segunda-feira, 5 de março de 2018

Aula 04/2018 - Conflito na Siria

 



Material da Aula

TEXTO 1 – Fato motivador - Conflito já matou mais de mil crianças na Síria em 2018, diz Unicef
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) denunciou nesta sexta-feira que mais de mil crianças morreram ou ficaram gravemente feridas na Síria desde o início de 2018 por causa do conflito.
Em entrevista coletiva em Genebra, o diretor regional do Unicef para o Oriente Médio e o Norte da África, Geert Cappelaere, detalhou que este número significa que uma criança morreu a cada hora desde que começou o ano na Síria.
"A situação continua provocando uma enorme preocupação da perspectiva das crianças", disse Cappelaere, ao depositar as esperanças na resolução tomada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que defendeu a aplicação de uma pausa humanitária de pelo menos 30 dias. Cappelaere também anunciou que desde a aprovação de tal resolução no sábado passado, o Unicef tem um comboio preparado para entrar em Duma, dentro da região de Ghouta Oriental, onde residem cerca de 200 mil crianças, segundo a organização.
Cappelaere disse que o Unicef tem autorização para acessar a região no próximo domingo e que sua carga permitirá atender 70 mil crianças com comida e provisões médicas.
"Não incluímos o fornecimento de provisões educativas, já que saúde e alimentação são as necessidades mais imediatas e tínhamos que priorizá-las", esclareceu.
O especialista disse estar ciente que em outras ocasiões algumas provisões foram retiradas dos comboios, sobretudo remédios, mas se mostrou esperançoso que algo similar não ocorrerá desta vez já que o Unicef não foi tão afetado como outras agências por estes boicotes.
Além disso destacou que os níveis de desnutrição em Ghouta Oriental são "alarmantes" e que "milhares de crianças poderiam morrer", por isso que os comboios fornecerão alimentos "que permitirão estabilizar a situação". "A desnutrição aguda não é uma ameaça para a vida de uma criança, mas pode ser caso as crianças tenham outros problemas de saúde", disse Cappeleare, ao acrescentar que "a má alimentação as debilita de tal forma como um resfriado pode ser letal".

TEXTO 2 – Por que há uma guerra na Síria: 10 perguntas para entender o conflito
1. O que está acontecendo em Ghouta Oriental?
No último mês, o governo sírio e seus aliados intensificaram as ofensivas contra territórios controlados por grupos islâmicos e jihadistas, incluindo Ghouta Oriental, que é controlada pela oposição desde 2012.
O bastião rebelde perto de Damasco sofreu vários dias consecutivos de bombardeios, que deixaram mais de 700 civis mortos.
Segundo a ONU, impressionantes 76% das residências de Ghouta Oriental foram devastadas, e grande parte dos 400 mil moradores do enclave se mudou para abrigos subterrâneos.
2. Qual foi a reação internacional?
No sábado, a ONU aprovou uma resolução de um cessar-fogo de 30 dias na região, o qual foi rapidamente descumprido - há relatos de que ao menos 20 pessoas (entre elas sete crianças) tenham sido mortas em Ghouta nesta segunda-feira.
Ante grande pressão internacional, o governo russo - importante aliado de Bashar al-Assad - anunciou a "pausa humanitária" nos bombardeios sobre Ghouta, onde moram centenas de milhares de pessoas. Mesmo assim, a região continuou sob ataque aéreo.
3. Qual o papel de Moscou nessas negociações?
Foi o presidente russo, Vladimir Putin, quem anunciou o corredor humanitário em Ghouta na semana passada - fato que confirma que é a Rússia está tomando a dianteira em relação ao próprio governo sírio.
Moscou é o principal pilar de sustentação do regime Assad e também importante ator militar no enfrentamento contra rebeldes sírios.
Tanto que o governo russo afirmou que pretende continuar a alvejar grupos jihadistas sírios, a despeito da "pausa humanitária" e da pressão por um cessar-fogo.
4. Quais os rumos da guerra?
A guerra civil, que se estende há quase sete anos, se intensificou no último mês, em uma tentativa de Damasco e seus aliados de sufocarem os grupos de oposição. Estima-se que hoje jihadistas controlem apenas 3% do território sírio.
A avaliação de alguns analistas é de que a essência do conflito - o levante contra Assad que evoluiu para uma guerra civil - talvez esteja perto do fim, uma vez que os rebeldes perderam território e apoio externo. E o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico, que chegou a controlar parte importante da Síria e do Iraque, também foi derrotado na maioria dos locais, ainda que não totalmente eliminado.
5. Qual era a situação na Síria antes da guerra - e o que levou ao conflito?
Antes do início do conflito, em 2011, muitos sírios se queixavam de um alto nível de desemprego, corrupção em larga escala, falta de liberdade política e repressão pelo governo Bashar al-Assad - que havia sucedido seu pai, Hafez, em 2000.
Em março de 2011, adolescentes que haviam pintado mensagens revolucionárias no muro de uma escola na cidade de Deraa, no sul do país, foram presos e torturados pelas forças de segurança.
O fato provocou protestos por mais liberdades no país, inspirados na Primavera Árabe - manifestações populares que naquele momento se estendiam pelos países árabes.
Após quase sete anos de conflito, ainda não é possível ver uma luz no fim do túnel na Síria
6. Como começou a guerra civil?
À medida que os levantes da oposição aumentavam, a resposta violenta do regime se intensificava. Simpatizantes do grupo antigoverno começaram a pegar em armas - primeiro para se defender e depois para expulsar as forças de segurança de suas regiões. Assad prometeu "esmagar" o que chamou de "terrorismo apoiado por estrangeiros" e restaurar o controle do Estado.
A violência rapidamente aumentou no país: grupos rebeldes se reuniram em centenas de brigadas para combater as forças oficiais e tomar o controle das cidades e vilarejos.
Em 2012, os enfrentamentos chegaram à capital, Damasco, e à segunda cidade do país, Aleppo.
7. Quem lutou contra quem?
A rebelião armada oposicionista mudou significativamente ao longo do conflito. Uma oposição moderada secular foi superada por radicais e jihadistas - partidários da "guerra santa" islâmica. Entre eles estão o autointitulado Estado Islâmico e a Frente Nusra, afiliada à al-Qaeda.
Os combatentes do EI - cujas táticas brutais chocaram o mundo - criaram uma "guerra dentro da guerra", enfrentando tanto os rebeldes da oposição moderada síria quanto os jihadistas da Frente Nusra. Hoje praticamente subjulgados em termos territoriais, os combatentes do EI continuam, no entanto, a promover ataques mais esporádicos.
8. Qual é o envolvimento das potências internacionais?
Na era Obama, os Estados Unidos culpavam Assad pela maior parte das atrocidades cometidas no conflito e exigiam que ele deixasse o poder como precondição para a paz.
O atual governo Trump, por sua vez, dizia que derrubar o presidente sírio não era uma prioridade, mas sim derrotar o Estado Islâmico - e que Assad era um aliado nessa batalha. Após um devastador ataque químico em 2017, porém, esse discurso mudou, e os EUA chegaram a realizar bombardeios em apoio à oposição.
Mas o grande ator na guerra síria é a Rússia, que apoia a permanência de Assad no poder, algo crucial para defender os interesses de Moscou no país.
9. Por que a guerra está durando tanto?
Um fator-chave é a intervenção de potências regionais e internacionais.
O apoio militar, financeiro e político externo tanto para o governo quanto para a oposição tem contribuído diretamente para a continuidade e intensificação dos enfrentamentos, e transformado a Síria em campo para uma guerra indireta - ou "guerra por procuração".
A intervenção externa também é responsabilizada por fomentar o sectarismo no que costumava ser um Estado até então secular (imparcial em relação às questões religiosas).
As divisões entre a maioria sunita e a minoria alauita no poder alimentou atrocidades de ambas as partes, não apenas causando a perda de vidas, mas a destruição de comunidades, afastando a esperança de uma solução pacífica.
10. Qual é o impacto da guerra?
O Centro Sírio para Pesquisa de Políticas calcula que o conflito já tenha causado a morte de mais de 470 mil pessoas, ainda que não haja cifras totalmente confiáveis a respeito.
Não há cifras confiáveis para estabelecer o número de mortos no conflito sírio
Segundo a ONU, mais de 5 milhões de pessoas fugiram do país, em sua maioria mulheres e crianças, e metade da população foi de alguma forma deslocada pela guerra.
A ONU disse que são necessários US$ 3,2 bilhões para prover ajuda humanitária a 13,5 milhões de pessoas no país - incluindo 6 milhões de crianças.

TEXTO 4 – Imagens de crianças vítimas de guerras viralizam como se fossem na Síria
Milhares de pessoas mortas, lares destruídos e famílias que tentam fugir do caos. Este é o cenário de devastação deixado pela guerra na Síria, no Oriente Médio, desde 2011. As imagens que retratam o conflito periodicamente tomam conta das redes sociais, como nas últimas semanas, após tropas do Exército apoiadas pelo governo da Rússia decidirem retomar o controle de Ghouta Oriental, no subúrbio de Damasco, um dos últimos redutos rebeldes.
"A Estátua da Liberdade reconstruída por um artista sírio com os destroços da própria casa, destruída por um bombardeio americano."
A obra compartilhada nas redes realmente é de um artista sírio, mas não é uma escultura e nem foi feita com destroços de sua própria residência. A equipe de checagem do GLOBO entrou em contato com o sírio Tammam Azzam, autor da obra, que esclareceu a verdade por trás da imagem que viralizou nas redes. Segundo Azzam, não é a primeira vez que ele é questionado sobre o trabalho, uma fotomontagem criada em 2012.
"Encontrada sozinha no meio da guerra, menina síria órfã sorri sem saber o que está acontecendo."
Os olhos azuis e o sorriso de uma garotinha viralizaram nas redes sociais como se demonstrassem a pureza e a tranquilidade de uma criança órfã em meio ao caótico cenário de guerra na Síria. A atriz Giovanna Antonelli foi uma das internautas que compartilhou a história no Instagram, numa postagem que ultrapassou 81 mil curtidas.  A verdade é que a garota se chama Sidra, não é orfã e continua sob os cuidados dos pais em uma área mais segura do país, na cidade de Homs.
"Menino sírio deitado entre o túmulo de seus pais."
Compartilhada mais de 170 mil vezes no Facebook nos últimos três dias, a suposta foto de um menino Sírio dormindo entre os túmulos de seus pais tocou muitos internautas. A intenção do fotógrafo Abdul Aziz Al-Otaibi era provocar a reflexão sobre a ausência dos pais para as crianças que vivem em meio à guerra, quando produziu o ensaio fotográfico na Arábia Saudita, em dezembro de 2013. Al-Otaibi queria mostrar como o amor pueril pelos pais era insubstituível, mas não planejou qualquer relação entre a foto e a guerra na Síria. Mesmo assim, internautas passaram a compartilhar a imagem como se ela retratasse o abandono de um órfão em meio ao conflito no país.
"Pai corre com a filha no colo para tentar protegê-la da guerra na Síria."
O contexto em que a foto foi feita também era de confronto, mas a imagem não é um registro da guerra na Síria. O clique da família que tenta se proteger em meio ao caos foi feito em 4 de março de 2017, no Oeste de Mosul, no Iraque, pelo fotógrafo Goran Tomasevic, da agência "Reuters".
"Foto mostra bombardeio destruindo casas na Síria."
A imagem utilizada como símbolo dos bombardeios que devastam a Síria desde 2011  é, na verdade, o registro de um ataque das Forças Armadas israelenses no Leste da cidade de Gaza. A foto foi tirada em 29 de julho de 2014, pelo fotógrafo Sameh Nidal Rahmi. O autor da foto inclusive já utilizou o clique como imagem de capa no seu perfil no Facebook. Na época, a imagem ilustrou reportagens que noticiavam como a vida de civis foi impactada pela ofensiva israelense contra líderes do Hamas.

As imagens do texto acima






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