segunda-feira, 19 de junho de 2017

Aula 11/2017 - Justiça com as próprias mãos




Texto da aula

TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Tatuagem na testa, punição usada antes de Cristo, há muito foi abolida
Na China antiga, existia código penal com mais de 500 crimes puníveis por tatuagens. Em SP, jovem teve a testa tatuada e tatuador foi preso.
Uma imagem chamou a atenção de todos e gerou muita polêmica: a tatuagem feita na testa de um adolescente acusado de tentar furtar uma bicicleta: “Eu sou ladrão e vacilão”. Quem flagrou a suposta tentativa de furto foi um tatuador de 27 anos, que decidiu punir o jovem por conta própria. O vizinho pedreiro filmou tudo. Tatuador e o vizinho foram presos por crime de tortura.
A tatuagem como punição já foi usada muitas vezes na história. A mais recente foi no século 19, no Japão. A tatuagem na testa era o castigo para crimes leves e durou até 1872, quando foi abolida. O registro mais antigo tem milhares de anos. A tatuagem era considerada uma forma de punição na Pérsia e na Grécia antigas, por volta do século VI antes de Cristo. Criminosos e escravos eram tatuados também no Império Romano, no século IX depois de Cristo. Na China antiga, foi praticado por milhares de anos. Existia até um código penal com mais de 500 crimes que eram puníveis por tatuagens.

TEXTO 2 – “Tortura de jovem tatuado na testa foi feita para ser consumida nas redes”
“Eu sou ladrão e vacilão”. As cinco palavras, tatuadas à força na testa de um jovem de 17 anos suspeito de tentar roubar uma bicicleta em São Bernardo do Campo, se espalharam nas redes sociais e grupos de WhatsApp. Mesmo em um país que lidera o ranking mundial de linchamentos e homicídios no mundo, acostumado às cenas de violência e a ver a população fazer o que considera ser justiça com as próprias mãos, a tortura do adolescente provocou repulsa –  mas também admiração. Para alguns, o tatuador Maycon Wesley Carvalho dos Reis e o vizinho Ronildo Moreira de Araújo, que registrou o crime em vídeo, são exemplos de “cidadãos de bem cansados de sofrer nas mãos da bandidagem”. Os dois foram presos preventivamente pelo polícia. Para Ariadne Natal, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, este tipo de ação parte do pressuposto de que o Estado “é ausente e não pune o suficiente”. “Existe uma percepção de impunidade, de que há muito crime e o Estado não está punindo o bastante. Mas quando você analisa os números, é precisamente o contrário: as cadeias estão lotadas”, afirma.
Após o crime, o coletivo Afroguerrilha organizou uma arrecadação virtual para custear a remoção da tatuagem feita no jovem bem como um tratamento para ele, que seria dependente químico. Até esta quarta-feira já haviam levantado mais de 32.000 reais, o dobro da meta. Posteriormente a Prefeitura de São Bernardo anunciou que iria custear a cirurgia para retirar a tatuagem. Nas redes sociais grupos conservadores indignados com a “vaquinha para ajudar ladrão”, reagiram, e criaram um fundo para custear a defesa dos dois torturadores – arrecadando até o momento pouco mais de 6.000. Ironicamente, em 2011 o pedreiro Ronildo Moreira de Araújo, que gravou a tortura do adolescente, havia sido condenado pelo roubo da bolsa de uma mulher em 2008.
Pergunta. O que motiva este tipo de ação?
Resposta. As pessoas têm uma sensação de insegurança muito grande, é um problema real no Brasil. Elas sofrem, têm medo, são vítimas de crimes ou conhecem alguém que foi vítima, e esse sentimento não pode ser minimizado. Além disso, existe outra percepção na sociedade, que é a de impunidade. Isso faz com que em alguns momentos as pessoas queiram tomar para si o papel que é do Estado, e aplicar uma justiça bárbara. A lógica que alimenta essas ações é a de que, por exemplo, marcar aquele rapaz é uma forma eficiente de dissuadir novos crimes. A discussão não problematiza essa questão. Se eu prendo mais, a consequência é menos crime? Não. Nada aponta para isso, as cadeias estão sempre lotadas. É preciso se pensar outras formas de gastar esses recursos.
P. Qual o papel das redes sociais nesse caso?
R. Os dois homens que torturaram o jovem de São Bernardo não queriam apenas torturar. Eles queriam humilhar publicamente, queriam fazer da ação uma vingança, para que aquilo não ficasse entre quatro paredes. Levaram para dentro de casa, que é um espaço privado, mas tornaram pública a tortura via a tatuagem, que tem a pretensão de ser permanente, ainda por cima num local de alta visibilidade, como a testa. E fizeram um vídeo. Este é um recurso superpoderoso para tornar aquilo um evento não só local. Na medida em que registram e compartilham, isso se torna uma performance para um público, a tortura do jovem foi feita para ser consumida, seja para a crítica ou para endossar a atitude deles. As redes sociais têm um papel muito importante na estratégia da agressão, ela é parte da estratégia dos torturadores.
P. A sociedade valida este tipo de violência?
R. Muito provavelmente eles pensaram que os espectadores daquela tortura concordariam com eles, e parte da sociedade considera este tipo de ação como sendo válida. Quando fizeram aquilo, e isso é uma marca também dos linchamentos, os torturadores tiveram uma percepção de que não estavam cometendo crime algum, tanto é que nem tentam esconder sua identidade no vídeo.
P. Existe uma questão socioeconômica por trás deste tipo de crime?
R. Existe uma percepção, principalmente nas periferias, que sofrem com a ausência de instituições fortes e uma menor presença do Estado, de que as pessoas precisam resolver seus próprios problemas, diferente dos bairros ricos, onde há um aparato de segurança que acaba “resolvendo” os problemas. A população mais abastada acaba terceirizando e privatizando seu aparato de segurança. Nos dois casos prevalece a ideia do cada um por si: "Ah, o Estado é ineficiente então cabe a cada um resolver seus problemas”.
P. Quais as semelhanças entre este caso de tortura e um linchamento?
R. Este não é um caso de linchamento, mas reverbera alguns dos problemas que já existem no país e apresenta inúmeros paralelos com o linchamento, que é um fenômeno antigo no Brasil, tem algumas centenas de anos. Em comum, por exemplo, está o desejo de fazer aquilo que eles consideram como sendo justiça por conta própria.

TEXTO 3 – Justiça com as próprias mãos: uma realidade cotidiana
Nas últimas seis décadas, estima-se que um milhão de pessoas tenham participado de algum caso de linchamento no país. Entenda as motivações e o contexto em que esses crimes acontecem. No fim de fevereiro de 2016, o caminhoneiro Juvenal Paulino de Souza foi espancado até a morte em Paraíso do Norte, no Paraná. Ele foi acusado por populares de ter sido avistado tocando as partes íntimas de duas crianças, uma delas de seis anos. Ele foi encontrado desacordado pela polícia; no hospital, não resistiu aos ferimentos. Um exame de corpo de delito nas crianças descartou os abusos. Casos como o de Juvenal são comuns no país. O Brasil tem pelo menos um caso de linchamento por dia. Nas últimas seis décadas, estima-se que um milhão de pessoas tenham participado de algum caso de violência coletiva no país. O número é do sociólogo José de Souza Martins, autor de um livro e um dos maiores especialistas sobre o tema no Brasil. Com tantos casos, os linchamentos não podem mais ser vistos como momentos excepcionais. A recorrência do fenômeno faz com que ele possa ser considerado um componente da realidade social brasileira.
QUAL é o perfil dos linchamentos no Brasil?
Um linchamento é um assassinato (ou uma tentativa) cometido por um grupo grande de pessoas, cujas motivações conjugam a ideia de execução sumária, justiça social e vingança. Os contextos podem variar, mas o caráter coletivo da ação, a ideia de justiça com as próprias mãos e os preconceitos que geralmente orientam esse tipo de comportamento são elementos comuns na maioria dos episódios.
Casos recentes ilustram como é o fenômeno no país. Em setembro de 2015, por exemplo, o servente de pedreiro Aldecir Bezerra da Silva, de 38 anos, foi espancado até a morte por um grupo de pessoas ao sair de casa para ir ao mercado em Natal, no Rio Grande do Norte. Os linchamentos aumentaram no final da ditadura militar, tiveram uma queda entre os anos 1990 para os 2000 e voltaram a subir nos últimos anos. Os motivos que levam ao crime também mudaram. Na década de 1980, a maior parte das vítimas de linchamento era acusada de ter cometido crimes contra o patrimônio, como roubo e furto. Depois, nos anos 1990 e 2000, os justiçamentos populares começaram a ter como alvo agentes de crimes mais graves, como sequestro e estupro. Nos últimos 60 anos, apenas 44% das vítimas de linchamento foram salvas enquanto eram espancadas - quase sempre pela polícia.
QUEM são as vítimas de linchamento?
De acordo com a doutoranda em sociologia Ariadne Natal, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, as vítimas de linchamento têm o mesmo perfil daqueles que sofrem com os altos índices de homicídios no país: a maioria são homens jovens, de 15 a 30 anos, de áreas periféricas, desempregados ou com profissões de baixo status social.
COMO as autoridades lidam com os envolvidos em linchamentos?
O Código Penal brasileiro não tipifica linchamento como um crime específico. Agressões em grupo são classificadas de acordo com a natureza da agressão - lesão corporal, tentativa de homicídio ou homicídio, dependendo do caso. Ainda existe um atenuante da pena se o crime for cometido em grupo. Como os linchamentos muitas vezes acabam sendo percebidos pela sociedade como uma reação legítima da população, raramente aqueles que os cometem são identificados ou punidos. Ariadne Natal analisou 589 ocorrências de justiçamento em 30 anos e apenas um suspeito chegou a ir a julgamento. “É um crime que muitas pessoas aceitam. É necessário um processo de mudança de mentalidade que é longo e complicado”, diz.

TEXTO 4 - Justiça com as próprias mãos: Até onde é justa?
Ultimamente a onda de vingança popular, ou rebeldia, ou insatisfação com a impunidade do Estado ou como qualquer outra forma que você conceitue, ganha cada vez mais espaço nos noticiários e nas mídias sociais. Alguns creditam isso ao posicionamento de uma certa jornalista que ora é criticada, ora é ovacionada como a verdadeira voz do jornalismo. Escolha o seu time. Ledo engano também.
Não é a primeira vez que ondas de ódio popular manifestam-se através da famosa justiça com as próprias mãos. Se não temos um Estado forte, punível, justo, célere e capaz de usar a jurisdição para resolver todos os conflitos como a sociedade deseja, por que não dar à sociedade o direito de resolver os seus problemas sem o dedo do Estado? Simples, porque isso nos remete ao estágio dos primórdios humanos onde o famoso olho por olho e dente por dente era muito mais importante e eficaz que os 250 Artigos da Constituição e os 97 da ADCT. Mas afinal, por que isso é preocupante?
Diferentemente da justiça aplicada pelo Estado, a "justiça" aplicada pelo povo diretamente não comporta princípios e leis que são responsáveis por toda a evolução jurídica e social até o presente momento. Essa autotutela popular é perigosa porque princípio nenhum é capaz de parar o sangue na garganta de um pai que acabou de ver seu filho ser morto, sua mulher e filha ser estuprada, seu carro comprado com todo o esforço dividido em milhões de prestações ser levado por um irresponsável que quer que tudo venha fácil pra si. E não é pra ser diferente.
Aqui, o desejo é uníssono: Vingança, fazer com que ele pague pelo que fez e que sinta dor por conta disso. Logo, o melhor a se fazer é espancar, apedrejar, torturar até a morte pois isso é a melhor maneira de fazer com que ele aprenda que o que ele fez é errado, como se ele não soubesse. O propósito aqui é saciar a sede de vingança. Sendo assim, a justiça não está presente e torna-se desnecessária.
A punibilidade pelo Estado é moderada e amarrada por diversos princípios e não poderia ser diferente. Apesar de muitas e merecidas reclamações, estamos muito melhores do que há séculos atrás em quesito Brasil e Mundo. A burocracia é um preço caro a ser pago por um sistema democrático. O Estado democrático de direito, a dignidade da pessoa humana, a presunção de inocência, o fim de regimes imperiais absolutistas foram grandes conquistas para TODOS e que hoje são jogadas como Direitos humanos para bandido ou semelhante, resumindo conquistas imensuráveis para a sociedade e para o mundo como formas de ajudar quem não obedecer o bons costumes sociais.
É errado pensar assim? Depende, uai. Se você acaba de ver um parente seu ser morto vai ter tempo pra pensar no fim do absolutismo, na isonomia, na dignidade da pessoa humana? É lógico que não, somos humanos, temos instintos antes das leis. O que parece mais correto é matar quem matou também, pois nada melhor que devolver o troco no valor exato.
Como podemos ver, o real problema não está ai. O problema é até onde essa justiça pode chegar. Vingança, quando você tem certeza de quem foi, sempre foi um costume adotado pela humanidade. Mas por que chamar algo pautado apenas no instinto humano de justiça? Onde a justiça entra na jogada? Essa tal justiça com as próprias mãos não precisa de provas cabais para ser executada, o que abre um precedente infinito de possibilidades de ocorrência de injustiças bem pior que a "verdadeira justiça" que tanto reclamam, ou seja, um sujo está falando do mal lavado. A justiça judiciária é burocrática porque precisa e deve garantir que o que se discute seja realmente real para pesar sua mão. Infelizmente, a justiça do povo, apesar da vingança, que de forma nenhuma é justiça, nem sempre espera defesa. Assim como um assassino não espera também.
O caso mencionado acima é um exemplo de justiça popular onde não há dúvidas de que a lei de talião foi aplicada, que uma forma ou de outra realmente ERA legal. Mas e quando a vingança se baseia em hipóteses como no caso de um menino negro com problemas mentais que foi morto por acharem que ele era estuprador? A mãe, uma empregada doméstica de um bairro pobre, pode sair por ai batendo em quem matou ele mesmo sabendo que não existiam provas contra o garoto? Diferente de quem matou ele ela tem certeza dos autores do crime, e agora? Percebe onde quero chegar? É um ciclo vicioso.
Mas, paremos um pouco para raciocinar. Na justiça do judiciário, injustiças acontecem mesmo com todos os princípios e defesas, na "Justiça" popular acontece a mesma coisa; Na justiça judiciária, segundo as más línguas, a maioria dos punidos são pobres, na "justiça" popular também; Na justiça judiciária uma prova mal colhida gera impunidade, Na "justiça" popular a mera desconfiança já é suficiente pra executar a punição; Na Justiça judiciária a punição demora bastante, na "justiça" popular a punição é rápida, imediata e eficaz pois sacia muito mais a sede de vingança matando o indivíduo do que prendendo por meia dúzia de anos, não é mesmo? Pra quê precisamos do Estado para tomar conta das relações e organizações da sociedade se nós somos capazes de resolver isso com as próprias mãos e o Estado sempre é tido como ineficaz? Pra que Estado democrático de direito se só serve pra bandido? Pra que dignidade da pessoa humana se só quem é errado é beneficiado?
Então não precisamos mais saber até onde a justiça popular é justa, uma vez que esse limite nunca existiu. É como dizem os mais velhos: Falar é fácil quando o nosso não está na reta. Quando eles disseram isso aposto que não faziam ideia da proporção que isso tomaria mais tarde. Já imaginou se a justiça judiciária pautasse-se apenas em vingança? Não, é melhor não.



Algumas imagens


Alguns Vídeos










domingo, 11 de junho de 2017

Aula 10/2017 - A questão Síria




TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Televisão estatal síria diz que líder do Estado Islâmico foi morto
A televisão estatal da Síria avançou, este domingo de manhã, que Abu Bakr al-Baghdadi, presumível líder do autoproclamado Estado Islâmico (EI), foi abatido como resultado de uma operação aérea na cidade de Raqa.
A notícia tem sido divulgada pela imprensa mas não foi confirmada por mais nenhum órgão, nem pela Amaq (a agência de notícias afeta aos radicais), nem pela Sana (agência de notícias da Síria), nem pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
A Sana noticiou, este domingo, que o exército sírio bombardeou vários postos militares de combatentes do EI em Raqa, e que, na sequência dos ataques, vários radicais foram mortos ou ficaram feridos, mas não indica que Al-Baghdadi tenha sido uma das baixas do grupo.
A ofensiva terrestre contra Raqa, principal reduto sírio do grupo extremista Estado Islâmico, começou na semana passada, sob o comando das Forças Democráticas da Síria (FSD), lideradas por milícias curdas e apoiadas pela coligação ocidental liderada pelos Estados Unidos.
Esta não é a primeira vez que a imprensa COMUNICA a morte de Al-Baghdadi. Em 2016, por exemplo, a Amaq noticiou que o radical islâmico tinha sido morto durante um ataque aéreo, no quinto dia do Ramadão.

TEXTO 2 – Por que há uma guerra na Síria: 10 perguntas para entender o conflito
1. O que foi o 'ataque químico' que motivou a reação dos EUA?
De acordo com o grupo britânico de monitoramento do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, 86 pessoas - 27 delas crianças - foram mortas no incidente químico em Khan Sheikhoun, na província de Idlib.
Tanto a Organização Mundial da Saúde quanto a instituição de caridade médica Médicos Sem Fronteiras disseram que algumas das vítimas apresentavam sintomas consistentes de exposição a agentes que afetam o sistema nervoso.
2. O que dizem os líderes americanos?
"Eu vou te dizer, aconteceu que minha visão em relação à Síria e Assad mudou muito", afirmou Trump após o ataque. Antes, ele citava o presidente do país em guerra como um aliado na luta contra o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico, que controla algumas regiões sírias.
Questionado durante uma reunião com o rei Abdullah da Jordânia na Casa Branca sobre estar formulando uma nova política em relação ao país do Oriente Médio, o americano disse a repórteres: "Vocês verão".
3. O que dizem os russos?
A Rússia reconheceu que os aviões sírios atacaram Khan Sheikhoun, mas diz que a aeronave atingiu um depósito que produzia armas químicas para serem usadas por militantes no Iraque.
A "aviação da Síria fez um ataque contra um grande depósito de munição terrorista e uma concentração de equipamento militar nos subúrbios a leste da cidade de Khan Sheikhoun", disse o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konoshenkov.
O governo russo condenou o ataque americano, classificando o bombardeio com uma "agressão contra uma nação soberana".
4. Assad já usou armas químicas antes?
O governo sírio foi acusado por potências ocidentais de disparar foguetes de sarin (composto químico que age no sistema nervoso) em Ghouta, Damasco, matando centenas de pessoas em agosto de 2013.
O presidente Assad negou a acusação e culpou os rebeldes, mas concordou em destruir o arsenal químico da Síria. Apesar disso, a Organização pela Proibição de Armas Químicas continuou a reportar o uso de produtos químicos tóxicos em ataques no país.
5. Qual era a situação na Síria antes da guerra - e o que levou ao conflito?
Antes do início do conflito, muitos sírios se queixavam de um alto nível de desemprego, corrupção em larga escala, falta de liberdade política e repressão pelo governo Bashar al-Assad - que havia sucedido seu pai, Hafez, em 2000.
Em março de 2011, adolescentes que haviam pintado mensagens revolucionárias no muro de uma escola na cidade de Deraa, no sul do país, foram presos e torturados pelas forças de segurança.
O fato provocou protestos por mais liberdades no país, inspirados na Primavera Árabe - manifestações populares que naquele momento se estendiam pelos países árabes.
6. Como começou a guerra civil?
À medida que os levantes da oposição aumentavam, a resposta violenta do regime se intensificava. Simpatizantes do grupo antigoverno começaram a pegar em armas - primeiro para se defender e depois para expulsar as forças de segurança de suas regiões.
Assad prometeu "esmagar" o que chamou de "terrorismo apoiado por estrangeiros" e restaurar o controle do Estado.
A violência rapidamente aumentou no país: grupos rebeldes se reuniram em centenas de brigadas para combater as forças oficiais e retomar o controle das cidades e vilarejos.
7. Quem está lutando contra quem?
A rebelião armada da oposição evoluiu significativamente desde suas origens.
O número de membros da oposição moderada secular foi superado pelo de radicais e jihadistas - partidários da "guerra santa" islâmica. Entre eles estão o autointitulado Estado Islâmico e a Frente Nusra, afiliada à al-Qaeda.
Os combatentes do EI - cujas táticas brutais chocaram o mundo - criaram uma "guerra dentro da guerra", enfrentando tanto os rebeldes da oposição moderada síria quanto os jihadistas da Frente Nusra.
Também combatem o Exército curdo, um dos grupos que os Estados Unidos estão apoiando no norte da Síria.
8. Qual é o envolvimento das potências internacionais?
Na era Obama, os Estados Unidos culpavam Assad pela maior parte das atrocidades cometidas no conflito e exigiam que ele deixasse o poder como pré-condição para a paz.
Trump, por sua vez, dizia que derrubar o presidente sírio não era uma prioridade, mas sim derrotar o Estado Islâmico - e que Assad era um aliado nessa batalha. Após o aparente ataque químico ocorrido na última terça, porém, seu discurso mudou.
Já a Rússia apoia a permanência de Assad no poder, o que é crucial para defender os interesses de Moscou no país.
O Irã, de maioria xiita, é o aliado mais próximo de Bashar al-Assad. A Síria é o principal ponto de trânsito de armamentos que Teerã envia para o movimento Hezbollah no Líbano - a milícia também enviou milhares de combatentes para apoiar as forças sírias.
9. Por que a guerra está durando tanto?
Um fator chave é a intervenção de potências regionais e internacionais.
Seu apoio militar, financeiro e político tanto para o governo quanto para a oposição tem contribuído diretamente para a continuidade e intensificação dos enfrentamentos, e transformado a Síria em campo para uma guerra indireta.
A intervenção externa também é responsabilizada por fomentar o sectarismo no que costumava ser um Estado até então secular (imparcial em relação às questões religiosas).
As divisões entre a maioria sunita e a minoria alauita no poder alimentou atrocidades de ambas as partes, não apenas causando a perda de vidas, mas a destruição de comunidades, afastando a esperança de uma solução pacífica.
10. Qual é o impacto da guerra?
O enviado da ONU para a Síria, Steffan de Mistura, estimou que a guerra já matou 400 mil pessoas.
Para a organização Observatório Sírio de Direitos Humanos, sediada em Londres, até setembro a cifra de mortos passava de 465 mil.
Já o Centro Sírio para Pesquisa de Políticas, outro grupo de estudos, calcula que o conflito já tenha causado a morte de mais de 470 mil pessoas.
Não há cifras confiáveis para estabelecer o número de mortos no conflito sírio
Segundo a ONU, até fevereiro de 2016 mais de 5 milhões de pessoas haviam fugido do país - a maioria mulheres e crianças.
O êxodo de refugiados, um dos maiores da história recente, colocou sob pressão os países vizinhos - Líbano, Jordânia e Turquia.
Cerca de 10% deles buscam asilo na Europa, provocando divisões entre os países do bloco europeu sobre como dividir essas responsabilidades.

TEXTO 3 – Entendendo as origens - Primavera Árabe
A Primavera Árabe teve início em 2010 na Tunísia, localizada ao norte do continente africano. Naquele ano, um jovem tunisiano, revoltado com a sua situação financeira, ateou fogo em seu próprio corpo, como forma de protesto. Estes protestos se espalharam pelo país fazendo com que, dez dias depois, o presidente Zeni El Abdine Ben Ali fosse deposto. O povo da Tunísia já não concordava mais com a política de governo do presidente, uma vez que ele estava no poder desde novembro de 1987 e nada havia feito para melhorar a qualidade de vida da população, seja estimulando a criação de empregos ou melhorando o acesso à saúde e à educação.
Após o sucesso dos tunisianos, os egípicios foram às ruas, exigindo a saída do presidente Hosni Mubarak, acusando-o de ditador, por estar no poder há 30 anos. A maior parte das manifestações se deram na Praça Tahrir (ou Praça da Libertação, no Cairo, capital do Egito). Mubarak renunciou ao poder 18 dias após o início das manifestações. Em ambos os países, protestos foram marcados por intensa violência, empreendida tanto pelo povo nas ruas quanto pelas forças aliadas aos presidentes.
Após a queda dos presidentes, ambos os países foram às urnas para novas eleições, os partidos islâmicos conseguiram se eleger nos dois países. Na Tunísia fora eleito o partido Enna Hda e no Egito, a Irmandade Muçulmana.
A Líbia também fez parte da Primavera Árabe. Muamar Kadaffi, presidente por 42 anos, foi derrubado do poder após uma longa guerra civil com duração de 8 meses. A tática dos rebeldes foi avançar lentamente em direção às cidades dominadas por Kadaffi, como Trípole, por exemplo. Em Sirte, cidade natal do presidente, os rebeldes capturaram o presidente, escondido dentro de um canal de esgoto. Após sua captura, Kadaffi foi torturado e morto pelos rebeldes.
O Iêmen foi o último país a conseguir derrubar o seu presidente. Ali Abdulhah Saleh foi alvo de um ataque contra a mesquita do palácio presidencial, em Sanaa. Com receio de ser assassinado, assinou um acordo para deixar o poder logo após o ocorrido. O vice presidente Abd Rabbuh Mansur Al Radi assumiu o poder, anunciando a criação de um governo de conciliação nacional.
Em alguns países da Primavera Árabe, as estruturas de governo permanecem intactas. É o caso de Marrocos, Argélia, Jordânia, Cisjordânia, Iraque, Irã, Kuwait, Bahren, Arábia Saudita, Omã e Síria.
TEXTO 4 - A zoeira dos brasileiros na internet não tem limites e irrita usuários de outros países
“A América enfrentará um inimigo que não respeita regras de moralidade”, disse George W. Bush em março de 2003, quando anunciava o novo passo na sua “guerra ao terror”: derrubar Saddam Hussein. O ditador caiu rapidinho, mas, em vez de um “país unido, estável e livre”, como diziam os EUA, o que surgiu foi o autoproclamado Estado Islâmico – um grupo jihadista sanguinário, que não apenas desrespeita “regras de moralidade”, como também planeja estabelecer um império islâmico global sob a liderança de seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi – que chegou a passar um ano preso no Iraque pelos americanos, em 2004, junto com outros futuros cabeças do IS. Ou seja: as prisões militares serviram como universidade jihadista.
Mas a raiz dos problemas do Iraque é bem mais antiga: remonta a 1916, quando a França e o Reino Unido esboçaram as fronteiras de Iraque, Síria, Jordânia, Líbano e Palestina – territórios artificiais onde conviveriam diferentes etnias, religiões e tribos. No caso iraquiano, uma maioria xiita no Sudeste, uma minoria sunita no centro e uma minoria curda no Nordeste.
Saddam, no fim do século 20, perseguia a minoria curda do seu país e, como bom sunita, marginalizava a maioria árabe xiita. Com o ditador destronado e a introdução de eleições livres, veio a vingança. Os xiitas, que formam mais de 60% da população, ganharam a perspectiva de permanecer eternamente no poder. Não era um grande problema para os curdos, que tinham conquistado sua região autônoma, mas tratava-se de um desastre para os sunitas, que ressentiam a perda de poder. Na insurgência contra a invasão americana, destacava-se um grupo jihadista sunita.
Enquanto os EUA estiveram no Iraque, o ISI foi apenas um grupo insurgente. Isso mudou em dezembro de 2011, quando Barack Obama cumpriu sua promessa de campanha: abandonar o país. “O que alcançamos foi um Iraque com governo próprio, inclusivo e com um potencial enorme”, disse, hesitante, ao lado do primeiro-ministro iraquiano, o xiita Nouri al-Maliki.
No dia seguinte à retirada americana, Maliki iniciou a marginalização política dos sunitas com um mandato de prisão do vice-presidente, sunita. Protestos foram crescendo até que, em abril de 2013, as forças de segurança de Maliki chacinaram os membros de uma manifestação pacífica. Foi o ponto de virada para que sunitas apoiassem o ISI e comprassem o discurso de Abu Bakr: protestos pacíficos jamais acabariam com a perseguição; seria necessária a violência para devolver os territórios sunitas aos sunitas. Também em abril de 2013, o ISI anunciava sua entrada oficial na Síria, aproveitando os enormes vazios de poder deixados pela guerra entre o ditador Bashar al-Assad e os vários grupos rebeldes. Roubando para si parte dos militantes da Frente Nusra, aүliada à Al-Qaeda, Abu Bakr refundava seu grupo como Estado Islâmico do Iraque e da Síria – o ISIS.

Aula 09/2017 - O brasileiro e as piadas com o sofrimento (Memes)



TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Fora meme? Como o Governo Temer virou inimigo da indústria das piadas na Internet
Sandro Sanfelice, um analista comercial de 28 anos que mora em Curitiba (PR), recebeu na semana passada uma mensagem que nunca havia visto em seus dez anos à frente da Capinaremos, uma das muitas páginas de memes do país. O Governo o avisava de que as fotografias divulgadas a partir da Presidência “estão liberadas para uso jornalístico e divulgação das ações governamentais. Para outras finalidades, é necessária autorização prévia da Secretaria de Imprensa da Presidência da República”.
Sanfelice ficou perplexo. A mesma mensagem fora enviada à Ah Negão e a outras grandes líderes do complexo industrial de memes brasileiro. Ninguém entendia muito bem o que se queria dizer. Estariam avisando que eles não poderiam mais usar fotografias do presidente em suas páginas? Estaria o governo, que atualmente luta para sobreviver a uma grave crise política com medidas cada vez mais autoritárias, tentando conter a criação de piadas sobre ele na internet? “Num primeiro momento, ficamos apreensivos”, disse Sanfelice ao EL PAÍS. “Os memes são uma forma de expressão, como um artigo de jornal ou uma charge. Não faz sentido proibir nem coibir sua produção”.
A Secretaria de Imprensa não ajudou a resolver a dúvida. A um jornalista de um site local de Novo Hamburgo (RS) foi dito que as imagens não poderiam ser usadas para fazer memes e que, se continuassem a fazê-lo sem dar credito ao autor, ficariam "sujeitos a análise a possível sanção”. A Sanfelice, disseram que os criadores de memes interpretaram “errado” a mensagem. Ouvida pelo EL PAÍS, uma mulher da Secretaria reclamou que havia passado a semana inteira esclarecendo essa questão. “A medida busca democratizar o acesso ao acervo fotográfico produzido pelo departamento, sobretudo a veículos de comunicação que não mantêm profissionais de imagem credenciados no Palácio do Planalto”, afirmou.
Na quarta-feira, o rebuliço era enorme. A nova crise política, justamente, gerou uma produção tão extraordinária que esta acabou virando objeto de reportagens e programas de televisão. Se o que o Governo pretendia era apenas abrir a sua base de dados, estava transmitindo uma imagem de que se queria, na verdade, blindar as fotografias. E, se o que ele pretendia era conter o excesso de memes, estava conseguindo obter o oposto. “Em um dia normal o número de memes com o presidente como temática não passaria de 10%”, diz Sanfelice. “Mas, depois do e-mail, acredito que uns 70% o tinham. Tudo o que os criadores precisam é de uma fonte de inspiração”. O Partido dos Trabalhadores soltou uma nota à imprensa anunciando que as fotos de seu Flickr podiam ser usadas para se produzirem novos memes.
Ao longo de toda a polêmica, uma questão esteve sempre presente: pode um Governo proibir, literalmente, os memes? A mensagem enviada citava um artigo da lei brasileira sobre os Direitos Autorais em que se fala do direito moral do autor de uma determinada imagem de ser “citado na reprodução” da mesma (Lei 9.610/98, artigo 24), o que é impossível por causa da forma como se produzem os memes. Menciona-se também que uma pessoa –por exemplo, o presidente Michel Temer— pode querer denunciar que se sente humilhada pelos memes. “Em tese, o presidente Temer tem o direito de pleitear indenizações pelo uso indevido de sua imagem”, admite Marcelo Crespo, do escritório de advocacia Patrícia Peck Pinheiro. “Mas, caso isso tenha sido feito em um contexto de humor pu crítica política, é menos provável que ele venha a receber a proteção do judiciário”.
Tudo recai em uma zona cinzenta, cheia de ambiguidades, uma espécie de dupla face do ponto de vista legal. Por um lado, a lei serve como refúgio para os criadores de memes. Por outro, permite que o poder lance ameaças de vez em quando. “Temer procurou intimidar os criadores de memes”, avalia Viktor Chagas, professor da Universidade Federal Fluminense e um dos criadores do Museu dos Memes. Trata-se de uma possibilidade tentadora para qualquer governo. Alguns chegaram, inclusive, a ir mais longe. “Na China, se usa muito um humor cifrado para lidar com o intenso controle sobre a liberdade de expressão. Na Rússia, Putin tentou proibir imagens que traziam seu rosto maquilado com as cores do arco-íris. No México e em alguns outros países, tramitam projetos de lei cujo objetivo é censurar ou controlar a circulação de conteúdos digitais que contenham sátiras políticas”.

TEXTO 2 – Origem dos memes
Meme é um termo criado em 1976 por Richard Dawkins no seu bestseller O Gene Egoísta e é para a memória o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros). No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida como unidade autônoma. O estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação é conhecido como memética.
Na sua forma mais básica,é tudo aquilo que os utilizadores da Internet repetem, um tipo de carinha é um Meme de Internet é simplesmente uma ideia que é propagada através da World Wide Web. Esta ideia pode assumir a forma de um hiperlink, vídeo, imagem, website, hashtag, ou mesmo apenas uma palavra ou frase. Este meme pode se espalhar de pessoa para pessoa através das redes sociais, blogs, e-mail direto, fontes de notícias e outros serviços baseados na web tornando-se geralmente viral.
Um meme de Internet pode permanecer o mesmo ou pode evoluir ao longo do tempo, por acaso ou por meio de comentários, imitações, paródia, ou mesmo através da recolha de relatos na imprensa sobre si mesmo. Memes de Internet podem evoluir e se espalhar mais rapidamente, chegando às vezes a popularidade em todo o mundo e desaparecendo completamente em poucos dias. Eles estão distribuídos de forma orgânica, voluntariamente, e peer-to-peer, ao invés de por meio predeterminado ou automatizado. Uma importante característica de um meme é poder ser recriado ou reutilizado por qualquer pessoa.
Seu rápido crescimento e impacto chamou a atenção de pesquisadores e da indústria. Os pesquisadores criaram modelos para explicar como eles evoluem e prever quais os memes que vão sobreviver e se espalhar pela web. Comercialmente, eles são usados ​​ativamente no marketing viral, visto como uma forma livre de publicidade de massa. A comunidade da Internet em si tem cultivado métodos para estimular a geração e a divulgação de memes bem sucedidos (exemplos: TED Talks, digg, hashtags)[
TEXTO 3 – O início foi com as charges
Você que está acostumado a divertir-se com as charges presentes em revistas, sites e jornais impressos, sabia que elas constituem um gênero textual? Sim, as charges não são apenas ilustrações que refletem a opinião de quem desenha, são tipos de enunciados que podem ser objeto de uma rica análise linguística.

Aliando linguagem verbal e não verbal, as charges são mais do que piadas gráficas permeadas pelo humor e por uma fina ironia. São tipos de textos que podem ser usados para denunciar e criticar as mais diversas situações do cotidiano relacionadas com a política e a sociedade. Como prova de sua relevância, estão cada vez mais presentes nas provas de concursos e vestibulares, quando o candidato tem sua habilidade de interpretação de texto colocada em análise.
As charges são utilizadas em provas de vestibular e cabe ao candidato compreender os significados que se escondem por detrás das imagens e palavras. Ao interpretarmos uma charge, podemos perceber que diversas informações podem estar nela circunscritas, o que nos obrigará a recorrer aos processos de construção de inferências e analogias para compreendê-la em sua totalidade. Se não lançarmos mão desses processos, dificilmente o conteúdo da charge será apreendido.
Podemos dizer que o principal objetivo de uma charge é transmitir uma visão crítica sobre determinado assunto que esteja sob alvo de discussões na sociedade. Por isso as charges podem ficar datadas, ou seja, podem perder seu objetivo por estarem marcadas cronologicamente. Normalmente elas são publicadas nas seções de artigos de opinião e cartas dos leitores, justamente por indicarem opiniões e juízos de valores por parte de quem enuncia, no caso, o chargista. Gostou de conhecer mais sobre esse gênero textual que alia bom humor, desenho e opiniões? Mergulhe no universo das charges e surpreenda-se!

TEXTO 4 - A zoeira dos brasileiros na internet não tem limites e irrita usuários de outros países
Faz um tempo que ando observando a maneira como costumamos comentar nos tópicos, artigos na internet, posts de Facebook... E sempre fico bem impressionado.
Sugiro como exemplo, aqui, um post que o pessoal de conteúdo colocou na página do PapodeHomem no Facebook: "Filha de ex-chefe do Mossad (o serviço de espionagem israelense) recusou o exército israelense".
"Eu me recuso a alistar-me no exército de Israel. Não posso fazer parte de um exército que desnecessariamente implementa uma política que violenta e viola os direitos humanos mais básicos. Como a maioria dos meus colegas, eu também não ouso questionar a ética do exército israelense. Mas quando visitei os Territórios Ocupados, percebi que há uma realidade completamente diferente, violenta, opressiva, extrema e que precisa ter um fim.
Eu acredito em servir a a sociedade da qual faço parte, e é precisamente por isso que eu me recuso a tomar parte nos crimes de guerra cometidos por meu país. A violência não vai trazer qualquer tipo de solução e não vou cometer a violência, venha o que vier. "
Esta é uma amostra pequena dos comentários que seguiram – inviável reproduzir aqui toda a enxurrada, e também desnecessário, visto que o teor não varia muito:
O ponto é que, por algum motivo, qualquer coisa facilmente, quase automaticamente, vira motivo de zoeira. Parece que temos um hábito irresistível de bater os olhos, fazer algumas guerrinhas de opinião e irmos embora. E tudo geralmente com grandes doses de irritação e ironia barata.
Por algum motivo, temos dificuldade pra olhar as coisas com um mínimo de cuidado, com sensação de pertencimento, com empatia, como algo que diz respeito a nós mesmos e ao mundo onde estamos com os pés agora. Parece um hábito cultural, uma predisposição que vamos inadvertidamente replicando em todo lugar. Se não sentimos que é da gente, não cuidamos.
Lembro de uma metáfora usada por Michel Serres, que explica que os bichos tendem a sujar apenas os lugares onde eles não vivem, da mesma forma que nós sentimos que é é OK jogar lixo pela janela do carro – porque não sentimos que a rua é nossa casa, mas só um lugar de passagem, de ninguém ou de alguém que nunca vamos encontrar.
Então, é de se esperar que não nos surja algum senso de responsabilidade. Nem imaginamos que fazer uma piadinha ruim como a do exemplo aí em cima é igual a sermos racistas ou machistas. Nem imaginamos o tamanho da confusão e sofrimento humano que isso implica. Nem imaginamos que conversar e debater é algo para ser aprendido. Que, no mínimo, estamos jogando no lixo o nosso bem mais precioso – esquecemos da morte com facilidade e com gosto.
Não sei se entendo bem este comportamento. Fico por aqui pensando o que isso sinaliza, de fato, quais são as dinâmicas que geram hábitos assim. De qualquer forma, desconfio seriamente que não é nada muito bom, e que é mais sério do que quer parecer.
E no meio da incerteza e da bagunça, pra mim, penso ser melhor não perder muito tempo, melhor falar menos inutilmente, fazer menos piadinhas, usar menos ironia e lembrar o óbvio: estamos sempre tratando com a vida das pessoas.
Não tem sido fácil.
Fonte: https://papodehomem.com.br/melhor-falar-menos-ou-nem-falar/

Aula 08/2017 - Le Pen foi derrotada, mas nos deu um alerta!


TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Le Pen reconhece derrota, mas fala em 'resultado histórico' de seu partido
A candidata de extrema direita à eleição presidencial francesa, Marine Le Pen, reconheceu sua derrota nas urnas para o candidato centrista Emmanuel Macron, que venceu com ampla vantagem neste domingo (7) o segundo turno da votação, apontaram pesquisas preliminares.
Em discurso para simpatizantes em Paris, ela parabenizou seu adversário pela vitória no pleito, mas afirmou que seu partido, a Frente Nacional, conquistou um resultado histórico nas urnas. Le Pen disse que é preciso constituir uma nova força política e convocou "todos os patriotas" a se unir a ela, acrescentando que o partido da Frente Nacional precisa mudar para conseguir superar o desafio.
A candidata da Frente Nacional que, segundo as primeiras projeções obteve 35% dos votos contra 65% do rival, agradeceu o apoio dos "eleitores patriotas" e anunciou uma reformulação de seu partido para desempenhar o papel de primeira força de oposição ao novo presidente.
Melhor resultado da Frente Nacional
Foi o melhor resultado da Frente Nacional na história. Por isso, Le Pen, que após o primeiro turno firmou uma aliança com Nicolas Dupont-Aignan, anunciou uma "profunda renovação" para "criar uma nova força política". A candidata garantiu que liderará o "combate" das eleições legislativas marcadas para o junho, tratando de reunir todos aqueles que querem optar pela França em primeiro lugar.
Le Pen afirmou que as eleições presidenciais mostraram uma "decomposição da vida política francesa", marcada especialmente pelo "desaparecimento dos partidos tradicionais", em referência aos socialistas e à centro-direita de François Fillon.
Nas eleições legislativas, Le Pen afirmou que voltará a apresentar o dilema entre "globalistas e patriotas" e se mostrou "inquieta" pelas perspectivas abertas no mandato de Macron.
Segundo pesquisa do Ipsos, o candidato centrista recebeu 65,1% dos votos, contra 34,9% de sua rival, Marine Le Pen. O Kantar divulgou resultado semelhante nesta tarde. Macron teria vencido com 65,5% da preferência, ante 34,5% de sua adversária. Já segundo pesquisa do Elabe/BFM TV, o candidato recebeu 65,9%, contra 34,1% de Le Pen.

TEXTO 2 - Eleições na França, novos sinais de alerta
A vitória de Marine Le Pen consolidaria o populismo de direita no cenário internacional.
A conjuntura política internacional se deteriora velozmente: a crise econômica mundial iniciada em 2008 assume um caráter de crise da democracia e civilizatória. As elites políticas e econômicas do planeta impuseram, por meio da captura da democracia pelo 1% mais rico, um aprofundamento do neoliberalismo que teve como resultado o aumento dos lucros de poucos e o aumento da pobreza e a perda de direitos para muitos.
A começar pela potência mais importante, com seu novo presidente, Donald Trump, que derrotou o establishment dos partidos republicano e democrata, ambos comprometidos até a medula com o neoliberalismo cada vez mais impopular.
Os EUA mergulharam em uma agenda antiliberal e ultraconservadora: muro na fronteira com o México, veto à entrada de cidadãos nascidos em sete nações mulçumanas, programas de deportações em massa, proposta de liberar que as igrejas interfiram na política, o que é proibido desde 1954, investimentos em projetos energéticos nocivos ao meio ambiente, que antecipam uma provável ruptura unilateral com os frágeis pactos ambientais da ONU.
Os impactos geopolíticos da nova situação política estadunidense jogam mais gasolina no fogo da crise democrática e civilizatória. No Oriente Médio, Trump apresenta uma carta branca para Israel. O povo palestino e o mundo estão mais distantes de uma resolução positiva desse conflito fundamental para a construção de uma paz duradoura na região.
Na Ásia, os sinais do presidente dos EUA apontam para um aumento da beligerância no continente que apresentou os maiores níveis de crescimento econômico do mundo nas duas últimas décadas, com ameaças à China e alertas ao Japão para a necessidade de se armar. Em paralelo, a América Latina vive um novo ciclo de esgotamento das experiências progressistas e de nova ofensiva neoliberal e conservadora, marcado pela vitória de Maurício Macri na Argentina, pela crise na Venezuela e pelo golpe no Brasil.
Na Europa, o quadro não é distinto, com crise econômica persistente e crescimento vertiginoso da extrema-direita diante da falência neoliberal. Isso explica o resultado do plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia.
A Rússia se consolida como um pilar geopolítico conservador e autoritário, aumentando sua influência externa e com uma sociedade civil cada vez mais controlada e reprimida através de leis contra dissidentes políticos, leis antigay e até mesmo a despenalização da violência doméstica contra as mulheres.
No centro do continente, a Alemanha se apresenta como polo de resistência dos valores liberais, porém Merkel dá sinais de que vai ceder à agenda extremista e xenófoba, ao menos no tema dos imigrantes e refugiados.
Outra manifestação dessa revolta das bases contra a adesão da socialdemocracia ao neoliberalismo aparece na construção de alternativas partidárias aos socialistas em Portugal, Espanha e na França a partir de uma estratégia de fazer oposição aos governos neoliberais liderados pela direita e pela socialdemocracia, apostando que, na falência desses governos, poderão se tornar a força majoritária entre as esquerdas e na sociedade.
As mesmas questões e dilemas se apresentam na França. Em pesquisa divulgada pelo jornal Paris Match no dia 1º de fevereiro, Melénchon caiu de 14% para 9% das intenções de voto e Hamon saltou de 6% para 18% desde sua confirmação como candidato, o que o coloca em empate técnico com os candidatos da direita (Filon com 21% e Macron com 20%) na luta por um lugar no 2º turno contra Le Pen, que lidera com 24%.
O desafio é produzir uma unidade que supere os sentidos burocráticos que atravessam os socialistas e que derrote o sentido sectário que perpassa “a esquerda da esquerda”. Uma unidade que renove as esperanças na construção de um outro mundo distinto do deserto neoliberal e do pesadelo fascista. Uma unidade que se espraie por todo mundo, e que chegue ao nosso Brasil golpeado, pois somente com a convergência das esquerdas poderemos superar a crise democrática e civilizatória que ameaça o nosso futuro.

TEXTO 3 – O avanço da extrema-direita na Europa
Alemanha
A Alternativa para a Alemanha (AfD) aumentou o número de representantes no Parlamento alemão desde setembro de 2016. A legenda é contra a construção de novas mesquitas no país e usa, com frequência, a frase “O Islã não pertence à Alemanha” em suas campanhas. A AfD tem atraído votos daqueles que pedem a saída da Alemanha da União Europeia.
Holanda
Com promessas anti-Islã e anti-União Europeia, o Partido da Liberdade (PVV) tem crescido nas pesquisas das eleições holandesas. O líder da legenda, Geert Wilders, considerado como o Trump da Holanda, foi considerado culpado por ofensas islamofóbicas no ano passado.
França
A Frente Nacional, legenda francesa anti-imigração, tem ganhado popularidade sob a liderança de Marine Le Pen. Ela é uma das principais candidatas à corrida presidencial deste ano. Em 2015, o partido teve o maior número de votos nas eleições regionais e europeias.
Grécia
Aurora Dourada é o partido de extrema-direita da Grécia. Mesmo elogiando o governo de Adolf Hittler, o líder da legenda, Nikolaos Michaloliakos, rejeita o título de neonazista. Em meio às crises de refugiados e econômica, o Aurora Dourada ganhou espaço e chegou em terceiro na corrida eleitoral de 2015.
Hungria
O nacionalista “Movimento para uma Hungria Melhor”, Jobbik, é o principal partido de extrema-direita no país e tem a reputação de ser anti-semita. Para muitos, o Fidesz também se aproxima cada vez mais da extrema-direita. Liderado pelo premier Viktor Orban, é acusado de abandonar as raízes conservadoras para defender políticas anti-imigração
Suécia
O líder do Partido dos Democratas Suecos, Jimmie Åkesson, já expressou sua admiração pelo presidente americano, Donald Trump, e adota um discurso contra imigrantes. A legenda é vista como uma forte candidata para eleições no país em 2018, mesmo sem ter alianças com outros grupos políticos, que recusam trabalhar em conjunto com a extrema-direita.

TEXTO 4 – INFOGRÁFICO


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