TEXTO 1
– Fato motivador - Morre homem que se tornou símbolo da luta contra agrotóxico
na Argentina
Fabián Tomasi, que trabalhou por anos
lançando pesticida dos aviões e se transformou em um símbolo da luta contra o
uso de agrotóxicos na Argentina, faleceu aos 53 anos, vítima de uma
polineuropatia tóxica severa.
"Nesta sexta-feira (7) terminaram
de matá-lo. Fabián ficou doente há mais de dez anos. Resistia a morrer para
poder denunciar a prática agrícola genocida que o destruiu", disse à
AFP Medardo Avila, integrante da Rede de
Médicos de Povos Fumigados, com quem compartilha essa luta.
Com uma filha, Tomasi dedicou os
últimos anos de sua vida a gerar consciência sobre o perigo da utilização de
pesticidas e até se deixou fotografar doente e esquelético como parte de sua
militância, lembrou Avila.
"Estamos com muita dor e muito
indignados com sua morte. Temos um sistema de produção que polui meio
país", denunciou o médico ativista. Em seus testemunhos, Tomasi relatava
que nunca havia usado proteção em seu trabalho, porque ninguém o havia
advertido sobre o risco de manipular glifosato. Segundo a Organização Mundial
da Saúde (OMS), esse pesticida usado para os cultivos com sementes transgênicas
é, provavelmente, cancerígeno. "Vai fazer que não reste ninguém. Toda
terra que temos não vai chegar para sepultar tanta morte", disse ele em
entrevista à AFP há alguns meses. Por causa da doença ele já não podia mais
ingerir alimentos sólidos, perdia massa muscular e tinha dores nas articulações
que limitavam sua mobilidade.
Ele começou a trabalhar com
agroquímicos em 2005 para uma empresa fumigadora da província de Entre Ríos
(centro-este), localidade onde faleceu.
TEXTO 2–
Entenda o que muda com a nova lei dos agrotóxicos
Com a
volta do recesso parlamentar, pode entrar em votação um novo projeto de lei que
regulamenta o uso de agrotóxicos no país.
O Brasil é
um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, mas muito se questiona
sobre o impacto desses produtos químicos no meio ambiente e na saúde das
pessoas.
Entre 2013
e 2015, por exemplo, 20% das amostras analisadas pelo governo excederam os
níveis permitidos de elementos nocivos, segundo relatório divulgado pela Human
Rights Watch usando dados de Ministério da Saúde e Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária).
Além
substituir a denominação de "agrotóxico" por "pesticida", a
proposta quer mudar o critério para proibir um pesticida, barrando apenas
produtos que apresentem risco inaceitável para seres humanos ou meio ambiente. Também
centraliza o registro de novos agrotóxicos nas mãos do Ministério da Agricultura
e estabelece prazo máximo para liberar novos agrotóxicos.
Depois de
ser analisado pela Câmara, o projeto vai passar pelo Senado. Se aprovado em
ambas as Casas Legislativas, vai para a sanção do presidente Michel Temer
(MDB). Isso pode não acontecer neste ano, devido à campanha eleitoral e às
críticas que a nova lei sofreu, tendo sido apelidada de "PL do
Veneno" por ativistas, ambientalistas, celebridades e agências
governamentais contrárias às mudanças.
TEXTO 3
- Santa Catarina registra 1,8 caso de intoxicação por agrotóxico por dia, diz
pesquisa
Em
relatório divulgado pelo Centro de Informações e Assistência Toxicológica
(Ciatox-SC), foi diagnosticado que Santa Catarina registra 1,8 casos por dia de
intoxicação aguda por conta de agrotóxicos. Ao menos 685 pessoas foram impactadas,
com 32 mortes. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), esse número pode
ser muito maior, em decorrência das subnotificações.
De acordo
com a pesquisa "Você não quer mais respirar veneno", da Human Rights
Watch (HRC), dentre os 10 agrotóxicos mais usados no Brasil em 2016, quatro não
são autorizados na Europa, o que demonstra indícios dos possíveis riscos que
essas substâncias oferecem à saúde. Joinville, no Norte de SC, tem como uma de
suas principais atividades econômicas o cultivo do arroz e engloba a maior
população rural do Estado, com mais de 17,4 mil habitantes, sendo que quase
dois mil são produtoras. Essas pessoas correm risco intoxicação e podem ser
diagnosticadas por meio do teste de colinesterase. "A colinesterase é uma
enzima que serve como indicador do diagnóstico para o agravo, pois quando há
exposição a compostos agrotóxicos, há inibição da enzima acetilcolinesterase
circulante no sangue", explicou Myrna Campagnoli, diretora médica do
Ghanem Laboratório.
Myrna
alerta sobre a importância do exame médico periódico desses trabalhadores,
ponderando que a medida é indispensável para o acompanhamento da saúde do
trabalhador rural, principalmente para avaliar a exposição ao agrotóxico.
A
intoxicação aguda pode apresentar sintomas como dor de cabeça, tontura, náusea,
vômito, desorientação, dificuldade respiratória, coma e até a morte. No caso da
intoxicação crônica, no entanto, que acomete geralmente pessoas que têm contato
diário com as substâncias, os sintomas não aparecem de imediato, mas ao longo
do tempo podem causar graves problemas de saúde, patologias que atingem vários
órgãos e sistemas, causando problemas imunológicos, hematológicos, hepáticos,
neurológicos, malformações congênitas e tumores.
TEXTO 4–
Agrotóxico é risco para quem vive perto de áreas de plantio, diz ONG
ONG diz
que a lei que prevê uma distância mínima de 500 metros da comunidade para a
pulverização de aviões não é cumprida.
Um
relatório da organização de direitos humanos mais importante do mundo denunciou
a contaminação por agrotóxico de comunidades rurais no Brasil.
A imagem
que vem à cabeça: aviões sobrevoando plantações para pulverizar agrotóxicos.
Mas, e quando esse spray atinge pessoas? Aconteceu em 2013 na escola rural São
José do Pontal, em Rio Verde, uma das maiores produtoras de soja, no interior
de Goiás. Mais de 30 crianças passaram mal.
Do ano
passado para cá, a ONG Human Rights Watch visitou comunidades rurais nas cinco
regiões do Brasil. Num relatório divulgado nesta sexta-feira (20), os moradores
relatam que são atingidos frequentemente pela pulverização, se queixam de dores
de cabeça, náusea, tontura e vômito. E dizem ter medo de denunciar a
intoxicação.
Richard
Pearshouse, diretor da ONG, diz que o Brasil, um dos maiores produtores
agrícolas do mundo, consome mais de 1,5 milhão de toneladas de agrotóxicos por
ano. Entre os dez produtos mais vendidos aqui, quatro estão proibidos na
Europa.
A ONG diz
que a lei que prevê uma distância mínima de 500 metros na pulverização de
aviões não é cumprida, recomenda mais fiscalização e também a criação de uma
lei federal que limite a aplicação de agrotóxicos por tratores perto de
comunidades rurais.
“É
chocante que alguém possa despejar pesticidas em lugares onde as pessoas vivem
e estudam”, diz Richard.
O
Ministério da Agricultura disse que existe fiscalização e prometeu implementar
uma das sugestões. "Como, por exemplo, um disciplinamento um pouco mais
formal dessas distâncias da aplicação terrestre como feito na aérea. A gente de
pronto vai acatar", afirma Luís Rangel, secretário de Defesa Agropecuária.
O
relatório foi divulgado num momento em que o Congresso discute um projeto de
lei que altera o processo de registro dos agrotóxicos. Hoje esses produtos
precisam ser autorizados pelos ministérios da Saúde, do Meio Ambiente e da
Agricultura. O projeto porpõe que a palavra final fique com o Ministério da
Agricultura e fala até em mudança de nome: em vez de agrotóxicos, eles
passariam a ser chamados de pesticidas.
A
Sociedade Rural Brasileira diz que a mudança deve acelerar a aprovação de
produtos, que hoje demora até oito anos. "Esse prazo diminuirá
expressivamente e novas tecnologias, bem como novas empresas, poderão operar
nesse mercado. Se o Brasil, de fato, deseja produzir alimentos utilizando menos
defensivos, nós precisamos de inovação tecnológica", fala o
diretor-executivo João Adrien Fernandes.
Na
internet, uma petição contra o projeto de lei tem 1,5 milhão de assinaturas.
Dezenas de instituições também se posicionaram contra, como a Anvisa, o
Instituto Nacional do Câncer e a Fundação Oswaldo Cruz.
"Produtos
que já foram banidos no Brasil poderão ser reintroduzidos. O projeto de lei
aponta um caminho que flexibiliza de uma maneira muito clara os interesses das
necessidades dos processos de produção agrícola em detrimento dos interesses da
saúde e do meio ambiente", destaca Guilherme Netto, pesquisador da
Fiocruz.
TEXTO 5 -
Com adição de agrotóxicos, por favor
A
rapaziada manifestante indignada não leu, não estudou, mas é contra; porque, se
trata de agrotóxico, só pode ser ruim, nocivo, opressor, golpe de
latifundiários
Tramita no
Congresso, lentamente, a alcunhada Lei dos Agrotóxicos. Urgentíssima, para
substituir a legislação de 1989, cuja defasagem põe em risco não o interesse de
Blairo Maggi, mas o do brasileiro que compra milho no mercado. Desnecessário
dizer, porém, que a proposta vai longamente amaldiçoada. Em trânsito de lesma
na Comissão Especial da Câmara, ensejou, nas últimas semanas, novos protestos
apaixonados dos bem-intencionados de sempre — aquela espécie humana peculiar
que tanto mais esbraveja quanto mais desconhece o assunto.
Sim, sei
que é exercício difícil para os exemplares dessa praga, mas a leitura do texto
do projeto — geralmente é assim (vale experimentar) — explica seu objetivo: em
suma, agilizar o registro de pesticidas mais modernos aqui. Bom, né? Não. A
rapaziada manifestante indignada não leu, não estudou, mas é contra; porque, se
trata de agrotóxico, só pode ser ruim, nocivo, opressor, golpe de
latifundiários multinacionais, e pronto: arma-se a gritaria. A cena seria
surrealista não tivesse pilares metodológicos clássicos a serviço da confusão e
da ignorância tragicômicas: aqueles que lutam historicamente contra o uso, no
Brasil, de defensivos agrícolas já superados em outras nações são os mesmos que
ora lutam contra a lei que permitiria a rápida modernização dos defensivos
agrícolas utilizados neste país.
Que tal?
Curioso e
triste torrão é o Brasil, este cuja principal vocação econômica, a
agropecuária, desenvolvida pari passu com a melhor tecnologia, distribuidora de
riqueza e geradora de milhões de empregos, muitos dos quais com altíssima
especialização, é criminalizada pelos mistificadores senhores do discurso da
“oportunidade para todos”. Não é incoerência, porém. Há método — insisto.
Sob a
mobilização de poderosos grupos de pressão ideológicos, a militância dos
hábitos virtuosos encontra fluente caminho para se impor e transtornar quando
consegue infiltrar sua cultura de desinformação, via de regra alarmista, nos
costumes da população. Quase sempre consegue, com luxuosa contribuição de
artistas, jornalistas e outros patriotas do apocalipse. Sobre a produção de
alimentos, a deturpação é especialmente depravada. Amedrontado pela propaganda
mentirosa do onguismo mais lucrativo, o brasileiro médio foi convencido de que
a comida que lhe é oferecida é ruim, talvez mesmo envenenada. Não é isso? Quem
nunca se deparou com a impostura segundo a qual aqui se consumiria,
individualmente, cerca de cinco litros de pesticidas por ano?
Em que
espécie de hortinha mental-moral elitista vive essa gente leviana que propaga a
produção quimérica de alimentos orgânicos em larga escala como salvação de uma
humanidade contaminada? Quando se deu a perversão de valores por meio da qual
hábitos individuais de ricos, não raro exóticos (talvez fanáticos), práticas
matematicamente insustentáveis para o conjunto da sociedade, tornaram-se
ativismo autoritário — para muitos entre os religiosos da pureza razão da própria
existência — vendido em nome da saúde alheia ainda que sem a mais mínima
comprovação científica?
O que se
sabe, seguramente, sobre o alimento orgânico: que não tem vantagem, nutricional
ou de sabor, sobre o produto convencional, e que é muito, muitíssimo, mais
caro, isso como consequência da produtividade fundamentalmente menor, de
crescimento representativo impossível, daí por que, por definição, coisa de
abastados — que semearia a fome caso dele dependesse a subsistência mundial. Ou
seja: o pobre, para comer, para se nutrir, precisa de pesticidas, e isso —
atenção — não lhe faz vítima, mas cidadão plenamente, como só raramente,
beneficiando-se da inclusão, da inclusão prática, objetiva, permitida pela
tecnologia.
Só no
Brasil, aliás, defensores agrícolas, glórias da ciência, são chamados de
agrotóxico, palavra essencialmente enviesada, criada e difundida para distorcer
— para plantar na percepção das pessoas a ideia farsante de que pesticidas são
instrumentos garantidores da expansão produtiva irresponsável decorrente da
ganância da máfia dos grandes produtores rurais. Não é assim? A verdade, no
entanto, é outra: a química aplicada no campo dominou pragas antes consideradas
invencíveis, trouxe estabilidade, previsibilidade, às safras, que batem sucessivos
recordes, e criou as condições para que o cultivo, por exemplo, de arroz e
feijão precisasse hoje de três vezes menos terra que há 40 anos — e tudo isso
para entregar comida barata, farta e de boa qualidade.
Curioso e
triste país é o Brasil, este cuja gente que concebeu o Bolsa Família, e que
zela pela renda do pobre, investe na narrativa que demoniza a agropecuária —
atividade cuja excelência leva comida saudável e em conta à mesa do brasileiro
real, aquele para quem programa de culinária na tevê é obra de ficção tão
distante quanto o reino da Dinamarca, “nação mais orgânica do mundo”, onde a
fatia desses produtos do mercado, contudo, não chega a 8%, e a alimentação das
pessoas não é aparelho para terrorismo ambiental.
Fonte: Leia
mais: https://oglobo.globo.com/opiniao/com-adicao-de-agrotoxicos-por-favor-22703463#ixzz5T16OL2se
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