TEXTO 1 -
Fundamentação
O islamismo é uma religião violenta?
A opinião politicamente incorreta a respeito do
Islã parece estar ganhando impulso. Logo após 11 de setembro, o governo Bush
fez questão de declarar que o Islã é uma religião pacífica, "sequestrada"
por alguns poucos extremistas. Na ocasião, em artigo publicado na New York
Times Magazine, Andrew Sullivan discordou. Admitiu que existem muçulmanos moderados
e que certas passagens do Corão recomendam a misericórdia e a tolerância.
"Mas seria ingenuidade não reconhecer, no Islã, uma profunda tendência à
intolerância com relação aos infiéis, sobretudo quando são tidos como uma
ameaça ao mundo islâmico." Em seguida, citava o preceito do Corão que
manda "matar aqueles que misturam outros deuses ao Deus, onde quer que tu
os encontre". Agora, um artigo publicado no Washington Post reforça a ideia
de que devemos examinar o Corão em busca de indícios para entender o Islã
moderno – e admite que os indícios são incriminadores. "Os estudiosos do
Corão nos asseguram que, no texto, não há nenhuma ordem para os fiéis
empunharem a espada contra os inocentes", escreve Michael Skube. "No
entanto, como o texto deixa claro, a espada tem de ser empunhada – contra
aqueles que negam Alá e seu Mensageiro, contra aqueles que acreditaram mas se
afastaram da fé, contra os inimigos da fé, reais ou imaginários."
TEXTO 2 – Causas da discórdia
TEXTO 3 – Liberdade de expressão
A existência da internet, de jornais de oposição
e das cada vez mais frequentes manifestações de rua mostram que o direito à
liberdade de expressão no Brasil passou a ser mais respeitado hoje se comparado
a décadas atrás, quando da vigência da ditadura civil-militar e sua censura
prévia. No entanto, para que este direito seja realmente efetivado no país há
ainda um longo e sinuoso caminho a ser percorrido.
Seria isso o que diria, se estivesse viva, Fátima
Benites, ex-membro do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bela Vista, no Mato
Grosso do Sul. Por anos, Fátima se empenhou em denunciar e combater atividades
ilegais extrativistas na região, até ser morta por um pistoleiro no dia 21 de
março de 2013.
O mesmo fim trágico teve o pescador Luiz Telles
João Penetra, de Magé, no Rio de Janeiro, e ex-membro da Associação de Homens e
Mulheres do Mar (Ahomar). Notório ativista da pesca artesanal, Luiz se destacou
pelas denúncias que fazia dos impactos ambientais, na Baía da Guanabara,
causados pelo complexo petroquímico existente no local. No dia 23 de junho de
2012, ele e seu colega de associação, Almir Nogueira de Amorim, foram
encontrados mortos com os pés e mãos amarrados, poucos dias depois de terem
participado da Cúpula dos Povos, realizada paralelamente à Rio+20.
TEXTO 4 – Comoção e Reflexão
O choque de fanatismos, não de civilizações. Não estamos perante
um choque de civilizações, até porque a cristã tem as mesmas raízes que a
islâmica. Estamos perante um choque de fanatismos, mesmo que alguns deles não
apareçam como tal por nos serem mais próximos. A história mostra como muitos
dos fanatismos e seus choques estiveram relacionados com interesses económicos
e políticos que, aliás, nunca beneficiaram os que mais sofreram com tais
fanatismos. Na Europa e suas áreas de influência é o caso das cruzadas, da
Inquisição, da evangelização das populações coloniais, das guerras religiosas e
da Irlanda do Norte. Fora da Europa, uma religião tão pacífica como o budismo
legitimou o massacre de muitos milhares de membros da minoria tamil do Sri
Lanka; do mesmo modo, os fundamentalistas hindus massacraram as populações
muçulmanas de Gujarat em 2003 e o eventual maior acesso ao poder que terão
conquistado recentemente com a vitória do Presidente Modi faz prever o pior; é também em nome da religião que Israel
continua a impune limpeza étnica da Palestina e que o chamado califado massacra
populações muçulmanas na Síria e no Iraque.
A liberdade de expressão. É um bem precioso mas tem limites, e a
verdade é que a esmagadora maioria deles
são impostos por aqueles que defendem a liberdade sem limites sempre que é a
"sua" liberdade a sofrê-los. Exemplos de limites são imensos: se em
Inglaterra um manifestante disser que David Cameron tem sangue nas mãos, pode
ser preso; em Franças, as mulheres islâmicas não podem usar o hijab; em 2008 o
cartoonista Maurice Siné foi despedido do Charlie Hebdo por ter escrito uma
crónica alegadamente antissemita. Isto significa que os limites existem, mas
são diferentes para diferentes grupos de interesse. Por exemplo, na América
Latina, os grandes media, controlados por famílias oligárquicas e pelo grande
capital, são os que mais clamam pela liberdade de expressão sem limites para
insultar os governos progressistas e ocultar tudo o que de bom estes governos
têm feito pelo bem-estar dos mais pobres.
TEXTO 5 – Afinal, ser ou não ser Charlie?
Para além do “Je suis Charlie” e do “Je ne suis
pas Charlie”
É preciso superar a ideia de se posicionar simplesmente no
afirmar (Eu sou Charlie) e negar (Eu não sou Charlie), pois o que está em jogo
não são simples percepções ideológicas, mas o futuro da humanidade.
Na história da humanidade é muito comum a prática
de negar ou afirmar um determinado fato de maneira preliminar relegando a um
plano inferior um olhar mais amplo e minucioso sobre a realidade. O ato de
negar ou afirmar está atrelado às forças que as crenças exercem em nossas vidas
como meio de justificar nossa existência e conduta. No entanto, a realidade
social exige interpretações que estão para muito além de nossas crenças porque
exigem um olhar histórico e intercultural. A tragédia do jornal Charlie Hebdo é
um dos acontecimentos em que qualquer interpretação apressada e ligeira, pode
ser temerária. Negar ou afirmar qualquer coisa favorável ou contrária a
qualquer um dos lados pode ser sinal de reducionismo interpretativo. A
complexidade do fato demanda um olhar pluricontextualista (observação das
diversas possibilidades e responsabilidades do fato) a fim de que as
inferências sejam mais consistentes e contextualizadas com a realidade e não
apenas com nossas crenças.
Analisar a tragédia de Charlie Hebdo com
amplitude não implica preliminarmente em afirmar (Eu sou Charlie) ou negar (Eu
não sou Charlie), mas em reconhecer as diferenças e pluralidades de crenças e
condutas culturais. Em primeira instância, os argumentos de que “foi um
atentado terrorista” ou “é mais uma etapa da luta entre ocidente e oriente” ou
ainda “é a continuidade de uma guerra histórica que tem como foco central o
Islã” carregam em si uma verdade que não conforta e muito menos permite
compreender a dimensão estratégica do atentado.
A interpretação da realidade perpassa pelo
conhecimento de causalidade e consequencialidade, mas quando centramos a
análise apenas nas consequências, esquecemos de abordar todo o processo em que
um determinado fato se situa concebendo afirmações rasteiras.
Texto 6 - Reações
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