segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Aula 12/2018 - Movimentos Migratórios




TEXTO 1 – Comitê para Migrações repudia agressões a venezuelanos
O Comitê para Migrações de Roraima (Comirr) emitiu nota nesta segunda-feira (20) repudiando os atos violentos ocorridos em Pacaraima no último sábado (18). A rede de instituições da sociedade civil que trabalha na assistência a estrangeiros defendeu a dignidade, o direito de acolhida dos imigrantes e a humanização das medidas adotadas pelas autoridades.
“Em consonância com a Defensoria Pública da União, entendemos que a prática desses atos violentos contra cidadãos estrangeiros em vulnerabilidade, além de serem tipificados na legislação penal nacional, ocasionam o consequente retorno forçado ao país do qual saíram pela grave e generalizada violação de direitos humanos”, diz a nota.
No sábado, um grupo de brasileiros de Pacaraima agrediu refugiados venezuelanos com paus e pedras, depois que um comerciante local foi assaltado, supostamente por um imigrante venezuelano. Na confusão, foi ateado fogo nos pertences e acampamentos montados provisoriamente para venezuelanos.
O Comitê considera tímida a resposta do governo federal à crise com o programa de interiorização e criticou as tentativas de fechamento da fronteira pelo governo de Roraima. Para o Comitê, os pedidos para restringir a circulação dos imigrantes “alimenta o discurso xenofóbico de parte da população local” e contribui para “o acirramento da tensão social e disseminação de discursos de ódio”.
O Comirr ainda qualifica como irresponsável, populista e inconstitucional a forma como autoridades de diferentes níveis da federação têm atuado na adoção de medidas que acabam disseminando discriminação. A entidade reitera a defesa do Estado Democrático de Direito e afirmou que espera que o Ministério Público fiscalize o fato o mais rápido possível e que governo federal priorize o reforço dos serviços públicos e de interiorização dos imigrantes.

TEXTO 2– Venezuela, inflação bolivariana
Quem apresentou o resumo mais recente e ilustrativo da tragédia venezuelana foi o Fundo Monetário Internacional (FMI): o país não encerrará 2018 com uma inflação de 13 mil por cento, como se previa em abril, mas sim de 1 milhão por cento.
O anúncio foi feito nesta segunda-feira (23/07), pouco depois de a oposição tachar de traumático e inútil o processo de reconversão monetária programado para 4 de agosto pelo governo de Nicolás Maduro. Eliminar cinco zeros da moeda nacional, o bolívar, não dará fim à hiperinflação, se o regime não mudar o paradigma econômico que a propicia.
Em 2008, o antecessor de Maduro, Hugo Chávez, aprovou uma reconversão monetária, cortando três zeros do bolívar, a fim de facilitar as transações cotidianas para a população. Uma década atrás, contudo, a inflação era de 30%.
Agora, o homem forte em Caracas pretende fazer o mesmo no ápice da desvalorização, com o dólar valendo 3,5 milhões de bolívares no mercado negro; com escassez de divisas para financiar a impressão e entrega das cédulas (estima-se que a empreitada custe em torno de 300 milhões de dólares); e sem um plano anti-inflacionário. Um esforço em vão.
Assim como a inflação incontrolável, todos esses problemas são sequelas diretas ou indiretas dos desequilíbrios acarretados pelo modelo econômico chavista. O oficialismo se esquiva da própria responsabilidade ao insistir que sua incapacidade de atender às demandas da população se deve a conspirações do empresariado. Este supostamente deixaria de produzir os bens e os armazenaria para especular com os preços, a fim de fomentar o contrabando de combustíveis e agravar a inflação.
O governo mente quando atribui a atual crise à queda de preços do petróleo: a escassez de alimentos e remédios, que já se registrava com o barril a 100 dólares, não acontece em nenhum outro país exportador do combustível fóssil. Maduro alega que as sanções internacionais impostas a funcionários chavistas – acusados de corrupção em grande escala e violações dos direitos humanos – são a causa dos apertos de que os venezuelanos padecem.
Contudo, a verdadeira origem das calamidades que castigam a nação com as maiores reservas comprovadas de petróleo cru está no disparatado dogma econômico de Chávez, o qual Maduro perpetua.
TEXTO 3– A crise dos imigrantes: cenários na Europa e no Brasil
Um dos assuntos mais discutidos nos jornais durante as últimas semanas tem sido a questão dos imigrantes na Europa. Esse debate envolve problemas éticos, sociais, humanos, até mesmo econômicos.
A crise migratória
Todos os anos, milhares de pessoas fogem de seus países para escapar de cenários extremos – como guerras, fome e repressão. Em geral, o principal destino destes imigrantes são os países da Europa. Os motivos são a proximidade geográfica, e também uma visão de que a qualidade de vida na Europa é a melhor do mundo.
Origens mais comuns
Na crise atual, a maioria dos imigrantes vêm da Síria, Afeganistão, Iraque, Líbia e Eritréia. Estes países, localizados na região do Oriente Médio, sofrem com conflitos armados (internos ou externos) há muitos anos.
Destinos mais comuns
Entre os muitos países da Europa, alguns são os “preferidos” dos imigrantes. Alemanha, Inglaterra, França, Itália e Grécia recebem a maior quantidade de clandestinos. A Líbia, por exemplo, está em crise política desde a Primavera Árabe em 2011. O Iraque passa por uma disputa entre sunitas e xiitas desde 2003, quando Saddam Hussein foi executado.
Problemas da Imigração Ilegal
A imigração é, na maioria, dos casos ilegal. Esse cenário implica em problemas sérios para os dois lados – tanto para os imigrantes quanto para os países que os recebem.
Os refugiados pagam altos valores pela travessia clandestina, e muitas vezes morrem pelo caminho ou são deportados ao chegar. É uma tentativa de obter uma vida melhor, porém sem garantia nenhuma de sucesso.
Ao chegar ao país desejado, não têm nenhuma estrutura de suporte – financeiro e passam por situações de humilhação e segregação social. Em geral, precisam aceitar trabalhos degradantes para sobreviver. Não têm direito nenhum à assistência do governo em educação, saúde ou segurança, pois não são considerados cidadãos do país.
Alguns dos países que recebem essas massas de imigrantes enfrentam sérias crises econômicas. É claro que a imigração não é a causa primária, porém, ela colabora para que a economia fragilizada (que já não consegue prover nem mesmo as necessidades da população legalizada) entre em colapso. Falta trabalho, a renda e a qualidade de vida começam a cair. E os cidadãos culpam os imigrantes, com argumentos de que estes ocupam seus empregos e não pagam impostos. E, assim, aos poucos, vai se alimentando ainda mais o sentimento xenofóbico.
A situação no Brasil
Na verdade, o Brasil ainda é considerado um país atrasado e, por esse motivo, não é atraente para imigrantes (legais ou ilegais). Além disso, também é um dos países que impõem mais dificuldades para os imigrantes – tanto em termos de burocracia quanto em termos culturais.
O resultado é que, enquanto a média internacional de imigrantes é de 3% em relação à população total de cada país, no Brasil essa média cai para 0.3%. Em outras palavras, dos 200 milhões de pessoas que vivem no Brasil, apenas uns 600 mil são estrangeiros.
Atualmente, os legisladores estão trabalhando em modernizar as leis de imigração – por exemplo, com a Lei da Cidadania e a nova Lei de Estrangeiros. Mesmo assim, ainda há muitos entraves para quem deseja se estabelecer no Brasil – por exemplo, a exigência de revalidação dos diplomas. Hoje em dia, os diplomas de muitas entidades internacionais não são aceitos e é preciso que sejam revalidados por universidades brasileiras.
Portanto, o Brasil está muito longe de vivenciar uma crise de imigração. Na verdade, em nosso país o Governo está justamente trabalhando no sentido oposto: em transformar o país em um lugar atrativo para os estrangeiros. O foco, é claro, são os imigrantes legais.



TEXTO 4– Fluxo migratório de venezuelanos é idêntico ao do Mediterrâneo, diz OIM
O fluxo de migrantes venezuelanos em direção às cidades colombianas e brasileiras já se assemelha ao fluxo mensal de migrantes que cruzaram o mar Mediterrâneo em direção às ilhas italianas no auge da crise. O alerta é de Joel Millman, porta-voz da Organização Internacional de Migrações (OIM). “Fomos informados de um fluxo de 40 mil pessoas por mês cruzando a fronteira para a Colômbia”, disse. “Isso é quase o equivalente ao que vimos no auge da crise na Europa, em 2015, no sul da Itália”, explicou. “Trata-se de uma emergência diferente”, armou Millman.“Acompanhamos de perto a situação com atenção”, disse o porta-voz da OIM.
Dados sociais da organização revelam que a Itália, uma das principais portas para a Europa, recebeu 155 mil estrangeiros em 2015 e 181 mil em 2016. Praticamente todos eles partiram de portos líbios ou da Tunísia. No auge da crise de refugiados, a passagem entre a Turquia e a Grécia chegou a registrar cerca de 1 milhão de pessoas. Mas a rota foi fechada por um acordo entre a Europa e o governo de Ancara. Em 2017, a OIM estima que 186 mil pessoas entraram no continente europeu pelas rotas marítimas, principalmente pela Itália.
No caso sul-americano, os dados da entidade Migración Colômbia apontam que 470 mil venezuelanos entraram no país vizinho em 2017. Ao final do ano passado, existiam cerca de 202 mil cidadãos venezuelanos vivendo de forma irregular na Colômbia. “Em alguns dos meses, já vemos um fluxo maior de venezuelanos para a Colômbia que o total mensal que a Itália recebe do norte da África”, aponta Millman.
Existem, porém, duas classificações no que se refere ao fluxo de pessoas. Aqueles que consideram que estão fugindo de perseguição ou repressão, podem pedir asilo. Um número bem mais elevado, porém, se refere a pessoas que deixam seus países de origem por conta da pobreza, o que não caracterizaria uma condição de refugiado. Nesse caso, são classificados como ‘migrantes econômicos’

TEXTO 5 – O problema não é recente
Deputado de Roraima alerta para situação crítica no estado com a chegada de imigrantes venezuelanos
Deputado de Roraima alerta para situação crítica com a chegada de imigrantes venezuelanos ao estado e sugere o fechamento da fronteira. Uma comissão de ministros do governo federal foi a Roraima nesta quinta-feira (8), onde se encontrou com autoridades na Base Aérea de Boa Vista. Estimativas apontam que cerca de 40 mil venezuelanos moram atualmente em Boa Vista, o que representa 12% da população. Segundo a Polícia Federal, só no ano passado 16 mil imigrantes da Venezuela entraram com pedido de refúgio em Roraima.
Os refugiados chegam ao país principalmente pela cidade fronteiriça de Pacaraima, fugindo da crise desencadeada por fatores como queda do preço do petróleo, alta da inflação e escassez de alimentos.
De acordo com o deputado Remídio Monai (PR-RR) o estado não tem mais condições de receber os refugiados. Ele sugere o fechamento temporário da fronteira, e pede que o governo federal redistribua os refugiados.
"40 mil pessoas, a nível de Brasil, que tem 200 milhões de habitantes, não são praticamente nada, mas quando você coloca 40 - e nós achamos que aqui tem umas 70 mil pessoas numa cidade de 300 mil habitantes - as praças estão tomadas, os hospitais estão tomados, então virou o caos a cidade. Nós propomos ao presidente que ele fechasse a fronteira provisoriamente e buscasse uma solução para esse problema", destacou.
Lei de Migração
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) relatou na Câmara a nova Lei de Migração (13.445/17), que prevê, entre outros pontos, a garantia dos direitos dos migrantes em condição de igualdade com os nacionais. Ele discorda da ideia de fechamento de fronteiras.
"Eu considero um absurdo, eu considero que é uma proposta xenófoba, que deveria ser excluída da mesa. Nós assistimos na Europa alguns países que tentaram fechar as suas fronteiras. Primeiro, que só aumenta a crise, porque você vai ter uma barreira de contenção, vai continuar tendo um fluxo de pessoas para a região de fronteira, vai se criar um ambiente de tensionamento muito forte e na prática isso não vai acontecer", avaliou.
Para Orlando Silva, a solução para o problema precisa ser negociada com países amigos da Venezuela, como Colômbia e Brasil, de forma a garantir os direitos dos migrantes sem sacrificar a população brasileira.



TEXTO 6 – "Esse sentimento de xenofobia já estava ali"
Um dos principais especialistas brasileiros em migrações, o coordenador da cátedra Sergio Vieira de Mello da Universidade Federal de Roraima (UFRR), Gustavo da Frota Simões, explica como o atual aumento da tensão na fronteira já era esperado, diante da resposta lenta do governo brasileiro ao problema e com a recente judicialização do tema.
Como está a situação com o aumento da tensão na fronteira?
O escalonamento dessa onda xenofóbica era algo que, infelizmente, estava previsto. Há uma grande crise na resposta ao fluxo migratório venezuelano. Esse gerenciamento insuficiente tem causado uma série de questões. Algum tempo atrás, o governo do Estado emitiu um decreto inconstitucional pedindo, entre outras coisas, o fechamento de fronteiras. Um juiz da Vara Federal aqui de Roraima concedeu o fechamento, e não durou mais do que 17 horas até que a liminar fosse cassada pelo TRF. Com essas notícias circulando, aumentou muito a insegurança dos imigrantes. Se eram de 300 a 400 pessoas por dia cruzando a fronteira, esse número dobrou. Muitas dessas pessoas não conseguiram ter seus pedidos processados na região da fronteira. Há todo um aparato governamental, do Exército, do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), de organismos internacionais, para fazer esse processamento dos pedidos. Como não se conseguiu atender a todas essas pessoas, muitas acabaram ficando em moradias improvisadas, em situação de rua, em barracas ao redor da cidade e do centro de triagem em Pacaraima. Toda essa insegurança e o fechamento de fronteiras aumentou o fluxo migratório nas últimas semanas.

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