TEXTO 1
– Fato motivador - Luzia: a vítima mais preciosa do incêndio no Museu Nacional
Entre 11 mil e 8 mil anos atrás, as
grutas de pedra calcária que se espalham pela região do atual município de
Lagoa Santa, a cerca de 50 quilômetros de Belo Horizonte, eram frequentadas por
uma gente muito especial. A mais famosa representante desse grupo é a mulher
apelidada de Luzia, cujo crânio foi descoberto na década de 1970 e que é
considerada o mais antigo habitante do continente americano. O fóssil foi
consumido pelas chamas que tomaram o Museu Nacional na noite de ontem. “A gente
não vai ter mais Luzia. Ela morreu no incêndio”, disse Kátia Bogéa, presidente
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, ao jornal O
Estado de S. Paulo.
Trata-se de uma perda descomunal, pois,
para os pesquisadores brasileiros que estudam Luzia e sua “família”, não restam
dúvidas: eles eram representantes de um povo ancestral que chegou à América do Sul
antes dos antepassados dos índios atuais.
As pistas sobre as características
únicas desses “paleoíndios” de Lagoa Santa, como são conhecidos, estão em seus
crânios, dezenas dos quais já foram encontrados no município mineiro. A análise
detalhada do formato da cabeça de Luzia e companhia e sua comparação com os
crânios de outros povos do mundo inteiro sugerem que eles são muito mais
parecidos com os de aborígenes australianos, de habitantes da Melanésia e mesmo
com os dos africanos modernos. Seriam negros, portanto. Por outro lado, os
indígenas brasileiros de hoje são geneticamente bem mais próximos dos povos do
nordeste da Ásia, como os grupos nativos da Sibéria.
Isso significa que os primeiros seres
humanos a caminhar por aqui se aventuraram numa jornada épica pelo mar,
atravessando o Atlântico (se vindos da África) ou o Pacífico (se saídos da
Austrália)? Provavelmente não, afirmam os cientistas que defendem o caráter
único do povo de Luzia. O mais provável, segundo essa corrente, é que os
paleoíndios de Lagoa Santa sejam descendentes de populações que compartilhavam
ancestrais comuns com os aborígenes da Austrália, mas que acabaram migrando
rumo ao norte da Ásia e chegando ao continente americano pelo estreito de
Bering. Só depois de se espalharem pelas Américas é que eles teriam chegado a
Lagoa Santa.
Fonte: https://super.abril.com.br/ciencia/luzia-a-vitima-mais-preciosa-do-incendio-no-museu-nacional/
TEXTO 2–
Um país sem memória comete os mesmos erros
Fernando
Collor, Renan Calheiros e Dilma Rousseff durante cerimônia de chegada a
Brasília dos restos mortais do presidente João Goulart, em novembro de 2013.
Um
extraterrestre que estudasse a história recente do Brasil não entenderia a foto
dos senadores Lindbergh Farias e Fernando Collor juntos e sorrindo. Tampouco a
dos prefeitos Fernando Haddad e Paulo Maluf também juntos e se abraçando. Mas
se estudasse a mente do brasileiro descobriria que o espaço reservado para a
memória é reduzido e ele(a) só percebe o que está acontecendo agora ou no
máximo ontem. O que ocorreu semana passada? Só consultando a agenda. Os sete a
um a favor da Alemanha? Um passado bem distante já desindexado em nossa memória.
Alguém prometendo que não mexeria nos direitos trabalhistas nem que a vaca
tossisse? Quem foi mesmo?
Como a
memória é curta, esquecemos, relevamos e não aprendemos com o passado.
Fonte: http://blogs.pme.estadao.com.br/blog-do-empreendedor/um-pais-sem-memoria-comete-os-mesmos-erros/
TEXTO 3–
Incêndio do Museu Nacional é vitória da intolerância e morte do conhecimento
Na noite
de domingo, 2 de setembro, na Quinta da Boa Vista, o cenário era de
perplexidade diante da dimensão catastrófica do incêndio do Museu Nacional. A
polícia tentava barrar pessoas indignadas que vinham oferecer seus braços para
remediar a tragédia, alguns professores, estudantes e funcionários montaram
vigília e estavam lá estarrecidos ao verem seus trabalhos de vida ardendo em
chamas.
Bombeiros
chegavam impotentes. Poucos jatos de agua cortavam a fumaça caindo nas brasas,
numa falta evidente de planejamento para uma tragédia dessa dimensão que
poderia ocorrer – descaso não dos bombeiros que estavam lá trabalhando, mas
daqueles que construíram de forma objetiva a “falta de condições”.
As chamas
cresciam, e dava para ver voar pela força do vapor matérias físicas, misturadas
com a fumaça: não deixava de pensar o que estava sendo destruído ali, uma tese,
uma dissertação, uma flauta indígena, um cocar, uma planta rara coletada há 200
anos? Na vigília, era terrível ver as expressões de sofrimento de quem tinha em
mente exatamente o que estava sendo consumido.
Os
primeiros andares estavam em brasa fumegante, a torre esquerda queimando
incessantemente com chamas fortes saindo pelas janelas, quando pouco depois
explodiu em chamas ainda maiores a torre direita. O fogo se alastrava rápido. A
pouca água que jorrava da mangueira de um caminhão dos bombeiros era um fio
inofensivo nesse cenário. E eram poucos caminhões, poucos bombeiros, poucos
recursos diante de uma catástrofe gigantesca.
No ar, um
misto de tristeza profunda e revolta. Raiva, indignação. Alguns estudantes e
pesquisadores ali na frente do Museu, ora choravam, ora expressavam raiva pura
diante desse crime premeditado: o incêndio é um crime contra a história do
Brasil, contra a luta por direitos, contra a ciência que poderia produzir um
conhecimento para uma vida melhor, ajudar a combater as mudanças climáticas, a
mudar nosso modo de se relacionar com o planeta e a deixar o mundo habitável
para as futuras gerações, e menos desigual, menos injusto. Um epistemicídio
anunciado, que caminha ao lado do genocídio em marcha. Um projeto de país que
se funda na destruição.
O fogo no
Museu Nacional é uma das maiores tragédias da humanidade - sim, muito além do
Brasil -, é como a queima da Biblioteca de Alexandria da história do Brasil, da
história da fauna, da flora, da história dos povos indígenas, da colonização...
É uma destruição de memórias, de livros, de peças, de artefatos, de áudios, de
imagens, de fósseis que sobreviveram a milhares de anos, de vidas inteiras
dedicadas a pesquisa, de conhecimento acumulado para a humanidade, um acervo
imprescindível para as futuras gerações. Mataram o conhecimento e, nesse
sentido, provocaram um epistemicídio.
Ainda que
não exista até o momento a determinação das causas do incêndio, certamente as
condições para que ele ocorresse de forma tão devastadoras é sim um crime. E ao
mesmo tempo, reflexo do País que nos tornamos, um país bruto, insensível,
ignorante, desigual, autoritário.
Agora, o
governo anuncia postumamente que havia fechado um acordo com o BNDES de cerca
de 20 milhões de reais para a infraestrutura básica — enquanto isso, ali do lado
do Museu Nacional, era transtornador ver o Estádio do Maracanã que recebeu mais
de um bilhão poucos anos atrás. Há um descompasso tremendo.
E não
foram apenas peças do acervo do Museu Nacional que foram corroídas: havia
milhares de peças de outros museus e centros de pesquisas, como, por exemplo,
cabeças esculpidas pelo povo mundurucu, que pertenciam ao Museu Paraense Emílio
Goeldi e haviam sido emprestadas para uma exposição há cerca de cem anos. Era
um museu verdadeiramente nacional.
TEXTO 4–
“Um povo sem memória é um povo sem história”
A frase
que intitula este texto é muito usada por professores para dar aquele “puxão de
orelhas” nos alunos que desconhecem, por absoluta falta de incentivo, ou de
interesse, a história do país. E este é um assunto preocupante, porque hoje em
dia estamos perdendo a referência do que é o Brasil. Há uma legião de jovens
brasileiros, nascidos nas décadas de 80 e 90, totalmente desinformados sobre os
fatos que, anos atrás, ocorreram em terras tupiniquins.
Por
exemplo, conversando com colegas dias desses, me assustei ao saber que poucos
deles sabiam da existência de uma ditadura civil-militar que governou o país
por mais de duas décadas. E o pior, me horrorizei ao descobrir que muitos
desconheciam o nome do primeiro presidente a sofrer um processo de impeachment
(cassação/impugnação do mandato). E isso foi em 1992; fez 20 anos! Além disso,
os nomes que sucederam Fernando Collor na Presidência da República (Itamar
Franco, Fernando Henrique Cardoso), não soaram familiares aos ouvidos dos
participantes da conversa.
Mas eles
são culpados por não conhecerem os ex-presidentes ou o regime que governou o
Brasil de 1964 à 1985? Eu os isento, em parte, desta culpa. Se Jean-Jacques
Rousseau já dizia há séculos atrás que o ser humano é fruto do meio em que ele
vive, o “meio” em que vivemos hoje é propício à alienação e a apatia dos seus
membros. Diferentemente dos nossos pais, avós, bisavós; a cultura do
instantâneo, do desapego, é a tendência da atualidade. Seja ela nas preferências
musicais, nos relacionamentos… E porque não seria na memória histórica? Esse é
um dos “Xis” da questão. Somos bombardeados diariamente com milhares de
informações de todos os tipos, plataformas, e, no entanto, absorvemos o mínimo
deste conteúdo ao qual somos expostos.
Outra
possível resposta está na educação. Sim, a da escola. Aquela de base que,
infelizmente, é precária no país. Desde a infância aprendemos o método da
“decoreba”. Está tática, além de ser esquecida com o tempo, disfarça o
aprendizado e o torna desinteressante e desestimulante. E isso se reflete na
fase adulta, potencializada pela política educacional de formar profissionais
extremamente técnicos, mas com dificuldades de raciocinar sobre os problemas
sociais existentes nos país, fruto de processos históricos passados.
Diante
deste cenário ficam as perguntas: A falta de interesse beneficia a quem? Para
onde vamos sem não há um referencial? As respostas para essas perguntas devem
ser debatidas pela sociedade, e não somente por meia dúzia de parlamentares
(sei que é o dever deles, já que são eleitos pelo povo), ou oligopólios de
comunicação. É muito bonito ver um político bater no peito e dizer que o Brasil
de hoje é democrático. Politicamente pode ser que sim, mas estamos muito longe
de viver uma democracia social. Igualdade esta que muitos brasileiros lutaram
para conseguir, e, infelizmente morreram no caminho. Para sermos Nação forte no
futuro, precisamos necessariamente entender o nosso passado.
TEXTO 5 – Em 2017, mais brasileiros foram ao
Louvre, em Paris, do que ao Museu Nacional
O Museu
Nacional registrou 192 mil visitantes em 2017, segundo informou a assessoria de
imprensa da instituição à BBC News Brasil.
No mesmo
período, 289 mil brasileiros passaram pelo Louvre, em Paris, na França, uma das
principais instituições de arte do mundo, segundo registros do próprio museu.
O Louvre
teve um aumento de 82% do número de visitantes do Brasil no ano passado em
relação a 2016. Foi o segundo maior crescimento de público de um determinado
país - os russos lideram com 92%.
O museu
foi fundado em 6 de agosto de 1818 por Dom João 6º e é o mais antigo do país -
havia acabado de completar 200 anos.
Também era
uma importante instituição científica, administrada atualmente pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Tinha um
dos mais ricos acervos de antropologia e história natural da América Latina,
com mais de 20 milhões de itens.
Muitos
deles eram exemplares únicos, como fósseis humanos e de dinossauros, múmias e
utensílios de civilizações antigas.
Os 192 mil
visitantes que o Museu Nacioanal teve em 2017 significaram um aumento de 60% em
relação ao ano anterior, quando 120 mil pessoas passaram por ali.
A título
de comparação, o Museu Imperial, em Petrópolis, recebeu 400 mil visitantes no
ano passado, mais que o dobro.
"O
acervo era confuso e pouco didático, entregue aos maus cuidados de funcionários
e curadores burocráticos, sem inspiração e entusiasmo. Nunca foi, de fato, um
museu bem amado."
TEXTO 6 – Estão querendo transformar o Museu
Nacional, de 2018, no Reichstag alemão de 1933
Por:
Reinaldo Azevedo
É claro
que é preciso investigar se o desastre no Museu Nacional não foi criminoso. E é
claro que é preciso tomar cuidado com teorias conspiratórias. Não estamos, não
ainda, na Alemanha de 1933, e o museu não é o nosso Reichstag. E o Rio não é
Berlim. Tanto a extrema-direita e seus militantes das cervejarias do meretrício
intelectual como a extrema-esquerda e sua hipocrisia militante deveriam ter um
pouco de pudor. Mas não têm. Ou não seriam quem são.
Sim,
claro! Fogo e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) têm, nos últimos
dois anos, uma intimidade que é digna de nota. No dia 3 de outubro de 2016, um
incêndio de grandes proporções atingiu o oitavo andar do prédio da reitoria da
universidade na Ilha do Fundão. No dia 16 de maio de 2017, outro, desta feita
no campus da Praia Vermelha. O fogo, que começou na capela do Palácio
Universitário, se estendeu para o Fórum de Ciência e Cultura e a Faculdade de
Educação. Pouco tempo depois, no dia 2 de agosto de 2017, mais chamas, aí nos
alojamentos, também na Ilha do Fundão. Agora. o desastre dos desastres no Museu
Nacional. Também ele está sob a gestão da UFRJ.
Digamos
que tudo o que as esquerdas estão a propagar nos alto-falantes das redes
sociais fosse verdade e que, como afirmaram Manuela D’Ávila e Gleisi Hoffmann,
a culpa recaísse sobre os ombros largos do governo, como é mesmo?, “golpista”
de Temer. Ainda assim, cabe a pergunta: seria a única instituição a sofrer em
razão do chamado “teto de gastos”? E as outras centenas de instituições
federais, então, submetidas às mesmas dificuldades? Ignorar que há um problema,
quando menos, de gestão na instituição é fazer o jogo do contente.
O prédio
estava num estado lamentável. Obviamente, a deterioração não é fruto dos dois
anos de governo Temer. Na verdade, essa gestão tomou as providências para tirar
o museu do atoleiro. Mas o fogo veio antes. Em junho, por ocasião da celebração
dos 200 anos do museu, celebrou-se um contrato com o BNDES, que prevê o repasse
de R$ 21 milhões para a instituição. A primeira parcela, de R$ 3 milhões, seria
— ou será vamos ver — liberada no mês que vem.
As redes
sociais, como sempre, estimuladas por pistoleiros dos dois lados, recende a
moralismo putrefato e de fachada e caça às bruxas. Sim, é verdade: o reitor da
UFRJ, o sr. Roberto Leher, é filiado ao PSOL. Sua vice, Denise Fernandes Lopez,
também pertence ao partido. Outros membros da cúpula da UFRJ são ligados à
legenda. A informação circula freneticamente por aí. Muito bem! Isso quer dizer
o quê? Será que o PSOL sai incendiando as coisas para jogar a culpa no governo
Temer? Por que não pode ser o contrário?
A extrema-direita poria fogo em bens públicos sob a gestão do PSOL para
culpar a esquerda?
Na
Alemanha de fevereiro de 1933, os nazistas ganharam a narrativa. A culpa recaiu
sobre um grupo de militantes comunistas estrangeiros. Hitler chegara ao poder
no dia 30 de janeiro, havia menos de um mês. De tal sorte o incêndio do
Parlamento servia à causa nazista que se levantou a suspeita óbvia: eles
próprios haviam provocado a tragédia para preparar o caminho do golpe. Até
hoje, não há nada de conclusivo a respeito.
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