domingo, 14 de outubro de 2018

Aula 18/2018 - Agrotóxico, o perigo invisível



TEXTO 1 – Fato motivador - Morre homem que se tornou símbolo da luta contra agrotóxico na Argentina
Fabián Tomasi, que trabalhou por anos lançando pesticida dos aviões e se transformou em um símbolo da luta contra o uso de agrotóxicos na Argentina, faleceu aos 53 anos, vítima de uma polineuropatia tóxica severa.
"Nesta sexta-feira (7) terminaram de matá-lo. Fabián ficou doente há mais de dez anos. Resistia a morrer para poder denunciar a prática agrícola genocida que o destruiu", disse à AFP  Medardo Avila, integrante da Rede de Médicos de Povos Fumigados, com quem compartilha essa luta.
Com uma filha, Tomasi dedicou os últimos anos de sua vida a gerar consciência sobre o perigo da utilização de pesticidas e até se deixou fotografar doente e esquelético como parte de sua militância, lembrou Avila.
"Estamos com muita dor e muito indignados com sua morte. Temos um sistema de produção que polui meio país", denunciou o médico ativista. Em seus testemunhos, Tomasi relatava que nunca havia usado proteção em seu trabalho, porque ninguém o havia advertido sobre o risco de manipular glifosato. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse pesticida usado para os cultivos com sementes transgênicas é, provavelmente, cancerígeno. "Vai fazer que não reste ninguém. Toda terra que temos não vai chegar para sepultar tanta morte", disse ele em entrevista à AFP há alguns meses. Por causa da doença ele já não podia mais ingerir alimentos sólidos, perdia massa muscular e tinha dores nas articulações que limitavam sua mobilidade.
Ele começou a trabalhar com agroquímicos em 2005 para uma empresa fumigadora da província de Entre Ríos (centro-este), localidade onde faleceu.

TEXTO 2– Entenda o que muda com a nova lei dos agrotóxicos
Com a volta do recesso parlamentar, pode entrar em votação um novo projeto de lei que regulamenta o uso de agrotóxicos no país.
O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, mas muito se questiona sobre o impacto desses produtos químicos no meio ambiente e na saúde das pessoas.
Entre 2013 e 2015, por exemplo, 20% das amostras analisadas pelo governo excederam os níveis permitidos de elementos nocivos, segundo relatório divulgado pela Human Rights Watch usando dados de Ministério da Saúde e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Além substituir a denominação de "agrotóxico" por "pesticida", a proposta quer mudar o critério para proibir um pesticida, barrando apenas produtos que apresentem risco inaceitável para seres humanos ou meio ambiente. Também centraliza o registro de novos agrotóxicos nas mãos do Ministério da Agricultura e estabelece prazo máximo para liberar novos agrotóxicos.
Depois de ser analisado pela Câmara, o projeto vai passar pelo Senado. Se aprovado em ambas as Casas Legislativas, vai para a sanção do presidente Michel Temer (MDB). Isso pode não acontecer neste ano, devido à campanha eleitoral e às críticas que a nova lei sofreu, tendo sido apelidada de "PL do Veneno" por ativistas, ambientalistas, celebridades e agências governamentais contrárias às mudanças.
TEXTO 3 - Santa Catarina registra 1,8 caso de intoxicação por agrotóxico por dia, diz pesquisa
Em relatório divulgado pelo Centro de Informações e Assistência Toxicológica (Ciatox-SC), foi diagnosticado que Santa Catarina registra 1,8 casos por dia de intoxicação aguda por conta de agrotóxicos. Ao menos 685 pessoas foram impactadas, com 32 mortes. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), esse número pode ser muito maior, em decorrência das subnotificações.
De acordo com a pesquisa "Você não quer mais respirar veneno", da Human Rights Watch (HRC), dentre os 10 agrotóxicos mais usados no Brasil em 2016, quatro não são autorizados na Europa, o que demonstra indícios dos possíveis riscos que essas substâncias oferecem à saúde. Joinville, no Norte de SC, tem como uma de suas principais atividades econômicas o cultivo do arroz e engloba a maior população rural do Estado, com mais de 17,4 mil habitantes, sendo que quase dois mil são produtoras. Essas pessoas correm risco intoxicação e podem ser diagnosticadas por meio do teste de colinesterase. "A colinesterase é uma enzima que serve como indicador do diagnóstico para o agravo, pois quando há exposição a compostos agrotóxicos, há inibição da enzima acetilcolinesterase circulante no sangue", explicou Myrna Campagnoli, diretora médica do Ghanem Laboratório.
Myrna alerta sobre a importância do exame médico periódico desses trabalhadores, ponderando que a medida é indispensável para o acompanhamento da saúde do trabalhador rural, principalmente para avaliar a exposição ao agrotóxico.
A intoxicação aguda pode apresentar sintomas como dor de cabeça, tontura, náusea, vômito, desorientação, dificuldade respiratória, coma e até a morte. No caso da intoxicação crônica, no entanto, que acomete geralmente pessoas que têm contato diário com as substâncias, os sintomas não aparecem de imediato, mas ao longo do tempo podem causar graves problemas de saúde, patologias que atingem vários órgãos e sistemas, causando problemas imunológicos, hematológicos, hepáticos, neurológicos, malformações congênitas e tumores.


TEXTO 4– Agrotóxico é risco para quem vive perto de áreas de plantio, diz ONG
ONG diz que a lei que prevê uma distância mínima de 500 metros da comunidade para a pulverização de aviões não é cumprida.
Um relatório da organização de direitos humanos mais importante do mundo denunciou a contaminação por agrotóxico de comunidades rurais no Brasil.
A imagem que vem à cabeça: aviões sobrevoando plantações para pulverizar agrotóxicos. Mas, e quando esse spray atinge pessoas? Aconteceu em 2013 na escola rural São José do Pontal, em Rio Verde, uma das maiores produtoras de soja, no interior de Goiás. Mais de 30 crianças passaram mal.
Do ano passado para cá, a ONG Human Rights Watch visitou comunidades rurais nas cinco regiões do Brasil. Num relatório divulgado nesta sexta-feira (20), os moradores relatam que são atingidos frequentemente pela pulverização, se queixam de dores de cabeça, náusea, tontura e vômito. E dizem ter medo de denunciar a intoxicação.
Richard Pearshouse, diretor da ONG, diz que o Brasil, um dos maiores produtores agrícolas do mundo, consome mais de 1,5 milhão de toneladas de agrotóxicos por ano. Entre os dez produtos mais vendidos aqui, quatro estão proibidos na Europa.
A ONG diz que a lei que prevê uma distância mínima de 500 metros na pulverização de aviões não é cumprida, recomenda mais fiscalização e também a criação de uma lei federal que limite a aplicação de agrotóxicos por tratores perto de comunidades rurais.
“É chocante que alguém possa despejar pesticidas em lugares onde as pessoas vivem e estudam”, diz Richard.
O Ministério da Agricultura disse que existe fiscalização e prometeu implementar uma das sugestões. "Como, por exemplo, um disciplinamento um pouco mais formal dessas distâncias da aplicação terrestre como feito na aérea. A gente de pronto vai acatar", afirma Luís Rangel, secretário de Defesa Agropecuária.
O relatório foi divulgado num momento em que o Congresso discute um projeto de lei que altera o processo de registro dos agrotóxicos. Hoje esses produtos precisam ser autorizados pelos ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da Agricultura. O projeto porpõe que a palavra final fique com o Ministério da Agricultura e fala até em mudança de nome: em vez de agrotóxicos, eles passariam a ser chamados de pesticidas.
A Sociedade Rural Brasileira diz que a mudança deve acelerar a aprovação de produtos, que hoje demora até oito anos. "Esse prazo diminuirá expressivamente e novas tecnologias, bem como novas empresas, poderão operar nesse mercado. Se o Brasil, de fato, deseja produzir alimentos utilizando menos defensivos, nós precisamos de inovação tecnológica", fala o diretor-executivo João Adrien Fernandes.
Na internet, uma petição contra o projeto de lei tem 1,5 milhão de assinaturas. Dezenas de instituições também se posicionaram contra, como a Anvisa, o Instituto Nacional do Câncer e a Fundação Oswaldo Cruz.
"Produtos que já foram banidos no Brasil poderão ser reintroduzidos. O projeto de lei aponta um caminho que flexibiliza de uma maneira muito clara os interesses das necessidades dos processos de produção agrícola em detrimento dos interesses da saúde e do meio ambiente", destaca Guilherme Netto, pesquisador da Fiocruz.

TEXTO 5  - Com adição de agrotóxicos, por favor
A rapaziada manifestante indignada não leu, não estudou, mas é contra; porque, se trata de agrotóxico, só pode ser ruim, nocivo, opressor, golpe de latifundiários
Tramita no Congresso, lentamente, a alcunhada Lei dos Agrotóxicos. Urgentíssima, para substituir a legislação de 1989, cuja defasagem põe em risco não o interesse de Blairo Maggi, mas o do brasileiro que compra milho no mercado. Desnecessário dizer, porém, que a proposta vai longamente amaldiçoada. Em trânsito de lesma na Comissão Especial da Câmara, ensejou, nas últimas semanas, novos protestos apaixonados dos bem-intencionados de sempre — aquela espécie humana peculiar que tanto mais esbraveja quanto mais desconhece o assunto.
Sim, sei que é exercício difícil para os exemplares dessa praga, mas a leitura do texto do projeto — geralmente é assim (vale experimentar) — explica seu objetivo: em suma, agilizar o registro de pesticidas mais modernos aqui. Bom, né? Não. A rapaziada manifestante indignada não leu, não estudou, mas é contra; porque, se trata de agrotóxico, só pode ser ruim, nocivo, opressor, golpe de latifundiários multinacionais, e pronto: arma-se a gritaria. A cena seria surrealista não tivesse pilares metodológicos clássicos a serviço da confusão e da ignorância tragicômicas: aqueles que lutam historicamente contra o uso, no Brasil, de defensivos agrícolas já superados em outras nações são os mesmos que ora lutam contra a lei que permitiria a rápida modernização dos defensivos agrícolas utilizados neste país.
Que tal?
Curioso e triste torrão é o Brasil, este cuja principal vocação econômica, a agropecuária, desenvolvida pari passu com a melhor tecnologia, distribuidora de riqueza e geradora de milhões de empregos, muitos dos quais com altíssima especialização, é criminalizada pelos mistificadores senhores do discurso da “oportunidade para todos”. Não é incoerência, porém. Há método — insisto.
Sob a mobilização de poderosos grupos de pressão ideológicos, a militância dos hábitos virtuosos encontra fluente caminho para se impor e transtornar quando consegue infiltrar sua cultura de desinformação, via de regra alarmista, nos costumes da população. Quase sempre consegue, com luxuosa contribuição de artistas, jornalistas e outros patriotas do apocalipse. Sobre a produção de alimentos, a deturpação é especialmente depravada. Amedrontado pela propaganda mentirosa do onguismo mais lucrativo, o brasileiro médio foi convencido de que a comida que lhe é oferecida é ruim, talvez mesmo envenenada. Não é isso? Quem nunca se deparou com a impostura segundo a qual aqui se consumiria, individualmente, cerca de cinco litros de pesticidas por ano?
Em que espécie de hortinha mental-moral elitista vive essa gente leviana que propaga a produção quimérica de alimentos orgânicos em larga escala como salvação de uma humanidade contaminada? Quando se deu a perversão de valores por meio da qual hábitos individuais de ricos, não raro exóticos (talvez fanáticos), práticas matematicamente insustentáveis para o conjunto da sociedade, tornaram-se ativismo autoritário — para muitos entre os religiosos da pureza razão da própria existência — vendido em nome da saúde alheia ainda que sem a mais mínima comprovação científica?
O que se sabe, seguramente, sobre o alimento orgânico: que não tem vantagem, nutricional ou de sabor, sobre o produto convencional, e que é muito, muitíssimo, mais caro, isso como consequência da produtividade fundamentalmente menor, de crescimento representativo impossível, daí por que, por definição, coisa de abastados — que semearia a fome caso dele dependesse a subsistência mundial. Ou seja: o pobre, para comer, para se nutrir, precisa de pesticidas, e isso — atenção — não lhe faz vítima, mas cidadão plenamente, como só raramente, beneficiando-se da inclusão, da inclusão prática, objetiva, permitida pela tecnologia.
Só no Brasil, aliás, defensores agrícolas, glórias da ciência, são chamados de agrotóxico, palavra essencialmente enviesada, criada e difundida para distorcer — para plantar na percepção das pessoas a ideia farsante de que pesticidas são instrumentos garantidores da expansão produtiva irresponsável decorrente da ganância da máfia dos grandes produtores rurais. Não é assim? A verdade, no entanto, é outra: a química aplicada no campo dominou pragas antes consideradas invencíveis, trouxe estabilidade, previsibilidade, às safras, que batem sucessivos recordes, e criou as condições para que o cultivo, por exemplo, de arroz e feijão precisasse hoje de três vezes menos terra que há 40 anos — e tudo isso para entregar comida barata, farta e de boa qualidade.
Curioso e triste país é o Brasil, este cuja gente que concebeu o Bolsa Família, e que zela pela renda do pobre, investe na narrativa que demoniza a agropecuária — atividade cuja excelência leva comida saudável e em conta à mesa do brasileiro real, aquele para quem programa de culinária na tevê é obra de ficção tão distante quanto o reino da Dinamarca, “nação mais orgânica do mundo”, onde a fatia desses produtos do mercado, contudo, não chega a 8%, e a alimentação das pessoas não é aparelho para terrorismo ambiental.

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