terça-feira, 30 de outubro de 2018

Aula 19/2018 - Vai uma pitatinha de plástico aí???


MATERIAL DA AULA


TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - MICROPLÁSTICOS ESTÃO PRESENTES EM SAL DE COZINHA, INDICA PESQUISA
Entre 39 marcas, apenas três não apresentaram vestígios de microplásticos
Nas casas, nos estabelecimentos, nos esgotos e oceanos. E, de acordo uma pesquisa publicada no início de outubro na revista Environmental Science and Technology, nem mesmo o sal de cozinha que você consome todos os dias está fora dessa regra.
De acordo com o estudo, desenvolvido por pesquisadores sul-coreanos, mais de 90% do tempero que é vendido e consumido ao redor do mundo contém microplásticos. Isso significa que uma pessoa pode ingerir anualmente, em média, 2 mil microplásticos apenas desse tipo de fonte.
São chamados de microplásticos os resíduos degradados de plástico que medem menos de 5 milímetros. Entre as suas principais origens estão roupas de tecido sintético, escovas de dente, tintas e pneus. Quando degradados, essas partículas podem se tornar pequenas o bastante para contaminar as águas (até mesmo as filtradas) e, consequentemente, se infiltrarem na sua alimentação.
A pesquisa analisou 39 marcas vinda de 21 países da Europa, África, Ásia e Américas do Norte e do Sul. Destas, apenas três não apresentaram vestígios de microplástico: uma de Taiwan, outra da China e uma terceira da França.
Apesar de não revelarem os nomes das empresas, é notável no estudo que os sais mais “contaminados” são os da Ásia, uma das regiões mais poluídas do mundo, principalmente os da Indonésia.
“Os achados sugerem que a ingestão humana de microplásticos por produtos marinhos está fortemente conectada com as emissões de plástico em determinada região”, afirma Seung-Kyu Kim, professor e coautor do estudo. “Para limitar nossa exposição aos microplásticos, são necessárias medidas preventivas como o controle da emissão de plásticos mal geridos no meio ambiente e, mais importante, a redução do desperdício de plástico.”
Além disso, concluiu-se que os sais derivados da água do mar contém os maiores níveis de contaminação. Isso porque o processo de produção do sal dessa fonte envolve a evaporação da água do mar, mas há pouco processamento, o que frequentemente deixa rastros de minerais e, agora, de plásticos.
A pesquisa foi feita em parceria com o Greenpeace do Leste Asiático.

TEXTO 2 – COMO O PLÁSTICO DOS OCEANOS CHEGA AO SAL DE COZINHA
Ao ser exposto a raios ultravioleta, ondas e o choque com areias e pedras, o plástico descartado nos oceanos se pulveriza em pequenos pedaços, chamados de microplásticos.
Este é o nome dado às partículas do material com menos de 5 milímetros de extensão. Os plásticos mais comumente produzidos pela indústria demoram séculos para se degradar na natureza, o que significa que uma garrafa atirada aos oceanos na década de 1960 provavelmente continua lá em 2017, mesmo que na forma de microplástico.
Por isso, o material está se acumulando nas águas, e cada vez mais rápido: em 1964 a humanidade produzia 15 milhões de toneladas de plástico, em 2014 foram 311 milhões. Em um artigo publicado em abril de 2017 na revista de divulgação científica Nature, pesquisadores malasianos, franceses e britânicos buscaram entender se grãos de microplástico podem ser encontrados em meio ao sal de mesa que consumimos. Os cientistas estão ligados à Universidade de Putra Malásia, Universidade de Monash Malásia, e Universidade de Exeter, no Reino Unido. Eles analisaram 17 marcas de sal industrial em oito países. Em 16 delas foram encontrados grãos de plástico. Quando ingeridos, microplásticos podem causar pequenos ferimentos internos. A digestão também libera os poluentes carregados dos oceanos.
A pesquisa ressalta que foi encontrada uma proporção tão pequena do material nas amostras testadas que não há motivo para alarde. Mas recomenda que outros trabalhos busquem informações sobre a presença de partículas ainda menores do que as detectadas, assim como sinais do material em outros produtos aquáticos consumidos por humanos, como mexilhões e peixes. “A quantificação e caracterização dos tipos de microplástico em vários produtos marinhos pode ser necessária.” Como foi feita a pesquisa as 17 marcas de sal vieram de oito países: Austrália (duas marcas), França (seis), Irã (uma), Japão (uma), Malásia (duas), Nova Zelândia (uma), Portugal (três) e África do Sul (uma).
Os pesquisadores dissolveram 1kg de cada amostra de sal em água e em seguida a filtraram em membranas com minúsculos buracos de 149 micrômetros. Um micrômetro equivale a um metro dividido por um milhão, e pode ser representado pelo símbolo “µm”. Isso significa que apenas pedaços de plástico maiores do que 149µm foram filtrados e que pedaços menores do que isso não foram avaliados pela pesquisa. Em seguida, os cientistas separaram o plástico e analisaram as partículas com um microscópio. Depois separaram por forma e cor e fizeram uma nova análise com espectroscopia, uma técnica que observa como materiais emitem ou absorvem a radiação eletromagnética. Um grão de sal tem entre 0,035µm e 0,5µm.
A menor partícula de microplástico encontrada nas análises tinha 160µm, e a maior, 980µm. Os riscos do plástico A única amostra que não tinha nenhuma partícula de plástico foi a de uma marca francesa analisada. A que mais tinha era de uma marca portuguesa que participou da pesquisa, com dez partículas de microplástico por quilo de sal. Com base nessas informações, os pesquisadores estimaram que, ao consumir sal normalmente, uma pessoa poderia vir a ingerir, em um ano, até 37 micropartículas de plástico como as detectadas pelo trabalho. Apesar de o microplástico ter sido encontrado em quase todas as amostras, a quantidade e o tamanho das partículas são tão pequenas que não se pode afirmar que elas representem um risco para a saúde humana, avaliam os cientistas.
Eles ressaltam, no entanto, que é possível que pedaços ainda menores do que os detectáveis pelo filtro utilizado estejam presentes. Isso preocupa porque “pedaços menores poderiam ser mais facilmente transportados para órgãos e, dessa maneira, causar um grau maior de toxicidade” no organismo. A pesquisa também ressalta que o sal não é a única fonte de plástico consumida por seres humanos. O material foi encontrado anteriormente em moluscos e peixes, assim como na cerveja e até mesmo no mel. “Por isso, o consumo de longo prazo de vários produtos contendo microplástico pode ser um motivo para preocupação.
A presença de microplástico no sal, mesmo após este ter passado por processos industriais de filtragem, mostra como o material se tornou comum no oceano. O artigo ressalta que polipropileno e polietileno, usados em embalagens, por exemplo, estão entre as partículas mais obtidas após a filtragem realizada. Isso está de acordo com outros trabalhos que encontraram uma grande quantidade desse tipo de produto nas águas. Segundo o artigo, pode ser que a abundância no sal ocorra “devido à baixa densidade, que permite que [os pedaços de microplástico] flutuem na superfície da água e sejam prontamente direcionados a salinas.
Em adição, sua baixa densidade pode facilitar que sejam propagados ao serem suspensos no ar”. O fato de que diversos tipos de plástico flutuam gera enormes aglomerações do material na superfície da água. Há também concentrações visíveis. Uma das formações mais famosas de plástico flutuante é a Grande Porção de Lixo do Pacífico, que se forma entre a altura do Havaí e da Califórnia e se estende até a costa do Japão. Mas aglomerações do tipo podem ser encontradas em várias partes do mundo. Entre 2007 e 2013, uma equipe capitaneada pelo pesquisador Markus Eriksen realizou 24 expedições para obter dados sobre o plástico flutuante. O material foi coletado e concentrações na superfície, registradas. Eles estimaram que há no mínimo 5,25 trilhões de partículas de plástico flutuante que, juntas, pesam 269 mil toneladas. Um mapa interativo criado pela agência neozelandesa especializada em visualização de dados Dumpark permite visualizar os pontos de concentração.

TEXTO 3 – Rio de Janeiro é primeira capital brasileira a proibir canudos plásticos
O Rio de Janeiro é a primeira capital brasileira a banir o uso de canudos plásticos em quiosques, bares e restaurantes. O prefeito da cidade, Marcelo Crivella, sancionou o projeto de lei que proíbe a distribuição de canudinhos plásticos em estabelecimentos alimentícios.
A medida foi publicada no Diário Oficial da cidade do Rio nesta quinta-feira (5).  O projeto havia sido aprovado na Câmara Municipal no mês passado. Ainda falta determinar o prazo para a entrada em vigor da medida.
De autoria do vereador Jairinho (MDB), o projeto estipula multa de até R$ 3 mil aos estabelecimentos que descumprirem a lei, valor que pode ser multiplicado em caso de reincidência. Ao invés do plástico, o projeto determina o uso de canudos feitos de materiais biodegradáveis.
Segundo seu artigo primeiro, a lei sancionada “obriga os restaurantes, lanchonetes, bares e similares, barracas de praia e vendedores ambulantes do Município do Rio de Janeiro a usar e fornecer a seus clientes apenas canudos de papel biodegradável e/ou reciclável individualmente e hermeticamente embalados com material semelhante”.
Centenas de milhares de cariocas apoiaram a causa por meio de uma petição online criada pela ONG Meu Rio, apoiadora do projeto.
No mês passado, o governador do Estado do Rio, Luiz Fernando Pezão, também sancionou uma lei que proíbe estabelecimentos comerciais, como supermercados de distribuir sacolas feitas com plásticos derivados de petróleo e que entrará em vigor em 18 meses.
Antes do Rio, o município de Cotia, em São Paulo, foi a primeira cidade brasileira a proibir a venda e distribuição de canudos plásticos. A lei, sancionada no mês de junho, obriga restaurantes, lanchonetes, bares e vendedores ambulantes a usarem e fornecerem a seus clientes somente canudos de papel biodegradável e ou reciclável.
As decisões vão ao encontro de um crescente movimento global de combate ao lixo plástico, um dos principais vilões da poluição marinha. Segundo a ONU, ao menos 50 países têm propostas nessa seara.

TEXTO 4 – Ilha no Pacífico tem a maior concentração de lixo plástico do mundo
Ao longo dos últimos anos, muitos dos problemas causados pela grande produção de lixo global fomentaram algumas soluções, e o cenário, que antes parecia ser uma questão sem interesse público, passou a ser – ainda que gradativamente – modificado. Longe dessa realidade, alguns lugares ao redor do mundo continuam a sofrer com o agravamento do problema, acabando submissos a condições execráveis de existência.
Localizada no meio do Oceano Pacífico, entre Nova Zelândia e Chile, a desabitada ilha Henderson, pertencente ao território ultramarino britânico Pitcairn, é o exemplo perfeito dessa situação. Segundo pesquisadores, o espaço de 3700 hectares é responsável pela maior concentração de lixo de plástico do planeta, com cerca de 17,6 toneladas do material.
Conforme destacou o estudo publicado na revista científica Proceedings of National Academy of Sciences, as areias da ilha reúnem de 21 a 671 itens plásticos por metro quadrado, distribuídos entre diversos tipos de objetos (embalagens, brinquedos, vasilhas, escovas de dente etc.). Em outras palavras, estima-se que existem aproximadamente 37,7 milhões de resíduos plásticos na ilha.
Lixo é despejado diariamente na ilha
Para explicar as razões que levaram Henderson a se tornar o maior “depósito” de lixo do material do mundo inteiro, pesquisadores de diversos países explicam que a ilha remota se localiza justamente no caminho de um vórtice de correntes marítimas conhecido como Giro do Pacífico Sul, responsável por carregar o lixo jogado de navios e de lugares como a costa oeste da América do Sul.
Para fazer os cálculos que levaram a essa conclusão, os especialistas limparam uma determinada parte da ilha para acompanhar de perto o acúmulo diário de lixo no local. Diante da experiência, a equipe confirmou que mais de 13 mil objetos chegam à Henderson dia após dia.
Fonte de alguns outros estudos, a pequena ilha está à mercê da comunidade internacional, que acredita que a maneira de reverter o cenário atual se passa na mudança de pensamento das pessoas sobre o uso do material.

TEXTO 5 – O gigante “mar de plástico” na costa de Honduras
Um mar composto de escovas de dentes, garfos, colheres, pratos e garrafas de plástico. Essa é a imagem que a fotógrafa e ativista britânica Caroline Power captou entre as ilhas de Roatán e Cayos Cochinos, no Caribe hondurenho. “Foi devastador ver algo que me importa tanto sendo lentamente assassinado e asfixiado”, disse ela ao jornal britânico The Telegraph.
“Isto precisa parar, pensem no seu cotidiano. Como você levou para casa a comida que sobrou na última vez que você foi a um restaurante? É provável que [a embalagem] fosse de isopor, servida com um garfo de plástico, e depois colocada numa sacola de plástico”, escreveu Power no Facebook. A publicação, feita em 16 de outubro, já foi compartilhada mais de 2.770 vezes e recebeu mais de 1.100 reações nessa rede social.
A fotógrafa, especializada em imagens submarinas, contou ter feito a descoberta durante uma viagem de mergulho a ilhotas conhecidas por mal superarem o nível do mar, permitindo assim a exploração de áreas “intocadas”. “Observar o lixo e os refugos foi devastador”, disse a fotógrafa.
A organização ambientalista Blue Planet Society disse que esse “mar de plástico” se formou por causa do lixo arrastado da Guatemala para a costa hondurenha pelas águas do fronteiriço rio Motagua. Nos últimos três anos, os dois países vêm tendo atritos por causa da contaminação desse curso hídrico.
“O Governo de Honduras lamenta que, apesar das diversas abordagens ao Governo da Guatemala e dos esforços realizados, estes não tenham sido suficientes (...) e ainda não se vejam resultados concretos e evidentes”, afirmou a secretaria hondurenha de Relações Exteriores em nota no último dia 23.
O Governo de Honduras exigiu a mitigação dos danos e uma indenização pelo “investimento realizado”. Já o presidente guatemalteco, Jimmy Morales, declarou ao jornal Prensa Libre que conversou com seu homólogo hondurenho sobre as tarefas necessárias para combater o problema, mas que estas “ainda não foram definidas”.

domingo, 14 de outubro de 2018

Aula 18/2018 - Agrotóxico, o perigo invisível



TEXTO 1 – Fato motivador - Morre homem que se tornou símbolo da luta contra agrotóxico na Argentina
Fabián Tomasi, que trabalhou por anos lançando pesticida dos aviões e se transformou em um símbolo da luta contra o uso de agrotóxicos na Argentina, faleceu aos 53 anos, vítima de uma polineuropatia tóxica severa.
"Nesta sexta-feira (7) terminaram de matá-lo. Fabián ficou doente há mais de dez anos. Resistia a morrer para poder denunciar a prática agrícola genocida que o destruiu", disse à AFP  Medardo Avila, integrante da Rede de Médicos de Povos Fumigados, com quem compartilha essa luta.
Com uma filha, Tomasi dedicou os últimos anos de sua vida a gerar consciência sobre o perigo da utilização de pesticidas e até se deixou fotografar doente e esquelético como parte de sua militância, lembrou Avila.
"Estamos com muita dor e muito indignados com sua morte. Temos um sistema de produção que polui meio país", denunciou o médico ativista. Em seus testemunhos, Tomasi relatava que nunca havia usado proteção em seu trabalho, porque ninguém o havia advertido sobre o risco de manipular glifosato. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse pesticida usado para os cultivos com sementes transgênicas é, provavelmente, cancerígeno. "Vai fazer que não reste ninguém. Toda terra que temos não vai chegar para sepultar tanta morte", disse ele em entrevista à AFP há alguns meses. Por causa da doença ele já não podia mais ingerir alimentos sólidos, perdia massa muscular e tinha dores nas articulações que limitavam sua mobilidade.
Ele começou a trabalhar com agroquímicos em 2005 para uma empresa fumigadora da província de Entre Ríos (centro-este), localidade onde faleceu.

TEXTO 2– Entenda o que muda com a nova lei dos agrotóxicos
Com a volta do recesso parlamentar, pode entrar em votação um novo projeto de lei que regulamenta o uso de agrotóxicos no país.
O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, mas muito se questiona sobre o impacto desses produtos químicos no meio ambiente e na saúde das pessoas.
Entre 2013 e 2015, por exemplo, 20% das amostras analisadas pelo governo excederam os níveis permitidos de elementos nocivos, segundo relatório divulgado pela Human Rights Watch usando dados de Ministério da Saúde e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Além substituir a denominação de "agrotóxico" por "pesticida", a proposta quer mudar o critério para proibir um pesticida, barrando apenas produtos que apresentem risco inaceitável para seres humanos ou meio ambiente. Também centraliza o registro de novos agrotóxicos nas mãos do Ministério da Agricultura e estabelece prazo máximo para liberar novos agrotóxicos.
Depois de ser analisado pela Câmara, o projeto vai passar pelo Senado. Se aprovado em ambas as Casas Legislativas, vai para a sanção do presidente Michel Temer (MDB). Isso pode não acontecer neste ano, devido à campanha eleitoral e às críticas que a nova lei sofreu, tendo sido apelidada de "PL do Veneno" por ativistas, ambientalistas, celebridades e agências governamentais contrárias às mudanças.
TEXTO 3 - Santa Catarina registra 1,8 caso de intoxicação por agrotóxico por dia, diz pesquisa
Em relatório divulgado pelo Centro de Informações e Assistência Toxicológica (Ciatox-SC), foi diagnosticado que Santa Catarina registra 1,8 casos por dia de intoxicação aguda por conta de agrotóxicos. Ao menos 685 pessoas foram impactadas, com 32 mortes. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), esse número pode ser muito maior, em decorrência das subnotificações.
De acordo com a pesquisa "Você não quer mais respirar veneno", da Human Rights Watch (HRC), dentre os 10 agrotóxicos mais usados no Brasil em 2016, quatro não são autorizados na Europa, o que demonstra indícios dos possíveis riscos que essas substâncias oferecem à saúde. Joinville, no Norte de SC, tem como uma de suas principais atividades econômicas o cultivo do arroz e engloba a maior população rural do Estado, com mais de 17,4 mil habitantes, sendo que quase dois mil são produtoras. Essas pessoas correm risco intoxicação e podem ser diagnosticadas por meio do teste de colinesterase. "A colinesterase é uma enzima que serve como indicador do diagnóstico para o agravo, pois quando há exposição a compostos agrotóxicos, há inibição da enzima acetilcolinesterase circulante no sangue", explicou Myrna Campagnoli, diretora médica do Ghanem Laboratório.
Myrna alerta sobre a importância do exame médico periódico desses trabalhadores, ponderando que a medida é indispensável para o acompanhamento da saúde do trabalhador rural, principalmente para avaliar a exposição ao agrotóxico.
A intoxicação aguda pode apresentar sintomas como dor de cabeça, tontura, náusea, vômito, desorientação, dificuldade respiratória, coma e até a morte. No caso da intoxicação crônica, no entanto, que acomete geralmente pessoas que têm contato diário com as substâncias, os sintomas não aparecem de imediato, mas ao longo do tempo podem causar graves problemas de saúde, patologias que atingem vários órgãos e sistemas, causando problemas imunológicos, hematológicos, hepáticos, neurológicos, malformações congênitas e tumores.


TEXTO 4– Agrotóxico é risco para quem vive perto de áreas de plantio, diz ONG
ONG diz que a lei que prevê uma distância mínima de 500 metros da comunidade para a pulverização de aviões não é cumprida.
Um relatório da organização de direitos humanos mais importante do mundo denunciou a contaminação por agrotóxico de comunidades rurais no Brasil.
A imagem que vem à cabeça: aviões sobrevoando plantações para pulverizar agrotóxicos. Mas, e quando esse spray atinge pessoas? Aconteceu em 2013 na escola rural São José do Pontal, em Rio Verde, uma das maiores produtoras de soja, no interior de Goiás. Mais de 30 crianças passaram mal.
Do ano passado para cá, a ONG Human Rights Watch visitou comunidades rurais nas cinco regiões do Brasil. Num relatório divulgado nesta sexta-feira (20), os moradores relatam que são atingidos frequentemente pela pulverização, se queixam de dores de cabeça, náusea, tontura e vômito. E dizem ter medo de denunciar a intoxicação.
Richard Pearshouse, diretor da ONG, diz que o Brasil, um dos maiores produtores agrícolas do mundo, consome mais de 1,5 milhão de toneladas de agrotóxicos por ano. Entre os dez produtos mais vendidos aqui, quatro estão proibidos na Europa.
A ONG diz que a lei que prevê uma distância mínima de 500 metros na pulverização de aviões não é cumprida, recomenda mais fiscalização e também a criação de uma lei federal que limite a aplicação de agrotóxicos por tratores perto de comunidades rurais.
“É chocante que alguém possa despejar pesticidas em lugares onde as pessoas vivem e estudam”, diz Richard.
O Ministério da Agricultura disse que existe fiscalização e prometeu implementar uma das sugestões. "Como, por exemplo, um disciplinamento um pouco mais formal dessas distâncias da aplicação terrestre como feito na aérea. A gente de pronto vai acatar", afirma Luís Rangel, secretário de Defesa Agropecuária.
O relatório foi divulgado num momento em que o Congresso discute um projeto de lei que altera o processo de registro dos agrotóxicos. Hoje esses produtos precisam ser autorizados pelos ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da Agricultura. O projeto porpõe que a palavra final fique com o Ministério da Agricultura e fala até em mudança de nome: em vez de agrotóxicos, eles passariam a ser chamados de pesticidas.
A Sociedade Rural Brasileira diz que a mudança deve acelerar a aprovação de produtos, que hoje demora até oito anos. "Esse prazo diminuirá expressivamente e novas tecnologias, bem como novas empresas, poderão operar nesse mercado. Se o Brasil, de fato, deseja produzir alimentos utilizando menos defensivos, nós precisamos de inovação tecnológica", fala o diretor-executivo João Adrien Fernandes.
Na internet, uma petição contra o projeto de lei tem 1,5 milhão de assinaturas. Dezenas de instituições também se posicionaram contra, como a Anvisa, o Instituto Nacional do Câncer e a Fundação Oswaldo Cruz.
"Produtos que já foram banidos no Brasil poderão ser reintroduzidos. O projeto de lei aponta um caminho que flexibiliza de uma maneira muito clara os interesses das necessidades dos processos de produção agrícola em detrimento dos interesses da saúde e do meio ambiente", destaca Guilherme Netto, pesquisador da Fiocruz.

TEXTO 5  - Com adição de agrotóxicos, por favor
A rapaziada manifestante indignada não leu, não estudou, mas é contra; porque, se trata de agrotóxico, só pode ser ruim, nocivo, opressor, golpe de latifundiários
Tramita no Congresso, lentamente, a alcunhada Lei dos Agrotóxicos. Urgentíssima, para substituir a legislação de 1989, cuja defasagem põe em risco não o interesse de Blairo Maggi, mas o do brasileiro que compra milho no mercado. Desnecessário dizer, porém, que a proposta vai longamente amaldiçoada. Em trânsito de lesma na Comissão Especial da Câmara, ensejou, nas últimas semanas, novos protestos apaixonados dos bem-intencionados de sempre — aquela espécie humana peculiar que tanto mais esbraveja quanto mais desconhece o assunto.
Sim, sei que é exercício difícil para os exemplares dessa praga, mas a leitura do texto do projeto — geralmente é assim (vale experimentar) — explica seu objetivo: em suma, agilizar o registro de pesticidas mais modernos aqui. Bom, né? Não. A rapaziada manifestante indignada não leu, não estudou, mas é contra; porque, se trata de agrotóxico, só pode ser ruim, nocivo, opressor, golpe de latifundiários multinacionais, e pronto: arma-se a gritaria. A cena seria surrealista não tivesse pilares metodológicos clássicos a serviço da confusão e da ignorância tragicômicas: aqueles que lutam historicamente contra o uso, no Brasil, de defensivos agrícolas já superados em outras nações são os mesmos que ora lutam contra a lei que permitiria a rápida modernização dos defensivos agrícolas utilizados neste país.
Que tal?
Curioso e triste torrão é o Brasil, este cuja principal vocação econômica, a agropecuária, desenvolvida pari passu com a melhor tecnologia, distribuidora de riqueza e geradora de milhões de empregos, muitos dos quais com altíssima especialização, é criminalizada pelos mistificadores senhores do discurso da “oportunidade para todos”. Não é incoerência, porém. Há método — insisto.
Sob a mobilização de poderosos grupos de pressão ideológicos, a militância dos hábitos virtuosos encontra fluente caminho para se impor e transtornar quando consegue infiltrar sua cultura de desinformação, via de regra alarmista, nos costumes da população. Quase sempre consegue, com luxuosa contribuição de artistas, jornalistas e outros patriotas do apocalipse. Sobre a produção de alimentos, a deturpação é especialmente depravada. Amedrontado pela propaganda mentirosa do onguismo mais lucrativo, o brasileiro médio foi convencido de que a comida que lhe é oferecida é ruim, talvez mesmo envenenada. Não é isso? Quem nunca se deparou com a impostura segundo a qual aqui se consumiria, individualmente, cerca de cinco litros de pesticidas por ano?
Em que espécie de hortinha mental-moral elitista vive essa gente leviana que propaga a produção quimérica de alimentos orgânicos em larga escala como salvação de uma humanidade contaminada? Quando se deu a perversão de valores por meio da qual hábitos individuais de ricos, não raro exóticos (talvez fanáticos), práticas matematicamente insustentáveis para o conjunto da sociedade, tornaram-se ativismo autoritário — para muitos entre os religiosos da pureza razão da própria existência — vendido em nome da saúde alheia ainda que sem a mais mínima comprovação científica?
O que se sabe, seguramente, sobre o alimento orgânico: que não tem vantagem, nutricional ou de sabor, sobre o produto convencional, e que é muito, muitíssimo, mais caro, isso como consequência da produtividade fundamentalmente menor, de crescimento representativo impossível, daí por que, por definição, coisa de abastados — que semearia a fome caso dele dependesse a subsistência mundial. Ou seja: o pobre, para comer, para se nutrir, precisa de pesticidas, e isso — atenção — não lhe faz vítima, mas cidadão plenamente, como só raramente, beneficiando-se da inclusão, da inclusão prática, objetiva, permitida pela tecnologia.
Só no Brasil, aliás, defensores agrícolas, glórias da ciência, são chamados de agrotóxico, palavra essencialmente enviesada, criada e difundida para distorcer — para plantar na percepção das pessoas a ideia farsante de que pesticidas são instrumentos garantidores da expansão produtiva irresponsável decorrente da ganância da máfia dos grandes produtores rurais. Não é assim? A verdade, no entanto, é outra: a química aplicada no campo dominou pragas antes consideradas invencíveis, trouxe estabilidade, previsibilidade, às safras, que batem sucessivos recordes, e criou as condições para que o cultivo, por exemplo, de arroz e feijão precisasse hoje de três vezes menos terra que há 40 anos — e tudo isso para entregar comida barata, farta e de boa qualidade.
Curioso e triste país é o Brasil, este cuja gente que concebeu o Bolsa Família, e que zela pela renda do pobre, investe na narrativa que demoniza a agropecuária — atividade cuja excelência leva comida saudável e em conta à mesa do brasileiro real, aquele para quem programa de culinária na tevê é obra de ficção tão distante quanto o reino da Dinamarca, “nação mais orgânica do mundo”, onde a fatia desses produtos do mercado, contudo, não chega a 8%, e a alimentação das pessoas não é aparelho para terrorismo ambiental.

Aula 17/2018 - Nova revolta da vacina?




TEXTO 1 – Fato motivador - Grupos contrários à vacinação avançam no país; movimento preocupa Ministério da Saúde
Embora o Brasil tenha um dos mais reconhecidos programas públicos de vacinação do mundo, com os principais imunizantes disponíveis a todos gratuitamente, vêm ganhando força no país grupos que se recusam a vacinar os filhos ou a si próprios.
Esses movimentos estão sendo apontados como um dos principais fatores responsáveis por um recente surto de sarampo na Europa, onde mais de 7 mil pessoas já foram contaminadas. No Brasil, os grupos são impulsionados por meio de páginas temáticas no Facebook que divulgam, sem base científica, supostos efeitos colaterais das vacinas.
O avanço desses movimentos já preocupa o Ministério da Saúde, que observa queda no índice de cobertura de alguns imunizantes oferecidos no Sistema Único de Saúde (SUS). No ano passado, por exemplo, a cobertura da segunda dose da vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, teve adesão de apenas 76,7% do público-alvo.
"Isso preocupa e causa um alerta para nós porque são doenças imunopreveníveis, que podem voltar a circular se a cobertura vacinal cair, principalmente em um contexto em que temos muitos deslocamentos entre diferentes países", diz João Paulo Toledo, diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, que ressalta que todas as vacinas oferecidas no País são seguras.
A disseminação de informações contra as vacinas ocorre principalmente em grupos de pais nas redes sociais. O Estadão encontrou no Facebook cinco deles, reunindo mais de 13,2 mil pessoas. Nesses espaços, os pais compartilham notícias publicadas em blogs, a maioria de outros países e em inglês, sobre as supostas reações às vacinas --por exemplo, relacionando-as ao autismo.

TEXTO 2– Movimento antivacina gera surto de doenças nos EUA
Surtos de doenças como sarampo, caxumba ou coqueluche costumam ser associados a países pobres da África ou da Ásia, onde grande parte da população não tem acesso a vacinação e cuidados médicos.
No entanto, nos últimos anos essas doenças vêm ressurgindo com força nos EUA. Somente no ano passado, foram registrados mais de 24 mil casos de coqueluche no país, segundo dados preliminares do Centers for Disease Control and Prevention (Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças, ou CDC, na sigla em inglês), ligado ao Departamento de Saúde dos EUA.
No ano anterior, o número chegou a 48,2 mil, o maior desde 1955. Em 2013, o país registrou ainda 438 casos de caxumba e 189 de sarampo, todas doenças que podem ser prevenidas por vacinas existentes há vários anos.
"No caso da coqueluche, parte dos surtos parece estar ligada ao problema de que a vacina mais amplamente usada não é tão eficaz quanto costumava ser. Mas os casos de caxumba e, especialmente, sarampo, acho que estão relacionados ao movimento antivacina", disse à BBC Brasil a especialista em saúde global Laurie Garrett, do Council on Foreign Relations (CFR).
"Os níveis de vacinação na Grã-Bretanha para doenças como sarampo, caxumba e rubéola vêm despencando. Há comunidades inteiras em que a cobertura está abaixo de 50%. No caso de uma doença tão contagiosa como o sarampo, qualquer nível abaixo de 90% é perigoso", diz Garrett.
Autismo
O movimento antivacina ganhou força a partir de 1998, quando o pesquisador britânico Andrew Wakefield publicou um estudo que relacionava a vacina Tríplice Viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) ao autismo.
Diversas pesquisas posteriores nunca acharam qualquer ligação entre a vacina e o autismo, e em 2010 uma comissão de ética descobriu que Wakefield havia falsificado dados de seu estudo. Wakefield teve sua licença médica cassada e o estudo foi retirado das publicações.
Mas apesar do descrédito do estudo e de seu autor, a teoria se espalhou, com a ajuda da internet, entre pais temerosos de que a vacina pudesse causar problemas a seus filhos.
Número de vacinas
Fisher diz que seu objetivo não é convencer pais a não vacinarem seus filhos, mas lutar pelo direito à informação.
"Queremos educar as pessoas para que entendam sobre os riscos de complicações das vacinas, para que possam tomar decisões bem informadas", disse Fisher à BBC Brasil.
Assim como outros adeptos do movimento, Fisher reclama do poder da indústria farmacêutica e do número de vacinas recomendadas pelo governo americano.
"Esse número triplicou nos últimos 30 anos. Em 1982, eram 23 doses de sete diferentes vacinas até os seis anos de idade. Hoje, o governo recomenda 69 doses de 16 vacinas até os 18 anos", afirma.
As crianças americanas são obrigadas a apresentarem comprovante de vacinação para ingressar na escola. Mas todos os 50 Estados do país permitem isenções médicas, para crianças que, por motivos de saúde, não podem ser vacinadas.
Perfil
"Estudos mostram que muitas crianças não vacinadas têm pais com altos níveis de educação e renda", disse à BBC Brasil a epidemiologista Allison Fisher, do CDC.
Uma análise das áreas onde ocorrem os surtos também dá dicas sobre o perfil das famílias que optam por não vacinar seus filhos.
"Se nosso mapa interativo englobasse os anos 1950, veríamos que, naquela época, os surtos estavam associados à falta de infraestrutura para levar as vacinas às crianças pobres", diz Garrett.
"Isso não ocorre mais. Atualmente o governo federal dos EUA e a maioria dos governos estaduais têm programas de vacinação muito fortes nas comunidades carentes e áreas rurais", afirma.
"Hoje, os surtos nos EUA ocorrem entre populações mais ricas. E isso tem relação com comunidades em que há maior pressão política para acabar com as exigências de vacinação para crianças na escola", diz Garrett.
Riscos
Segundo Allison Fisher, do CDC, como certas doenças não eram vistas havia muito tempo nos EUA, alguns pais simplesmente pensam que elas não existem mais.
"Tentamos chegar aos pais e profissionais de saúde e reforçar que a decisão de não vacinar traz riscos", diz.
Garrett observa que, antes da introdução das vacinas, doenças como sarampo estavam entre as principais causas de morte de crianças nos EUA.
"É imperdoável que hoje em dia, em um país como os EUA, uma criança pegue sarampo", afirma.
"A ironia é que você volta aos EUA e ouve todas essas pessoas dizendo: 'Não queremos vacinas'."
TEXTO 3– 'Festas da catapora' são populares nos EUA
Comuns até meados dos anos 1990, antes da introdução da vacina, as chamadas "Festas da Catapora" continuam a ganhar adeptos nos EUA. Auxiliados pela internet, pais de todos os cantos do país trocam informações sobre como colocar seus filhos em contato com crianças infectadas pelo vírus causador da catapora – ou varicela (Varicela-Zóster).
O objetivo é tentar fazer com que os filhos contraiam uma doença que, acreditam, se manifesta de forma bem mais branda em crianças do que em adultos, e fiquem assim imunizados para o resto da vida.
Para muitos pais, expor os filhos à doença "naturalmente" é menos arriscado do que optar pela vacina.
"Somos um grupo nacional de pais unidos no apoio ao vírus da catapora na infância em vez da vacina", diz a apresentação da página Pox Party USA, no Facebook.
Na página, uma das várias dedicadas ao tema na rede social, integrantes trocam dicas sobre as "Festas da Catapora" mais próximas de onde moram e debatem prós e contras da vacina e de contrair a doença.
"Este é um grupo para indivíduos/famílias que, por diversos motivos pessoais, preferem a exposição natural à catapora do que a vacina contra a varicela", afirma outro grupo, Chicken Pox Parties – Southeast US.
Pirulitos
Além do temor de que a vacina possa provocar efeitos colaterais graves – o que, segundo especialistas, não tem comprovação científica –, alguns pais questionam sua eficácia. O Centers for Disease Control and Prevention (Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças, ou CDC, na sigla em inglês), agência ligada ao Departamento de Saúde dos EUA, afirma que a eficácia da vacina é de 98%.
Mas o fato de serem recomendadas duas doses – a primeira dos 12 aos 15 meses e a segunda dos quatro aos seis anos de idade – provoca desconfiança em certos pais, que acham mais seguro garantir a imunidade contraindo a doença.
Há inclusive os que recorrem a outros métodos, como enviar ou receber pelo correio pirulitos lambidos ou roupas usadas por crianças infectadas.
A prática ganhou as manchetes há cerca de dois anos, quando autoridades tiveram de alertar que quem enviasse materiais do tipo pelo correio estaria infringindo a lei e sujeito a pena de prisão.
Riscos
"Alguns pais acham que a vacina contra varicela não é necessária, porque lembram que tiveram a doença quando crianças e, apesar do desconforto, ficaram bem", disse à BBC Brasil a epidemiologista Allison Fisher, do CDC.
"Acham que contrair a doença naturalmente é melhor que a vacina", afirma Fisher. "É nossa função alertá-los sobre os riscos de não vacinar."
Seja na forma de "Festas da Catapora" ou do compartilhamento de pirulitos, especialistas afirmam que expor as crianças ao vírus propositalmente é arriscado.
De acordo com o CDC, até o início dos anos 1990 a doença atingia uma média de 4 milhões de pessoas por ano nos EUA. Destas, entre 10,5 mil e 13 mil tinham de ser hospitalizadas e entre cem e 150 morriam a cada ano.


TEXTO 4– A nova revolta da vacina
Ao lado dos antibióticos, as vacinas estão entre as grandes conquistas da medicina. Desde que o médico britânico Edward Jenner decidiu inocular um garoto de sete anos com o conteúdo extraído de uma pústula de varíola, em 1796, e descobriu que isso garantia proteção contra a enfermidade, as doenças infecciosas passaram a figurar entre aquelas contra as quais a ciência finalmente possuía alguma forma de controle.
SURTOS CATASTRÓFICOS
A responsabilidade dos anti-vacina no recrudescimento no número de casos de doenças preveníveis voltou à discussão com o surto de sarampo enfrentado na Europa, com sete mil pessoas contaminadas, e em Minnesota, nos Estados Unidos. Desde abril, foram registrados por lá 69 casos da doença. Desses, 65 ocorreram em crianças que não foram imunizadas e um atingiu um bebê que havia recebido apenas uma das duas doses recomendadas.
POR QUE AS VACINAS SÃO IMPORTANTES
– Elas estão entre as principais conquistas da medicina, ao lado dos antibióticos
– Derrubaram o número de casos de doenças infecciosas graves e são responsáveis pela erradicação de outras, como a varíola
– Protegem o indivíduo e também a comunidade
COMO A CIÊNCIA RESPONDE AOS ARGUMENTOS DO MOVIMENTO ANTI-VACINA*
A imunidade natural seria superior à induzida pela vacina
Não é razoável pensar em expor as crianças à doenças como sarampo para que adquiram imunidade. Depois, as vacinas oferecem imunidade duradoura e eficiente, embora algumas precisem de reforço
Não há evidência cientificamente sustentável de que isso ocorra
Há presença de mercúrio, que poderia prejudicar o desenvolvimento
O metal é encontrado somente em frascos de múltiplas doses. E estudo do Centro de Controle de Doenças, com mais de 1000 crianças acompanhadas, não encontrou diferença neurológica, psicológica ou de desenvolvimento nas que receberam maiores quantidades de mercúrio
Elas enfraquecem o sistema imunológico
Algumas podem causar suspensão temporária de respostas imunes, mas elas são de curta duração e não aumentam risco de infecção por outros agentes infecciosos

TEXTO 5 – Desabafo contra o movimento anti-vacina
Uma mãe americana intensificou o debate entre os que são a favor e contra a obrigatoriedade da vacinação de crianças após postar no Facebook um desabafo sobre o perigo que sua filha, Ashley, correu ao ser exposta a uma criança com varicela, não vacinada. Ashley, de 11 anos, precisou realizar um transplante de rim quando tinha apenas 2 anos de idade, e isso a impede de tomar vacinas com vírus vivo, como é o caso da vacina contra varicela. Assim, basta uma pessoa aderir ao movimento antivacina e deixar de tomar as doses necessárias para que a menina fique ameaçada.
Por causa da exposição desnecessária à doença, Ashley foi parar na emergência. A mãe, a enfermeira Camille Echols, postou que tem visto na internet "memes pseudo-inteligentes questionando: 'por que meus filhos não vacinados seriam uma ameaça para seus filhos vacinados, se você tem tanta certeza de que eles funcionam?'". Em seguida, ela explicou que algumas crianças, como a própria filha, são imunodeprimidas e, caso se exponham ao vírus presente na vacina, não desenvolverão anticorpos, mas sim a própria doença.
"Ela chegou a tomar uma dose da vacina contra varicela, mas não conseguiu tomar a segunda porque ela estava imunossuprimida [por causa do transplante] e, em vez de desenvolver imunidade, ela teria contraído o vírus", afirmou Camille.
Sete dias depois de a criança dar entrada na emergência, ela está considerada saudável, sem sinal de ter contraído varicela. A mãe fez um post de agradecimento em suas redes sociais àqueles que desejaram sorte.

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