domingo, 28 de agosto de 2016

Aula 19/2016 - Mitomania

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A mitomania é uma distúrbio de personalidade onde o paciente possui uma tendência compulsiva pela mentira. Esta doença é também conhecida como mentira obssessivo-compulsiva.
Uma das grandes diferenças do mentiroso esporádico ou "tradicional" para o mitômano, é que no primeiro caso o indivíduo não tem resistência em admitir a verdade, enquanto o portador da compulsão por mentir usa a mentira em proveito próprio ou prejuízo de outro de forma imoral e insensível sem sentir necessidade de desfazer o engano.
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O mitômano é o indivíduo que mente compulsivamente. Algumas vezes são pequenas mentiras, enquanto que outras vezes são pitorescas, elaboradas detalhadamente, que induzem o próprio mentiroso a acreditar nelas. Na mitomania o paciente usa a mentira de forma consciente para enganar pessoas e tirar vantagens, ele nunca admite suas mentiras embora tenha plena consciência de que são histórias imaginárias, e também não se constrange quando suas mentiras são descobertas.
Fonte: http://www.tuasaude.com/mitomania/



Conteúdo da aula
TEXTO 1 – Fato motivador – Algumas notícias sobre mitomania
A Polícia Civil de São Paulo informou nesta sexta-feira (19) que tem laudo de uma psicóloga que revela que a jornalista e estudante de direito Patrícia Lelis, de 22 anos, é "mitomaníaca", ou seja, tem transtorno de personalidade que faz com que minta compulsivamente.
Na quinta (18), a polícia indiciou Patrícia por denunciação caluniosa e extorsão no caso em que ela acusa Talma Bauer, assessor do deputado federal Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) de sequestro e cárcere privado num hotel na capital paulista, entre julho e agosto. Após concluir o inquérito, a investigação informou que vai pedir à Justiça a prisão preventiva da jornalista.
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A Speedo USA, marca de materiais esportivos de natação, anunciou nesta segunda-feira (22/8) que deixará de apoiar Ryan Lochte, de 32 anos.
Todos os patrocinadores dispensaram o o atleta que contou inventou um assalto no Brasil - a marca de colchões Airweave, a grife de roupas Ralph Lauren e a Syneron Candela, de produtos para o cabelo cancelaram seus contratos.
O Comitê Olimpíco americano também pode punir o nadador, por ter mentido sobre assalto sofrido no Rio de Janeiro, quando na verdade foi o protagonista de atos de vandalismo em um posto de combustíveis.
Em comunicado divulgado no Twitter, a Speedo acusou o nadador de ter um comportamento contrário aos valores defendidos pela marca.
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Um julgamento no Reino Unido teve um desfecho inesperado depois de jovem que acusava seu próprio pai de estuprá-la durante anos admitir, no banco das testemunhas, que tudo não passava de uma farsa baseada em trechos do best-seller "Cinquenta tons de cinza".
A advogada do acusado, Cathy McCulloch, publicou um post sobre o caso em seu blog. O texto viralizou nas redes e foi amplamente reproduzido na imprensa britânica. Segundo ela, a então suposta vítima alegava que foi estuprada pelo pai durante oito anos. Seu depoimento à polícia, diz a advogada, foi extremamente convincente, enquanto o pai dela não tinha nenhum argumento de defesa a não ser um simples e direto "eu não fiz nada".

TEXTO 2 – O que é a Mitomania
O que é a mitomania?
Mentir é o ato de intencionalmente e deliberadamente fazer uma declaração falsa. A mitomania ou mentira compulsiva é uma tendência patológica pela mentira. A maioria das pessoas fazem isso por medo, mas a mentira compulsiva interfere no julgamento racional, no relacionamento familiar e especialmente social. Os termos mentiroso patológico, mitônomo e mentiroso crônico são frequentemente usados para se referir a um mentiroso compulsivo.
Quais são as causas da mitomania?
A literatura aponta que não existe uma causa da mitomania, mas um conjunto de fatores associados podem provoca o problema: histórico de vida, relacionamentos, padrão de relação parental, genética e experiências. Acredita-se que a baixa auto-estima, necessidade de apreço ou atenção e a tentativa de se proteger de situações constrangedoras marquem o início da mitomania.
Como a mentira compulsiva pode se desenvolver desde a infância?
Na infância, devido a imaturidade ­mental, as crianças podem mentir com alguma recorrência. Muitas crianças tem dificuldade de enfrentar algumas frustrações e críticas e acabam mentindo para os pais na tentativa de preservar sua auto imagem. Essa característica só assume um caráter patológico quando a criança inclinada à mitomania constata que sua mentira pode ser entendida como verdade sem nenhuma consequência negativa associada.
Qual a diferença entre um o indivíduo que fala uma mentira esporádica e o mentiroso compulsivo?
Um mentiroso compulsivo é definido como alguém que mente como um hábito, desde a infância. Mentir, neste caso, é a sua forma normal de responder à qualquer pergunta, por mais simples que seja. Algumas vezes são pequenas mentiras, outras são muito elaboradas, cheias de detalhes, que induzem a própria pessoa a acreditar nelas.
Qual é a diferença entre um sociopata e um mentiroso compulsivo?
Um sociopata é normalmente definido como alguém que mente incessantemente para obter uma vantagem a sua maneira, ele faz isso com pouca preocupação com os outros. Um sociopata é muitas vezes orientado por um objetivo, ou seja, a mentira é focada para obter um ganho ou vantagem. Sociopatas têm pouca ou nenhuma consideração ou respeito pelos direitos e sentimentos dos outros. Eles podem ser encantadores e carismáticos, mas usam suas habilidades e talentos sociais de forma manipuladora e egocêntrica. A maior parte dos mentirosos compulsivos não são necessariamente manipuladores, eles sofrem com seu hábito de mentir, tendo as relações sociais sempre sob risco de serem quebradas.
O mitômano possui consciência de que está mentindo?
O mitômano sempre sabe, no fundo, o que ele diz não é totalmente verdadeiro, embora não possuam consciência plena da intenção de cada mentira. Por isso, acabam por iludir os outros em histórias de fins mirabolantes, com o intuito de suprirem aquilo que falta em suas vidas.
A mitomania tem cura?
Os mitômanos vêem que estão sofrendo de um mal e desejam curar-se, mas raramente procuram ajuda por vontade própria. A compreensão dos companheiros ou familiares é muito importante. Se houver punição o tratamento é dificultado. É preciso fazer uma reinserção social da melhor maneira possível, trazendo o indivíduo positivamente à realidade.
Quais os riscos para o mitômano que não busca tratamento?
Há muitas consequências de ser um mentiroso patológico. Devido à falta de confiança, relacionamentos e amizades tendem a ser destruídos. Se a doença continua a progredir, a mentira pode se tornar tão grave que eventualmente pode causar problemas de ordem social, psicológica e até legal. A pessoa geralmente é excluída do grupo que frequenta por vivenciar situações sem saída, passar por situações embaraçosas e perder a confiança de todos ao seu redor.

TEXTO 3 – Psicólogo fala sobre mitomania
De Nixon ao escritor alemão Günter Grass, Nobel de Literatura, que confessou, em 2006, ter pertencido à Waffen-SS nazista, passando pelo francês Jean-Claude Roman, que enganou a família ao fingir ser por médico de uma organização internacional, matando os pais, mulher e filhos para não ter de contar a verdade, o mundo está cheio de mentirosos. Em seu livro A Grande Mentira, lançado pela editora Perspectiva, o psicólogo espanhol José María Martínez Selva explora esses e outros casos de intelectuais, políticos, esportistas e jornalistas que engaram o público para obter vantagens – ou simplesmente conquistar o afeto das pessoas.
Em entrevista ao Caderno 2, o psicólogo fala de Günter Grass, de Jean-Claude Roman e do mitômano Enric Marco, que simulou ter passado por um campo de concentração nazista, todos obrigados a confessar suas grandes mentiras em busca de redenção. Diz ainda que políticos mentem com maior facilidade por depender da simpatia alheia, alertando que existem mentirosos compulsivos mais perigosos, que afetam e causam danos à sociedade em que vivem.
A mitomania afeta pessoas com um nível de autoestima baixo. Existem outros traços específicos de personalidade que caracterizem os mitômanos?
A mitomania é um termo genérico, que se pode definir como uma tendência incontrolável a mentir, e pode surgir sem estar associada a desvios de personalidade. Um traço específico de personalidade com frequência associado à mentira compulsiva é a psicopatia. O psicopata usa a mentira para conseguir de sua vítima aquilo que deseja: dinheiro, sexo, poder, influência social. Isso sem esquecer que há psicopatas que empregam uma sinceridade brutal para ofender ou causar danos.
O objetivo dos mitômanos é ser sempre o centro da atenção. Existem outras razões tão fortes para que a pessoa se converta em mitômana?
Uma pessoa pode começar a mentir e virar mitômana por outras razões. Por exemplo, para evitar um castigo por algo errado que fez, para não ser despedida do emprego ou para evitar a perda de afeto do outro. A necessidade de fazer parte de um grupo e ser aceito, muito forte entre adolescentes, pode levar alguém a mentir para se sentir importante ou merecedor de integrar um grupo. Outras vezes se mente para manipular o outro – ou outros. Se uma pessoa observa que sua conduta mentirosa obtém êxito, pode acontecer que ela continue levando a cabo esse costume com outras pessoas e em outras situações. Na maior parte dos casos, quem está ao lado do mentiroso se dá conta da mentira, atraindo para ele graves danos em suas relações pessoais. Seus amigos não o levam mais a sério e sua companheira o abandona, por exemplo.
Por que os políticos são mais mentirosos que outras pessoas?
O político tem necessidade de conquistar pessoas, de seduzir para que o apoiem, votem nele. Tem de dizer que sua mensagem é melhor que a do adversário, fazer promessas, falar de um futuro que é imprevisível. Nesse processo, é difícil que não mintam – e muitos aprendem a mentir bem, confirmando o ditado de que a prática leva à perfeição. Por outro lado, como acontece com todas as pessoas obrigadas a manter uma imagem pública favorável, o político é levado, cedo ou tarde, a ocultar qualquer coisa que possa prejudicá-lo ou destruir sua imagem.

TEXTO 4 – Por que as pessoas mentem
“Nunca fiz sexo com ela”
Bill Clinton quase perdeu a Presidência dos Estados Unidos por ter negado, em 1998, a relação com a estagiária Monica Lewinsky
As farsas criadas pela imaginação de Gerhartsreiter podem parecer inverossímeis. Como alguém é capaz de viver enganando tantos por tanto tempo sem levantar suspeitas? Mas o caso não só é real como recorrente. Seu protagonista, digno de uma obra de ficção como O talentoso Ripley, de Patricia Highsmith – Ripley é o arquétipo do mitômano –, poderia estar pilotando aviões sem ter licença para isso, posando ao lado de celebridades como se fosse uma, escrevendo livros “autobiográficos” baseados em fatos que não viveu ou trabalhando num jornal de prestígio como o New York Times. Em todas essas situações, um mitômano se fez passar por quem não era para levar alguma vantagem – seja financeira ou emocional.
Tentativas de ser 100% convincente em meio a um engodo normalmente denunciam má-fé. A mitomania, que pode ser uma doença ou um sintoma de certas condições psiquiátricas (leia o quadro abaixo), leva a pessoa a acreditar na história que conta, sem nenhum senso crítico. “A ficção mitomaníaca envolve concepções de grandeza, de ascendência familiar excepcional, de capacidades e feitos extraordinários”, afirma a psiquiatra forense Hilda Morana, presidente do Departamento de Ética e Psiquiatria Legal da Associação Brasileira de Psiquiatria. Segundo ela, essas fabulações podem levar a cometer crimes e fraudes, como o exercício ilegal de certas profissões.
Um dos casos mais famosos de mitomania é o de Frank Abagnale Jr., cuja história foi levada ao cinema por Steven Spielberg no filme Prenda-me se for capaz, com Leonardo DiCaprio. Aos 17 anos, Abagnale Jr. já havia acumulado mais de US$ 40 mil com fraudes bancárias e viajado por dezenas de países como falso piloto de avião. Para fugir da Justiça, ele se passou por médico, professor e advogado, sempre com nomes falsos. Até ser preso, aos 21 anos, na França, ele passara US$ 2,5 milhões em cheques falsos. Frank Abagnale Jr. fez um acordo com o FBI e ganhou a liberdade em troca de ajudar na captura de outros falsários – o que tem feito desde 1974. Depois de tanto enganar e mentir, ele parece ter encontrado sua vocação.
“O mentiroso é a própria base da sociedade civilizada”
Oscar Wilde (1854-1900)
No Brasil, um caso parecido ganhou destaque. Antes de ser preso, aos 25 anos, o estelionatário Marcelo Nascimento da Rocha fingiu ser oficial do Exército, policial e guitarrista da banda Engenheiros do Hawaii, num total de 16 identidades diferentes. Seu golpe mais famoso ocorreu em 2001, quando fingiu ser filho do dono da companhia aérea Gol. Com o nome de Henrique Constantino, ele teve acesso ao camarote vip de um evento patrocinado pela companhia. Conheceu atrizes famosas, deu entrevistas para a TV, alugou um jatinho e um helicóptero sem gastar nada. A farsa só terminou com a prisão do golpista, acusado de estelionato e falsidade ideológica, entre outros crimes.

TEXTO 5 – Mentiras históricas
Caso Watergate
Em junho de 1972, cinco pessoas foram detidas ao tentarem fotografar documentos e instalar aparelhos de escuta em telefones do escritório do Partido Democrata, no Hotel Watergate, nos Estados Unidos. Depois de alguns meses de investigação jornalística, ficou claro que os homens haviam sido enviados por autoridades próximas ao presidente Richard Nixon.
Propaganda nazista
Quando o nazismo surgiu na Alemanha na década de 30, o antissemitismo não era novidade. O povo judeu já sofria preconceito e era perseguido. Mas o nazismo levou isso a um novo nível perpetuando mentiras centenárias.
O Cavalo de Troia
Quando Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta, foi raptada, os gregos decidiram travar uma guerra contra Troia. Os combates duraram dez anos e parecia que Troia, protegida por suas altas muralhas, sairia vencedora.
Plano Cohen
Plano criado para justificar o golpe de Getúlio Vargas em sí mesmo em 1937
Fonte:       http://www.google.com.br

TEXTO 6 – Os 16 melhores boatos absurdos compartilhados por brasileiros no Facebook recentemente
1. “Dilma oferece Acre para Palestinos fazerem um país”
2. “Peixe-porco é pescado no Rio Grande do Norte”
3. “Joaquim Barbosa será ministro da Justiça de Aécio Neves”
4. “Eduardo Campos é filho de Chico Buarque”
5. Esta frase supostamente dita por Dráuzio Varella:
No mundo atual, investe-se cinco vezes mais em medicamentos para a virilidade masculina e silicones para as mulheres do que na cura do Alzheimer. Daqui a alguns anos, teremos velhas de mamas grandes e velhos com pênis duro, mas nenhum se recordará para que servem”
6. “Mulher explode durante sexo em motel de Manaus”
7. “Governo vai proibir histórias em quadrinhos no Brasil”
8. “Polícia usa gás azul mortal para conter protestos”
9. “NASA diz que existe um ET disfarçado de humano morando no Brasil”
10. “Aos 76 anos, morre o apresentador Jô Soares”
11. “O Facebook dará dinheiro para quem compartilhar esta foto:”
12. “Tigre que atacou menino em zoológico será sacrificado”
13. “Congresso cria projeto de lei que prevê confisco da poupança”
14. “Templo de Salomão é pichado por vândalos”
15. “Soja está criando geração de meninos gays”
16. “Silvio Santos encontra barras de ouro vencidas em porão do SBT”

Alguns vídeos





domingo, 21 de agosto de 2016

Aula 18/2016 - Comoção social e atitudes

Omran Daqneesh tem 5 anos. O corpo coberto de pó e a cara está ensanguentada. Está sentado na ambulância, sem dizer uma palavra ou verter uma lágrima. A imagem tornou-se viral e ilustra o horror de quem vive na Síria.
O vídeo foi registado pela Aleppo Media Center minutos após um ataque aéreo num bairro da cidade.


Material da Aula
TEXTO 1 – Fato motivador - Imagem de menino de 5 anos após bombardeio em Aleppo gera comoção
Um menino de cinco anos, coberto de sangue e poeira, olha assustado para a câmera. Sentado em um banco dentro de uma ambulância, sua imagem gerou comoção internacional.
Omran Daqneesh foi vítima de um ataque aéreo em Aleppo, no norte da Síria. O bombardeio ocorreu em um bairro controlado pelos rebeldes opositores do ditador sírio, Bashar al Assad, em meio à guerra civil que consome o país há cinco anos.
O garoto chegou ao hospital na noite de quarta-feira (17) com ferimentos na cabeça, mas já recebeu alta. O ataque ocorreu minutos após um caça decolar da base russa em Latakia, no litoral da Síria. A Rússia é importante aliada de Assad e realiza frequentes bombardeios nas áreas rebeldes.
O vídeo com a imagem de Omran foi divulgado pelo grupo Aleppo Media Centre, ligado à oposição síria. O menino foi identificado nesta quinta-feira (18) pelo médico que o atendeu em um hospital de Aleppo, Osama Abu al-Ezz.
Omran foi resgatado com os três irmãos —de 11, seis e um ano de idade— e os pais dos escombros do apartamento da família, parcialmente destruído após o ataque aéreo, de acordo com Mahmoud Raslan, repórter fotográfico autor da imagem que trabalha como correspondente para a rede Al Jazeera. Segundo Raslan, nenhum dos familiares de Omran teve ferimentos graves. O ataque teria ocorrido durante o período de reza no fim da tarde, por volta das 19h20 desta quarta.
A comoção gerada pela imagem de Omran ecoa a foto de Aylan Kurdi, menino de três anos cujo corpo foi encontrado em uma praia na Turquia, em setembro do ano passado, depois do naufrágio da embarcação em que estava sua família. Eles tentavam chegar à ilha grega de Kos.

TEXTO 2 – Tragédia humanitária na Síria, com 270 mil mortos em cinco anos
A guerra da Síria matou 270 mil pessoas, deslocou cerca de metade da população e deixou grande parte do país em ruínas desde o seu início, há cinco anos.
Eis alguns factos e números sobre o conflito:
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que dispõe de uma ampla rede de fontes na Síria, contabilizou 271138 mortos desde o início do conflito em março de 2011. Desse total, 79106 são civis, entre os quais se encontram 13500 crianças e 8760 mulheres, de acordo com um balanço divulgado a 23 de fevereiro deste ano.
Não estão incluídos os milhares de desaparecidos cujo destino se desconhece, opositores nas prisões do regime e membros das forças lealistas capturados pelos rebeldes e pelos grupos jiadistas, como o Estado Islâmico (EI).
Num relatório divulgado em fevereiro, investigadores da ONU afirmaram que milhares de pessoas detidas pelas diferentes partes morreram, acusando o regime de Damasco de "extermínio" de prisioneiros.
Segundo uma organização humanitária síria, 177 hospitais foram destruídos e perto de 700 trabalhadores da saúde foram mortos.
No passado dia 7, a organização não-governamental (ONG) francesa Handicap International deu conta de um milhão de feridos.
Num país que tinha cerca de 23 milhões de habitantes antes do conflito, 13,5 milhões de pessoas foram afetadas ou deslocadas pela guerra, de acordo com números da ONU relativos a 12 de janeiro.
"Pelo menos 250 mil crianças vivem em estado de cerco em zonas (...) que se tornaram verdadeiras prisões a céu aberto", denunciou este mês a ONG Save de Children.
Mais de 450 mil pessoas estão atualmente sitiadas na Síria, segundo o Alto Comissário para os Direitos Humanos da ONU.
A guerra também obrigou 4,7 milhões de pessoas a fugirem do país, "a maior população de refugiados de um único conflito numa geração", afirmou em julho de 2015 o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
A Turquia é atualmente o principal território de asilo daqueles refugiados, acolhendo entre 2 e 2,5 milhões de sírios. O Líbano tem cerca de 1,2 milhões, segundo fontes oficiais. Mais de dois terços vivem em "pobreza extrema", segundo a ONU. Na Jordânia estão registados junto do ACNUR cerca de 630 mil, mas as autoridades estimam o seu número em mais de um milhão. No Iraque estão refugiados 225 mil sírios e no Egito 137 mil.
Vivendo em estruturas provisórias, os refugiados enfrentam a pobreza, problemas de saúde e tensões crescentes com as comunidades locais. Uma grande maioria continua nos países da região, mas são cada vez mais os que chegam à Europa após uma viagem perigosa e incerta.
Segundo os especialistas, o conflito fez recuar três décadas a economia do país, privado de quase todas as suas receitas e com a maioria das infraestruturas em ruínas.
Os sistemas de educação e de saúde estão destruídos.

TEXTO 3 – Imagem chocante de menino 'não vai mudar nada', diz pediatra sírio
A foto do pequeno Omran sentado no interior de uma ambulância coberto de poeira e sangue comoveu o mundo, mas, na Síria em guerra, milhares de outras crianças vivem traumatizadas pelos ataques aéreos, mutiladas ou prestes a morrer nas cidades sitiadas.
O menino, cuja imagem foi compartilhada por milhões de internautas nas redes sociais e que estampou as manchetes do mundo inteiro, é, segundo Washington, "a verdadeira face da guerra" na Síria, que em cinco anos e meio deixou mais de 290 mil mortos.
"O caso de Omran não é excepcional. A cada dia, tratamos dezenas de crianças que sofreram ferimentos graves", relata o Dr. Abou al-Baraa, cirurgião pediátrico na região rebelde de Aleppo, entrevistado nesta sexta-feira por telefone.
Em um vídeo filmado pela rede de militantes do Centro de Meios de Comunicação de Aleppo (AMC), o pequeno Omran aparece limpando seu rosto ensanguentado com a mão. Depois olha para sua mão e, sem acreditar, limpa-a em seu assento.
Segundo o médico, "há milhares de histórias de crianças amputadas, feridas na barriga ou na cabeça" desde o início da guerra, em 2011. O conflito atingiu um ano depois a segunda maior cidade do país, dividida entre bairros controlados pelo governo (oeste) e outros pelos rebeldes (leste). "Ontem (quinta-feira) mais sete pessoas morreram em um bombardeio em Salhine (bairro rebelde). Uma criança foi ferida na região do peito e na cabeça. Tivemos que parar a hemorragia e fizemos uma transfusão de sangue", conta Dr. Abou Baraa.
"Tudo em vão. Ele morreu. Ia fazer seis anos".
'O mundo não faz nada'
Para o pediatra, a imagem chocante de Omran "não vai mudar nada".
"O mundo olha diariamente fotos e vídeos no YouTube de crianças resgatadas dos escombros, mas não faz nada. Contenta-se com belas palavras", lamenta.
Comovidos, os internautas compartilham uma foto-montagem que mostra a imagem de Omran sentado entre os presidentes americano e russo, Barack Obama e Vladimir Putin, mostrando que as crianças na Síria são as vítimas indefesas do jogo de poderes internacionais envolvidos no conflito. Em outra montagem, Omran está sentado na cadeira reservada para a Síria nas cúpulas da Liga Árabe, muitas vezes criticada por sua inação.
Já na caricatura do sudanês Khalid Albaih, a imagem de Omran aparece ao lado da de Aylan, o menino de três anos cujo corpo sem vida em uma praia comoveu o mundo em setembro de 2015 e cuja imagem se tornou símbolo da tragédia dos refugiados sírios.
"A escolha reservada para as crianças da Síria", foi o título dado pelo cartunista, que acrescentou: "se você ficar", sob a imagem de Omran, e "se você partir", sob a de Aylan.
'Chacoalhar as consciências'
"Esta imagem deve chacoalhar a consciência do mundo", insiste Touma.
"as crianças encontram-se na linha de fogo, porque os bombardeios visam ambulâncias, clínicas, abrigos, creches, hospitais e ruas", diz Touma,
"Há 6 milhões de crianças que precisam de assistência humanitária urgente em toda a Síria. E, das 600 mil pessoas que vivem em estado de sítio, metade delas são crianças", de acordo com Touma.

TEXTO 4 – Porque a comoção social é seletiva?
O que dá mais importância para 17 vidas francesas do que para dezenas de vidas nigerianas?
“A imensa comoção dos 12 chargistas mortos coincide com a invisibilização(sic) de quase 2 mil mortos em Baga, na Nigéria, pelo grupo Boko Karam, entre os dias 3 e 7 de janeiro e poucos meses depois da morte de 43 jovens em Ayotzinapa, todos estudantes da mesma escola. E com absoluta falta de reação midiática para a morte diária de 83 jovens negros no Brasil dos dias atuais.”
Porque a comoção social é seletiva? O que dá mais importância para 12 (agora 17) vidas francesas do que para dezenas de vidas nigerianas, mexicanas e brasileiras? Estaria a banalização do colonialismo, ou seu não reconhecimento por trás disso? Minha sensação é que vivemos em um mundo de fadas.
Há exemplos melhores para comprovar a necessidade de democratização e pluralização da mídia?
Nunca foi tão atual a afirmação de que toda a comunicação carrega consigo uma responsabilidade política.
Por um lado, a cobertura seletiva da mídia, no mundo, neste caso não é só no Brasil, aponta aqueles massacres com os quais devemos nos comover, e quais devemos ignorar. Cínico, não?
Cínico mesmo é o fato de que o humorista francês Dieudonné M'Bala M'Bala, que é conhecido por fazer piadas com judeus, ter sido preso por apologia ao terrorismo ao manifestar-se em uma rede social na internet. O mesmo já foi condenado várias vezes pela justiça francesa por suas piadas. Mas, a justiça, neste caso não teria que garantir sua liberdade de expressão com o fazia com o Charlie Hebdo?
A invocada liberdade de expressão busca justificar a postura agressiva e desrespeitosa do semanário Charlie Hebdo, para bloquear qualquer contraponto crítico à postura do jornal. Afinal, “desenhar nunca matou ninguém”!
Será que não? Será que o desrespeito continuo e cotidiano contra negros, jovens de periferia não fortalece e legitima a postura da polícia brasileiro no trato autoritário que esta destina a esta parcela da população?
Será que dizer que “Direitos Humanos” é para quem defende bandidos, não fortalece as violações de direitos que tomamos conhecimento todos os dias? Será que a homofobia não influencia no assassinato diário de vários travestis pelo país? São questões sobre as quais temos que refletir, antes de cair nos consensos que a mídia difunde como verdades absolutas. Dentre os quais a própria obstrução ao debate sobre as comunicações como se tudo o que debatesse o assunto fosse uma forma de censura.

TEXTO 5 – Mundo assiste impassível à guerra que afeta 8,4 milhões de crianças sírias
A desgraça do mundo contemporâneo não é aquela foto de tremendo impacto do menino Omran, sangue no rosto, pó de escombros cobrindo todo o corpo, olhar perdido no infinito. A verdadeira desgraça é que há, só na Síria em guerra há cinco anos, os mesmos que Omran viveu, 8,4 milhões de crianças afetadas pelo conflito. "Suas vidas estão marcadas pela violência, o medo e o deslocamento [de suas casas]", diz ao "El País" Peter Salama, diretor regional para o Oriente Médio e o Norte da África da Unicef, a agência da Organização das Nações Unidas para a infância.
Ou, posto de outra forma, há 8,4 milhões de outros potenciais Omrans que só não foram captados pelas lentes de algum fotógrafo porque o acesso a eles é complicado até para esses benditos malucos que arriscam a vida para contar, em imagens, a história, a triste história contemporânea.
Há mais desgraças envolvendo crianças na guerra da Síria: 2 milhões delas não recebem nenhum tipo de educação no país, assim como outras 700 mil que estão refugiadas em países vizinhos.
Ou seja, sofrem agora e sofrerão no futuro, mesmo que a guerra algum dia termine, porque não estarão preparadas para o mundo, seja qual for o mundo em que viverão. Temo, no entanto, que a maior desgraça nem sejam esses dados tão terríveis. O pior é que a imagem de Omran logo, logo, cairá no esquecimento, como caiu a de Alan Kurdi, menino de três anos cujo corpo foi encontrado em uma praia na Turquia, em setembro de 2015, depois do naufrágio da embarcação em que estava sua família.
Depois de Alan, milhares de outras crianças, com ou sem respectivas famílias, continuaram arriscando a vida em travessias rumo à Europa, enquanto o mundo se perdia em discussões sobre como pôr fim às migrações, em vez de discutir como abrigá-los.
Pode haver até candidatos a terroristas que se misturam aos migrantes, mas a esmagadora maioria está apenas fugindo de guerras ou de situações insuportáveis nos países de origem.
No caso da Síria, é até pior, se é que é possível. A guerra está destruindo todo um país já faz cinco anos, sem que a comunidade internacional faça qualquer coisa relevante para pôr fim à carnificina. Ao contrário, há um punhado de países que ajudam a derramar mais sangue, apoiando este ou aquele grupo envolvido nos combates.
Acho que tem razão Valdemar Cruz, do excelente jornal português "Expresso": "Assistimos à banalização de uma dor incomensurável e impossível de reduzir a uma imagem cujo significado corre o risco de se esgotar na emoção do momento, até a próxima criança, até a próxima imagem, até o próximo combate do qual resulte mais um olhar desesperado, mais um rosto a rasgar a sensibilidade das consciências. E essa é, também, uma das gritantes e deploráveis hipocrisias associadas a estes arrastões noticiosos, sobretudo quando abafam a complexidade dos conflitos onde são gerados".
Logo mais, as consciências estarão de novo anestesiadas, e os Omrans da Síria ou de outras áreas banhadas em sangue continuarão olhando perdidos para o infinito.

TEXTO 6 – Algumas charges
    

                      

domingo, 14 de agosto de 2016

Aula 17/2016 - Epidemia de justiça popular

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A intolerância é a principal causa dos linchamentos que ocorrem em vários estados do Brasil, dizem especialistas em comportamento humano, segurança pública e direito. Para a pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo, Ariadne Natal, os espancamentos são fruto da combinação da percepção de Estado ineficiente, por parte da população, com uma tradição de desrespeito aos direitos humanos.
“De um lado, a percepção de que o Estado não é capaz de prover segurança e justiça. Há uma percepção difusa de uma parte da população de que a impunidade dá a sensação de medo, aumento da criminalidade e a população se vê vulnerável. Então, há a percepção de que o Estado é ausente e ineficiente. Além disso, há uma cultura de desrespeito aos direitos humanos. A gente vive em um país em que há uma cultura de resolução de conflito por meio do emprego da violência”, disse.
Conforme a pesquisadora, as motivações variam, mas partem da ideia de que algumas regras foram quebradas e, com isso, os suspeitos são alvo de ameaças ou de agressões físicas, que podem ter um desfecho fatal. “O linchamento é uma espécie de controle social, é uma espécie de punição ou pena dada à pessoa acusada de cometer um crime, não necessariamente culpada, porque ali não tem uma investigação real, é com base em indícios momentâneos”, disse.
Material da aula

TEXTO 1 – Fato motivador - Ceará registra o 11º caso de linchamento no ano
Subiu para 11 os homicídios no Ceará causados por linchamento. O caso mais recente ocorreu no último fim de semana, no Interior. Um jovem de 20 anos de idade, suspeito de ter assassinado um homem mais velho durante uma briga de bar, acabou sendo perseguido e morto a chutes, socos e pauladas.
O caso aconteceu no Município de Quixeramobim, no sertão Central (a 201Km de Fortaleza).  Tudo começou quando um homem que estava na frente de um clube de forró foi esfaqueado várias vezes. O crime ocorreu no bairro Monteiro de Moraes.
Mesmo esfaqueado ao menos, 10 vezes, Cícero de Lima Roque ainda foi socorrido com vida para o Hospital Regional Doutor Pontes Neto. No entanto, não resistiu e morreu na Emergência.
Logo em seguida, populares que testemunharam o esfaqueamento da vítima passaram a procurar o assassino e acabaram o encontrando numa rua próxima. Ele tentou fugir, mas não conseguiu. Foi espancado até a morte e o corpo ainda arrastado. Tratava-se do jovem Diego Cardoso de Sousa, 21 anos.

TEXTO 2 – A epidemia da justiça popular
As notícias sobre linchamentos proliferam nos jornais locais de todos os Estados brasileiros, mas não constam nas estatísticas. Segundo o Código Penal, o linchamento não é reconhecido como crime e por isso é difícil de calcular quantos atos ocorrem no país. A lista de ações de violência que têm como argumento penalizar crimes de rua é grande. Nos últimos dois meses, pelo menos 10 casos foram noticiados no Brasil. A situação é similar à que acontece na Argentina, que vive uma onda de linchamentos desde meados de março, já levou até mesmo o Papa a se pronunciar sobre a brutalidade dos atos contra ladrões. Apesar da repetição, que prova que não se trata de uma atividade isolada, o Brasil é imbatível em linchamentos, segundo o sociólogo José de Souza Martins, especialista no tema. "Há três anos atrás, eram três ou quatro por semana. Depois das manifestações de junho, passou a uma média de uma tentativa por dia. Hoje estamos a mais de uma tentativa de linchamento diária", explica.
A humilhação pública é o princípio do fim, que muitas vezes não acaba na delegacia, mas sim em morte. Um dos casos mais recentes foi o de um adolescente de 17 anos que morreu ontem em Serra, em Espírito Santo (sudeste do Brasil). O jovem Alailton Ferreira foi espancado por um grupo de pessoas que o agrediu com pedras, pedaços de madeira e ferro. Até o momento em que a polícia chegou ao local, segundo o blog Negro Belchior, da revista Carta Capital, não se sabia ao certo a motivação do espancamento. Especulava-se que o rapaz havia tentado praticar um roubo, abusar de uma criança ou estuprar uma mulher. Mas nada ficou comprovado. Também ontem, em São Francisco, no Maranhão um assaltante foi linchado na rua depois de roubar bolsas, joias e celulares de clientes de uma clínica, segundo o jornal local O Dia. Felizmente, outros vizinhos impediram que a agressão continuasse e ele foi encaminhado à delegacia.

TEXTO 3 – Grupos no Facebook pregam linchamentos e geram polêmica
Quando a vizinha de Cecília Rodriguez se deparou com um assaltante em sua casa em Huancayo, a 300 km de Lima, pediu ajuda. Cecilia a acudiu e, junto com outros moradores, prendeu o ladrão e o manteve detido por duas horas, até a polícia chegar e levá-lo.
Mas, quando soube que o homem havia sido liberado, Cecília resolveu agir. "A partir daquele dia, decidimos espalhar a mensagem na comunidade - da próxima vez que pegarmos um criminoso, não chamaremos a polícia e o puniremos nós mesmos", disse.
Ela criou uma página no Facebook chamada "Chapa tu choro" ("Pegue o seu ladrão"), pedindo que outros seguissem seu exemplo. Sua campanha teve efeito imediato, e mais de cem de páginas semelhantes foram criadas rapidamente.
Muitas dessas páginas têm nomes e mensagens fortes, como "deixe o ladrão paralítico", "corte as mãos dele" e "castre-o". Elas incentivam a violência contra supostos ladrões, sem nenhum julgamento oficial e isento para determinar se são culpados ou inocentes.
Várias destas páginas exibem imagens fortes. Muitos dos grupos são abertos ao público e parecem mostrar cenas de vingança sem pudores.
Espancamentos
Em uma página, um vídeo mostra um homem sendo despido e chicoteado com um cinto. Em outro, um jovem adolescente é espancado até que seu rosto fica desfigurado. Uma terceira gravação mostra uma mulher despida sendo orientada pela rua, com uma cartaz no pescoço: "Eu sou uma ladra".
É impossível ter certeza sobre os detalhes de qualquer um desses incidentes.
"Não imaginava que a campanha teria esse sucesso", diz Cecilia. "Aceito que isso saiu do controle e que alguns estão levando a violência longe demais. Não justifico, mas entendo".
Prender um cidadão suspeito de um crime sem feri-lo é legal no Peru. Feri-lo, no entanto, é ilegal, assim como incentivar a violência pode levar à prisão.
Até agora, nenhum dos organizadores dessas páginas foi preso. A aceitação desse tipo de justiça é alta no Peru, até mais do que em outros países latino-americanos, de acordo com um estudo recente.
No Brasil, houve casos recentes de supostos criminosos que foram "punidos" por moradores. No ano passado, uma mulher foi espancada até a morte no Guarujá (SP) após ser confundida com uma suposta sequestradora de crianças e acusada de bruxaria.


TEXTO 4 – Intolerância dispara onda de "linchamentos" virtuais
Imagine-se fazendo um comentário polêmico em uma rede social. Um comentário que de alguma forma incomode pessoas que discordam de você. Após fazer o comentário, sua rede social se enche de mensagens de pessoas destilando ódio. Você agora está exposto, recebendo ameaças e sente medo de sair à rua. Esse é um dos exemplos de como os “linchamentos” virtuais acontecem, podendo sair das telas dos computadores e smartphones e provocar tragédias.
Intolerância, impaciência, ódio, rancor, brutalidade. Esses são alguns dos ingredientes utilizados por quem pratica o linchamento. A ideia de fazer justiça com as próprias mãos é uma prática que tem se tornado constante na atualidade, principalmente na América Latina. A decisão de responder com violência a algum acontecimento chocante é razão para que as pessoas se juntem em multidões e pratiquem as agressões.
A psicóloga Marília Zara, especialista em orientação familiar, explica que a união das pessoas em prol do linchamento é a escolha de atitudes primitivas, animalescas que não dão brecha para a empatia (saber se colocar no lugar do outro). “Vão contra não só a vítima, mas à ordem da sociedade que por anos lutou por uma penalização por meio da Justiça e não mais de forma primitiva como nos tempos da Idade Média”, diz Marília. Zara comenta que por causa do mau funcionamento das leis brasileiras o comportamento de quem lincha sinaliza a impaciência e insatisfação do coletivo, ou até mesmo um medo da própria desproteção, uma insegurança devido aos déficits sociais do Brasil.
Levantamento feito pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da USP (Universidade de São Paulo), identificou 1.179 linchamentos entre 1980 e 2006 em todo o Brasil. Em entrevista à BBC Brasil em julho deste ano, a pesquisadora Ariadne Natal, doutoranda em Sociologia pela USP, comentou que quem lincha sabe que tem respaldo social para isso no Brasil. Quem está ali linchando sabe que não haverá depoimentos de testemunhas nem maiores investigações ou punições.
Na internet, as marcas psicológicas de quem foi exposto publicamente por causa de alguma opinião também são evidentes. A internet tornou-se território livre para manifestações do pensamento. A divergência de opiniões, porém, quase sempre conduz a reações intolerantes, ainda mais quando os autores do ato se escondem atrás dos chamados perfis falsos, os "fakes".

TEXTO 5 – ‘Quem lincha sabe que tem respaldo social no Brasil’, diz pesquisadora
Pesquisadora defende que há uma série de fatores que permeiam um clima de aceitação e de impunidade em relação a linchamentos, sendo que a atuação da polícia é algo crucial.
O caso de Cleidenilson Pereira da Silva, de 29 anos, espancado e esfaqueado até a morte no início de julho após ser amarrado a um poste em São Luís, no Maranhão, chocou o país. Cercado e atacado por um grupo após uma acusação de roubo, ele foi linchado em plena luz do dia. No Rio de Janeiro, na segunda-feira, Newton Costa Silva também foi espancado até a morte na favela da Rocinha, acusado de tentar matar uma mulher e seus dois filhos.
Em comum, os dois casos trazem à tona a inegável brutalidade dos linchamentos, um fenômeno que tem chamado a atenção no país.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista que ela concedeu à BBC Brasil:
BBC Brasil: Recentemente temos visto linchamentos motivados por assaltos e pequenos delitos, quando, em geral, reações semelhantes tendem a ocorrer após crimes chocantes como estupros de crianças. Há uma nova tendência nesse sentido ocorrendo no Brasil, de banalização da violência e da intolerância?
Ariadne Natal: Diferentemente da Justiça, que fixa penas proporcionais à gravidade do crime, o linchamento não tem a mesma lógica. Um linchamento pode ser motivado por crimes contra a vida, contra os costumes – como estupros -, contra o patrimônio. É difícil indicar se há uma tendência clara de banalização, pois há ocorrências de todos os tipos atualmente. No entanto, nos 589 casos que analisei na região metropolitana de São Paulo, entre 1980 e 2009, os motivos variaram ao longo do tempo.
BBC Brasil: Quem são as pessoas com mais chances de serem linchadas no Brasil?
O perfil da vítima de linchamento é muito similar ao da vítima de homicídio: 95% homens, jovens, a maior parte entre 15 e 30 anos. É raro uma mulher ser vítima de linchamento, embora haja casos famosos, como o do Guarujá. Em geral também são pessoas pobres. A maior parte dos linchamentos ocorre em regiões carentes e periféricas, seja em grandes metrópoles ou cidades do interior, onde o Estado é pouco presente.
BBC Brasil: O linchamento é previsto no Código Penal como crime específico? Torná-lo crime hediondo, por exemplo, poderia coibir sua prática?
O linchamento não é um tipo penal, ou seja, não existe o crime específico de linchamento no Código Penal brasileiro. Um caso de linchamento pode ser registrado como tentativa de homicídio, homicídio ou lesão corporal. Não acredito que o endurecimento penal possa ter um impacto sobre esse fenômeno. Precisamos promover mudanças nas instituições, incluindo as polícias, o Judiciário e sobretudo a sociedade, que considera linchar alguém algo aceitável.
Além disso, é um crime de difícil apuração. Apesar de ocorrer à luz do dia, em público, há um pacto de silêncio após o término. Juntando a isso a característica da Justiça brasileira, que busca individualizar a ação de cada pessoa, por não prever crimes coletivos, os linchamentos tornam-se situações onde a punição é rara.
BBC Brasil: Qual é o papel da polícia nisso? Como policiais tendem a se comportar quando chegam a uma cena de linchamento e como poderiam atuar por mais punição?
O linchamento ocorre a partir de uma suposta acusação inicial. Seja um estupro, um abuso ou um roubo. E, quando a polícia chega, de forma geral, vai lidar com aquela situação inicial. A polícia está ali para investigar o roubo, e o linchamento costuma passar a reboque, sem ser problematizado, sobretudo se a vítima já estiver morta.
Frequentemente o crime menos grave, de roubo ou assalto, vai ser o foco da atenção, e não o de lesão corporal ou até homicídio. A polícia não busca os responsáveis, apesar de estar diante de uma pessoa machucada ou morta, e a sociedade aceita isso como natural. Até mesmo a mídia aceita isso como natural, por não questionar a ação da polícia e a ausência de investigações.
BBC Brasil: Como explicar a atitude da polícia?
A atitude policial diante de um linchamento no Brasil pode variar da prestação de socorro até a participação, omissão e mesmo a incitação. No meu estudo, por exemplo, encontrei um exemplo de linchamento incitado por policiais.
BBC Brasil: Que tipo de participação os policiais tiveram nesse caso de incitamento? Há episódios recentes semelhantes?
Em São Paulo, na década de 1980, um rapaz foi acusado de roubar um taxista. A PM chegou e prendeu esse homem. Ao longo do caminho para a delegacia, os policiais paravam em pontos de táxi e alertavam que estavam com o suspeito. Esses taxistas começaram a seguir o carro da polícia e, quando a viatura chegou à delegacia, foi estacionada a uma distância do prédio policial, deixando o rapaz vulnerável na rua, e ele foi atacado pelos taxistas. Foi um linchamento programado, visivelmente incitado por policiais e documentado pela mídia na época.
No caso recente ocorrido no Maranhão (no início de julho), há imagens que mostram um policial chegando ao local onde o rapaz havia sido linchado. Mas, em vez de tentar socorrer a vítima ou preservar a cena do crime e deter os responsáveis, esse policial saca o celular do bolso e começa a filmar também.
É um cenário contraditório. De um lado, a ação da polícia é importante para impedir que uma tentativa de linchamento acabe em morte. E, ao longo dos anos, a ação da polícia fez com que os linchamentos se tornassem menos letais no país.
Mas a atitude perante os linchadores, no entanto, continua a mesma do passado. Por via de regra não são identificados, detidos, interrogados, e o anonimato coletivo é preservado, sem que ninguém seja nem sequer processado.
BBC Brasil: Com base nessas conclusões, é possível afirmar que o linchamento é um crime praticamente impune no Brasil? Até mesmo com filmagens em casos recentes?
No Brasil o linchamento é um crime de difícil elucidação e há grandes dificuldades para apontar as responsabilidades individuais de cada envolvido. Apesar da omissão e da cultura de aceitação da violência entre as forças policiais, até há tentativas incipientes de investigação. Quanto à impunidade, para ter uma ideia, de 589 casos analisados num período de 30 anos na região metropolitana de São Paulo, apenas um resultou em julgamento. E há muita subnotificação. Dependemos da mídia para saber, já que não há estatísticas oficiais.
Os vídeos podem ajudar, mas estas filmagens costumam ser feitas no calor dos acontecimentos, de forma irregular e muito movimento, e em geral a câmera foca na vítima, e não nos algozes.
No caso do Maranhão, a polícia conseguiu identificar uma facada no coração como a causa da morte do rapaz linchado, então provavelmente vão agora tentar identificar quem desferiu esse golpe, e essa pessoa, se encontrada, poderá responder pela morte do rapaz.
Quem lincha sabe que tem respaldo social para isso no Brasil. Quem está ali linchando sabe que não haverá depoimentos de testemunhas nem maiores investigações ou punições. Do contrário, como explicar alguém que se dispõe a assassinar uma pessoa em praça pública, sem esconder identidade, à luz do dia, sendo até filmada? As ações dos que assistem, da sociedade, da polícia e das instituições dão a essas pessoas a certeza de que estão fazendo algo certo.

ATUALIZANDO...
26/07/2016 21h10 - Atualizado em 26/07/2016 21h11
Justiça do MA decide que 9 pessoas irão a Júri por linchamento de homem
Cleidenilson Pereira da Silva foi morto a socos e pontapés em São Luís.
Réus respondem por homicídio duplamente qualificado.

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