domingo, 5 de junho de 2016

Aula 12/2016 - FEMINISMO




MATERIAL DA AULA

TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Como o feminismo virou 'tendência' (e por que deveríamos dar importância a isso)
O que todas essas celebridades têm em comum além de serem mulheres famosas? Nos últimos anos, todas se identificaram publicamente como feministas, na era do “feminismo de celebridade” – ou, como escreve Andi Zeisler em seu novo livro, a época em que o “feminismo ficou cool”.
Zeisler, autora e co-fundadora da Bitch Media, fala da recente chegada do feminismo ao mainstream em seu novo livro, We Were Feminists Once (já fomos feministas, em tradução livre).
De celebridades querendo pegar o bonde do feminismo a marcas como Always e Dove criando campanhas publicitárias sobre o empoderamento da mulher, o feminismo definitivamente é “tendência”.
“É esse mundo paralelo muito bizarro em que, por um lado, o feminismo é considerado muito cool – é uma estética, algo que as celebridades abraçam e que a mídia mainstream usa como gancho para interessar as pessoas”, disse Zeisler ao Huffington Post. “Mas, ao mesmo tempo, o feminismo em si – a necessidade do feminismo e as várias maneiras pelas quais ele é um projeto incompleto – parece cada vez mais desconectado desse ‘feminismo cool’.”
Basta olhar para o seu Facebook: são inúmeros os vídeos e campanhas virais sobre feminismo. Os slogans podem ser empoderadores, mas também são usados para vender produtos como sabão de lavar roupa, absorventes e papel-toalha.
Zeisler chama esse fenômeno recente de “feminismo de mercado”. “Ele envolve escolher a dedo as partes da ideologia ou prática que te servem e ignorar aquelas que não servem”, afirmou Zeisler.
Será que o feminismo de celebridades e de mercado é melhor que nada? Ou será que estamos apenas diluindo um movimento que ainda tem muito a conquistar? O Huffington Post conversou com Zeisler para saber o que ela pensa a respeito.
O que você acha do fato de que o feminismo, como você escreve em seu livro, recentemente ficou “cool”?
É esse mundo paralelo muito bizarro em que, por um lado, o feminismo é considerado muito cool – é uma estética, algo que as celebridades abraçam e que a mídia mainstream usa como gancho para interessar as pessoas.
Mas, ao mesmo tempo, o feminismo em si – a necessidade do feminismo e as várias maneiras pelas quais ele é um projeto incompleto – parece cada vez mais desconectado desse “feminismo cool”. É uma dinâmica muito estranha, porque leva à conclusão de que as pessoas que não têm condições de “comprar” esse “feminismo cool” não têm importância.
Quando, na verdade, essas são as pessoas que deveríamos estar tentando atingir. Essas são as pessoas para as quais o feminismo é incrivelmente crucial. Quero dizer, ele é incrivelmente crucial para todos nós, mas não pode ser apenas relacionado a produtos.
Tem de ser uma ética viva e uma maneira de olhar para as coisas e para o valor que damos a elas.
Um capítulo do livro é intitulado “Our Beyoncé, Ourselves” (nossa Beyoncé, nós mesmas, em tradução livre). Você discute Beyoncé e outras celebridades que se identificaram publicamente como feministas. Você acha que o feminismo de celebridades é melhor que nada?
Sim. Quando eu era criança, o feminismo ainda tinha essa reputação terrível. Muita gente famosa se distanciava da palavra e do movimento. Muitas de nós que crescemos nessa época nos tornamos feministas apesar desse legado pouco lisonjeiro. Mas, quando vi a performance de Beyoncé no Video Music Awards de 2014, meu primeiro pensamento foi: é incrível que uma nova geração inteira de jovens vai ver isso, e esse momento vai ser parte da formação deles.
Elas vão enxergar o feminismo como uma coisa positiva, associada a Beyoncé, que é incrivelmente forte e poderosa e linda e bem-sucedida. Não pode ser só isso, mas já é algo muito poderoso. Não acho necessariamente que todos que assistiram àquela performance vão se aprofundar no feminismo como ideologia ou como lente política.
Mas só por não ter o feminismo associado a essa ideia de raiva ou pernas peludas ou ódio pelos homens – isso já é muito poderoso. Essas associações nunca deveriam ter existido, mas, já que existem, é importante ter visões alternativas.

TEXTO 2 – FEMINISMO – DE ONDE VEM?
Feminismo pretérito
É possível encontrar na historiografia dos séculos 15 e 18 o aparecimento de temas dedicados à denúncia da condição de opressão das mulheres, tendo como principais fatores a superioridade e a dominação imposta pelos homens.
Porém, ainda não se pode atribuir aos mais variados escritos que surgiram nesse período o rótulo ou o conceito de "feminista". Por outro lado, os estudiosos do tema creditam ao contexto social e político da Revolução Francesa (1789) - e, portanto, do Iluminismo - o surgimento do feminismo moderno.
Em 1791, por exemplo, a revolucionária Olímpia de Gouges compôs uma célebre declaração, proclamando que a mulher possuía direitos naturais idênticos aos dos homens e que, por essa razão, tinha o direito de participar, direta ou indiretamente, da formulação das leis e da política em geral. Embora tenha sido rejeitada pela Convenção, a declaração de Gouges é o símbolo mais representativo do feminismo racionalista e democrático que reivindicava igualdade política entre os gêneros masculino e feminino.
Feminismo emancipacionista
No século 19, o feminismo teve um novo recomeço, em um contexto diferente: o da sociedade liberal europeia que emergia.
O núcleo irradiador do feminismo emancipacionista foi a Inglaterra, e a luta centrava-se na obtenção de igualdade jurídica (direito de voto, de instrução, de exercer uma profissão ou poder trabalhar). O aparecimento do feminismo emancipacionista está associado às contradições que permeavam a sociedade liberal da época, onde as leis em vigor formalizavam juridicamente as diferenças entre os sexos masculino e feminino.
Os escritos do pensador inglês Stuart Mill ganharam destaque ao propor o princípio geral de emancipação das mulheres a partir da abolição das desigualdades no núcleo familiar, da admissão das mulheres em todos os postos de trabalho e da oferta de instrução educacional do mesmo nível que estava ao alcance dos homens.
Feminismo contemporâneo
O movimento feminista contemporâneo surgiu nos Estados Unidos, na segunda metade da década de 1960, e se alastrou para diversos países industrializados entre 1968 e 1977.
A reivindicação central do movimento feminista contemporâneo é a luta pela "libertação" da mulher. O termo "libertação" deve ser entendido como uma afirmação da diferença da mulher, sobretudo em termos de alteridade. Com base nessa ideia, o movimento feminista busca novos valores, que possam auxiliar ou promover a transformação das relações sociais ou da sociedade como um todo.
Portanto, o surgimento do movimento feminista contemporâneo representou um divisor de águas e, ao mesmo tempo, a própria superação dos movimentos sociais emancipatórios, cuja reivindicação central estava baseada na luta pela igualdade (jurídica, política e econômica).
A luta pela "libertação" da mulher, que constitui o núcleo da doutrina feminista contemporânea, está baseada na denúncia da existência de uma opressão característica, com raízes profundas, que atinge todas as mulheres, pertencentes a diversas culturas, classes sociais, sistemas econômicos e políticos. E, também, na ideia de que essa opressão persiste, apesar da conquista dos direitos de igualdade (jurídicos, políticos e econômicos).
Desse modo, o movimento feminista contemporâneo atua com base numa perspectiva de superação das relações conflituosas entre os gêneros masculino e feminino, recusando, portanto, o estigma ou noção de "inferioridade" (ou desigualdade natural).
Uma outra característica do feminismo contemporâneo é a proeminência de intelectuais e líderes do sexo feminino. Esse fato positivo é reflexo das mudanças sociais, políticas e educativas que estiveram ao alcance dessa nova geração de mulheres que se projetaram como líderes feministas, entre as quais figuram Simone Beauvoir, Betty Friedan e Kate Millet.
Entre o final da década de 1970 e início da de 1980, porém, o movimento feminista entrou em declínio, em razão das profundas transformações (sociais, políticas e econômicas) que atingiram as sociedades. Crises econômicas, o surgimento do narcotráfico, da violência e do terrorismo, com sérias ameaças à coesão social, foram temas que ganharam maior atenção do público e da cena política.
TEXTO 3 – E O FEMISMO? DE ONDE VEM ESSE TERMO?
Ser feminista não significa incentivar o ódio e a revanche contra o sexo masculino. Menos ainda se trata de instalar um império das fêmeas sobre a Terra, como se as mulheres fossem criaturas incorruptíveis, perfeitas e divinas. Ideias desse tipo, de viés anti-igualitário, são defendidas pelo movimento femista, que julga todos os homens como carrascos horrendos, monstros cuspidos pelo Diabo, altamente perigosos e iguais a uma bomba de estupro prestes a explodir por todos os lados. O femismo é o movimento radical que trata os homens como inimigos, reagindo a eles com intolerância e hostilidade.
Por outro lado, a proposta do feminismo não é ser misândrico, mas sim igualitário e emancipatório, justo e racional, pois não prescreve um combate aos homens, e sim ao machismo. Embora algumas diferenças biológicas sejam visíveis entre os sexos masculino e feminino, elas não devem determinar que a sociedade se baseie na dominação de um gênero sobre outro. O pensamento feminista considera que homens e mulheres são capazes de cumprir, ou dividir, as mesmas tarefas – dentro das limitações e competências de cada um -, seja no lar, no emprego ou em qualquer lugar onde as relações sociais vicejem. Porém, tanto o machismo quanto o femismo discordam dessa premissa. É um tremendo equívoco acreditar que mulheres são sempre melhores que homens ou que homens são sempre melhores que as mulheres. O ideal é difundirmos a ideia de que ambos os sexos podem ser ótimos em tudo quanto puderem fazer.
Até onde sabemos, não é por meio da razão que machistas e femistas desejam controlar uns aos os outros: o que os move é a busca por poder e, às vezes, a sede de vingança. Saber que as mulheres, graças ao machismo, sofreram um atraso histórico quase irremediável, gerou uma distorção dentro do movimento feminista que, em vez de reparar as injustiças praticadas por homens do passado, quer devolver as mesmas injustiças aos homens do presente e do futuro. Tal é a face do femismo. Mas se o nosso descontentamento com as falhas que a sociedade apresenta tiver que ser resolvido por meio do ódio, então nada impede que pessoas negras resolvam massacrar pessoas brancas, inaugurando uma nova fase de “opressores”. Ora, sabendo que esses atos são verdadeiros absurdos, logo, nada justifica a “teoria” de que um sexo, etnia ou classe social deva se sustentar na hierarquia do mais forte contra o mais fraco.
Portanto, o que o feminismo nos proporciona, ao contrário do femismo, é um ideal de igualdade, equanimidade e cooperação social. Um novo sentimento de harmonia que permita que todas as pessoas, sem discriminação, desfrutem das mesmas oportunidades para se realizarem como seres humanos. Se questionarmos as instituições políticas que impedem esses avanços, e se desafiarmos os parâmetros culturais e históricos da nossa civilização, estaremos contribuindo com uma causa efetivamente justa para o mundo.

TEXTO 4 – PAUTAS FEMINISTAS, NÃO É TER QUE ACEITAR, É RESPEITAR OPINIÕES!
- Mulheres são pessoas. Portanto, merecem direitos iguais;
- Mulheres devem ganhar salários iguais aos dos homens no desempenho da mesma função;
- Mulheres não devem ser discriminadas no mercado de trabalho e suas oportunidades não devem ser limitadas aos papéis de gênero que a sociedade impõe sobre elas;
- Não é obrigação da mulher cuidar da casa, dos filhos e do marido. Os afazeres domésticos e cuidado com as crianças devem ser de igual responsabilidade para homens e mulheres;
- Nenhuma mulher é uma propriedade. Nenhum homem tem o direito de agredir fisicamente ou verbalmente uma mulher, ou ainda determinar o que ela pode ou não fazer;
- O corpo da mulher é de direito somente da mulher. A ela cabe viver a sua sexualidade como bem entender, decidir como vai dispor de seu corpo e da sua imagem, com quem ou como vai se relacionar;
- Qualquer ato sexual sem consentimento é estupro. Nenhum homem tem o direito de dispor sexualmente de uma mulher contra a vontade dela;
- Nunca é culpa da vítima;
- Assédio de rua é uma violência. A mulher tem o direito ao espaço público (e também ao transporte público) sem ser constrangida, humilhada, ameaçada e intimidada por assediadores;
- A representação da mulher na mídia não pode nos reduzir a estereótipos que nos desumanizam e ajudam a nos oprimir;
- Mulheres não são produtos. Não podem ser tratadas como mercadoria, isca para atrair homens, moeda de troca ou prêmio;
- A representação das mulheres deve contemplar toda a sua diversidade: somos negras, brancas, indígenas, transexuais, magras, gordas, heterossexuais, lésbicas, bi, com ou sem deficiências. Nenhuma de nós deve ser invisível na mídia, nas histórias e na cultura;
- A voz das mulheres precisa ser valorizada. A opinião das mulheres, suas vivências, ideias e histórias não podem ser descartadas ou consideradas menores pelo fato de serem mulheres;
- O espaço político também é um direito da mulher. Devemos ter direito ao voto, a sermos votadas, representadas politicamente e a termos nossas questões contempladas pelas leis e políticas públicas;
- Papéis de gênero são construções sociais e não verdades naturais e universais. Nenhum papel de gênero deve limitar as pessoas, homens ou mulheres, ou ainda permitir que um gênero sofra mais violência, seja mais discriminado, tenha menos direitos e considerado menos gente;
- Mulheres trans são mulheres e, portanto, são pessoas. Todas as pessoas merecem ter sua identidade respeitada;
- Se duas mulheres decidem viver juntas (ou dois homens), isso não é da conta de ninguém e o Estado deveria reconhecer legalmente essas uniões;
- Não existe tal coisa como “mulher de verdade”. Todas as mulheres são bem reais, independente de se encaixar em algum padrão;
- Mulheres não existem em função de embelezar o mundo. Muito menos em função da aprovação masculina;
- Amar o próprio corpo e se sentir bem com a própria aparência não deve depender dos padrões de branquitude e magreza que a sociedade racista e gordofóbica determinou como “beleza”;
- Mulher não “tem que” nada, se não quiser. Isso vale para ser “amável” ou falar palavrão, fazer sexo ou não fazer, se depilar ou não depilar, usar cabelo grande ou curto, "encontrar um homem” ou ficar solteira, sair com vários caras ou preferir mulheres, ter filhos ou não ter, gostar de maquiagem ou não.

TEXTO 6 – ALGUMAS IMAGENS



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