sábado, 21 de março de 2015

Aula 07/2015 - Cotas Raciais, necessidade ou ilegalidade?

Cotas Raciais, necessidade ou ilegalidade?





A Lei da Igualdade Racial acrescenta itens à Lei 7.716/89, que trata dos crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Por essa lei, quem impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da administração direta ou indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos, será punido com reclusão de dois a cinco anos. A Lei da Igualdade Racial acrescenta que terá a mesma pena quem, por motivo de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional obstar a promoção funcional no setor público.
A discriminação de raça, cor, bem como as práticas resultantes do preconceito de descendência, origem nacional ou étnica nas empresas privadas também são punidas com reclusão de dois a cinco anos. Outras práticas nesse setor, tais como negar equipamentos necessários ao empregado ou impedir a ascensão funcional por motivo de preconceito são igualmente punidas com esse período de reclusão.
Nesse contexto, muitos se questionam:

"Se existe uma lei que estabelece a igualdade racial, qual a legalidade da política de cotas?"

Material da Aula



TEXTO 1 – O fato – Dia Internacional contra a Discriminação Racial
Com metade de sua população formada por negros – cerca de 100 milhões de pessoas, o Brasil investe em leis para combater a discriminação e promover a inclusão. Graças aos efeitos de leis como a de cotas raciais, o País pode comemorar o Dia Internacional contra a Discriminação Racial, estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e comemorado em 21 de março. Para o diretor de Políticas de Educação do Campo, Indígena e para as Relações Étnico-Raciais do MEC, Thiago Thobias, a educação é o caminho. “Temos a formação de professores pela lei de relações étnicas e raciais, e distribuição de material didático para as escolas. Além disso, há um processo de inclusão desses jovens no ensino superior”, explica.
Esse processo de democratização, além de um processo de inclusão, é um processo de convivência. “A convivência é um dos melhores remédios para combater a discriminação e o racismo”, completa.
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Mesmo após mais de 25 anos da criação da Lei nº 7.716, de 05 de janeiro de 1989, que criminaliza a discriminação e preconceitos de raça, existe ainda um longo caminho a percorrer na conscientização da população brasileira contra este tipo de crime. No Tocantins, que tem mais de 70% de sua população pertencente à raça negra, esta é uma luta diária, e que precisa de atenção.
Negro 2Para o gerente de Políticas de Igualdade Racial da Secretaria de Defesa e Proteção Social (Sedeps), André Luiz Gomes da Silva, neste sábado, dia 21 de março, quando é comemorado o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, é preciso chamar a atenção para o racismo velado que se vivencia diariamente. “A população precisa tomar consciência de suas origens e de sua cultura, se reconhecer como negro e combater qualquer tipo de violência racial”, disse.

TEXTO 2 – Invasão de sala na USP
Estudantes de administração da Universidade de São Paulo (USP) discutiram com um grupo de alunos negros que interrompeu a aula para levantar um debate sobre a política de cotas da instituição. Em um vídeo publicado na internet, a professora pede para que os estudantes marquem um horário para falar sobre o assunto, porque ela “precisa dar aula”. Após a declaração, a docente é questionada se sua disciplina é mais importante que a questão racial, a partir daí, a turma começa o bate-boca.
— Estuda e entra aqui na universidade. Ninguém está impedindo— grita o estudante que filma a discussão.
Em resposta, uma das alunas afirma ironicamente que é fácil entrar na USP e completa:
— Eu quero ver se é bem fácil para você quando você é mulher e preta na periferia.
Durante 16 minutos, os alunos batem-boca sobre racismo. A briga só acaba quando outro estudante da classe, que é negro, diz que o tema é relevante e critica o fato de na última aula a professora ter liberado a turma duas horas antes sem reclamação.
— Eu também sempre estudei em escola particular. Estudei num cursinho onde 170 alunos de uma sala eram brancos, eu era o único negro. É uma questão que para vocês realmente não faz nenhuma diferença, mas para mim sempre doeu. É muito fácil você falar de uma coisa que você não viveu e eu vivi isso a minha vida inteira. Vocês estão reclamando da aula, a aula passada a professora liberou duas horas mais cedo, hoje o cara está tirando 30 minutos— disse o aluno, que foi aplaudido pela turma.

TEXTO 3 – A favor das cotas
Roberto Lyra, Promotor de Justiça, um dos autores do Código Penal de 1940, ao lado de Alcântara Machado e Nelson Hungria, recomendava aos colegas de Ministério Público que “antes de se pedir a prisão de alguém deveria se passar um dia na cadeia”. Gênio, visionário e à frente de seu tempo, Lyra informava que apenas a experiência viva permite compreender bem uma situação.
Quem procurar meus artigos, verá que no início era contra as cotas para negros, defendendo – com boas razões, eu creio – que seria mais razoável e menos complicado reservá-las apenas para os oriundos de escolas públicas. Escrevo hoje para dizer que não penso mais assim. As cotas para negros também devem existir.
Por isso, em texto simples, quero deixar clara minha posição como homem, cristão, cidadão, juiz, professor, “guru dos concursos” e qualquer outro adjetivo a que me proponha: as cotas para negros devem ser mantidas e aperfeiçoadas. E meu melhor argumento para isso é o aquele que me convenceu a trocar de lado: “passar um dia na cadeia”. Professor de técnicas de estudo, há nove anos venho fazendo palestras gratuitas sobre como passar no vestibular para a EDUCAFRO, pré-vestibular para negros e carentes.
Apenas não acho que temos que exigir heroísmo de cada menino pobre e negro desse país. Minha filha, loura e de olhos claros, estuda há três anos num colégio onde não há um aluno negro sequer, onde há brinquedos, professores bem remunerados, aulas de tudo; sua similar negra, filha de minha empregada, e com a mesma idade, entrou na escola esse ano, escola sem professores, sem carteiras, com banheiro quebrado. Minha filha tem psicóloga para ajudar a lidar com a separação dos pais, foi à Disney, tem aulas de Ballet. A outra, nada, tem um quintal de barro, viagens mais curtas. A filha da empregada, que ajudo quanto posso, visitou minha casa e saiu com o sonho de ter seu próprio quarto, coisa que lhe passou na cabeça quando viu o quarto de minha filha, lindo, decorado, com armário inundado de roupas de princesa. Toda menina é uma princesa, mas há poucas das princesas negras com vestidos compatíveis, e armários, e escolas compatíveis, nesse país imenso. A princesa negra disse para sua mãe que iria orar para Deus pedindo um quarto só para ela, e eu me incomodei por lembrar que Deus ainda insiste em que usemos nossas mãos humanas para fazer Sua Justiça. Sei que Deus espera que eu, seu filho, ajude nesse assunto. E se não cresse em Deus como creio, saberia que com ou sem um ser divino nessa história, esse assunto não está bem resolvido. O assunto demanda de todos nós uma posição consistente, uma que não se prenda apenas à teorias e comece a resolver logo os fatos do cotidiano: faltam quartos e escolas boas para as princesas negras, e também para os príncipes dessa cor de pele...
... Se você é contra as cotas para negros, eu o respeito. Aliás, também fui contra por muito tempo. Mas peço uma reflexão nessa semana: na escola, no bairro, no restaurante, nos lugares que frequenta, repare quantos negros existem ao seu lado, em condições de igualdade (não vale porteiro, motorista, servente ou coisa parecida). Se há poucos negros ao seu redor, me perdoe, mas você precisa “passar um dia na cadeia” antes de firmar uma posição coerente não com as teorias (elas servem pra tudo), mas com a realidade desse país.
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/11/porque-me-tornei-a-favor-das-cotas-para-negros/
TEXTO 4 – Algumas imagens



TEXTO 5 – Contra as cotas
No momento, a Universidade de Brasília vive a possibilidade de admitir a implementação do sistema de cotas para o ingresso de ”negros” na Universidade. Eu, apesar de todos os pseudodebates[1] a que compareci, em que a minha e outras dezenas de mentes foram simplesmente marteladas repetidas e reiteradas vezes com a abissal diferença sócio-econômica existente no Brasil entre negros e brancos, tendo como base dados do IPEA, não me convenço de forma alguma de que a adoção de qualquer política de cotas seja algo desejável.
Não, eu não nego a existência de uma vergonhosa disparidade entre as “raças” em questão; nem o passado nada glorioso brasileiro, eivado pelas mais variadas práticas racistas fomentadas pela sociedade e até mesmo pelo Estado. Contudo, não consigo vincular uma coisa a outra e acreditar que facilitar o ingresso de um maior número de “negros” na UnB mudaria, ainda que indiretamente, para melhor a situação racista existente no Brasil.
O primeiro dos motivos que me veio à cabeça foi: será que sou contra as cotas porquê assim o é a legislação nacional? Bom, conforme nos explica Celso Antônio Bandeira de Mello, a partir de sua hermenêutica do princípio constitucional da isonomia, o ordenamento brasileiro é rígido na direção de que não só se pode como se deve discriminar. Sadios e deficientes, adultos e crianças, homens e mulheres, ricos e pobres: são todos iguais? Definitivamente, não. O abstracionismo de nossa legislação não chega a tal absurdo cego em relação à diversidade óbvia. A isonomia é, essencialmente, discriminatória. O que ela pretende, sim, é garantir que as discriminações feitas não sejam arbitrárias nem aleatórias.
Com as devidas ressalvas, uma analogia talvez melhor ilustre meu pensamento. Entendo, mas não partilho inteiramente, que o ponto de partida seja a noção de que a declarada democracia racial seria um engodo histórico, e na verdade o racismo é, culturalmente, um dado intrínseco à sociedade brasileira; uma chaga que deve ser exposta, e não ocultada. Pois bem, traço então um paralelo ao instinto que separa cães e gatos. Na sua condição estritamente animal, os cães têm inegável aversão aos gatos. Assim, são análogas, num caso pelo instinto noutro pela cultura[2], as condições que criam uma incompatibilidade de convívio harmônico e em equilibrado entre cães e felinos e entre brancos e negros.
Tomando a universidade como um local de concentração de brancos: será que se eu encher de gatos um canil, haverá convivência pacífica? Os cachorros passarão a amar os gatos? Os felinos, lá colocados, sairão servindo de exemplo para outros que queiram entrar? E cachorros e gatos abdicarão de suas diferenças se confinados em um mesmo local? Não seria melhor que desde filhotes estivessem em contato, sadio, uns com os outros, em vez desse tardio convívio forçoso? O que dizer então de fomentar a entrada de negros num local eminentemente, segundo a visão de quem é a favor das cotas, racista?
Assim, com base no constitucional princípio isonômico[3], e com razoável certeza, posso concluir que o ordenamento jurídico brasileiro é contrário à implementação de uma política de cotas. O que já me seria motivo para ser contra as cotas.

Texto 6 – A febre das calouradas
O pedagogo Roberto Freire afirma que devemos fortalecer nossa “fé nos homens e na criação de um mundo em que não seja difícil amar”. 
Não podemos ignorar que cada ser humano é um projeto, apto a desenvolver suas potencialidades em benefício da sua própria evolução e a serviço da família humana. Isso implica compreender que as pessoas têm pontos convergentes, mas também possuem características peculiares agregadas às suas individualidades.
A organização social não é homogênea e cada um carrega sua própria ambiência interior, fruto de seus caracteres individuais e de suas experiências. Logo, compreender a necessidade da indulgência e a superação da indiferença pode facilitar o desenvolvimento da sensibilidade e bem temperar uma concepção mais fraterna, mais afetiva, daqueles que seguem conosco, pois, no mínimo, é o outro que serve à condição de espelho de nossas necessidades de melhora.
De outro aspecto, inserir a prática da aceitação das diferenças em nossa convivência diária permite a oxigenação dos nossos mecanismos afetivos e nos ajuda a internalizar a indispensável lição de complementaridade e de consenso, pois é sempre possível aprender algo com as pessoas que são diferentes de nós, uma vez que a vida social é formada pela diversidade para impulsionar o aprendizado constante.
Em nosso favor, o cultivo da tolerância nos ensina que os “diferentes” não são adversários, mas sim aliados que nos dão os mais variados contextos para o nosso crescimento e conquista íntima da serenidade.
Para bem viver, segundo os princípios cristãos, sufoquemos a erva daninha da indiferença, que contribui para a desarmonia das relações humanas. Ora, na contramão do personalismo, lutemos para desenvolver a prática da aceitação das diferenças, que guia uma convivência indulgente, cooperativa e favorável a nossa humanização.





Alguns Videos

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