quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Aula 25/2016 - O suicídio entre jovens


Material da aula

TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - OMS: Suicídio já mata mais jovens que o HIV em todo o mundo
Para muitos especialistas, o suicídio juvenil tem contornos epidêmicos. E, para a Organização Mundial de Saúde, precisa "deixar de ser tabu": segundo estatísticas do órgão, tirar a própria vida já é a segunda principal causa da morte em todo mundo para pessoas de 15 a 29 anos de idade - ainda que, estatisticamente, pessoas com mais de 70 anos sejam mais propensas a cometer suicídio.
No Brasil, o índice de suicídios na faixa dos 15 a 29 anos é de 6,9 casos para cada 100 mil habitantes, uma taxa relativamente baixa se comparada aos países que lideram o ranking - Índia, Zimbábue e Cazaquistão, por exemplo, têm mais de 30 casos. O país é o 12º na lista de países latino-americanos com mais mortes neste segmento.
"O suicídio é um assunto complexo. Normalmente, não existe uma razão única que faz alguém decidir se matar. E o suicídio juvenil é ainda menos estudado e compreendido", diz Ruth Sunderland, diretora do ramo britânico da ONG Samaritanos, que se especializa na prevenção de suicídios.
De acordo com a OMS, 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos. E para cada caso fatal há pelo menos outras 20 tentativas fracassadas.
"Para a faixa etária de 15 a 29 anos, apenas acidentes de trânsito matam mais. E se você analisar as diferenças de gênero, o suicídio é a causa primária de mortes para mulheres neste grupo", diz à BBC Alexandra Fleischmann, especialista da OMS.
Diferenças
O Brasil, neste ponto, passa pelo fenômeno oposto: índice de suicídios nesta faixa etária para mulheres é de 2,6 por 100 mil pessoas, mas a taxa salta para de 10,7 entre a população masculina. Mas, entre 2010 e 2012, o mais recente período de análise de dados da OMS, o índice feminino cresceu quase 18%. Em termos globais, uma variação chama atenção: 75% dos suicídios ocorrem em países de média e baixa renda. E as diferenças socioeconômicas parecem ter impacto mais forte entre adolescentes.
A intensidade também tem variações regionais.
Para especialistas, suicídios são mais do que fatalidades. Pesquisas acadêmicas revelam que pelo menos 90% dos adolescentes que se matam têm algum tipo de problema mental. Eles variam da depressão - a principal causa para suicídios neste grupo - e passam por ansiedade, violência ou vício em drogas.
Mas há "gatilhos" que podem ser sutis como mudanças no ambiente familiar ou escolar, passando por crises de identidade sexual.
Por isso, os especialistas recomendam prestar atenção nos sinais iniciais. E, não por acaso, a mais recente campanha dos Samaritanos foi dirigida a estudantes britânicos iniciando o período letivo nas universidades.
Também recomenda-se atenção a questões com o bullying, incluindo suas manifestações pela internet. Especialistas também argumentam que o sensacionalismo na mídia pode encorajar imitações.
"Neste caso, um efeito positivo inverso seria encorajar as pessoas a procurar ajuda", argumenta Sutherland.
Grupos envolvidos com a questão também argumentam que o suicídio deveria se tornar uma questão de saúde pública. No entanto, apenas 28 países têm estratégias nacionais de prevenção.

TEXTO 2 –Por que precisamos falar de suicídio com urgência
Suicídio. A data foi fundamental para trazer o tema à tona. Mas depois disso, pouco se falou a respeito. O suicídio ainda é um assunto considerado tabu por muitos e, por isso, pouco discutido. Entretanto, o número de pessoas que tiram a própria vida tem avançado muito — e silenciosamente. No mundo, a morte por suicídio já é mais frequente que por HIV entre os jovens. No Brasil, o número de pessoas que se suicidaram perde apenas para homicídios e acidentes de trânsito entre as mortes por fatores externos (o que exclui doenças).
Perfil do suicida
No mundo todo, o suicídio é predominante no sexo masculino, com exceção da Índia e China. No Brasil, não é diferente. Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) concluiu que os homens têm 3,7 vezes mais chances de se matar que as mulheres.
“A diferença [de taxas] entre os gêneros é geralmente atribuída a maior agressividade, maior intenção de morrer e uso de meios mais letais entre os homens”, concluiu o estudo da UFBA. Ainda segundo o texto, as mulheres “são mais religiosas, o que pode se tornar um fator de proteção”.
O psiquiatra Rubens Pitliuk, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, disse em entrevista ao G1 que a principal razão para os homens conseguirem efetivamente tirar a própria vida é a forma como eles tentam se matar. “Suicídio em homem é mais violento que em mulher. As mulheres em geral tentam [se matar] tomando comprimidos. É mais difícil a mulher se jogar de uma janela”, explicou ao G1.
Jovens e idosos em risco
Os especialistas entrevistados pelo G1 demonstraram especial preocupação com os jovens – segundo o Mapa da Violência, entre 2002 e 2012 houve uma alta de 15,3% na taxa de suicídio nessa faixa-etária no Brasil – e idosos que são a faixa com o maior índice – 8 suicídios para cada 100 mil habitantes, a maior do Brasil, segundo o Mapa.
A psicóloga Karen Scavacin, uma das revisoras do documento “Preventing Suicide – A Global Imperative”, elaborado pela OMS, afirma que outras características do perfil dos jovens devem ser levadas em consideração. “Tanto a criança quanto o jovem tem uma impulsividade alta (…), ele ignora a irreversibilidade da morte”, alertou em entrevista o G1.
O acesso fácil a meios de incentivo associado ao aumento nos casos de cyberbullying – bullying feito pelas redes sociais e internet – também foi apontado como um fator importante pela psicóloga. “Hoje em dia é muito fácil você pesquisar como cometer um suicídio em qualquer mídia social. As pessoas não levam em consideração quando um adolescente ou uma criança fala que pretende se matar e isso deve ser uma das coisas que mais influencia”.
Causas
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a maior parte dos suicídios é cometido por pessoas com depressão, independente de sexo, faixa etária ou qualquer outra característica. Uma cartilha publicada pela organização esse mês aponta 15 causas frequentes que influenciam na retirada da própria vida, como o uso de álcool e drogas, perda ou luto e outros transtornos mentais, como a esquizofrenia, transtorno de personalidade, stress pós-traumático e outras doenças psiquiátricas.
Depressão não precisa acabar em suicídio
“A população precisa ser mais bem informada de que depressão é uma doença e tem tratamento. Boa parte das vezes, a pessoa se sente mal e não sabe que tem depressão. Se soubesse o nome da doença, talvez procurasse ajuda. E muitas vezes a família não percebe que ela está deprimida”, explicou Rubens Pitliuk ao G1.
O psiquiatra diz ainda que é importante quebrar o medo dos antidepressivos que, em casos de suicídio, são fundamentais. “O remédio é necessário se o paciente tem uma depressão clínica, em que já existem os sintomas físicos – queda de energia, dores no corpo, dores de cabeça, boca seca – ou seja, o organismo inteiro está depressivo. Agora, se você puder juntar o remédio com a ida a uma terapia, é melhor do que só o remédio. Se só puder escolher um, é melhor receitar o antidepressivo”.

TEXTO 3 – Mais comum do que se imagina
O suicídio tem crescido entre as causas de mortes de jovens até 19 anos no Brasil. Em 2013, 1% de todas as mortes de crianças e adolescentes do país foram por suicídio, ou 788 casos no total. O número pode parecer baixo, mas representa um aumento expressivo frente ao índice de 0,2% de 1980.
Entre jovens de 16 e 17 anos, a taxa é ainda maior, de 3% frente ao número total. O aumento também ocorre em relação às mortes para cada 100 mil jovens dessa mesma faixa etária: a taxa foi de 2,8 por 100 mil em 1980 para 4,1 em 2013.
Os dados fazem parte da pesquisa Violência Letal: Crianças e Adolescentes do Brasil. Eles foram compilados pela Flacso (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), um organismo de cooperação internacional para pesquisa.
Segundo Alexandrina Meleiro, jovens imersos em redes sociais como Facebook ou Instagram assistem a retratos de vidas fantásticas. Internautas tendem a selecionar posts que exibam suas melhores conquistas e construir cuidadosamente imagens coloridas de suas vidas. Por comparação, a vida de quem assiste a esse espetáculo parece pior, principalmente quando surgem problemas.
Dificuldades em lidar com ou ter a própria sexualidade aceita continuam a contribuir para comportamento suicida. De acordo com Alexandrina Meleiro, é comum que pais se digam compreensivos quanto à sexualidade dos filhos, mas tenham problemas em lidar, na prática, com filhos não heterossexuais.
Maus tratos e abuso físico e sexual durante o desenvolvimento também podem estar associados ao suicídio. De acordo com a professora, pessoas suicidas tendem a se envolver em comportamentos autodestrutivos, como o uso de drogas sem moderação. ‘Assim como o álcool contribui para a violência contra o próximo, ele pode desencadear violência contra si mesmo.’
Ela também afirma que os jovens são em parte vítimas da própria criação. Pais excessivamente focados em suas próprias carreiras e vidas pessoais sentem-se culpados em relação aos filhos, e tendem a consolá-los com conquistas materiais. “‘Se quebrou o iPhone, o pai providencia outro.’”
Esse excesso de proteção pode dificultar que o jovem desenvolva, por si próprio, formas de lidar com a frustração com problemas do amadurecimento, como uma desilusão amorosa ou dificuldades para encontrar um emprego.

TEXTO 4 – Alguns infográficos




TEXTO 5 - O Desafio da Juventude
Momento a momento, dia após dia, a juventude é uma época de rápidas mudanças. Pode também ser uma época de confusão. Um jovem pode sentir como se estivesse sozinho em meio ao deserto ou num campo de batalha. Algumas vezes poderá pensar que não pode confiar em ninguém, que ninguém o ama ou mesmo que não há razão para viver.
Provavelmente, as notas na escola ou universidade não são os seus únicos problemas. Poderá haver problemas em casa, com a saúde, de ordem financeira, com relação ao sexo oposto, as amizades ou como se sente sobre si mesmo. Certos momentos, poderá sentir-se confiante e imbatível e no momento seguinte estar completamente inseguro, frustrado ou apático.
Um jovem poderá fazer questões fundamentais sobre si mesmo, sobre a sua identidade: Quem sou eu? O que devo fazer com a minha vida? É muito natural sentir-se inseguro sobre qual o melhor caminho a ser seguido. Caso ainda não tenha decidido o curso do seu futuro, somente concentre suas energias no que está realizando agora e gradualmente todo o seu potencial irá emergir.
O ponto mais importante é não desistir quando se é jovem, devido a negatividade ou cinismo. Não se compare aos outros. Seja sincero consigo mesmo e busque nutrir e sentir-se feliz com a sua própria e insubstituível vida. Mesmo que seja caçoado em certas ocasiões ou alguém o despreze, continue caminhando firme e nunca deixe a si mesmo ser derrotado.
Estabelecer objetivos é uma boa ideia. Mesmo para aquele jovem com tendência de somente manter sua determinação por um ou dois dias, somente renove-a constantemente. Por exemplo, quando se está estudando poderá surgir o pensamento: "Eu não aguento mais, quero sair". Neste instante, surge o desafio de continuar se esforçando mesmo que por mais cinco minutos. As pessoas que perseveram, mesmo que um pouco, irão alcançar um grandes vitórias em suas vidas.
A juventude é a época de solidificar a base da vida. Não é possível construir um arranha-céu sem que haja uma base sólida e segura. Da mesma forma, aquele que negligencia os estudos e se esquiva dos trabalhos árduos enquanto é jovem, não poderá edificar para si mesmo um grande futuro.
Uma vida fácil e cômoda - onde tudo flui da forma mais conveniente – pode parecer ótima, mas não irá proporcionar as circunstâncias para que se possa polir o caráter. Caso isto ocorra, muitos se tornarão mimados – tornando-se pessoas que não pensam no próximo e que se tornam inúteis nos momentos de dificuldade.
Um jovem não deve sentir-se desafortunado, caso os seus pais sejam pobres, sem instrução ou estejam sempre brigando um com o outro. Na verdade, esta é uma verdadeira situação do cotidiano que estimula o nosso desenvolvimento como ser humano. Alguns jovens podem pensar que seria melhor ter nascido numa família rica e bem-sucedida. Mas, geralmente, os nascidos neste ambiente se transformam em autômatos bem-comportados, limitados pela formalidade, tradição e aparência. Assim, acabam sendo destituídos do genuína espontaneidade e calor humano.
Não existe tal coisa como uma vida cheia de brisas. Por esta razão, faça um favor a si mesmo e enfrente os mais difíceis desafios, para que se torne cada vez mais forte em sua juventude, enquanto se está saudável e cheio de vitalidade. Veja todas as dificuldades como a matéria-prima que irá capacitá-lo a desenvolver um coração magnânimo e o tornará uma pessoa sagaz e sólida.
Busque ser o mais ativo possível. Somente o ato de ser jovem é um tesouro mais valioso do que o poder ou a fama. Ser jovem é ter esperança, paixão e liberdade. Toda a sua vida está em suas mãos, repleta de possibilidades.
Ao invés de criar uma vida de páginas em branco, é melhor viver uma existência cravada com memórias de lutas e com as mais diversas experiências. Não criar nada. Não deixar para trás nenhum rastro e somente envelhecer e morrer. Este é um triste modo de se viver.
Não espere! Se tornem os atores principais do drama humano que ainda não foi descortinado. Construam a história. Mesmo que se sinta incapaz, que seja difícil acreditar em si mesmo. Por favor, não se deixe levar pela opinião alheia e abrace o que acredita ser verdadeiro. Busque acreditar em si mesmo.
Por favor, desafie a injustiça e corrupção ao seu redor – brade e lute contra o autoritarismo e os abusos de poder. Confronte todas as situações com a pela força do seu caráter. Viva com honestidade, integridade e produza resultados. Estabeleça metas elevadas e lute para alcançar seus ideais de corpo e espírito.

Fonte:       Fonte: Mirror Weekly, 14 de dezembro de 2008

Alguns INFOGRÁFICOS




Aula 24/2016 - A vaquejada e o limite entre a cultura e os maus tratos




Material da aula

TEXTO 1 – Fato motivador – Juiz nega liminar que pedia proibição de vaquejada em parque na Paraíba
O juiz Max Nunes de França negou na quarta-feira (12) um pedido de liminar que pedia a proibição da realização da 39ª edição da vaquejada do parque Maria da Luz, que começa nesta quinta-feira (13) na Zona Rural de Massaranduba, no Agreste paraibano. Segundo o magistrado, os organizadores do evento garantem o bem-estar dos animais.
O pedido partiu do grupo Harmonia dos Protetores Independentes dos Animais (Harpia). A entidade alegou que, mesmo sendo uma atividade cultural, causa maus tratos com osanimais que são usados. O grupo ainda cita uma decisão monocrática do Supremo Tribunal Federal (STF) que declarou ilegal uma lei estadual do Ceará que regulamenta a vaquejada.
Na decisão, o juiz Max Nunes França diz que ''impedir liminarmente a realização de um evento que já se encontra em sua 39° edição, às vésperas de sua realização, pode causar um perigo de dano inverso, já que as consequências de seu cancelamento se mostram muito mais evidentes pela dimensão de sua organização, ressaltando que não ficou demonstrado a verossimilhança da crueldade alegada''.
Para o magistrado, o julgamento do STF ainda não é definitivo e o acórdão não foi publicado e, portanto, ''se desconhece qual será o alcance da decisão''. O G1 entrou em contato com o Harpias para saber se a entidade vai tomar alguma providência sobre a decisão, mas as ligações não foram atendidas até as 10h55 desta quinta-feira.

TEXTO 2 – STF decide que tradicional prática da vaquejada é inconstitucional
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira (6) derrubar uma lei do Ceará que regulamentava a vaquejada, tradição cultural nordestina na qual um boi é solto em uma pista e dois vaqueiros montados a cavalo tentam derrubá-lo pela cauda.
Por 6 votos a 5, os ministros consideraram que a atividade impõe sofrimento aos animais e, portanto, fere princípios constitucionais de preservação do meio ambiente.
O governo do Ceará dizia que a vaquejada faz parte da cultura regional e que se trata de uma atividade econômica importante e movimenta cerca de R$ 14 milhões por ano. Apesar de se referir ao Ceará, a decisão servirá de referência para todo o país, sujeitando os organizadores a punição por crime ambiental de maus tratos a animais.
Caso algum outro estado tenha legalizado a prática, outras ações poderão ser apresentadas ao STF para derrubar a regulamentação.
O julgamento começou em agosto do ano passado. Em seu voto, Marco Aurélio considerou que a proteção ao meio ambiente, neste caso, deveria se sobrepor ao valor cultural da prática.
O ministro detalhou que, no evento, o boi é enclausurado, açoitado e instigado a correr, momento em que um dupla de vaqueiros montados a cavalo tenta agarrá-lo pela cauda. O rabo do animal é torcido até que ele caia com as quatro patas para cima.
"Ante os dados empíricos evidenciados pelas pesquisas, tem-se como indiscutível o tratamento cruel dispensado às espécies animais envolvidas. Inexiste a mínima possibilidade de um boi não sofrer violência física e mental quando submetido a esse tratamento", disse à época.
Nesta quinta, a presidente do STF, ministra Carmen Lúcia, elogiou a ação de inconstitucionalidade proposta pela Procuradoria Geral da República.
"Sempre haverá os que defendem que vem de longo tempo, se encravou na cultura do nosso povo. Mas cultura se muda e muitas foram levadas nessa condição até que se houvesse outro modo de ver a vida, não somente ao ser humano", disse a ministra.

TEXTO 3 – Ao considerar vaquejada ilegal, STF faz imposição ideológica
A tradição cultural da vaquejada, como festa popular de grande preferência pela população no Nordeste e que não implica em maus-tratos, tortura ou morte de animais, deveria prevalecer como saudável manifestação festiva regional brasileira, que constitui bem cultural popular e histórico já incorporado ao patrimônio cultural do povo nordestino.
A vaquejada é uma modalidade de esporte próprio da vida rural que, a exemplo do hipismo e do turfe, envolve a participação conjunta do homem (ou mulher) e do animal –no caso da vaquejada, do cavalo e do boi simultaneamente. Os cavaleiros competem em duplas, cavalgando seus equinos cuidadosamente arriados, correm em uma raia de aproximadamente 100 metros de comprimento com piso macio, objetivando derrubar o garrote ou touro que parte celeremente da porteira de saída, buscando fugir de sua prisão e devendo ser derrubado pelo vaqueiro mediante puxada pelo rabo até o limite final da pista. Ao lado dessa pista, acomodam-se os torcedores.
Muito diferente é o que se passava com a "Rinha de Galo" e a "Farra do Boi", que  –para o horror de muitos, embora para a exploração econômica fria e desfrute sádico de poucos– expunham os animais a cenas de violência e morte, tradições de culturas bárbaras que a ética da paz e do respeito à vida não comportam jamais. Justa e oportuna foi a proibição desses espetáculos típicos de violência, que resultavam sempre em morte cruel aos animais.
Diferente, e muito, é o caso da vaquejada, na qual não se mata nem se fere o animal. Antes, além do cavalo, o garrote é também olhado e admirado pelos espectadores e vaqueiros pela sua beleza física, força e velocidade.
A vaquejada evoca também a prática da cultura e do modelo histórico da atividade pecuária e de relação homem-animal nordestina de pastoreio aberto, que exigia a tarefa pelo vaqueiro de acompanhamento, busca e recolhimento da rês, já que a criação se fazia livremente em campos abertos e sem cercados, nos vastos sertões nordestinos. Gerou-se assim um verdadeiro "ethos social" para o bom vaqueiro, que jamais deixaria abandonada ou perdida na vastidão dos campos agrestes e secos qualquer rês confiada aos seus cuidados. Era uma questão de dignidade profissional e verdadeira questão de honra.
...
Importante destacar que houve nos últimos anos um forte e inegável aprimoramento na organização e disciplina para essa prática desportiva, notadamente no tocante à proteção da saúde e do bem-estar dos animais envolvidos no desporto –assegurando-se que a integridade física e o bom trato dos animais sejam rigorosamente assegurados em todas as etapas do evento–, bem como a proibição de uso de quaisquer instrumentos agressores.
Destarte, vê-se que vaquejada é um espetáculo esportivo e uma festa de grande atração popular típica, evidenciando-se assim como mais uma autêntica expressão da rica diversificação cultural das diversas macrorregiões do Brasil e do admirável patrimônio cultural nordestino e brasileiro, sendo, portando, digna de receber o estímulo e a proteção do Estado.
Com a regulamentação da vaquejada como prática desportiva e cultural pelo STF, qualquer evento precisaria estar devidamente organizado, evitando-se, o descumprimento do dispositivo constitucional que veda (art. 225, parágrafo 1°, inciso VII) a submissão dos animais à crueldade. Assim, havendo vaquejada na qual os animais eventualmente sofressem maus tratos, estas seriam banidas, merecendo os seus responsáveis punição exemplar.
Todavia, a decisão do STF foi no sentido do resultado de uma imposição ideológica, pura e simples. A vaquejada foi alvo por ter ficado suficientemente vulnerável, e, ainda discriminada por ser uma demonstração cultural e esportiva tipicamente do interior nordestino!

TEXTO 4 – Vaquejadas: manifestação cultural ou cultura dos maus-tratos?
A vaquejada é um esporte – pelo menos segundo alguns -, e um lucrativo negócio também, em que dois vaqueiros à cavalo puxam o rabo de um boi para derrubá-lo em um local previamente estabelecido. Nesta competição ou celebração da cultura do cabra-macho, o boi, e muitas vezes, meros bezerros, é um objeto a ser derrotado, entenda-se violentado, pela força e a habilidade das “puxadas” dos vaqueiros, munidos da energia de cavalos velozes e fortes. É um “jogo” desigual: um boi contra dois vaqueiros e dois cavalos.
A vaquejada expõe o animal a inúmeras condições de maus-tratos: o animal encarcerado e submetido a chutes e chicotadas em algumas partes do corpo, inclusive, nos testículos, para que o bicho fique afoito e aumente o grau de dificuldade para os concorrentes. Nesta perspectiva, é impossível não imaginar que não há envolvimento de muito sofrimento ao animal.
O animal é, nesse tipo de prática “esportivo-cultural”, reduzido a mero meio para satisfazer dois propósitos – vaidades – humanos. Um mais particular e outro mais geral. O primeiro, a diversão, o espetáculo. O segundo, mais geral e menos consciente, é atestar a superioridade do homem sobre a natureza e os outros animais. O problemático aqui é que, nesse ritual que é a vaquejada, a diversão é ao custo do sofrimento do animal e a dita superioridade do homem é provada e conquistada pela força, pela capacidade de infligir dor e submissão.
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O argumento de que a vaquejada é uma manifestação cultural não implica aceitar os elementos de violência, crueldade e as condições de sofrimento a que os animais são expostos. Por vezes, a palavra “cultura” ou adjetivo “cultural” encobrem equívocos e violências aos quais se tenta justificar e tornar intocável práticas e hábitos assim qualificados. Por exemplo, práticas de infanticídios e mutilamento genital seriam relativizadas por serem práticas culturais de um determinado povo. Logo, segundo esse raciocínio, qualquer intervenção ou crítica seria um equívoco de indisfarçável etnocentrismo travestido de boas razões humanitárias e civilizatórias. Não se trata apenas de uma concepção congelada e imóvel da cultura, como se esta fosse uma entidade estanque, autoreferente, fechada e incapaz de aprender e redefinir suas crenças, representações e práticas. O problema é também que a ideia – cultura – que deveria constituir a base para desnaturalizar os fenômenos humanos, de que estes são mutáveis, modificáveis e dependem da ação das pessoas, acaba por ser utilizado como discurso que referenda e reforça naturalizações, justificando e perpetuando violências, dominações e desigualdades hierárquicas cuja existência é arbitrária.
O importante, do ponto de vista de uma sociedade democrática madura e reflexiva, é que o fato de certas manifestações, crenças ou práticas constituírem traços de uma cultura particular não sirvam como uma maneira de neutralizar e blindar estas contra questionamentos e interpelações públicas, quer visem tais sua supressão ou ajustamento. A prática da vaquejada precisa ser discutida publicamente quanto aos seus traços e elementos perversos e desnecessariamente violentos.
Ora, esta pacificação deve passar também pelos esportes em que o homem estabelece relação com outros animais. A mudança de viés deve contemplar também o modo como nos relacionamos com a natureza. Não é possível, em pleno século XXI, promover mais um tipo de diversão em que o centro da ação lúdica se estabelece com o sofrimento de um animal.

TEXTO 5 – Consigo pensar em poucas coisas mais bestas do que a tal vaquejada
Dois homens montados a cavalo emparelham ao lado de um boi até conseguir derrubá­lo no chão. Consigo pensar em poucas coisas mais bestas do que a tal vaquejada, que provocou na internet uma onda de manifestações tão selvagens quanto o próprio evento, depois de uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que proíbe a realização delas no Estado do Ceará.
Foi um flá­flu raivoso entre pessoas contra e a favor da decisão do Supremo. A turma do contra tem, sem dúvida, o melhor e mais simples argumento. É inaceitável que nos dias de hoje ainda sejam permitidos eventos que exploram os animais por pura e simples diversão e, pior, tenham a chancela esportiva para justificar sua existência.
Os argumentos do pessoal do contra são apenas risíveis. "Esse Brasil que não conhece a vida no campo, fica achando tudo desumano". "É algo cultural do Nordeste, não pode ser proibido". Dá para entender porque tanta gente está esperneando, são cerca de 4 mil provas, 700 mil empregos diretos e movimento de 600 milhões de reais por ano, prêmios que chegam a R$ 300 mil a cada edição, de acordo com a Associação Brasileira de Vaquejada (ABVAQ). Para esse pessoal é muito dinheiro para ficar com pena do boi.
Mas apelar para a questão cultural não é suficiente para legitimar tradições. Dezenas delas são apenas maus tratos de animais. E há uma onda positiva no mundo de colocar em xeque a validade de parques, zoológicos e eventos que só existem para diversão das pessoas. Para quem não viu, indico "The Cove" e "Blackfish", documentários que mostram os bastidores sombrios dos shows de golfinhos e orcas.
Tradições existem para serem mudadas. Em 2010, a região da Catalunha, na Espanha, proibiu a realização de touradas, uma "tradição" de séculos no país. Mas outro patrimônio espanhol continua firme, forte e sanguinolento, a famosa corrida de touros de São Firmino, em Pamplona, que tem similares em outras cidades do país.
Os touros são soltos em ruas estreitas no meio da multidão, que usa lenços vermelhos para atiçar os animais. A brincadeira termina com a morte do touro. Neste ano, pelo menos dois infelizes foram chifrados pelos animais e morreram. Se é para torcer por alguém, que seja pelo touro. No Brasil, há uma lista de eventos que deveriam entrar em extinção. No final de 2015, a CPI que investiga casos de maus tratos de animais apresentou parecer final à comissão em que recomendava a proibição do uso de animais em rodeios, vaquejadas, além do endurecimento das penas para quem promove rinhas de galo, que já são proibidas.
Por pressão de deputados da bancada ruralista, o relatório final, entregue em fevereiro, foi concluído sem os trechos que criticam e pediam exatamente a proibição desse tipo de evento. "Se proibirmos isso, vamos tirar a alma do interior", disse o deputado Adilton Sachetti (PSB­MT).
Embora essa decisão do STF só sirva para o Ceará, a medida pode abrir caminho para que a vaquejada seja proibida em outros Estados. Está mais do que na hora de acabar com mais essas farras do boi. A legítima, realizada no litoral de Santa Catarina, foi proibida em 1998, mas ainda acontece clandestinamente. Esse ano, um homem foi morto pelo animal, que logo depois foi sacrificado. Lamento pelo boi.

TEXTO 6 – Para associação, análise feita pelo STF sobre vaquejada é superficial
Prática esportiva tradicional no Nordeste, a vaquejada se tornou ilegal a partir de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou inconstitucional a lei que regulamenta a atividade no estado do Ceará. A maioria dos ministros entendeu que a vaquejada provoca atos cruéis contra os animais. Mesmo referindo-se à uma lei estadual, a determinação da Corte pode ser aplicada a outros estados e ao Distrito Federal.
“O assunto foi abordado de forma muito superficial e não conseguiu entender o trabalho que tem sido feito pelas associações, que é exatamente o de garantir uma condição de execução das provas de vaquejada preservando a condição de bem-estar tanto dos cavalos como dos bois”, disse o vice-presidente da Associação Brasileira de Vaquejada (ABVAQ), Marcos Studart.
Em seu livro A vaquejada nordestina e sua origem, o escritor Câmara Cascudo diz que a vaquejada é a festa tradicional do ciclo do gado nordestino e uma exibição “de força ágil, provocadora de aplausos e criadora de fama”. A atividade se origina no trabalho de apartação (divisão), entre os fazendeiros, do gado criado solto nos campos do sertão. Euclides da Cunha também fala sobre a vaquejada no livro Os Sertões e são muitas as músicas que exaltam vaqueiros e animais. No forró Saga de um Vaqueiro, da cantora e compositora Rita de Cássia, os versos mostram a tradição: "desde cedo assumi minha paixão/de ser vaqueiro/ de ser um campeão/nas vaquejadas sempre fui batalhador/consegui respeito por ser um vencedor".
Apesar de tradicional, segundo Studart, a prática se modernizou e se autorregula para preservar a saúde de vaqueiros e animais. O protetor de cauda, por exemplo, é um dos cuidados com os bovinos para evitar danos à saúde do animal, informou. Trata-se de um rabo artificial feito com uma malha de nylon que é fixado na base do rabo do boi e que reveste a cauda.
Em seu voto, o ministro Marco Aurélio, argumentou que, conforme laudos técnicos contidos no processo da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), os animais envolvidos nas vaquejadas sofrem fraturas nas patas e no rabo e têm, eventualmente, a cauda arrancada. Segundo o vice-presidente da ABVAQ, essa descrição não faz parte da prática moderna da vaquejada.
“Quem acompanha a vaquejada sabe que isso não é verdade. Existem formas de realizar o evento que permitem perfeitamente o cuidado com esses animais. São bois que são apresentados como espetáculo e precisam estar bem alimentados e bem cuidados. Atualmente, os bois que participam das vaquejadas são alugados. Então, o dono do boi não permite que o animal seja maltratado. Já com relação aos cavalos, que são vendidos por centenas de milhares de reais, não tem sentido imaginar que eles passam por algum tipo de maltrato.”

EXCELENTE MATERIAL SOBRE O TEMA: à A prática da Vaquejada à luz da Constituição Federal







segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Aula 23/2016 - FARC um longo conflito latino-americano



TEXTO 1 – Fato motivador – Colombianos votam neste domingo se aprovam acordo de paz com as Farc
Os colombianos participam neste domingo (30) de um plebiscito para aprovar ou não o acordo de paz pactuado entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que travaram um conflito de mais de 50 anos. Os eleitores deverão responder "Sim" ou "Não" à pergunta: "Você apoia o acordo final para o fim do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura?".
O acordo contempla o abandono das armas pela guerrilha e sua transformação em movimento político, entre outros pontos. A nova agremiação política deve ocupar dez assentos no Congresso.
A classe média (62,1%) é o grupo socioeconômico mais inclinado a aprovar o acordo, seguido da baixa (58%) e da alta (54,9%).
O pactuado será considerado válido se a opção pelo "Sim" obtiver mais de 4,5 milhões de votos (13% do total de pessoas que podem votar no país) e for superior aos votos pelo "Não", segundo estabelecido pela Corte Constitucional.
O acordo foi alcançado após quase quatro anos de negociações em Havana, Cuba, e assinado oficialmente na última segunda-feira (26) pelo presidente Juan Manuel Santos e o número um das Farc, Rodrigo Londoño Echeverri, conhecido como “Timochenko”, antes inimigos de longa data, em cerimônia na cidade de Cartagena de Indias.
Estiveram presentes mais de 10 chefes de Estado da América Latina, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, e outros representantes.
Ao defender o "sim", Manuel Santos afirmou reiterada vezes que "é melhor uma paz imperfeita que uma guerra perfeita". O acordo também é defendido pelos líderes da guerrilha. Ao assinar o documento, Timochenko disse que o país "renasceu para promover uma nova era de reconciliação e de construção da paz".
O documento é considerado histórico porque desde 1983 o país fracassou em três tentativas de negociar a paz, durante os governos de Belisario Betancur, César Gaviria e de Andrés Pastrana.
Pontos acordados em Havana
O pacto da Havana prevê acordos e compromissos em seis pontos: reforma rural, participação política dos ex-combatentes da guerrilha, cessar-fogo bilateral e definitivo, solução ao problema das drogas ilícitas, ressarcimento das vítimas e mecanismos de implementação e verificação.
Lista de terroristas
Em mais de 50 anos, o conflito na Colômbia, o mais longo das Américas, provocou a morte de 260 mil pessoas e deixou quase 7 milhões de deslocados internos e 45 mil desaparecidos.
A guerrilha nasceu de uma insurreição camponesa em 1964 em Marquetalia, na região de Tolima. Um grupo de liberais armados, entre eles Pedro Antonio Marín, conhecido como "Tirofijo", tentou frear uma ofensiva do Exército que pretendia acabar com uma comunidade autônoma de camponeses que existia no lugar.
A União Europeia anunciou a remoção temporária das Farc de sua lista de organizações terroristas e a suspensão de sanções econômicas. A guerrilha foi incluída em 2002 na lista, criada após os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York. Ela inclui pessoas, grupos e organizações, contra os quais foram impostas sanções devido ao envolvimento em atividades terroristas.

TEXTO 2 – Líder das Farc diz que grupo irá lutar como partido político – Decisão semelhante à do IRA
Rebeldes marxistas das Farc continuarão a lutar por justiça social sob um acordo de paz com o governo da Colômbia, disse neste sábado (17) o principal comandante do grupo na abertura do último congresso como um grupo armado.
Representantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) devem ratificar o recente acordo durante o décimo congresso do grupo que acontece esta semana e que será aberto à imprensa pela primeira vez.
Diante de centenas de combatentes no sul da Colômbia, o comandante rebelde Rodrigo Londono, que usa o nome de guerra de Timochenko, afirmou que as Farc desejam disseminar a mensagem de um partido político desarmado e transformar a nação andina depois de cinco décadas de guerra.
"Nesta guerra, não há nem vencedor nem vencido", disse ele, vestindo uma camiseta com a imagem do fundador das Farc, Manuel Marulanda. "A maior satisfação sempre será ter ganhado a paz."
O congresso, que no passado era secreto e usado para decidir estratégia de batalha, pode oferecer uma visão sobre agenda política das Farc. A programação para o evento reflete a agenda de negociações de paz, incluindo a reforma agrária e as questões ambientais.
Depois de quase quatro anos de negociações, as Farc e o governo colombiano chegaram a um acordo final de paz no mês passado, que será assinado em 26 de setembro por Timochenko e pelo presidente colombiano Juan Manuel Santos. Os colombianos terão a última palavra durante um plebiscito em 2 de outubro.
Enquanto as Farc podem encontrar um ponto de apoio eleitoral entre os agricultores pobres e esquerdistas comprometidos, muitos colombianos desconfiam que os ex-combatentes possam se juntar a gangues ou ao Exército de Libertação Nacional, um grupo rebelde menor.
Santos, que apostou seu legado na paz, iniciou uma campanha para convencer os colombianos a apoiarem o acordo, mas enfrenta forte oposição de setores poderosos do país que acreditam que a única solução é terminar militarmente as Farc.
Muitos estão indignados com o fato de que a liderança das Farc não enfrentará a prisão, e se preocupam com uma possível tentativa de conversão de uma nação tradicionalmente conservadora aos ideais marxistas do grupo.

TEXTO 3 –Entenda o que é a guerrilha colombiana das Farc
A guerrilha das Farc, cuja luta por alcançar o poder através das armas marcou a sangue e fogo os últimos 52 anos na Colômbia, celebra sua décima conferência visando a converter-se em um movimento político legal.
- Fundação -
Em 9 de abril de 1948, o assassinato do caudilho liberal Jorge Eliécer Gaitán desata na Colômbia um violento confronto entre liberais e conservadores, então no governo. Uma anistia, em 1953, e um acordo para a alternância de poder, em 1957, acaba com a violência interpartidária.
Mas os camponeses liberais se organizam para reclamar uma reforma agrária em territórios sob influência comunista que foram chamados de "repúblicas independentes" e que o Estado tentou reconquistar pela força em 1964.
Sob o comando de Manuel Marulanda Vélez, conhecido depois como Tirofijo, cerca de 50 camponeses sobreviveram ao ataque e formaram as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), assumindo como data fundacional o dia 27 de maio de 1964.
As Farc começaram como uma guerrilha de autodefesa que reivindicava a luta radical agrária, depois incorporaram o discurso marxista-leninista e, depois da queda da União Soviética, o bolivariano de corte nacionalista.
- Rebelião -
Rebeladas contra o Estado há mais de meio século, as Farc sobreviveram por sua capacidade de mover-se na complexa geografia colombiana de montanhas e selvas, pelo recrutamento voluntário ou forçado de camponeses, inclusive menores e, especialmente, a partir dos anos 1980, pelos recursos obtidos da extorsão, sequestro e narcotráfico.
A guerrilha reconheceu a cobrança de um imposto dos cultivadores de folha de coca - matéria-prima da cocaína -, mas negou ser um cartel do narcotráfico como assinalam os Estados Unidos. As Farc nunca revelaram seu contingente, mas estimativas oficiais dos anos 1980 falavam de 8.000 guerrilheiros, 16.000 uma década depois e atualmente 7.000 combatentes. Fontes militares indicaram que, além disso, contariam com o apoio de 6.000 milicianos. Em 1982 adota a nomenclatura FARC-EP durante a realização da Conferência da Sétima Guerrilha
- Reforma -
Historicamente, as Farc exigem uma reforma agrária e uma nova Constituição. Depois do assassinato nas mãos de paramilitares de cerca de 3.000 simpatizantes, militantes e dirigentes da União Patriótica, partido de esquerda criado em 1985 por ex-membros desta guerrilha, também exigem garantias para virar partido político.
- Conversações -
As Farcs tentaram negociar a paz com os governos de Belisario Betancur (1982-1986), César Gaviria (1990-1994) e Andrés Pastrana (1998-2002). Em novembro de 2012, iniciaram o processo de paz com Juan Manuel Santos, que deve governar até 2018.
Com o governo de Santos, alcançaram, depois de quatro anos de negociações em Cuba o histórico acordo de seis pontos que a X Décima Nacional Conferência Guerrilheira das Farc deve ratificar. O pacto de Havana será assinado em 26 de setembro, em Cartagena, mas para se tornar efetivo deve ser aprovado pelos colombianos em um referendo em 2 de outubro.

TEXTO 4 – Algumas Imagens


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TEXTO 5 – Apoio de Chávez às Farc incluía uso do aparato diplomático e imigratório venezuelano, mostra dossiê
O apoio do regime de Hugo Chávez às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) incluiu o uso do aparato diplomático e imigratório venezuelano para facilitar o trânsito de guerrilheiros no país e no exterior, segundo o farto material analisado para um dossiê publicado na terça-feira pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), de Londres.
De acordo com o livro, pelo menos 2.500 documentos foram expedidos entre 1999 e 2002, nos primeiro anos do governo Hugo Chávez.
A emissão em massa de carteiras de identidade venezuelanas frias para integrantes da guerrilha e o esquema de vistos, que incluiu a participação do consulado do país em Manaus para a emissão, vem à tona no "Dossiê das Farc: os arquivos secretos de Venezuela, Equador e Raúl Reyes", escrito com base em dados encontrados no computador do guerrilheiro morto.
Entre outros pontos, os emails do homem que foi o número 2 das Farc revelam que Rodrigo Granda, porta-voz da guerrilha, teria chegado a ser detido brevemente no aeroporto de São Paulo, onde se identificou como comerciante de ouro. E como alguns guerrilheiros identificaram uma rota segura de entrada na Venezuela, passando pelo norte do Brasil.Apuros no Aeroporto de Guarulhos
Numa das comunicações em poder de Reyes, Manaus é recomendada por um outro representante do alto clero da guerrilha, Rodrigo Granda, como uma rota segura para a movimentação de pessoal usando o território brasileiro.
De acordo com os emails trocados por ambos, pelo menos dois guerrilheiros fizeram esse percurso em 2003, contando com a cumplicidade do então cônsul venezuelano, Manuel José Montañés Lanza, quem forneceu o visto.
Outro ponto de apoio teria sido a Embaixada da Venezuela em Cuba, que em 2002, teria facilitado a entrada de até três guerrilheiros. Um deles, Ovidio Salinas, era procurado pela Interpol e, segundo os documentos, contava com um passaporte venezuelano falso.
Outro expediente usado foi uma ONG, Projeto Renascer, fundada pelas Farc com o objetivo oficial de zelar pelos direitos humanos de refugiados colombianos vivendo em áreas fronteiriças da Venezuela, mas que também serviu de fachada para emitir documentos para guerrilheiros.

TEXTO 6 –