Material da Aula
TEXTO 1 – Fato motivador - Conflito já matou mais
de mil crianças na Síria em 2018, diz Unicef
O Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef) denunciou nesta sexta-feira que mais de mil crianças morreram
ou ficaram gravemente feridas na Síria desde o início de 2018 por causa do
conflito.
Em entrevista coletiva em Genebra, o
diretor regional do Unicef para o Oriente Médio e o Norte da África, Geert Cappelaere,
detalhou que este número significa que uma criança morreu a cada hora desde que
começou o ano na Síria.
"A situação continua provocando
uma enorme preocupação da perspectiva das crianças", disse Cappelaere, ao
depositar as esperanças na resolução tomada pelo Conselho de Segurança das
Nações Unidas, que defendeu a aplicação de uma pausa humanitária de pelo menos
30 dias. Cappelaere também anunciou que desde a aprovação de tal resolução no
sábado passado, o Unicef tem um comboio preparado para entrar em Duma, dentro
da região de Ghouta Oriental, onde residem cerca de 200 mil crianças, segundo a
organização.
Cappelaere disse que o Unicef tem
autorização para acessar a região no próximo domingo e que sua carga permitirá
atender 70 mil crianças com comida e provisões médicas.
"Não incluímos o fornecimento de
provisões educativas, já que saúde e alimentação são as necessidades mais
imediatas e tínhamos que priorizá-las", esclareceu.
O especialista disse estar ciente que
em outras ocasiões algumas provisões foram retiradas dos comboios, sobretudo
remédios, mas se mostrou esperançoso que algo similar não ocorrerá desta vez já
que o Unicef não foi tão afetado como outras agências por estes boicotes.
Além disso destacou que os níveis de
desnutrição em Ghouta Oriental são "alarmantes" e que "milhares
de crianças poderiam morrer", por isso que os comboios fornecerão
alimentos "que permitirão estabilizar a situação". "A
desnutrição aguda não é uma ameaça para a vida de uma criança, mas pode ser caso
as crianças tenham outros problemas de saúde", disse Cappeleare, ao acrescentar
que "a má alimentação as debilita de tal forma como um resfriado pode ser
letal".
TEXTO 2 – Por que há uma
guerra na Síria: 10 perguntas para entender o conflito
1. O que está acontecendo em
Ghouta Oriental?
No último mês, o governo sírio e seus aliados intensificaram
as ofensivas contra territórios controlados por grupos islâmicos e jihadistas,
incluindo Ghouta Oriental, que é controlada pela oposição desde 2012.
O bastião rebelde perto de Damasco sofreu vários dias
consecutivos de bombardeios, que deixaram mais de 700 civis mortos.
Segundo a ONU, impressionantes 76% das residências de Ghouta
Oriental foram devastadas, e grande parte dos 400 mil moradores do enclave se
mudou para abrigos subterrâneos.
2. Qual foi a reação
internacional?
No sábado, a ONU aprovou uma resolução de um cessar-fogo de
30 dias na região, o qual foi rapidamente descumprido - há relatos de que ao
menos 20 pessoas (entre elas sete crianças) tenham sido mortas em Ghouta nesta
segunda-feira.
Ante grande pressão internacional, o governo russo -
importante aliado de Bashar al-Assad - anunciou a "pausa humanitária"
nos bombardeios sobre Ghouta, onde moram centenas de milhares de pessoas. Mesmo
assim, a região continuou sob ataque aéreo.
3. Qual o papel de Moscou
nessas negociações?
Foi o presidente russo, Vladimir Putin, quem anunciou o
corredor humanitário em Ghouta na semana passada - fato que confirma que é a
Rússia está tomando a dianteira em relação ao próprio governo sírio.
Moscou é o principal pilar de sustentação do regime Assad e
também importante ator militar no enfrentamento contra rebeldes sírios.
Tanto que o governo russo afirmou que pretende continuar a
alvejar grupos jihadistas sírios, a despeito da "pausa humanitária" e
da pressão por um cessar-fogo.
4. Quais os rumos da guerra?
A guerra civil, que se estende há quase sete anos, se
intensificou no último mês, em uma tentativa de Damasco e seus aliados de
sufocarem os grupos de oposição. Estima-se que hoje jihadistas controlem apenas
3% do território sírio.
A avaliação de alguns analistas é de que a essência do
conflito - o levante contra Assad que evoluiu para uma guerra civil - talvez
esteja perto do fim, uma vez que os rebeldes perderam território e apoio
externo. E o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico, que chegou a
controlar parte importante da Síria e do Iraque, também foi derrotado na
maioria dos locais, ainda que não totalmente eliminado.
5. Qual era a situação na
Síria antes da guerra - e o que levou ao conflito?
Antes do início do conflito, em 2011, muitos sírios se
queixavam de um alto nível de desemprego, corrupção em larga escala, falta de
liberdade política e repressão pelo governo Bashar al-Assad - que havia
sucedido seu pai, Hafez, em 2000.
Em março de 2011, adolescentes que haviam pintado mensagens
revolucionárias no muro de uma escola na cidade de Deraa, no sul do país, foram
presos e torturados pelas forças de segurança.
O fato provocou protestos por mais liberdades no país,
inspirados na Primavera Árabe - manifestações populares que naquele momento se
estendiam pelos países árabes.
Após quase sete anos de conflito, ainda não é possível ver
uma luz no fim do túnel na Síria
6. Como começou a guerra
civil?
À medida que os levantes da oposição aumentavam, a resposta
violenta do regime se intensificava. Simpatizantes do grupo antigoverno
começaram a pegar em armas - primeiro para se defender e depois para expulsar
as forças de segurança de suas regiões. Assad prometeu "esmagar" o
que chamou de "terrorismo apoiado por estrangeiros" e restaurar o
controle do Estado.
A violência rapidamente aumentou no país: grupos rebeldes se
reuniram em centenas de brigadas para combater as forças oficiais e tomar o
controle das cidades e vilarejos.
Em 2012, os enfrentamentos chegaram à capital, Damasco, e à
segunda cidade do país, Aleppo.
7. Quem lutou contra quem?
A rebelião armada oposicionista mudou significativamente ao
longo do conflito. Uma oposição moderada secular foi superada por radicais e
jihadistas - partidários da "guerra santa" islâmica. Entre eles estão
o autointitulado Estado Islâmico e a Frente Nusra, afiliada à al-Qaeda.
Os combatentes do EI - cujas táticas brutais chocaram o mundo
- criaram uma "guerra dentro da guerra", enfrentando tanto os
rebeldes da oposição moderada síria quanto os jihadistas da Frente Nusra. Hoje
praticamente subjulgados em termos territoriais, os combatentes do EI
continuam, no entanto, a promover ataques mais esporádicos.
8. Qual é o envolvimento das
potências internacionais?
Na era Obama, os Estados Unidos culpavam Assad pela maior
parte das atrocidades cometidas no conflito e exigiam que ele deixasse o poder
como precondição para a paz.
O atual governo Trump, por sua vez, dizia que derrubar o
presidente sírio não era uma prioridade, mas sim derrotar o Estado Islâmico - e
que Assad era um aliado nessa batalha. Após um devastador ataque químico em
2017, porém, esse discurso mudou, e os EUA chegaram a realizar bombardeios em
apoio à oposição.
Mas o grande ator na guerra síria é a Rússia, que apoia a
permanência de Assad no poder, algo crucial para defender os interesses de
Moscou no país.
9. Por que a guerra está
durando tanto?
Um fator-chave é a intervenção de potências regionais e internacionais.
O apoio militar, financeiro e político externo tanto para o
governo quanto para a oposição tem contribuído diretamente para a continuidade
e intensificação dos enfrentamentos, e transformado a Síria em campo para uma
guerra indireta - ou "guerra por procuração".
A intervenção externa também é responsabilizada por fomentar
o sectarismo no que costumava ser um Estado até então secular (imparcial em
relação às questões religiosas).
As divisões entre a maioria sunita e a minoria alauita no
poder alimentou atrocidades de ambas as partes, não apenas causando a perda de
vidas, mas a destruição de comunidades, afastando a esperança de uma solução
pacífica.
10. Qual é o impacto da
guerra?
O Centro Sírio para Pesquisa de Políticas calcula que o
conflito já tenha causado a morte de mais de 470 mil pessoas, ainda que não
haja cifras totalmente confiáveis a respeito.
Não há cifras confiáveis para estabelecer o número de mortos
no conflito sírio
Segundo a ONU, mais de 5 milhões de pessoas fugiram do país,
em sua maioria mulheres e crianças, e metade da população foi de alguma forma
deslocada pela guerra.
A ONU disse que são necessários US$ 3,2 bilhões para prover
ajuda humanitária a 13,5 milhões de pessoas no país - incluindo 6 milhões de
crianças.
TEXTO 4 – Imagens de
crianças vítimas de guerras viralizam como se fossem na Síria
Milhares de pessoas mortas, lares destruídos e famílias que
tentam fugir do caos. Este é o cenário de devastação deixado pela guerra na
Síria, no Oriente Médio, desde 2011. As imagens que retratam o conflito
periodicamente tomam conta das redes sociais, como nas últimas semanas, após
tropas do Exército apoiadas pelo governo da Rússia decidirem retomar o controle
de Ghouta Oriental, no subúrbio de Damasco, um dos últimos redutos rebeldes.
"A Estátua da Liberdade reconstruída por um
artista sírio com os destroços da própria casa, destruída por um bombardeio
americano."
A obra compartilhada nas redes realmente é de um artista
sírio, mas não é uma escultura e nem foi feita com destroços de sua própria
residência. A equipe de checagem do GLOBO entrou em contato com o sírio Tammam
Azzam, autor da obra, que esclareceu a verdade por trás da imagem que viralizou
nas redes. Segundo Azzam, não é a primeira vez que ele é questionado sobre o
trabalho, uma fotomontagem criada em 2012.
"Encontrada sozinha no meio da guerra,
menina síria órfã sorri sem saber o que está acontecendo."
Os olhos azuis e o sorriso de uma garotinha viralizaram nas
redes sociais como se demonstrassem a pureza e a tranquilidade de uma criança
órfã em meio ao caótico cenário de guerra na Síria. A atriz Giovanna Antonelli
foi uma das internautas que compartilhou a história no Instagram, numa postagem
que ultrapassou 81 mil curtidas. A
verdade é que a garota se chama Sidra, não é orfã e continua sob os cuidados
dos pais em uma área mais segura do país, na cidade de Homs.
"Menino sírio deitado entre o túmulo de seus
pais."
Compartilhada mais de 170 mil vezes no Facebook nos últimos
três dias, a suposta foto de um menino Sírio dormindo entre os túmulos de seus
pais tocou muitos internautas. A intenção do fotógrafo Abdul Aziz Al-Otaibi era
provocar a reflexão sobre a ausência dos pais para as crianças que vivem em
meio à guerra, quando produziu o ensaio fotográfico na Arábia Saudita, em
dezembro de 2013. Al-Otaibi queria mostrar como o amor pueril pelos pais era
insubstituível, mas não planejou qualquer relação entre a foto e a guerra na
Síria. Mesmo assim, internautas passaram a compartilhar a imagem como se ela
retratasse o abandono de um órfão em meio ao conflito no país.
"Pai corre com a filha no colo para tentar
protegê-la da guerra na Síria."
O contexto em que a foto foi feita também era de confronto,
mas a imagem não é um registro da guerra na Síria. O clique da família que
tenta se proteger em meio ao caos foi feito em 4 de março de 2017, no Oeste de
Mosul, no Iraque, pelo fotógrafo Goran Tomasevic, da agência
"Reuters".
"Foto mostra bombardeio destruindo casas na
Síria."
A imagem utilizada como símbolo dos bombardeios que devastam
a Síria desde 2011 é, na verdade, o
registro de um ataque das Forças Armadas israelenses no Leste da cidade de
Gaza. A foto foi tirada em 29 de julho de 2014, pelo fotógrafo Sameh Nidal
Rahmi. O autor da foto inclusive já utilizou o clique como imagem de capa no
seu perfil no Facebook. Na época, a imagem ilustrou reportagens que noticiavam
como a vida de civis foi impactada pela ofensiva israelense contra líderes do
Hamas.
As imagens do texto acima