitar as pessoas, homens ou mulheres, ou ainda permitir que um gênero sofra mais violência, seja mais discriminado, tenha menos direitos e considerado menos gente;
- Mulheres trans são mulheres e, portanto, são pessoas. Todas as pessoas merecem ter sua identidade respeitada;
- Se duas mulheres decidem viver juntas (ou dois homens), isso não é da conta de ninguém e o Estado deveria reconhecer legalmente essas uniões;
- Não existe tal coisa como “mulher de verdade”. Todas as mulheres são bem reais, independente de se encaixar em algum padrão;
- Mulheres não existem em função de embelezar o mundo. Muito menos em função da aprovação masculina;
- Amar o próprio corpo e se sentir bem com a própria aparência não deve depender dos padrões de branquitude e magreza que a sociedade racista e gordofóbica determinou como “beleza”;
- Mulher não “tem que” nada, se não quiser. Isso vale para ser “amável” ou falar palavrão, fazer sexo ou não fazer, se depilar ou não depilar, usar cabelo grande ou curto, "encontrar um homem” ou ficar solteira, sair com vários caras ou preferir mulheres, ter filhos ou não ter, gostar de maquiagem ou não.

TEXTO 6 – ALGUMAS IMAGENS



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