sábado, 25 de janeiro de 2014

Aula 1 - Rolezinho


Os Mamonas Assassinas já cantavam:
“Esse tal Chópis Cêntis
É muicho legalzinho
Pra levar as namoradas
E dar uns rolêzinhos”


A questão da publicidade voltada ao público adolescente, o infantil e o consumo dessa faixa etária é uma preocupação pessoal de longa data. Desde sempre, encontramos no discurso do marketing a grande missão de encontrar e satisfazer as necessidades das pessoas. Trabalho benevolente, salvador. O que seria de nós sem essas sedutoras soluções? Então, cabe a pergunta: quais as necessidades das dos jovens e crianças? Diversão? Fantasia? Certamente. Educação? Amor? Saúde? Sem dúvida. 
Mas, será mesmo que são essas as necessidades que impulsionam a gigantesca e bilionária indústria (US$ ou R$ 130bi/ano no Brasil) que tanto preza nossas crianças? 80% da publicidade de alimentos voltada aos jovens é de produtos com alto teor de gordura, muito calóricos, pobres em nutrientes. 
A necessidade de acumulação de capital constante fez com que as empresas subitamente tivessem que diversificar seus clientes e focar muitas vezes em crianças e jovens que nem possuem tanto discernimento para o consumo. 
Lembremos, por exemplo, o recente lançamento de uma empresa de cosméticos de um creme anti-rugas para pessoas de 25 anos. O mesmo é válido para crianças. As empresas, em sua fúria pelo lucro cada vez mais ampliado, viram nesse público uma grande oportunidade. Necessidade do lucro. Irrefreável. O único motor das empresas. O único fator capaz de movimentá-las em um sentido, e de parar qualquer atividade, se não acontecer.
Esse desejo ávido pelo consumo acaba por se tornar recentemente em uma questão de polícia tendo em vista que jovens se organizaram e buscam acesso aos grandes centros de consumo, os Shoppings.


Material da Aula

TEXTO 1
O neto saiu para um rolezinho. O pai lembrou-se: “Eu fui ao Comício das Diretas.” O avô acrescentou: “E eu, à passeata dos Cem Mil.” Se há algo de novo na praça é a degradação do que se considera como manifestação. O rolezinho é a manifestação em torno do nada. Contrapôs-se a ela uma visão policial da ordem pública.
Na sua origem, os rolés podiam ser chamados de divertimento. No século passado os Mamonas Assassinas já cantavam:
“Esse tal Chópis Cêntis
É muicho legalzinho
Pra levar as namoradas
E dar uns rolêzinhos”
Se de um lado há manifestações em torno do nada, do outro, o da liderança da guilda dos shoppings, há uma postura tonitruante, inútil. Primeiro chamaram a polícia. Deu em pancadaria. Depois foram à Justiça buscar liminares e ameaças de multa. Deu em nada. O doutor Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, pediu uma reunião com a doutora Dilma para “proibir que façam esse tipo de convocação, caso sejam menores, responsabilizar os pais”. Faltou explicar como. Talvez, chamando o companheiro Xi Jinping, que tem brigadas de chineses vigiando a internet, prende quem quer e solta quando quer.
Fonte: http://oglobo.globo.com/opiniao/o-rolezinho-pode-acabar-em-rolao-11363778 às 17h23min de 27 de janeiro de 2014

TEXTO 2
Uma vez um menino disse que usava as melhores roupas e marcas para ir ao shopping para ser visto como gente. Ou seja, a roupa tentava resolver uma profunda tensão da visibilidade de sua existência. Mas, noutro canto, os donos da loja se assustavam e cuidavam para ver se eles não roubavam nada. Um funcionário disse à Lucia a mais honesta frase de todas (uma honestidade que corta a alma): “não adianta eles se vestirem com marca e virem pagar com dinheiro. Pobre só usa dinheiro vivo. Eles chegam aqui e a gente na hora vê que é pobre”. Eles, no entanto, acreditavam que eram os mais adorados e empoderados clientes das lojas.

Um funcionário da Nike uma vez declarou para a pesquisa: “nós nos envergonhamos desse fenômeno de apropriação da nossa marca por esses marginais”. Mas eles nos diziam: “as marcas deveriam nos pagar para fazer propaganda, porque nos as amamos. Sem marca, você é um lixo”.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/etnografia-do-201crolezinho201d-8104.html às 11:22 de 28 de janeiro de 2014

TEXTO 3
Com razão, aqueles que atribuem as causas dos rolezinhos ao governo federal do PT estão corretos. Longe de resumir a alta complexidade envolvida nessas dinâmicas, tanto as manifestações de junho e julho de 2013 quanto os recentes rolezinhos têm sua origem na mesma causa: a tentativa de redescoberta do capital social em um Brasil em transformação. Os programas sociais amplos iniciados no governo Lula da Silva, destinados a diminuir a desigualdade social extrema do nosso país, promoveram a entrada no mercado de consumo de uma parcela da sociedade que, até então, limitava-se aos gastos de sobrevivência típicos de uma sociedade materialista. A inclusão das sociedades C e D na lógica de mercado não apenas é um sinal de mudança radical da conformação social do Brasil, mas também um indicador de momentos de choque com as antigas classes beneficiárias do conforto característico da imobilidade social que aqui vigorava.
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/os-rolezinhos-e-a-transformacao-do-capital-social-brasileiro-4074.html às 12:32 de 28 de janeiro de 2014

TEXTO 4
Segundo relatos em jornais, Dilma recentemente convocou uma reunião para tratar do assunto, preocupada com a possibilidade de que os encontros se transformassem em protestos.
A prefeitura de São Paulo e o governo paulista também têm acompanhado a evolução do movimento com atenção.
Outro motivo de receio para as autoridades são os protestos agendados para este sábado em várias cidades do país. "Não vai ter Copa" é o mote das manifestações, que têm sido encaradas como um ensaio para novos atos contra o Mundial nos próximos meses.
Para Maria do Socorro Souza Braga, professora de ciências políticas da Universidade de São Paulo (USP), os governos têm agido com cuidado para não repetir os erros cometidos em junho, quando a dura repressão policial às primeiras manifestações deram força ao movimento.
"Vejo uma tentativa de se organizar, de preparar as instituições que estão à frente da segurança pública para que sejam capazes de controlar as manifestações sem meios brutais", ela afirma à BBC Brasil.
Segundo Braga, para tentar acalmar os ânimos, os governantes poderiam intensificar o diálogo com os organizadores de protestos e lideranças de movimentos sociais.
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/01/140111_rolezinho_protestos_mdb_jf.shtml às 22:24 de 27 de janeiro de 2014

TEXTO 5
Como a classe média brasileira se comportaria se as elites dos EUA e Europa fechassem suas fronteiras aos seus "rolezinhos" nos shoppings de Miami, NY e Paris?
Não se assuste, pessoa, se eu lhe disser que em pleno século XXI um colunista de uma revista semanal brasileira foi capaz de escrever essa "pérola" sobre a garotada das periferias que participam dos chamados "rolezinhos":
"Não toleram as 'patricinhas' e os 'mauricinhos', a riqueza alheia, a civilização mais educada. Não aceitam conviver com as diferenças, tolerar que há locais mais refinados que demandam comportamento mais discreto, ao contrário de um baile funk. São bárbaros incapazes de reconhecer a própria inferioridade, e morrem de inveja da civilização".
Só mesmo a revista Veja - hoje tribuna dos mais odiosos conservadores e reacionários racistas, classistas e homofóbicos do Brasil - podia abrigar tamanho descalabro. Vejam que a palavra "inferioridade" usada para se referir à juventude que faz os "rolezinhos" - palavra emprestada do vocabulário dos tempos da segregação racial e do Apartheid, nos quais, negros e pardos eram tido e tratados como "raça inferior" - convive, no texto supracitado, com outras expressões como "turba de bárbaros" (que evoca a velha dicotomia entre civilização e barbárie), "baderna", "selvagens" e "pivetes". Aliás, vale a pena reproduzir o contexto em que esta última palavra é usada pelo tal colunista: "Se a maioria de casos envolvendo pivetes nesses estabelecimentos ocorrer pelas mãos de pessoas com determinado estereótipo, então parece natural, apesar da afetação politicamente correta, que os seguranças ficarão mais atentos e preocupados quando alguém com tal tipo adentrar o local". Em outras palavras, o fulano diz que, independentemente de participarem de "rolezinhos" ou não, todas as pessoas com as características físicas dos que participam da ação - "inferiores" e "selvagens"em sua avaliação - também são perigosos e, por isso, devem ser policiados.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/de-um-role-8193.html às 1243 de 28 de janeiro de 2014

Links para Vídeo da Globo News (exibido em 25/01/2014)



Algumas charges





 







Boa leitura!