domingo, 8 de fevereiro de 2015

Aula 02/2015 - Tráfico internacional e soberania nacional


A execução do brasileiro na Indonésia por tráfico de drogas levantou diversos questionamentos e opiniões. 

Será que a Indonésia agiu certo em cumprir a lei do país?

Tal atitude têm tido bons resultados na luta contra as drogas?

TEXTO 1 – O fato
O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, foi executado na madrugada deste domingo (18) na Indonésia– 15h31 deste sábado (17), pelo horário de Brasília. O método de execução de condenados à pena de morte no país é o fuzilamento.
O instrutor de voo livre havia sido preso em 2004, ao tentar entrar na Indonésia com 13 quilos de cocaína escondidos nos tubos de uma asa delta. A droga foi descoberta pelo raio-x, no Aeroporto Internacional de Jacarta. Archer conseguiu fugir do aeroporto, mas duas semanas depois acabou preso novamente.
Além do brasileiro, foram executados na ilha de Nusakambangan, Ang Kiem Soe, um cidadão holandês; Namaona Denis, um residente do Malawi; Daniel Enemuo, nigeriano, e uma cidadã indonésia, Rani Andriani. Outra vietnamita, Tran Thi Bich Hanh, foi executada em Boyolali, na Ilha de Java.
A presidente Dilma Rousseff divulgou nota em que disse estar “consternada e indignada” com a execução do brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira na Indonésia. O embaixador do Brasil em Jacarta, segundo a nota, será chamado para consultas.

TEXTO 2 – Repercussão no Brasil
Segundo a Agência Brasil, em uma conversa por telefone, o presidente indonésio negou o pedido de Dilma (foto) e enfatizou que todos os trâmites jurídicos foram seguidos conforme as leis do país e que o devido processo legal foi garantido não só a Moreira, mas também a outro brasileiro no corredor da morte de lá, Rodrigo Gularte, ambos condenados por tráfico de drogas.  De acordo com as leis da Indonésia, a única forma de uma sentença de morte revertida é se o presidente aceitar o pedido de clemência.
Preso na Indonésia desde 2003, Moreira pode ser o primeiro brasileiro executado por crime no exterior.  A primeira vez que o governo brasileiro pediu clemência para Archer foi em março de 2005, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“A presidente reconheceu a gravidade dos crimes cometidos pelos brasileiros e disse respeitar a soberania indonésia e de seu sistema judiciário, mas, como chefe de Estado e como mãe, fazia esse apelo por razões eminentemente humanitárias”, disse nota divulgada à imprensa. Dilma ainda lamentou profundamente a decisão de Widodo e disse que a execução do brasileiro vai gerar comoção no Brasil e terá repercussão negativa para as relações entre os dois países.

TEXTO 3 – Repercussão na Indonésia
Entre os 104 comentários sobre o tema colhidos na página de Facebook da BBC Indonesia (https://www.facebook.com/bbc.indonesia), apenas quatro internautas foram contrários à execução do brasileiro, prevista para este domingo. Na sua maioria, o tom dos internautas foi semelhante ao de Edy Jaya, que disse "é a pena certa para destruidores da nação". Alguns, como o leitor que assina como Ricky Inocance, limitaram-se a dizer coisas como "legal, legal, legal".
"Eu concordo com a execução dos condenados, para que a Indonésia se veja livre do tráfico de drogas", disse Yuni Aza.
"Crimes ligados às drogas arruinaram o país mentalmente. Portanto, antes que o número de vítimas aumente, deveria haver uma forte reação para que isso não ocorra de novo", afirmou Syachrul Rohman.
Para Latief Khan, a execução "é um grande feito realizado pela Indonésia".
Já Muhammad Toquwiem acredita que o país não deve dar ouvido a pedidos de clemência, como o feito pela presidente Dilma Rousseff. "Não perdoe pessoas que destroem gerações. Mate todos os pertencentes a esta quadrilha, antes que o país se torne um ninho do cartel."
Alguns dos internautas posicionaram-se não tão contra a pena capital, mas sim ao fato de ela não ser estendida às autoridades indonésias acusadas de corrupção. "Autoridades corruptas realizam atos mais perigosas do que os que cometem crimes ligados a drogas ou assassinatos. Portanto, era melhor que eles (os políticos corruptos) fossem executados", disse Nata Lia.

TEXTO 4 – Reações nas redes sociais
ATENÇÃO ESSAS IMAGENS NÃO ESTÃO LISTADAS COM O INTUITO DE RIDICULARIZAR O ACONTECIMENTO E SIM ANALISARMOS AS VISÕES EXPOSTAS NAS REDES SOCIAIS POR BRASILEIROS.

  



TEXTO 5 – Soberania Nacional
O governo brasileiro e o da Holanda anunciaram que irão convocar seus embaixadores na Indonésia - o gesto no protocolo diplomático representa uma manifestação de insatisfação com o país que hospeda o embaixador - e se refere ao fuzilamento, no sábado, de Marco Archer Cardoso Moreira e do holandês Ang Kiem Soei.
De acordo com Widodo, "temos de reconhecer os esforços feitos por outros países para salvar seus cidadãos, já que nós fazemos o mesmo. Eu acredito que devamos respeitar uns aos outros no que diz respeito à soberania e à lei nacional de um país".
Tanto a presidente Dilma Rousseff como o governo da Holanda pediram clemência ao líder indonésio, mas os pedidos foram rejeitados. De acordo com o Jakarta Post, Widodo teria "explicado aos dois líderes que as execuções foram uma ordem judicial que o Ministério da Justiça precisava assegurar que seriam implementadas".
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O conhecimento a respeito do conceito de soberania é fundamental para se entender a formação do que se define por Estado. De tamanha importância é o conceito, que Sahid Maluf chega a afirmar que não há estado perfeito sem soberania. Dessa forma, leva-se a concluir que ou o Estado é soberano ou não é. Jamais existirá Estado soberano se não houver supremacia total e absoluta de sua soberania.
Foi a partir do Estado Moderno, com o esplendor da Revolução Francesa, que o conceito de soberania começou a ser concebido e, pouco a pouco, em uma evolução histórica, foi lapidado, chegando tal qual se vislumbra hoje.
No período conhecido pelas gerações contemporâneas como período do Absolutismo, conceituava-se soberania, como um poder supremo, mas um poder exclusivo, inabalável, inquestionável e ilimitado do Monarca. Este poder era ratificado pela promiscuidade com que a igreja afirmava ser a soberania do monarca, uma representação do poder divino, chamado poder temporal. Aos poucos, entretanto, o monarca foi, gradativamente, se tornando independente do poder papal e se tornando realmente absoluto.

Texto 6 – Incoerência...
O presidente da Indonésia,  Joko Widodo, negou o pedido de clemência feito por Dilma Rousseff, e o brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, condenado naquele país por tráfico de drogas, deve ser fuzilado no domingo. Rodrigo Muxfeldt, outro brasileiro, deve ter o mesmo destino. O resultado da conversa diz um tanto dos governos do Brasil e da Indonésia.
Comecemos por este. Entre 2013 e 2014, pelo menos 300 terroristas — sim, terroristas deixaram a cadeia. Em 2002, o grupo Jemaah Islamiyah, ramo da Qaeda no Sudeste Asiático, matou 200 pessoas num atentado suicida praticado em Bali. O grupo explodiu duas vezes o hotel JW Marriott em Jacarta, em 2003 e 2009. Pelos menos 830 pessoas ligadas à ação terrorista deixaram a cadeia nos últimos dez anos.
Com mais de 250 milhões de habitantes, a Indonésia é o mais populoso país de maioria muçulmana do mundo (87%) e se transformou num dos focos do jihadismo. Qual é o ponto? O que isso tem a ver com Marco Acher e Rodrigo, que, de fato, praticaram tráfico de droga — o que pode, sim, ser punido com a morte no país?
A resposta é óbvia e vem na forma de uma pergunta: que país põe centenas de terroristas na rua e executa traficantes de drogas estrangeiros, não cedendo ao pedido de clemência de um outro chefe de Estado? Resposta: um país que é clemente com os terroristas.

Texto 7 – E funciona?
Apesar do endurecimento da lei e da imposição de pena de morte para traficantes, não se pode dizer que o uso de drogas está diminuindo. Segundo a agência anti-drogas do país, só entre 2012 e 2014 o consumo aumentou 25%, para 4,5 milhões de usuários de drogas ilegais. “Nos últimos cinco anos, a fabricação doméstica de estimulantes à base de anfetaminas aumentou para atender a demanda crescente por ecstasy”, diz o escritório da ONU sobre Drogas e Crime. As praias de Bali, apinhadas de turistas estrangeiros e policiais corruptos, são um  dos grandes mercados de ecstasy no mundo.
Como no Brasil ou em qualquer lugar do mundo, a guerra às drogas na Indonésia tem um resultado pequeno e cria uma série de consequências não-intencionais. O cerco da polícia aos traficantes diminui a oferta de drogas, aumentando o preço. O problema é que, como economistas já explicaram há algum tempo,  a demanda por drogas é inelástica: não diminui com o preço. Viciados, por definição, consomem mesmo se o preço aumentar. Por isso é comum se prostituírem e cometerem pequenos roubos para bancar o vício. A morte do brasileiro e outros traficantes neste fim de semana não resolve – e talvez até agrave – o problema de drogas na Indonésia.

Texto 8 – O aliciamento
Até agora sete brasilienses foram presos. O último capturado, o surfista Marco Antônio Gorayeb, 42 anos, chegou sábado a Brasília, transferido de Fernando de Noronha, onde foi preso. Conduzido à Deco, ele não quis prestar depoimento. Se reservou ao direito de falar apenas em juízo. Os delegados que conduzem as investigações preferem não revelar se há outros integrantes sob investigação e nem suas identidades, mas não descartam a possibilidade de decretar a prisão de novos envolvidos no esquema no DF e em outros estados. “Eles fazem parte de uma organização internacional onde os participantes têm várias funções, que eram trocadas para dificultar a ação da polícia. Tudo o que fazem é por meio de fraudes, como a compra de passagens aéreas, adquiridas sempre com cartões clonados. Tem muita gente dando suporte ao tráfico”, explica Miguel Lucena, diretor da Divisão de Comunicação Social da Polícia Civil do DF.
A prisão de Tocci é considerada uma das mais importantes pela polícia não só porque é o líder da ramificação de Brasília. “Ele é o elo de ligação com o chefe do esquema (Dimitrius Papageorgiou) preso na semana passada. Com a prisão dele, vamos poder definir como funcionava a distribuição da droga no país. Tocci certamente tem algo a acrescentar na investigação”, acredita Ronaldo Urbano. “Ele organizava e financiava a exportação e importação da droga”, acrescenta.
Ainda de acordo com Urbano, o publicitário ajudava Dimitrius a enviar cocaína para Holanda, onde era feita a troca por drogas sintéticas, e a recrutar “mulas” – que fazem o transporte. Estes jovens aliciados eram de classe média alta, quase sempre praticantes de esportes radicais, como o surfe. Ao todo, informou o delegado, cerca de 50 pessoas foram presas nos últimos 15 meses no país, alguns componentes com a ajuda das polícias australiana e holandesa.

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