domingo, 12 de fevereiro de 2017

Aula 02/2017 - Todo poder emana do povo! Inclusive a corrupção?

Fonte: http://istoenoticia.com/wp-content/uploads/2017/02/Vereadora-robando.jpg

No Brasil, basta um escândalo de corrupção estampar as manchetes dos jornais para que os comentaristas de plantão vociferem palavras de ordem na internet em que exigem, até, a pena de morte para os corruptores. Mas esses mesmos gritos raivosos aceitam, pacificamente, os pequenos crimes que eles próprios e muitos conhecidos praticam no dia a dia, sem nem mesmo perceber que o “jeitinho” do cotidiano também é uma forma de corrupção.
Na última semana, um cartaz colado em um muro de uma grande avenida de São Paulo perguntava aos passantes: “Habilitação suspensa?”. O anúncio, que desrespeitava a lei Cidade Limpa, legislação municipal que proíbe a colocação de cartazes em locais públicos, trazia um número de telefone e oferecia um serviço: dar um “jeitinho” nos pontos obtidos na carteira de motoristas que tiveram suas licenças para dirigir retiradas por causa do excesso de multas recebidas no trânsito.
O trabalho poderia aliviar a barra de pessoas que dirigiram acima do limite de velocidade, andaram “só por alguns minutos” na faixa exclusiva de ônibus ou que beberam além dos limites permitidos antes de assumir o volante. Tudo justificado pelos receptores da multa com argumentos como a pressa e a falta de transporte público barato e de qualidade durante as madrugadas. Muitas dessas pessoas, inclusive, podem até ter comprado a carteira de motorista, pagando uma propina para que o fiscal que realiza a prova prática ajudasse na tarefa.
O “jeitinho” brasileiro se estende para além do trânsito. Em pleno centro de São Paulo, a maior cidade do país, é possível comprar diplomas falsos que permitem a participação em concursos públicos e, mais comum ainda, atestados médicos, para justificar ausências mais prolongadas no trabalho. Também é possível, sem nem mesmo sair de casa, “roubar” o sinal da TV à cabo do vizinho, sem que ele saiba, ou comprar um aparelho decodificador de sinal pela própria internet e usá-lo para sempre sem ter que pagar mensalidade às operadoras, que, afinal, “cobram muito caro”. A prática é tão institucionalizada que tem até nome: “o gato net”.
“Não é que as pessoas não percebam que são erradas. O que elas fazem é justificar esse erro por conta de alguma coisa que diga respeito aos seus interesses e necessidades mais imediatas. A questão que envolve o problema da corrupção é essa ambivalência dos valores”, afirma Fernando Filgueiras, coordenador do centro. “Facilmente identificamos a corrupção praticada por políticos, burocratas, empresários, lobistas. Mas quando diz respeito à ordem do cotidiano, essa ambivalência surge porque sempre identificamos a corrupção no outro. Se observarmos o cotidiano, essa ambivalência sempre se faz presente, porque tentamos justificar nossos atos. Essa fronteira é sempre muito tênue. Todos somos contra a corrupção. Até os corruptos o são. O problema é quando você olha a sua ação individual”, complementa ele.

Material da aula
TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Candidata é fotografada saqueando loja no ES e se apresenta à polícia
Denunciada nas redes socias por saquear uma loja, a filiada ao PSDB-ES, Marcela Ranocchia, 23 anos, que foi candidata a vereadora em 2016, devolveu os produtos furtados na Delegacia de Cachoeiro de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, nesta segunda-feira (7/2).
A foto que supostamente mostra Marcela foi compartilhada nas redes sociais. Não há informação sobre o dia que aconteceu o saque, nem do local furtado.  O Espírito Santo está sem a PM nas ruas porque protestos de familiares dos policiais bloqueiam as saídas dos batalhões. As famílias pedem reajuste salarial para a categoria, que é proibida de fazer greve, e o governo nega. Desde sábado (4/2), o estado vive uma onda de violência com mortes, saques e assaltos.
De acordo com a Polícia Civil, Marcela procurou a Delegacia de Crimes Contra o Patrimônio (Depatri), acompanhada de um advogado e devolveu óculos, sapatos, assessórios, mochilas, bolsas, roupas íntimas e uma panela de pressão.
Marcela foi ouvida e liberada. Segundo a Polícia Civil, as pessoas que estão fazendo a entrega voluntária dos produtos não serão autuadas em flagrante por estar colaborando, mas elas responderão em liberdade.
Os que ainda tiverem com os produtos que foram furtados em suas casas podem ligar para a Depatri no telefone 028 3155-5323 ou podem comparecer na delegacia.
Até o momento cerca de 80 pessoas foram identificadas pelas filmagens e placas de veículos, em Cachoeiro de Itapemirim. As pessoas que não entregarem os produtos e forem pegas em flagrante responderão por receptação, furto qualificado e associação criminosa, segundo a polícia.
O PSDB emitiu uma nota oficial nesta terça-feira (07) na qual afirma que as medidas cabíveis para a verificação e punição pelo partido já estão sendo adotadas, inclusive com a instauração de processo disciplinar no Conselho de Ética e Disciplina. Confirmado o fato, após a garantia da ampla defesa e do contraditório, será expulsa.

TEXTO 2 – Opinião de capixabas sitiados: crise no ES é também de valores
''A moral de um povo que saqueia, certamente, é uma moral distorcida''. Leia a opinião do Padre Helder Salvador
"Com a crise na segurança do estado do Espírito Santo, assistimos nestes dias um triste "espetáculo" pelas cidades capixabas: lojas e supermercados saqueados por "bandidos" e populares, não importando de que se trate, mesmo que o valor seja ínfimo o “bonito é saquear”!
Um povo que saiu às ruas exigindo impeachment de um presidente por corrupção devia ter um mínimo de ética para fazê-lo, coisa que não tem.
Ética, segundo Motta (1984) é definida como um “conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo, outrossim, o bem-estar social”, ou seja, Ética é a forma que o homem deve se comportar no seu meio social.
E a diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juiz das morais, assim Ética é uma espécie de legislação do comportamento Moral das pessoas.
A moral de um povo que saqueia, certamente, é uma moral distorcida; vivem num mundo que ainda não aprenderam a distinquir o que é do outro, e por mais que exista os códigos comportamentais de conduta na sociedade essas pessoas optaram por fechar os olhos e fazer o que bem entendem. - “Se eu não “saquear” (pegar) fulano pega, então pego eu”.
O pior de tudo isso é a falta de noção de civilidade e amor ao próximo que essas pessoas têm.
O povo brasileiro perdeu a sensibilidade frente a essa violência toda que assola o estado do Espírito Santo e o país.
Parece que estão se acostumando a ver tragédias, não se importam mais, só querem saber de se dar bem.
Portanto a crise no estado do Espírito Santo não é só da segurança pública, é sim e sobretudo crise Ética, crise de valores. Não é a polícia que me impede de saquear. São os meus valores pessoais e sociais."

TEXTO 3 – O real combate à corrupção
A ideia de que a corrupção no Brasil é causada pela presença de um ou de outro mau político e que a sua retirada do governo deixaria o país livre da corrupção constitui uma ideia completamente equivocada
O grupo de intelectuais que tem uma preocupação de longo prazo com a corrupção e seu impacto no sistema político brasileiro. Em nossas pesquisas, identificamos que a população brasileira considera a corrupção um grave problema, dos mais graves enfrentados pelo país. Mas a ideia de que a corrupção no Brasil é causada pela presença de um ou de outro mau político ou administrador no governo e que a sua retirada ou a retirada de todos eles deixaria o país livre da corrupção, constitui uma ideia completamente equivocada.
Sendo assim, a ideia de que o que o país necessita é uma “faxina”, tal como temos lido todos os dias na grande imprensa nas últimas semanas, é uma ideia completamente equivocada por dois motivos: porque é evidente que sem corrigir alguns processos na organização do estado e do sistema político, a corrupção voltará a estar presente nestes mesmos lugares; segundo porque a seletividade desta “faxina” pautada por alguns órgãos da grande imprensa irá desestruturar o governo e sua base de sustentação sem gerar um governo ou um estado menos corrupto.
A corrupção no Brasil tem duas causas fundamentais e sem identificá-las não é possível combatê-la. A primeira destas causas é o sistema de financiamento de campanhas políticas. O Brasil tem um sistema de campanha absolutamente inadequado, no qual os recursos públicos alocados aos partidos são absolutamente insuficientes.
O problema do financiamento do sistema político acaba sendo resolvido nas negociações para a sustentação do governo no Congresso. As coalizões de governo são fundamentais para assegurar a maioria do Executivo no Congresso, já que, desde a eleição de 1989, o partido do presidente não alcança mais do que 20% dos votos para o congresso.
Mas o problema é que estas coalizões se tornaram um sistema de troca no qual a indicação de políticos da base governista para cargos no executivo federal torna-se uma forma de arrecadação de recursos de campanha para os partidos. Ao mesmo tempo, as emendas de bancada, especialmente as coletivas, são frequentemente pensadas como forma de arrecadar recursos para os partidos.
Essa é uma das origens importantes dos escândalos recentes, que, diferentemente do que lemos na grande imprensa, afetam todos os partidos que fazem parte das coalizões de governo desde 1994.
Portanto, sem rever profundamente o sistema de financiamento dos partidos não é possível extinguir este processo. Ao mesmo tempo, é urgente rever o esquema de emendas parlamentares que se tornou um tremendo desperdício de recursos públicos.

TEXTO 4 – Olha quem está falando! – a corrupção nossa de cada dia
A mania de burlar regras e flexibilizar as normas é tão cristalizada em nós que com certeza será necessário mais do que um julgamento midiático para nos colocar num caminho mais honesto. Não que sejamos todos um bando de ladrões, mas quanto mais banal a infração, quanto menor o ganho que um jeitinho nos traz, mais nos convencemos que essa pequena corrupção do dia-a-dia não tem nada de mais, o que dificulta seu combate efetivo. É o mecanismo clássico chamado dissonância cognitiva.
Essa estratégia mental, em grande parte inconsciente, entra em ação quando nossas opiniões não condizem com nossos atos, quando nossas crenças não batem com a realidade, quando existe, enfim, um descompasso em nossa mente. Isso faz surgir um desconforto que nos leva a mudar de opinião, de crença ou de atitude, ajustando-as aos fatos e reduzindo o mal-estar.
Penso que esse mesmo efeito nos atrapalha na hora de reconhecer, admitir e por fim combater a corrupção generalizada. Quando se pagam cem reais para um policial não aplicar uma multa de quinhentos, quando se compram notas fiscais para sonegar oitocentos, mil reais de impostos, quando o serviço sem nota tem 10% de desconto quer-se crer que não se está fazendo nada de mais, já que os valores são tão baixos perto dos milhões roubados no país. Mas acho que no fundo isso são só argumentos para reduzir o desconforto de se vender por pouco. Sem se convencer de que isso são bobagens teríamos que admitir que, muitas vezes, a diferença para José Dirceu, Marcos Valério ou João Paulo Cunha é apenas uma questão de preço.
TEXTO 5 – Corrupção ativa e corrupção passiva
Corrupção é um crime bem interessante pois ele pode existir em três ‘sabores’: corrupção ativa, corrupção passiva, e corrupção ativa e passiva.
A corrupção passiva ocorre quando o agente público pede uma propina ou qualquer outra coisa para fazer ou deixar de fazer algo. Por exemplo, o juiz que pede um ‘cafezinho’ para julgar um processo mais rapidamente ou o senador que pede uma ajuda para a campanha em troca de seu voto. Não importa que a outra parte dê o que é pedido pelo corrupto: o corrupto comete o crime a partir do momento que pede a coisa ou vantagem. A outra parte, inclusive, pode/deve chamar a polícia para prender o criminoso.
Já a corrupção ativa ocorre quando alguém oferece alguma coisa (normalmente, mas não necessariamente, dinheiro ou um bem) para que um agente público faça ou deixe de fazer algo que não deveria. Por exemplo, o motorista que, parado por excesso de velocidade, oferece uma ‘ajuda para o leitinho das crianças’ ao policial. Reparem que, nesse caso, o criminoso é quem oferece a propina e não o agente público – que provavelmente irá prender o criminoso. Para que o crime esteja configurado, não importa que o agente aceite a propina: o crime se consuma no momento em que o motorista tenta corromper o policial, ou seja, no momento em que ele ofereceu a propina.
Mas é possível também que ambas as partes cometam o crime. Se o motorista oferece e o policial aceita, ambos cometeram crimes. O policial cometeu o crime de corrupção passiva, e o motorista de corrupção ativa. Mas reparem que os crimes foram cometidos em momentos distintos: o motorista cometeu a corrupção ativa quando ofereceu, mas o policial só cometeu a corrupção passiva quando aceitou. Se não tivesse aceito, não teria cometido o crime.
TEXTO 6 – Infográfico

TEXTO 7 – Está em todo lugar uma história sobre umas medidas de combate à corrupção. Que história é essa?
A história é a seguinte: a Câmara dos Deputados votou (30/11) um “pacote” de medidas contra a corrupção.
E o que diz esse tal pacote de medidas?
Várias coisas. A proposta original, defendida pelo Ministério Público Federal, pretendia o seguinte: fazer com que a corrupção entrasse na lista de crimes hediondos (ou seja, muito graves e que sofrem punições mais duras), responsabilização dos eleitores que venderem seu voto, a criação de testes de integridade para agentes públicos (uma espécia de pegadinha para saber se a pessoa estaria disposta a se corromper), que pessoas fiquem presas até que o dinheiro desviado seja recuperado, dificultar a obtenção de habeas corpus (uma proteção ao direito de ir e vir) entre outras medidas.
Alguma coisa mudou?
Sim. Na comissão especial, alguns itens foram retirados da proposta, como o teste de integridade, as dificuldades para o habeas corpus e o prazo de um ano para que a Polícia Federal e o Ministério Público investiguem políticos. E na votação de ontem, a proposta aprovada tipifica (cria) o crime de caixa dois eleitoral.
É essa a tal da história da anistia? Do que se trata?
Exatamente: esse é um dos pontos mais polêmicos dessa história. A proposta enviada pelo Ministério Público prevê penas mais severas para partidos políticos que fizerem caixa 2 (ou seja, receberem dinheiro sem declarar que recebeu). Você precisa saber que o caixa 2 já está sendo punido, por exemplo, pelo juiz Sérgio Moro.
Se já é punido, por que precisa de mais uma lei?
Segundo o MPF, é necessário que as punições ao caixa 2 sejam mais duras para evitar que os partidos e políticos cometam esse crime. Mas, quando o projeto de lei chegou à comissão, ele foi alterado pelos deputados. O texto original dizia que qualquer dinheiro de caixa 2 seria considerado crime, seja de origem legal ou ilegal. Os deputados decidiram criar dois itens diferentes, com punições diferentes: o caixa 2 com dinheiro legal tem uma pena menor que o caixa 2 com dinheiro ilegal. Mas essa proposta foi retirada para que a proposta fosse votada.*
Tem alguma outra polêmica?
Tem sim: ontem também foi aprovada uma emenda (um acréscimo) que diz que juízes e promotores podem ser punidos por abuso de autoridade. O MPF e os juízes eram contra isso porque dizem que podem atrapalhar seu trabalho.
Como atrapalharia? Não é bom eles terem que ser responsáveis?
Sim, isso é necessário, mas quem é contra diz que isso pode ser uma desculpa para quem quer fugir da justiça: um réu pode abusar desse direito para acusar um juiz e atrasar o processo.
O que os juízes e procuradores disseram sobre isso?
A força-tarefa (grupo de trabalho) da Lava Jato ameaçou renunciar caso a proposta passe do jeito que está.
E agora? O que vai acontecer com essa lei?
Ela precisa ser aprovada pelo Senado e, depois, sancionada (assinada) pelo presidente.
Eu vi que o Senado tentou votar a proposta hoje. O que houve?
O presidente do Senado, Renan Calheiros, propôs que as medidas contra a corrupção tivessem urgência (ou seja, furassem a fila das votações), mas os senadores rejeitaram essa ideia.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Aula 01/2017 - Descriminalização da violência doméstica na Rússia





O projeto de lei, batizado de “lei da bofetada”, já passou pela fase inicial ao ser aprovado pela Assembleia Federal da Rússia. A proposta é eliminar sanções penais aplicadas sobre as primeiras infrações ou a ataques que ocorrem apenas uma vez ao ano, no qual a mulher ou criança não é “seriamente” ferida.

Em entrevista à CNN, Yelena Mizulina, senadora conservadora que propôs a medida, disse que as penalidades atuais são “anti-família” e uma “intervenção sem fundamento sobre assuntos familiares”. “Não dá para querer que as pessoas sejam presas por dois anos ou rotuladas de criminosas pelo resto de suas vidas por uma bofetada.”



Textos da aula

TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Rússia decidiu pela descriminalização da violência doméstica
Projeto de lei que recebeu apenas três votos contrários no Parlamento, deve ser assinado pelo presidente Putin, que já declarou seu apoio à medida
A Assembleia Federal da Rússia (Duma) votou e decidiu pela descriminalização da violência doméstica no país em casos em que não haja "agressão física grave" e não ocorram mais de uma vez ao ano. A votação aconteceu nesta sexta-feira (27) e recebeu 380 votos favoráveis e apenas três votos contrários.
De acorto com o "USA Today", a decisão elimina a responsabilidade criminal por violência doméstica , determinando punição através de uma multa de aproximadamente 500 dólares (cerca de R$1.500,00) ou 15 dias de prisão, desde que o ato não seja repetido dentro de 12 meses.
“De acordo com estatísticas do governo da Rússia, 40% de todos os crimes violentos são cometidos no núcleo familiar
O projeto de lei agora será encaminhado para aprovação da Câmara Superior, onde não é esperada oposição. Em seguida, o projeto deverá ser assinado pelo presidente Vladmir Putin, que já demonstrou seu apoio. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que conflitos familiares “não constituem, necessariamente, violência doméstica”.
A aprovação no parlamento contraria uma decisão da Suprema Corte no último ano que descriminalizou agressão que não resulte em dano corporal grave, mas manteve acusações criminais envolvendo agressão contra membros da família. O líder do partido Rússia Unida, Andrei Isayev, acredita que os legisladores estão “ao clamor público”, corrigindo o erro cometido no ano passado.
Uma pesquisa realizada por telefone com 1,8 mil cidadãos da Rússia entre os dias 13 e 15 de janeiro descobriu que 19% dos russos acreditam que "seja aceitável” bater na esposa, marido ou filho “em certas circunstâncias”. A margem de erro da pesquisa é de 2,5 pontos percentuais.
“ 19% dos russos acreditam que seja aceitável bater na esposa, marido ou filho
De certa forma, o novo projeto de lei reflete um provérbio russo que diz: “se ele te bate, quer dizer que te ama”. De acordo com estatísticas do governo da Rússia, 40% de todos os crimes violentos são cometidos no núcleo familiar. No total, 36 mil mulheres apanham de seus parceiros a cada dia e 26 mil crianças apanham de seus pais a cada ano no país.
A polícia russa é muitas vezes relutante ao lidar com casos de violência doméstica, por acreditar que interferir seria ‘se meter’ em problemas familiares. Em novembro de 2016, uma mulher ligou para as autoridades para pedir ajuda contra o comportamento agressivo de seu namorado, mas os oficiais responderam que só iriam a seu resgate se ela morresse. Logo em seguida, ela foi espancada até a morte por seu namorado.
Link deste artigo: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2017-01-27/russia-violencia-domestica.html

TEXTO 2 – E no Brasil?
1 - A lei representa um reconhecimento do Estado brasileiro de que, em nosso contexto, os papéis associados ao gênero feminino e o lugar privilegiado do gênero masculino nas relações geram vulnerabilidades para as mulheres, que acabam sendo mais expostas socialmente a certos tipos de violência e violações de direitos.
2 - A Lei Maria da Penha define cinco formas de violência doméstica e familiar, deixando claro que não existe apenas a violência que deixa marcas físicas evidentes:
– violência psicológica: xingar, humilhar, ameaçar, intimidar e amedrontar; criticar continuamente, desvalorizar os atos e desconsiderar a opinião ou decisão da mulher; debochar publicamente, diminuir a autoestima; tentar fazer a mulher ficar confusa ou achar que está louca; controlar tudo o que ela faz, quando sai, com quem e aonde vai; usar os filhos para fazer chantagem – são alguns exemplos de violência psicológica, de acordo com a cartilha Viver sem violência é direito de toda mulher;
– violência física: bater e espancar; empurrar, atirar objetos, sacudir, morder ou puxar os cabelos; mutilar e torturar; usar arma branca, como faca ou ferramentas de trabalho, ou de fogo;
– violência sexual: forçar relações sexuais quando a mulher não quer ou quando estiver dormindo ou sem condições de consentir; fazer a mulher olhar imagens pornográficas quando ela não quer; obrigar a mulher a fazer sexo com outra(s) pessoa(s); impedir a mulher de prevenir a gravidez, forçá-la a engravidar ou ainda forçar o aborto quando ela não quiser;
– violência patrimonial: controlar, reter ou tirar dinheiro dela; causar danos de propósito a objetos de que ela gosta; destruir, reter objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais e outros bens e direitos;
– violência moral: fazer comentários ofensivos na frente de estranhos e/ou conhecidos; humilhar a mulher publicamente; expor a vida íntima do casal para outras pessoas, inclusive nas redes sociais; acusar publicamente a mulher de cometer crimes; inventar histórias e/ou falar mal da mulher para os outros com o intuito de diminuí-la perante amigos e parentes.
3 - Na maior parte dos casos, as diferentes formas de violência acontecem de modo combinado.
No estudo multipaíses da OMS realizado no Brasil (Estudio multipaís de la OMS sobre salud de la mujer y violencia doméstica contra la mujer (OMS, 2002), cerca de 30% das mulheres que disseram ter sido agredidas pelo parceiro afirmam que foram vítimas tanto de violência física como de violência sexual; mais de 60% admitem ter sofrido apenas agressões físicas; e menos de 10% contam ter sofrido apenas violência sexual.
4 - Além de ação, a omissão diante da violência também é responsabilizada pela Lei: fazer de conta que não viu, omitir-se ou ser conivente com uma agressão aos direitos da mulher também é uma maneira de praticar violência.

TEXTO 3 – Quais as causas
Exemplos de como esses estereótipos estão nas raízes da violência doméstica:
‘Ela não cumpriu o seu papel como mulher’
“Grande parte dos homens autores de violências contra suas parceiras dizem: ‘eu bati nela porque ela me tirou do sério, me irritou, a culpa é dela’. Quando a gente começa a analisar isso junto com eles e questionar – ‘por que você acha que tem direito de controlar a maneira como ela se veste? Por que você acha que ela deve cozinhar para você?’ – é quase impossível separar o que eles entendem como ‘ser homem’ e os direitos que isso lhes dá, da maneira que eles se comportam e de suas atitudes’.”
Achar que é uma prerrogativa do parceiro ‘disciplinar’ ou ‘controlar’ a mulher ou que ela é a única responsável pelas tarefas domésticas e de cuidado com as crianças e idosos são exemplos de como papéis rígidos de gênero podem ser utilizados para ‘justificar’ a violação do direito das mulheres a uma vida livre de violência.
Esta lógica de pensamento masculino que cristaliza ‘deveres femininos’, muitas vezes, aparece também nas raízes do estupro conjugal – a violência sexual praticada pelo próprio parceiro da mulher, quando esse homem assume que o relacionamento é uma prerrogativa para a relação sexual independentemente da vontade e do consentimento da mulher.
A decisão da mulher de romper um relacionamento não é aceita
“No Brasil, há um desenvolvimento da estrutura psíquica masculina — do ponto de vista cultural, não de indivíduos em particular — que está pouco preparada para receber a rejeição feminina. É ele que pode rejeitar. Este modelo aparece de maneira muito forte na violência contra as mulheres, porque quando uma mulher desiste daquele homem e decide acabar com a relação, a honra dele está manchada. São os casos mais clássicos de pancadaria na família ou eventualmente assassinato da mulher.”
Não por acaso, o momento de rompimento da relação violenta é visto por especialistas como um momento de grande risco para a integridade física e a vida da mulher (ver mais sobre feminicídio).
‘Foi ela que começou’: ninguém deve ser responsabilizado pela violência que sofreu
“A maioria dos homens se sente extremamente injustiçada e é preciso quebrar essa barreira. Trabalhamos muito a responsabilização com os homens autores de agressão, fazemos um trabalho de desconstrução da desigualdade entre homens e mulheres e de responsabilização pelo ato de violência.”
Um problema que acontece com frequência é que os agressores, autorizados pela cultura de desigualdade entre homens e mulheres, não enxergam que cometeram uma violência e jogam a responsabilidade dos seus atos na vítima.

TEXTO 4 – Infográfico

Fonte:       http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/violencias/violencia-domestica-e-familiar-contra-as-mulheres/

TEXTO 5 – Um caso recente
Chacina de Campinas: um feminicídio
Técnico matou a ex-mulher, o filho e outras dez pessoas na noite de Réveillon. Das 12 vítimas, 9 eram mulheres, a quem chamou de "vadias"
Mãe e filho são enterrados. "Quero pegar o máximo de vadias da família juntas", escreveu o assassino
Uma carta escrita pelo assassino e divulgada no domingo 1º pelo jornal O Estado de S. Paulo não deixa dúvidas: trata-se de feminicídio, crime no qual as mulheres são mortas em razão do gênero, ou seja, por menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Na carta, Araújo usa 12 vezes a palavra “vadia” para se referir à ex-mulher e às mulheres da família dela. “Quero pegar o máximo de vadias da família juntas”, escreveu.
Em outro trecho, em que o ódio e a misoginia ficam ainda mais evidentes, o assassino diz ter “raiva das vadias que se proliferam e muito a cada dia se beneficiando da lei vadia da penha!”, uma referência à Lei Maria da Penha. Araújo desconhecia ou ignorava o fato de que a lei, criada em 2006, reduziu em cerca de 10% a taxa de homicídio contra mulheres vítimas de violência doméstica, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Apesar dos avanços trazidos pelas leis do Feminicídio e Maria Penha, a violência de gênero faz parte do cotidiano do País. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) compilados no Mapa da Violência 2015 apontam que o Brasil é o quinto país do mundo em assassinatos de mulheres, atrás apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia.
 “Além do crime de assassinato cometido em uma circunstância de violência doméstica familiar, o assassino mostra muito menosprezo à mulher, à condição do sexo feminino. Isso abrange todas as vítimas dessa chacina”, afirma. Para Sanematsu, que participou da elaboração do Dossiê Feminicídio, o caso expõe a urgência em debater o machismo na sociedade brasileira.
 “O que leva a esse ódio? Isso representa, para mim, a incapacidade do homem de lidar com o empoderamento das mulheres. Esse empoderamento leva as mulheres a dizerem não, e as reações extremas vêm daqueles que não sabem lidar com a contrariedade. Então toda mulher que contraria a sua vontade, a sua ordem e a sua opinião é uma vadia. E é essa mulher que merece ser agredida, que merece ser morta. É muito preocupante”, completa Sanematsu.
Entre as 12 vítimas de Araújo está também João Victor Filier de Araújo, de 8 anos, filho dele com Isamara. Os pais disputavam a guarda da criança, e em 2012 Araújo foi acusado pela ex-mulher de abusar sexualmente do filho. A Justiça considerou que as acusações não eram “cabalmente comprovadas”, mas determinou regras de convívio restritas. De acordo com Daniela Teixeira, vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do Distrito Federal, a Justiça falhou.
 “O Judiciário deve desculpas a essa mulher que morreu e aos parentes que também morreram. Essa mulher já tinha procurado a Justiça para dizer que ele [Araújo] era uma pessoa perturbada. Todo o sistema jurídico falhou na proteção dessa mulher, dessa criança e das outras pessoas inocentes que foram mortas nesse Réveillon”, afirma Teixeira. “As atitudes dele comprovam que ela [Isamara] tinha razão. Esse pai não podia ficar perto do filho. Olha o que ele foi capaz de fazer”, continua.
Na carta, Araújo coloca-se como vítima de uma “injustiça”, de um plano armado pela ex-mulher para distanciá-lo do filho. Por fim, incita o ódio e a violência contra as mulheres.
 “Eu morro por justiça, dignidade, honra e pelo meu direito de ser pai! (...) A vadia foi ardilosa e inspirou outras vadias a fazer o mesmo com os filhos, agora os pais quem irão se inspirar e acabar com as famílias das vadias”, escreveu o assassino.
Para Sanematsu, do Patrícia Galvão, agora é o momento de desviar os holofotes do discurso misógino do assassino. “O que me preocupa é que esse discurso encontre ressonância em boa parte da população, especialmente masculina, que também está insatisfeita, se sentindo impotente”, afirma.
Daniela Teixeira, da OAB-DF, concorda. “O que choca são as reações, os comentários nas reportagens. As pessoas estão justificando a atitude dele, como se a mulher devesse ser responsabilizada.”



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