terça-feira, 8 de maio de 2018

Aula 08/2018 - Ocupações irregulares, um problema urbano




TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Prédio de ocupação irregular desaba após incêndio no centro de SP
Um edifício de 24 andares desabou por volta das 2h20 da madrugada desta terça-feira (1º) depois de pegar fogo no início da madrugada no Largo do Paissandu, no centro de São Paulo. Cerca de 150 famílias moravam nos primeiros dez andares do prédio, que era uma ocupação irregular, de acordo com a prefeitura. 
Segundo o Corpo de Bombeiros, ao menos uma pessoa está desaparecida. É um homem que estava sendo retirado pelos bombeiros por um cabo do alto do edifício quando houve o desabamento. Mais cedo, a corporação disse que havia três desaparecidos, mas recuou. Moradores relatam, entretanto, que há ao menos outras três pessoas desaparecidas, sendo duas crianças. Ao todo, 45 pessoas registradas no cadastro de moradores ainda não foram encontradas mas não sabe se elas estavam no prédio no momento do incêndio e do desabamento.
Entre possíveis desaparecidos está a mãe do mecânico desempregado Lucas Souza Sampaio, 32. Eles moravam no terceiro andar do prédio que desabou. Sampaio contou que, quando percebeu o fogo, subiu até o 6º andar para ajudar a irmã, que está grávida e tem um filho pequeno. Enquanto eles desciam as escadas, a parte interna do edifício começou a ceder. Como o fogo era intenso, ele desceu sem socorrer a mãe. "Já circulei por tudo aqui e não acho. Acho que ela não conseguiu sair", diz ele. 

TEXTO 2 – Moradias irregulares são fruto de falta de opção, políticas inadequadas e especulação imobiliária, dizem especialistas
As ocupações irregulares do Centro de São Paulo – caso do edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou após incêndio na madrugada desta terça-feira (1º) – são efeito direto da falta de políticas habitacionais adequadas, da especulação imobiliária e da falta de alternativa para populações mais pobres que vivem nas periferias. Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pelo G1.
"A ocupação é compulsória. As pessoas não evaporam; elas ganham salário e não conseguem comprar casa no mercado. Então, essa parte da população se vira e ocupa a terra de forma irregular. Só no município de São Paulo, estou falando de 25% da população", diz a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em planejamento urbano Erminia Maricato.
"Tivemos no curto prazo, a partir de 2009, um 'boom' imobiliário que ampliou o preço dos aluguéis e das moradias, então houve um deslocamento da população mais pobre para as periferias mais distantes", afirma ela. "Com esse deslocamento, aumentou o tempo que as pessoas perdiam no transporte."
A pesquisadora cita um estudo do Sistema de Informação da Mobilidade (SIM), desenvolvido pela Associação Nacional de Transporte Público (ANTB), segundo o qual, em 2013, os moradores de São Paulo gastavam, em média, 80 minutos no transporte público para chegar ao local de trabalho – e depois outros 80 minutos na volta para casa.
"Se as pessoas forem morar na periferia, vão gastar metade de um salário mínimo com transporte. Mas, para morar num cortiço de 9 metros quadrados e um cômodo no centro expandido, onde se concentram 70% dos empregos da região metropolitana, você paga R$ 800 ou R$ 900..."
Estaria aí uma das explicações para a "opção" por ocupações, explica Erminia Maricato.
'Fábrica de ocupações'
Urbanista e também professora da FAU-USP, Raquel Rolnik diz que políticas habitacionais inadequadas criam "fábrica de ocupações".
De acordo com ela, uma parcela considerável das pessoas que estão nessas ocupações foram retiradas dos locais sem que houvesse um planejamento da parte do poder público: "Uma das moradoras do prédio que desabou era uma mulher que tinha acabado de ser removida da quadra 36 da região dos Campos Elíseos. Saiu de lá em uma condição precária, com um aluguel social de R$ 400 e foi parar na ocupação do Paissandu".
Para ela, a remoção sem alternativa de reassentamento resultará em "novas ocupações, às vezes até mais precárias, além do aumento de população de rua, outro fenômeno visível".
Raquel Rolnik citou o programa Minha Casa, Minha Vida como exemplo do que atendia "um pouquinho" a população vulnerável. "Primeiro, é preciso construir alternativa de moradia, depois demolir o local onde as pessoas estão morando. Mas, hoje, o que acontece é que a pessoa é 'arrancada' de onde mora, vê sua casa demolida e depois a prefeitura chega e fala: 'Daqui a dez anos, você ganha um apartamento'."
Além disso, a urbanista avalias que os valores de imóveis e aluguéis não se reduziram após a crise. "Todos os dias, alguém está sendo despejado pela impossibilidade de morar onde está morando."
O reflexo é o aumento de ocupações, como não se via há dez anos, segundo a professora. Essas ocupações, diz, acontecem principalmente em terrenos vazios ou considerados subutilizados, prédios na região central, galpões em antigas áreas industriais e edificações em geral.
Ela descreve que as ocupações têm diversos tipo de estrutura. Vão desde os grupos mais consolidados, que organizam mutirão de limpeza e preparo de alimentos, por exemplo, até aqueles que abrem espaço a cobrança de taxas irregulares.
'Não interessa ao mercado'
Erminia Maricato cita um dado de 2010 do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), segundo o qual há 29 mil moradias e 115 pessoas morando em áreas de mananciais fora do centro e com risco de deslizamento – e também ocupadas irregularmente.
"A lei proíbe isso. Agora, 1 milhão de moradores em áreas de manaciais não comove o Judiciário, o Executivo e o Legislativo. Mas um prédio no Centro comove. Por quê? Porque a terra dos mananciais não interessa ao mercado imobiliário e não tem visibilidade, ao contrário do centro."
Dizendo se tratar de "um paraíso da especulação imobiliária", a professora afirma que há edifícios e terrenos "ociosos e que estão juntando ratos e baratas" . "O que impede esses prédios de ficarem ociosos são os movimentos [de ocupação]."
"Esses imóveis vazios estão concentrando propriedade, e o preço desses imóveis sobe sem que seus proprietários precisem fazer nada. Esperam inaugurar uma estação de metrô [na região para valorizar]. Quem é que investe na estação? Toda a coletividade, porque é dinheiro público. E quem é que ganha? O proprietário do imóvel."
Prédios vazios
A arquiteta e urbanista Ana Gabriela Akaishi, doutoranda em planejamento urbano, afirma que a prefeitura de São Paulo implementou, na gestão anterior, "um instrumento para combater a ociosidade de imóveis".
São considerados ociosos os imóveis não edificados com área superior a 500 metros quadrados e coeficiente de aproveitamento igual a zero; os imóveis subutilizados que possuem área superior a 500 metros quadrados e coeficiente de aproveitamento inferior ao mínimo definido; e os imóveis não utilizados ou abandonados, que são edifícios com pelo menos 60% da sua área construída desocupada há mais de um ano.
"A prefeitura vai lá, faz um levantamento, vê os imóveis vazios, notifica o proprietário, e o proprietário é obrigado a apresentar um uso dentro do prazo de um ano após a notificação. Se não apresentar, começa a incidir o IPTU Progressivo."
Funciona assim: o proprietário é notificado e recebe um prazo para aproveitar o imóvel. A alíquota sobe com o tempo se o dono não fizer as benfeitorias ou ocupar a área. E vai ser aplicada, inclusive, em imóveis isentos do imposto.
Caso o imóvel não seja utilizado um ano após a notificação, o proprietário passa a pagar IPTU que pode ser reajustado em até 15% sobre o valor venal no imóvel no período de cinco anos. Depois de cinco anos da cobrança do IPTU Progressivo no Tempo, caso o proprietário não faça nada, o imóvel poderá ser desapropriado.
TEXTO 3 – PLANEJAMENTO URBANO NO BRASIL: UM BREVE HISTÓRICO
Desde que há Brasil, há algum tipo de administração do território. Afinal, nos tempos coloniais, a terra era o mais relevante recurso para a economia, pois nela que se encontrava a maior parte das matérias primas tão cobiçadas pela economia mercantilista dos primeiros séculos da nossa nação. Dividir, organizar e destinar terras sempre fez parte da administração do Brasil enquanto unidade territorial.
Contudo, no que se refere ao planejamento urbano (isto é, das cidades), um dos primeiros marcos relevantes no cenário nacional se deu apenas em 1930, com a elaboração do Plano Agache, elaborado pelo arquiteto francês Donald Alfred Agache, à época traduzido para o português e impresso numa tiragem de 1750 unidades. O Plano Agache foi a primeira proposta de intervenção urbanística na cidade do Rio de Janeiro que levou em consideração questões típicas da discussão sobre a cidade moderna industrial, como o planejamento dos transportes públicos, o abastecimento de água, a reserva de áreas verdes, a habitação.
A discussão sobre planejamento urbano se mantém tímida no Brasil até 1970, quando a população urbana finalmente ultrapassa a população rural e o crescimento desenfreado das cidades começa a trazer inúmeros problemas, como trânsito, violência, falta de esgoto e água tratada, entre outros tão conhecidos por nós. Desde então, a discussão sobre o planejamento urbano ganha fôlego, tanto nas universidades quanto na administração pública. O estado de São Paulo, por exemplo, torna obrigatória a realização de plano diretor a todos os seus municípios já em 1969 (determinação que viria a ser cumprida no prazo por apenas 13,3% dos municípios).
Nas décadas de 1970 e 1980, a concepção predominante entre urbanistas brasileiros era tecnocrática. Na visão desses planejadores, eles deveriam definir os rumos da cidade à margem dos interesses dos políticos e dos jogos de poder. A política em nada deveria interferir, pois era entendida como um estorvo ao trabalho técnico. Bom plano era plano técnico, “objetivo”, construído a partir de dados e lógica racional.
Com a democratização do país, o processo de planejamento urbano deixou de ser tratado como “neutro” e passou a ser visto como um processo político, permeado por disputas em torno de interesses muitas vezes conflitantes, cuja resolução não se dá apenas por um pela técnica. É preciso mediar esses interesses, respeitando o aspecto político de qualquer processo de planejamento público.
Nesse contexto, a Constituição de 1988 afirmou o princípio constitucional da participação social como premissa para a elaboração da política pública e deu destaque ao plano diretor como instrumento básico da gestão urbana brasileira.
O Estatuto da Cidade foi aprovado em 2001, por isso já são mais ou menos 15 anos de história dos planos diretores municipais. Mas em 2009, oito anos após a sua aprovação, nem todos os municípios com mais de 20 mil habitantes haviam elaborado o Plano Diretor (dos mais de 1600 municípios nessa situação, 200 ainda não tinham Plano Diretor na época). Isso pode se dever à própria complexidade da tarefa, que pode demandar uma expertise que nem todos os municípios possuem.
Já nas cidades onde um plano diretor foi discutido e aprovado, os resultados são mistos. Segundo avaliação do Ministério das Cidades, muitos planos diretores falharam em estabelecer como cada parte do território municipal deve ser utilizada.
Habitação: é mencionada na maior parte dos planos, mas o problema é a falta de meios para tornar efetivas as medidas previstas. Ou seja, cresceu o discurso favorável ao direito da moradia, mas na prática falta sua implementação. Por exemplo, mais de 80% dos planos menciona a criação de zonas especiais de interesse social (ZEIS), mas nem metade desses planos define a localização dessas zonas. Outro problema é que não é comum existir uma articulação clara entre o plano de habitação do município e seu orçamento. Como as previsões orçamentárias não são concretas, fica mais difícil implementar o plano.
Saneamento: é outra questão que ainda não é suficientemente tratada pelos planos. Faltam estratégias claras que o crescimento dos municípios seja acompanhado pelo crescimento do acesso a água tratada e esgoto. Já na mobilidade urbana, os planos ainda priorizam os meios de transporte motorizados e deixam de lado os deslocamentos a pé e de bicicleta. O uso da bicicleta aparece mais vinculado a questões ambientais. Estas, por sua vez, não são tratadas de forma integrada com as demais questões urbanas. É como se existissem uma agenda verde (ambiental) e uma agenda marrom (urbana) e as duas fossem coisas diferentes. O desafio é fazer com que os municípios encarem ambas as agendas como parte de um mesmo processo.
O primeiro plano diretor da maior cidade do Brasil, São Paulo, foi criticado por não ter estabelecido cronogramas e metas, o que na prática tornou-o letra morta. Isso aconteceu mesmo com a previsão de que o prefeito pode ter seu mandato cassado por improbidade administrativa em caso de não cumprimento do plano. O primeiro plano expirou em 2012. Apenas em 2014 foi sancionado o novo plano, com previsões para os próximos 16 anos.
O que se revela, portanto, é que falta planejamento de longo prazo para os municípios brasileiros, e o Plano Diretor, apesar de já ter significado um avanço para a política urbana no Brasil, ainda não conseguiu vencer o imediatismo, a especulação imobiliária e problemas de gestão municipal. Espera-se que as lições da primeira leva de planos diretores possam fortalecer os próximos.

TEXTO 4 – As linhas políticas do MTST
O MTST — Movimento dos Trabalhadores Sem Teto — é um movimento que organiza trabalhadores urbanos a partir do local em que vivem: os bairros periféricos. Não é e nem nunca foi uma escolha dos trabalhadores morar nas periferias; ao contrário: o modelo de cidade capitalista é que joga os mais pobres em regiões cada vez mais distantes.
Mas isso criou as condições para que os trabalhadores se organizem nos territórios periféricos por uma série de reivindicações comuns. Criou identidades coletivas dos trabalhadores em torno destas reivindicações e de suas lutas. Ao mesmo tempo, a organização sindical, no espaço de trabalho, tem tido enormes dificuldades em organizar um segmento crescente de trabalhadores (desempregados, temporários, terceirizados, trabalhadores por conta própria, etc.), a partir de transformações ocorridas no próprio processo produtivo, que tornaram as relações trabalhistas mais complexas e diversificadas.
Assim, o espaço em que milhões de trabalhadores no Brasil e em outros países têm se organizado e lutado é o território. É aí que o MTST se localiza: somos um movimento territorial dos trabalhadores.
Fonte:       http://www.mtst.org
TEXTO 5 – Infográficos
Responsável pela ocupação do edifício de 24 andares que desabou há dois dias no Largo do Paiçandu, no centro de São Paulo, o Movimento de Luta Social por Moradia (MLSM) é considerado uma organização novata de sem-teto que ascendeu de forma meteórica em 2014 com uma série de invasões de oito prédios públicos e privados na região central da cidade.
Com uma atuação independente – o MLSM não é filiado ao principal grupo de sem-teto do centro de São Paulo, a Frente de Luta por Moradia (FLM), que conta com 13 associados –, o movimento é comandado por um ex-camelô chamado Ananias Pereira dos Santos, apontado por moradores como responsável por administrar os recursos arrecadados com o aluguel de até R$ 350 cobrados das famílias nas ocupações.
De acordo com sem-teto ouvidos pelo Estado, a ascensão do MLSM, que ainda ocupa sete prédios na região, coincide com a do líder do movimento. Além das ocupações, Ananias teria pontos de comércio alugados na Feira da Madrugada, centro popular de compras na região do Brás, e barracas locadas para outros ambulantes nos bairros da República e Santa Ifigênia.
“Sabemos que o Ananias participa da luta por moradia, está presente nas ocupações, mas ninguém sabe direito o que ele faz fora daqui. Muito gente fala mal dele porque ele anda com um carrão e parece que está ganhando muito dinheiro. Sei que ele tem várias barracas de camelô e até arruma trabalho para pessoas da ocupação”, disse uma moradora de uma ocupação da MLSM no centro, que pediu para não ser identificada.
Além de uma série de ações de reintegração de posse dos imóveis movidas pelos proprietários contra a MLSM, as lideranças também são alvo de processos judiciais. Lima, por exemplo, que é conhecido como Careca, já foi processado por furto e sequestro e manutenção de cárcere privado. Segundo ele, porém, todos os casos decorrem das ocupações.
“Esse caso de furto foi porque nós furtamos água e luz na ocupação Belém e fiquei detido dois dias. Já o cárcere privado foi na ocupação da Consolação. Tinha um segurança lá que colocamos num hotel e levamos as famílias para o prédio. O delegado entendeu que isso era cárcere privado. São fatos isolados que estão quase resolvidos. É a forma que eles têm de reprimir o movimento”, disse Careca.
Investigação.
Seis moradores já foram ouvidos no inquérito aberto pela Polícia Civil para apurar as causas do incêndio e o desabamento. Uma das testemunhas, um homem que vivia com a mulher e dois filhos no local, relatou que os moradores eram obrigados a participar de outras invasões do movimento, mesmo de madrugada. “As pessoas com as quais tive contato formalmente não retratam nenhum fato extraordinário no dia a dia, a não ser a situação precária de convivência”, afirmou o delegado seccional Marco Antônio de Paula. “São pessoas pobres, necessitadas, havia muitos estrangeiros morando. Mas nada excepcional ou muito diferente do que a maioria das ocupações.”
Fonte:       http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,grupo-que-cuidava-de-predio-que-desabou-surgiu-de-invasoes-em-serie,70002292662



Aula 07/2018 - O problema da automedicação na sociedade brasileira






TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - “Overdose” de farmácias
A vinda de grandes redes nacionais fez mercado farmacêutico crescer 40% nos últimos três anos na Grande Vitória e obriga lojas locais a se reinventarem.
“Se o acesso à medicação aumenta, o risco da automedicação também aumenta” – José Mário Corassa, médico
“Estou com medo de sair de casa e, quando voltar, encontrar uma farmácia no lugar.” Essa brincadeira foi compartilhada diversas vezes, nos últimos meses, nas redes sociais. Não por acaso. As palavras trazem, em sua ironia, uma realidade que vem surpreendendo os capixabas: o rápido crescimento do mercado farmacêutico no Espírito Santo. Em apenas três anos, 350 lojas foram abertas na Grande Vitória. Isso resultou em um crescimento de 40% no setor, entre 2015 e 2018.
Basta circular pelas ruas para perceber o boom. Parece haver um estabelecimento desse a cada esquina. Bairro mais populoso de Vitória, Jardim Camburi, conta atualmente com 20 farmácias. Com cerca de 50 mil moradores, isso representa uma unidade para cada 2,5 mil habitantes. Bem acima da média recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de uma para cada 8 mil.
As razões para tamanho crescimento são apontadas pela indústria do segmento. Envolvem avanço da classe média, maior expectativa de vida da população e facilidade de acesso a tratamentos médicos. Fatores que fizeram disparar o faturamento das cerca de 76 mil farmácias em funcionamento no Brasil. Em 2017: R$ 106,7 bilhões.
Desse valor, 41,6% foram movimentados pelas 26 redes afiliadas à Associação Brasileira de Rede de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). Mesmo representando apenas 9,2% do mercado, as 7.240 lojas faturaram R$ 44,41 bilhões no ano passado. Um aumento de 8,96% em relação a 2016. Resultado muito acima da média do varejo brasileiro, cuja alta foi de 1,5%.
Diante desses números, fica fácil entender o que motivou grandes redes farmacêuticas a se espalharem pelo Brasil. No Brasil, esse fenômeno se deu a partir de meados desta década. E se intensificou no Espírito Santo, no ano passado. Drogasil, Pacheco e Pague Menos, todas filiadas à Abrafarma, abriram uma série de lojas na Grande Vitória em uma velocidade impressionante.
“O aumento da quantidade de farmácias é reflexo de uma busca crescente dos brasileiros por mais qualidade de vida e por estar bem consigo mesmos”, destaca Sérgio Mena Barreto, presidente executivo da Abrafarma.

TEXTO 2 – Automedicação é prática comum em mais de 90% da população
Quem tem dor, tem pressa. E, nesta questão, a pressa dos brasileiros mostra-se ainda maior, já que o Brasil ocupa o posto de recordista em automedicação. De acordo com a Pesquisa “O comportamento da Dor do Paulista” realizado pelo Instituto de Pesquisa Hibou, a pedido da Medecell do Brasil em 2014, o brasileiro da região Sudeste se automedica de forma indiscriminada e sem medo das consequências. Apenas 8% dos entrevistados nunca se automedicaram em um episódio de dor.
A pesquisa revela que as dores que mais afetam os paulistanos são dores de cabeça (42%), dor lombar (41%), dor cervical (28%) e dores nas pernas (26%), responsáveis por grande parcela do consumo indiscriminado de analgésicos orais. De acordo com a definição da Anvisa, a automedicação ocorre quando há o uso de medicamentos por conta própria ou por indicação de pessoas não habilitadas para algum problema de saúde em geral não diagnosticado ou clinicamente identificado.
Será que esta atitude dos pacientes decorre da dificuldade de ter acesso a uma consulta médica, falta de conhecimento das perigosas consequências de ingerir uma droga sem prescrição ou apenas um hábito tão arraigado em nosso cotidiano que deixamos de refletir sobre isto? Segundo pesquisa do Instituto Hibou, realizado em 2014 com 1.216 moradores do estado de São Paulo, mesmo tendo consciência dos malefícios da ingestão excessiva ou inadequada, 45% da população acredita que automedicar-se só é prejudicial no caso de remédios identificados com tarja vermelha ou preta.
Para demonstrar a gravidade deste assunto, basta dizer que os medicamentos são o principal agente causador de intoxicação em seres humanos no Brasil desde 1994, que segundo dados do Sistema Nacional de Informações Toxico-Farmacológicas (Sinitox), em 2012 registrou cerca de 8 mil mortes. Para 56% dos entrevistados, o uso de uma opção não medicamentosa segura para o alívio da dor seria a solução ideal, pois eles acreditam que o uso de medicamentos tem um efeito nocivo à saúde, impactando na qualidade de vida no futuro.
Dessa amostragem, 39% faz o uso de medicamentos orais para o alívio da dor, mas apenas em últimos casos, 24% utiliza medicamentos conforme o tipo de dor, 20% não toma medicamento de forma alguma e outros 17% prefere recorrer inicialmente a terapias alternativas e receitas caseiras antes de usar um analgésico.
De uma forma geral, os dados mostram que 74% da população paulista tem em mente que a automedicação é prejudicial à saúde e que evitar o consumo de medicamentos pode ser benéfico para a boa saúde no futuro. A longevidade com qualidade de vida é o grande desafio das populações dos grandes centros que são impactados diariamente com os fatores de stress, como o trânsito, a violência, poluição etc. Além dos efeitos nocivos, às vezes a longo prazo, a ingestão indiscriminada de analgésicos pode mascarar uma doença mais grave, ou até mesmo agravá-las.
Outro dado curioso da pesquisa é que 87% dos paulistas estão abertos a novas soluções de tratamentos que possam ser eficientes para o alívio da dor, enquanto uma outra parcela do levantamento, 16%, afirma não acreditar em métodos alternativos para amenizar a dor, quando questionados sobre a eficácia de métodos não medicamentosos.
A pesquisa “O comportamento da Dor do Paulista” também revelou que a dor é feminina, com 55% do total da amostragem. Segundo a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), mulheres são mais acometidas pelas dores crônicas, quando o mal-estar de difícil diagnóstico que persiste além de três meses. Elas também enfrentam variações de ciclo hormonal e dores decorrentes do processo reprodutivo. O sexo feminino também sofre mais com as dores de cabeça e dores na coluna.

TEXTO 3 –Sabia que o Brasil é líder na automedicação?
Quem nunca tomou um remédio sem prescrição médica para curar uma dor de cabeça ou febre? Independente da resposta, vale dizer que o Brasil é recordista em automedicação. A pesquisa O Comportamento da Dor do Paulista, realizada em 2014 pelo Instituto de Pesquisa Hibou, identificou que o brasileiro da região sudeste é o que mais se automedica de forma indiscriminada e sem medo das consequências. Apenas 8% dos entrevistados nunca se automedicaram. Segundo o estudo, as dores que mais afetam os cidadãos são a de cabeça (42%), a da lombar (41%), a da cervical (28%) e a nas pernas (26%).
O grande problema no uso indiscriminado de medicamentos é a intoxicação. Outra preocupação refere-se à combinação inadequada dos produtos. Ou seja, o uso de um remédio em concomitância com outro pode anular ou potencializar o efeito ou, em situações mais graves, a ingestão incorreta ou irracional dos medicamentos também pode levar à morte. É o que explica o otorrinolaringologista Jessé Lima Júnior. "O que mais preocupa é a ingestão dos antibióticos. O uso deles pode aumentar muito a resistência bacteriana, e a gente sempre ouve muito sobre as superbactérias, que acabam resultando em muita complicação dentro e fora dos hospitais", comenta o médico.
"Dr. Google"
Jessé Júnior lembra que, embora a internet tenha facilitado o acesso às informações, nem sempre o que está presente na web é confiável. Ele cita o caso de pacientes que chegam ao consultório com ideias prévias e, muitas vezes, errôneas sobre os sintomas, inclusive indicando tratamentos. "Isso se agrava quando se tratam de problemas de saúde que requerem medicamentos de uso controlado", diz o otorrino.
Venda fracionada
Para tentar reduzir o uso indiscriminado de remédios, a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) apresentou um projeto que torna obrigatória a venda fracionada de medicamentos. O Projeto de Lei do Senado 98, de 2017, tem o objetivo de evitar desperdícios, aumentar o acesso da população a medicamentos e contribuir para a economia financeira, o bem-estar e a segurança dos consumidores.
Entre as vantagens do fracionamento apontadas pelo Conselho Federal de Farmácia estão também a maior adesão dos pacientes no cumprimento do tratamento indicado pelo médico e o menor acúmulo de produtos tóxicos nos ambientes domésticos.
Consciência
Especialistas lembram que alguns medicamentos analgésicos, que são livres de prescrição médica, podem ser guardados em casa, desde que acomodados em local arejado e longe do alcance das crianças. Menores de 5 anos representam cerca de 35% dos casos de intoxicação por remédios.
Descarte
O Brasil é o sétimo país que mais consome medicamentos do mundo, mas, existe pouca legislação referente ao correto descarte de remédios vencidos ou sem uso. Jogar os produtos no meio-ambiente de forma arbitrária contamina a água, o solo, os animais e prejudica a saúde pública. O descarte de medicamentos deve ser feito em pontos de coleta específicos, como em algumas farmácias, para serem encaminhados à destinação final adequada.

TEXTO 4 – Superbactérias avançam no Brasil e levam autoridades de saúde a correr contra o tempo
Bactérias que não respondem a antibióticos vêm aumentando a taxas alarmantes no Brasil e já são responsáveis por ao menos 23 mil mortes anuais no país, afirmam especialistas.
Capazes de criar escudos contra os medicamentos mais potentes, esses organismos infectam pacientes geralmente debilitados em camas de hospitais e se espalham rapidamente pela falta de antibióticos capazes de contê-los. Por isso, as chamadas superbactérias são consideradas a próxima grande ameaça global em saúde pública pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
"Estamos numa situação de alerta", diz Ana Paula Assef, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que faz a estimativa sobre mortes anuais no país com base nos dados oficiais dos Estados Unidos. No Brasil, ainda não há um compilado nacional sobre o número de vítimas por bactérias resistentes.
Perigosas
Um exemplo é a Acinetobacter spp. A bactéria pode causar infecções de urina, da corrente sanguínea e pneumonia e foi incluída na lista da OMS como uma das 12 bactérias de maior risco à saúde humana pelo seu alto poder de resistência.
De acordo com a Anvisa, 77,4% das infecções da corrente sanguínea registradas em hospitais por essa bactéria em 2015 foram causadas por uma versão resistente a antibióticos poderosos, como os carbapenems.
Essa família de antibióticos é uma das últimas opções que restam aos médicos no caso de infecções graves.
"Quando as bactérias se tornam resistentes a eles, praticamente não restam alternativas de tratamento", explica Assef.
Outro exemplo é a Klebsiella pneumoniae. Naturalmente encontrada na flora intestinal humana, é considerada endêmica no Brasil e foi a principal causa de infecções sanguíneas em pacientes internados em unidades de terapia intensiva em 2015, segundo dados da Anvisa.
O mais preocupante é que ela tem se tornado mais forte com o passar do tempo. Nos últimos cinco anos, a sua taxa de resistência aos antibióticos carbapenêmicos (aqueles usados em pacientes já infectados por bactérias resistentes) praticamente quadruplicou no Estado de São Paulo - foi de 14% para 53%, segundo dados do Centro de Vigilância Epidemiológica paulista.
"Os dados do Estado de São Paulo são um retrato do Brasil. É um problema crescente e muito grave, principalmente pela rápida disseminação dessas bactérias resistentes", diz Jorge Luiz Mello Sampaio, professor de microbiologia clínica da USP e consultor da Câmara Técnica de Resistência Microbiana em Serviços de Saúde da Anvisa.
Resistência
A capacidade de bactérias de passar por mutações para vencer medicamentos desenvolvidos para matá-las é chamada de resistência antimicrobiana -- ou resistência a antibióticos.
Essa extraordinária habilidade é algo natural: os remédios, ao atacar essas bactérias, exercem uma "pressão seletiva" sobre elas, que lutam para sobreviver. Aquelas que não são extintas nessa batalha são chamadas de resistentes. Elas, então, se multiplicam aos milhares, passando o gene da resistência a sua prole.
Esse processo natural pode ser acelerado por alguns fatores, como o uso excessivo de antibióticos. Um agravante é o emprego desses medicamentos também na agricultura, na pecuária e em outras atividades de produção de proteína animal.
Muitos fazendeiros injetam regularmente medicamentos em animais saudáveis como um aditivo de performance. Isso acelera a seleção de bactérias no ambiente e em animais, que podem vir a contaminar humanos.
De acordo com especialistas, o número crescente de infecções - que poderiam ser barradas por mais higiene e saneamento básico - também é um problema, porque demanda maior uso de antibióticos, o que, por sua vez, seleciona mais bactérias resistentes, perpetuando um círculo vicioso.
Um estudo encomendado pelo governo britânico no ano passado estima que tais organismos irão causar mais de 10 milhões de mortes por ano após 2050. Atualmente, 700 mil pessoas morrem todos os anos vítimas de bactérias resistentes no mundo.
Os efeitos na economia também podem ser devastadores. Países como o Brasil estariam sob o risco de perder até 4,4% de seu PIB em 2050, segundo estimativas do Banco Mundial.

TEXTO 5 – Infográficos









Real Time Web Analytics