TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - “Overdose”
de farmácias
A vinda de grandes redes nacionais fez mercado farmacêutico
crescer 40% nos últimos três anos na Grande Vitória e obriga lojas locais a se
reinventarem.
“Se o acesso à medicação aumenta, o risco da automedicação
também aumenta” – José Mário Corassa, médico
“Estou com medo de sair de casa e, quando voltar, encontrar
uma farmácia no lugar.” Essa brincadeira foi compartilhada diversas vezes, nos
últimos meses, nas redes sociais. Não por acaso. As palavras trazem, em sua
ironia, uma realidade que vem surpreendendo os capixabas: o rápido crescimento
do mercado farmacêutico no Espírito Santo. Em apenas três anos, 350 lojas foram
abertas na Grande Vitória. Isso resultou em um crescimento de 40% no setor,
entre 2015 e 2018.
Basta circular pelas ruas para perceber o boom. Parece haver
um estabelecimento desse a cada esquina. Bairro mais populoso de Vitória,
Jardim Camburi, conta atualmente com 20 farmácias. Com cerca de 50 mil
moradores, isso representa uma unidade para cada 2,5 mil habitantes. Bem acima
da média recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de uma para
cada 8 mil.
As razões para tamanho crescimento são apontadas pela
indústria do segmento. Envolvem avanço da classe média, maior expectativa de
vida da população e facilidade de acesso a tratamentos médicos. Fatores que
fizeram disparar o faturamento das cerca de 76 mil farmácias em funcionamento no
Brasil. Em 2017: R$ 106,7 bilhões.
Desse valor, 41,6% foram movimentados pelas 26 redes
afiliadas à Associação Brasileira de Rede de Farmácias e Drogarias (Abrafarma).
Mesmo representando apenas 9,2% do mercado, as 7.240 lojas faturaram R$ 44,41
bilhões no ano passado. Um aumento de 8,96% em relação a 2016. Resultado muito
acima da média do varejo brasileiro, cuja alta foi de 1,5%.
Diante desses números, fica fácil entender o que motivou
grandes redes farmacêuticas a se espalharem pelo Brasil. No Brasil, esse
fenômeno se deu a partir de meados desta década. E se intensificou no Espírito
Santo, no ano passado. Drogasil, Pacheco e Pague Menos, todas filiadas à
Abrafarma, abriram uma série de lojas na Grande Vitória em uma velocidade
impressionante.
“O aumento da quantidade de farmácias é reflexo de uma busca
crescente dos brasileiros por mais qualidade de vida e por estar bem consigo
mesmos”, destaca Sérgio Mena Barreto, presidente executivo da Abrafarma.
TEXTO 2 – Automedicação é prática comum em mais
de 90% da população
Quem tem dor,
tem pressa. E, nesta questão, a pressa dos brasileiros mostra-se ainda maior,
já que o Brasil ocupa o posto de recordista em automedicação. De acordo com a
Pesquisa “O comportamento da Dor do Paulista” realizado pelo Instituto de
Pesquisa Hibou, a pedido da Medecell do Brasil em 2014, o brasileiro da região
Sudeste se automedica de forma indiscriminada e sem medo das consequências.
Apenas 8% dos entrevistados nunca se automedicaram em um episódio de dor.
A pesquisa
revela que as dores que mais afetam os paulistanos são dores de cabeça (42%),
dor lombar (41%), dor cervical (28%) e dores nas pernas (26%), responsáveis por
grande parcela do consumo indiscriminado de analgésicos orais. De acordo com a
definição da Anvisa, a automedicação ocorre quando há o uso de medicamentos por
conta própria ou por indicação de pessoas não habilitadas para algum problema
de saúde em geral não diagnosticado ou clinicamente identificado.
Será que esta
atitude dos pacientes decorre da dificuldade de ter acesso a uma consulta
médica, falta de conhecimento das perigosas consequências de ingerir uma droga
sem prescrição ou apenas um hábito tão arraigado em nosso cotidiano que
deixamos de refletir sobre isto? Segundo pesquisa do Instituto Hibou, realizado
em 2014 com 1.216 moradores do estado de São Paulo, mesmo tendo consciência dos
malefícios da ingestão excessiva ou inadequada, 45% da população acredita que
automedicar-se só é prejudicial no caso de remédios identificados com tarja
vermelha ou preta.
Para
demonstrar a gravidade deste assunto, basta dizer que os medicamentos são o
principal agente causador de intoxicação em seres humanos no Brasil desde 1994,
que segundo dados do Sistema Nacional de Informações Toxico-Farmacológicas
(Sinitox), em 2012 registrou cerca de 8 mil mortes. Para 56% dos entrevistados,
o uso de uma opção não medicamentosa segura para o alívio da dor seria a
solução ideal, pois eles acreditam que o uso de medicamentos tem um efeito
nocivo à saúde, impactando na qualidade de vida no futuro.
Dessa
amostragem, 39% faz o uso de medicamentos orais para o alívio da dor, mas
apenas em últimos casos, 24% utiliza medicamentos conforme o tipo de dor, 20%
não toma medicamento de forma alguma e outros 17% prefere recorrer inicialmente
a terapias alternativas e receitas caseiras antes de usar um analgésico.
De uma forma
geral, os dados mostram que 74% da população paulista tem em mente que a
automedicação é prejudicial à saúde e que evitar o consumo de medicamentos pode
ser benéfico para a boa saúde no futuro. A longevidade com qualidade de vida é
o grande desafio das populações dos grandes centros que são impactados diariamente
com os fatores de stress, como o trânsito, a violência, poluição etc. Além dos
efeitos nocivos, às vezes a longo prazo, a ingestão indiscriminada de
analgésicos pode mascarar uma doença mais grave, ou até mesmo agravá-las.
Outro dado
curioso da pesquisa é que 87% dos paulistas estão abertos a novas soluções de
tratamentos que possam ser eficientes para o alívio da dor, enquanto uma outra
parcela do levantamento, 16%, afirma não acreditar em métodos alternativos para
amenizar a dor, quando questionados sobre a eficácia de métodos não
medicamentosos.
A pesquisa “O
comportamento da Dor do Paulista” também revelou que a dor é feminina, com 55%
do total da amostragem. Segundo a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor
(SBED), mulheres são mais acometidas pelas dores crônicas, quando o mal-estar
de difícil diagnóstico que persiste além de três meses. Elas também enfrentam
variações de ciclo hormonal e dores decorrentes do processo reprodutivo. O sexo
feminino também sofre mais com as dores de cabeça e dores na coluna.
TEXTO 3 –Sabia que o Brasil é líder na automedicação?
Quem nunca tomou um remédio sem prescrição médica para curar
uma dor de cabeça ou febre? Independente da resposta, vale dizer que o Brasil é
recordista em automedicação. A pesquisa O Comportamento da Dor do Paulista,
realizada em 2014 pelo Instituto de Pesquisa Hibou, identificou que o
brasileiro da região sudeste é o que mais se automedica de forma indiscriminada
e sem medo das consequências. Apenas 8% dos entrevistados nunca se
automedicaram. Segundo o estudo, as dores que mais afetam os cidadãos são a de
cabeça (42%), a da lombar (41%), a da cervical (28%) e a nas pernas (26%).
O grande problema no uso indiscriminado de medicamentos é a
intoxicação. Outra preocupação refere-se à combinação inadequada dos produtos.
Ou seja, o uso de um remédio em concomitância com outro pode anular ou
potencializar o efeito ou, em situações mais graves, a ingestão incorreta ou
irracional dos medicamentos também pode levar à morte. É o que explica o
otorrinolaringologista Jessé Lima Júnior. "O que mais preocupa é a
ingestão dos antibióticos. O uso deles pode aumentar muito a resistência bacteriana,
e a gente sempre ouve muito sobre as superbactérias, que acabam resultando em
muita complicação dentro e fora dos hospitais", comenta o médico.
"Dr. Google"
Jessé Júnior lembra que, embora a internet tenha facilitado o
acesso às informações, nem sempre o que está presente na web é confiável. Ele
cita o caso de pacientes que chegam ao consultório com ideias prévias e, muitas
vezes, errôneas sobre os sintomas, inclusive indicando tratamentos. "Isso
se agrava quando se tratam de problemas de saúde que requerem medicamentos de
uso controlado", diz o otorrino.
Venda fracionada
Para tentar reduzir o uso indiscriminado de remédios, a
senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) apresentou um projeto que torna obrigatória
a venda fracionada de medicamentos. O Projeto de Lei do Senado 98, de 2017, tem
o objetivo de evitar desperdícios, aumentar o acesso da população a
medicamentos e contribuir para a economia financeira, o bem-estar e a segurança
dos consumidores.
Entre as vantagens do fracionamento apontadas pelo Conselho
Federal de Farmácia estão também a maior adesão dos pacientes no cumprimento do
tratamento indicado pelo médico e o menor acúmulo de produtos tóxicos nos
ambientes domésticos.
Consciência
Especialistas lembram que alguns medicamentos analgésicos,
que são livres de prescrição médica, podem ser guardados em casa, desde que
acomodados em local arejado e longe do alcance das crianças. Menores de 5 anos
representam cerca de 35% dos casos de intoxicação por remédios.
Descarte
O Brasil é o sétimo país que mais consome medicamentos do
mundo, mas, existe pouca legislação referente ao correto descarte de remédios
vencidos ou sem uso. Jogar os produtos no meio-ambiente de forma arbitrária
contamina a água, o solo, os animais e prejudica a saúde pública. O descarte de
medicamentos deve ser feito em pontos de coleta específicos, como em algumas
farmácias, para serem encaminhados à destinação final adequada.
TEXTO 4 – Superbactérias
avançam no Brasil e levam autoridades de saúde a correr contra o tempo
Bactérias
que não respondem a antibióticos vêm aumentando a taxas alarmantes no Brasil e
já são responsáveis por ao menos 23 mil mortes anuais no país, afirmam
especialistas.
Capazes de
criar escudos contra os medicamentos mais potentes, esses organismos infectam
pacientes geralmente debilitados em camas de hospitais e se espalham
rapidamente pela falta de antibióticos capazes de contê-los. Por isso, as
chamadas superbactérias são consideradas a próxima grande ameaça global em
saúde pública pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
"Estamos
numa situação de alerta", diz Ana Paula Assef, pesquisadora do Instituto
Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que faz a estimativa
sobre mortes anuais no país com base nos dados oficiais dos Estados Unidos. No
Brasil, ainda não há um compilado nacional sobre o número de vítimas por
bactérias resistentes.
Perigosas
Um exemplo
é a Acinetobacter spp. A bactéria pode causar infecções de urina, da corrente
sanguínea e pneumonia e foi incluída na lista da OMS como uma das 12 bactérias
de maior risco à saúde humana pelo seu alto poder de resistência.
De acordo
com a Anvisa, 77,4% das infecções da corrente sanguínea registradas em
hospitais por essa bactéria em 2015 foram causadas por uma versão resistente a
antibióticos poderosos, como os carbapenems.
Essa
família de antibióticos é uma das últimas opções que restam aos médicos no caso
de infecções graves.
"Quando
as bactérias se tornam resistentes a eles, praticamente não restam alternativas
de tratamento", explica Assef.
Outro
exemplo é a Klebsiella pneumoniae. Naturalmente encontrada na flora intestinal
humana, é considerada endêmica no Brasil e foi a principal causa de infecções
sanguíneas em pacientes internados em unidades de terapia intensiva em 2015,
segundo dados da Anvisa.
O mais
preocupante é que ela tem se tornado mais forte com o passar do tempo. Nos
últimos cinco anos, a sua taxa de resistência aos antibióticos carbapenêmicos
(aqueles usados em pacientes já infectados por bactérias resistentes)
praticamente quadruplicou no Estado de São Paulo - foi de 14% para 53%, segundo
dados do Centro de Vigilância Epidemiológica paulista.
"Os
dados do Estado de São Paulo são um retrato do Brasil. É um problema crescente
e muito grave, principalmente pela rápida disseminação dessas bactérias
resistentes", diz Jorge Luiz Mello Sampaio, professor de microbiologia
clínica da USP e consultor da Câmara Técnica de Resistência Microbiana em
Serviços de Saúde da Anvisa.
Resistência
A
capacidade de bactérias de passar por mutações para vencer medicamentos desenvolvidos
para matá-las é chamada de resistência antimicrobiana -- ou resistência a
antibióticos.
Essa
extraordinária habilidade é algo natural: os remédios, ao atacar essas
bactérias, exercem uma "pressão seletiva" sobre elas, que lutam para
sobreviver. Aquelas que não são extintas nessa batalha são chamadas de
resistentes. Elas, então, se multiplicam aos milhares, passando o gene da
resistência a sua prole.
Esse
processo natural pode ser acelerado por alguns fatores, como o uso excessivo de
antibióticos. Um agravante é o emprego desses medicamentos também na
agricultura, na pecuária e em outras atividades de produção de proteína animal.
Muitos
fazendeiros injetam regularmente medicamentos em animais saudáveis como um
aditivo de performance. Isso acelera a seleção de bactérias no ambiente e em
animais, que podem vir a contaminar humanos.
De acordo
com especialistas, o número crescente de infecções - que poderiam ser barradas
por mais higiene e saneamento básico - também é um problema, porque demanda
maior uso de antibióticos, o que, por sua vez, seleciona mais bactérias
resistentes, perpetuando um círculo vicioso.
Um estudo
encomendado pelo governo britânico no ano passado estima que tais organismos
irão causar mais de 10 milhões de mortes por ano após 2050. Atualmente, 700 mil
pessoas morrem todos os anos vítimas de bactérias resistentes no mundo.
Os efeitos
na economia também podem ser devastadores. Países como o Brasil estariam sob o
risco de perder até 4,4% de seu PIB em 2050, segundo estimativas do Banco Mundial.
TEXTO 5 – Infográficos
Nenhum comentário:
Postar um comentário