TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - "O massacre de Suzano foi um ato
terrorista?"
"O
terror tem o poder de nos marcar, independentemente das motivações. O que
importa é o resultado: sempre lembraremos do 11 de setembro, sempre lembraremos
de Brumadinho e sempre nos lembraremos do sequestro da menina Eloá. Eventos
diferentes, mas que marcam. Esse é o poder do terror: marcar a nossa mente com
memórias assustadoras. Nessa mesma toada, é quase que desnecessário – também por
ser muito doloroso – rememorar os acontecimentos aterrorizantes que ocorreram
em Suzano, município da Região Metropolitana de São Paulo, no dia 13 de março.
Um
adolescente e um outro homem, ambos encapuzados, adentraram a Escola Estadual
Professor Raul Brasil e, armados com um revólver, uma besta, um arco, flechas
e, aparentemente, coquetéis molotov, mataram cinco adolescentes (estudantes) e
dois funcionários da escola, matando-se na sequência, vitimando antes um
comerciante da região. Ao total, já são dez mortes contabilizadas no ataque
(entre elas, as dos agentes do crime) e 11 feridos, quase todos estudantes.
Como todo
fato de repercussão nacional e mundial, de pronto foi demandada uma resposta,
tanto social como judicial, para o lastimável evento. Desta maneira, como passo
seguinte, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de
São Paulo anunciou que, ainda naquela quarta-feira, dia 13, um Procedimento
Investigatório Criminal havia sido instaurado para investigar o ocorrido. Segundo
o órgão, o objetivo da investigação seria apurar se alguma organização
criminosa teria colaborado com os eventos no intuito de cometer crimes
relacionados com o chamado “terrorismo doméstico”, como apontariam alguns
indícios preliminares. Em suma, caberá ao Gaeco verificar, de forma imparcial,
se no caso concreto, além do terror, houve um ato de terrorismo – e
considera-se como “terrorismo doméstico”, em brevíssimas linhas, um ato
terrorista em que o cidadão que o comete atenta contra o seu próprio povo ou o
seu próprio governo.
Não há como
negar que é importante conferir uma resposta a acontecimentos como o de Suzano.
Contudo, igualmente importante é que a resposta seja juridicamente certa e
adequada, até mesmo para que não reste frustrado o objetivo do processo que
busca apurar a verdade dos fatos e atribuir a resolução cabível.
Antes de
adentrar em uma análise mais detida do tipo penal do crime de terrorismo, é
indispensável registrar que esta opinião se dá com base nas informações atuais,
não podendo, eventualmente e futuramente, ser lida de maneira anacrônica. O artigo 2.º da Lei 13.260/2016,
conhecida como “Lei Antiterrorismo”, tipifica, no Brasil, o crime de
terrorismo. Da leitura deste artigo conseguimos extrair que, para que uma
conduta seja juridicamente considerada como terrorismo, é necessária a presença
de três elementos, considerados como um tripé; faltando qualquer um dos
“apoios”, pode-se até falar em outro crime, mas não em crime de terrorismo. É
necessário, portanto, que exista: 1. um ato terrorista; 2. uma motivação
terrorista; e 3. uma finalidade terrorista.".
TEXTO 2 –Veja o que se sabe até agora sobre o ataque em
Suzano
Um ataque a
tiros cometido por dois encapuzados na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano,
na Grande São Paulo, deixou alunos e funcionários mortos e feridos, na manhã
desta quarta-feira (13). Veja o que se sabe até agora sobre o massacre:
Quem
são os atiradores?
Os autores do
crime são Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de
25 anos, ex-alunos da escola. Um vídeo registrou a chegada dos dois ao local do
massacre em um carro branco, que havia sido roubado momentos antes.
Luiz Henrique de
Castro e Guilherme eram vizinhos e ex-alunos da Escola Estadual Raul Brasil. O
mais novo havia abandonado a escola no ano passado e, de vez em quando, fazia
alguns trabalhos em lanchonetes no centro de Suzano. Mas passava a maior parte
do tempo com o amigo. Segundo vizinhos, os dois às vezes ficavam o dia inteiro
conversando, sentados na frente de casa. E passavam pelo menos três noites por
semana em uma lan house perto de casa jogando games como Counter Strike e
Mortal Combat, além do Call of Duty. Castro trabalharia de vez em quando com o
pai, capinando o mato.
Um pouco antes
do massacre, Guilherme postou em sua página no Facebook 30 fotos com máscara de
caveira - semelhante à encontrado na escola - e arma. Nas imagens, ele faz
gestos obscenos e mostra a arma. Em uma outra imagem, ele faz um sinal de arma
com os dedos e aponta para a cabeça.
O
que aconteceu?
No começo da
manhã, Guilherme e Luiz Henrique foram à locadora de Jorge Antonio Moraes, de
51 anos. Lá, eles atiraram contra Jorge, que era tio de Guilherme, e deixaram o
local em um carro Chevrolet Onix branco em direção ao colégio.
Como ex-aluno da
escola estadual, Guilherme pediu para entrar no colégio, por volta das 9h40, e
foi autorizado. Era o horário de intervalo das aulas, muitos estudantes
lanchavam e vários estavam fora das classes.
Não se sabe em
que momento Guilherme colocou a máscara para não ser reconhecido, mas a
primeira pessoa atingida foi a coordenadora Marilena Ferreira Vieira Umezo, 59
anos, depois Eliana Regina de Oliveira Xavier, 38 anos, funcionária do colégio.
Os dois atiradores estavam juntos logo na entrada.
Com base nos
primeiros depoimentos, a polícia acredita que os dois atiradores partiram para
o ataque juntos. Quando eles se deparam no Centro de Línguas com a porta
fechada e perceberam que estavam encurralados pelos policiais da força tática
teriam se desesperado. A polícia foi acionada por causa do assalto à locadora
de veículos e chegou à escola em oito minutos. Ao serem surpreendidos pelos
policiais, os dois jovens estavam preparados para entrar em uma sala lotada de
alunos.
A Policia
Militar chegou a conclusão de que um dos atiradores matou o comparsa e depois
se matou. A corporação, no entanto, não detalhou de quem teria atirado contra
quem. Imagens da câmera de segurança mostram que o adolescente estava com a
arma de fogo a todo tempo e é mais provável que ele tenha atacado o amigo e
depois se matado. Os dois foram encontrados mortos após serem cercados por
policiais no interior da escola.
Motivação
O secretário de
Segurança Pública de São Paulo, João Camilo Pires de Campo, e o comandante da
Polícia Militar, coronel Marcelo Salles, disseram que a motivação do crime
ainda não é conhecida. A Polícia Civil busca compreender o crime e já sabe que
houve um plano meticulosamente organizado.
O secretário de
Segurança Pública de São Paulo, João Camilo Pires de Campos, disse que policiais
coletam depoimentos e provas. A polícia investiga que os dois jovens que
abriram fogo faziam parte de um grupo que joga em rede o game Call of Duty, de
guerra, e neste fórum teriam planejado o crime. Os investigadores estão ouvindo
os pais dos rapazes sobre essa questão, mas suspeitam que pode ter ligação com
o massacre.
As
armas
Os autores do
ataque tinham um revólver .38, uma besta, uma machadinha e um arco e flecha. A
polícia ainda não sabe como ou onde as armas foram compradas.
As
vítimas
Por volta das
17h, havia informação sobre a morte de oito vítimas.
Feridos
Onze feridos
pelos atiradores na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, continuam
internados em hospitais. Sete pessoas estão em hospitais estaduais, duas estão
em hospitais municipais de Suzano e outras duas em hospital particular.
Repercussão
O presidente
Jair Bolsonaro postou mensagem na rede social Twitter em que prestou
condolências aos parentes das vítimas do massacre na Escola Estadual Professor
Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo. Na mensagem, o presidente chama a
tragédia de "monstruosidade e covardia sem tamanho".
O
vice-presidente da República, Hamilton Mourão, também lamentou o ocorrido e
apontou os jogos violentos de videogame como influências negativas para os
jovens.
TEXTO
3 – Após Mourão relacionar massacre de Suzano com jogos, gamers se defendem
Adeptos dos videogames reclamam das declarações e tornaram a
hashtag #SomosGamersNãoAssassinos uma das mais comentadas no Twitter nesta
quinta-feira
Após o vice-presidente da República, Hamilton Mourão,
relacionar o massacre na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), com
videogames de conteúdo violento, gamers protestaram na internet e saíram em
defesa dos jogos virtuais.
Ao ser questionado, na quarta-feira (13/03), sobre as 10
mortes na escola da cidade paulista, o vice-presidente afirmou que "os
jovens estão muito viciados em videogames violentos", dando a entender que
videogames poderiam ter estimulado os ataques.
Além de Mourão, investigadores desconfiam que o planejamento
do crime guarda semelhanças com um jogo, pelo menos no modo como o ataque foi
executado. O que corrobora ainda mais para essa suspeita é o fato de que os
dois atiradores eram aficionados por games e um deles ser assíduo frequentador
de lan houses.
A reação dos gamers se deu por meio de postagens na internet
e do uso da hashtag #SomosGamersNãoAssassinos, que na manhã desta quinta-feira
(14/3) se tornou uma das mais comentadas na rede social no Twitter.
Um das frases mais postadas pelos internautas que aderiram ao
protesto dizia: "Por que eu nunca me tornei uma encanador ou rico por
jogar Mário e Banco Imobiliário?"..
TEXTO
4 – Para especialistas, massacre de Suzano revela culto às armas e estado de
barbárie
Especialistas ouvidos pelo GLOBO avaliam que o ataque à
Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano , exige reflexões sobre violência que
vão além de facilitar ou dificultar o acesso a armas de fogo. Com os atiradores
Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos,
foram encontrados itens variados, como um revólver calibre .38 com numeração
raspada, machados, equipamento para preparar coquetéis molotov e uma balestra —
misto de espingarda com arco e flecha.
A origem dos armamentos ainda não foi totalmente esclarecida.
Paulo Storani, antropólogo e ex-capitão do Bope, alerta que a conduta dos
criminosos traz à tona um “estado de barbárie".
— É uma tolice, neste momento, discutir a ferramenta
utilizada antes de investigar a motivação por trás daquilo. Chamou a minha
atenção o segundo rapaz, que entra com o machado e desfere golpes em pessoas
que já estavam mortas. É um nível de selvageria inexplicável — afirmou Storani.
— O problema é muito mais grave do que armar ou não a população. Estamos
falando de um ambiente de falta de respeito à vida do outro.
TEXTO
5 – Suzano: discurso de ódio incentiva violência
Em um primeiro momento é difícil não tentar estabelecer um
paralelo entre a tragédia ocorrida nessa manhã na Escola Estadual Raul Brasil,
em Suzano (SP) com a realidade análoga dos Estados Unidos, um país cujo
histórico de chacinas em estabelecimentos de ensino são datadas desde 1764,
quando ainda era uma colônia inglesa. Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e
Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, invadiram a escola da Região metropolitana
de São Paulo e mataram cinco alunos e duas funcionárias.
No entanto, para Renan Theodoro de Oliveira, mestre em
sociologia e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da
Universidade de São Paulo (USP), “Isso acontece lá há muito tempo. Há pelo
menos 30 anos notícias sobre isso naquele país são divulgadas aqui. A grande
pergunta é porque isso começa a acontecer no Brasil?”.
Oliveira, que no momento de sua conversa com o Extra Classe
estava no NEV monitorando o acontecimento em Suzano, afirma ser impossível
fazer uma análise “sob o arrepio dos acontecimentos”, mas aponta três elementos
para uma importante reflexão: escola, suicídio e aceitação da violência para a
resolução de conflitos.
A instituição escola, na reflexão do pesquisador, tem nos
últimos anos sido constantemente vítima dos mais variados ataques que a torna
um ambiente que pode virar explosivo. “A escola é lugar de convivência. A
Escola não combina com violência”, destaca. Atos como as tentativas de
descrédito de professores, bullyings, com certeza para Oliveira são elementos
fortes no quebra cabeças.
Já a questão suicídio, na análise do integrante do NEV, apesar
de também presente na maioria dos casos americanos, aponta em seu entender a
série de mudanças sociais que o Brasil tem passado nos últimos anos, como falta
de perspectivas para a juventude e desemprego. Para ilustrar, Oliveira destaca
dados oficiais do Ministério da Saúde que registram “uma curva ascendente” de
casos, entre os anos de 2007 para 2018.
Hoje, no Brasil, o suicídio é a quarta causa de morte entre
jovens de 15 a 29 anos e, entre os homens nesta faixa etária, é o terceiro
motivo mais comum. Entre as mulheres, o oitavo.
Encerrando sua reflexão, não menos importante para Oliveira é
que cada vez mais o Brasil passa a ser um ambiente extremamente tolerante para
o uso da violência para a resolução de conflitos. “Passamos para uma certa
aceitação social da violência como forma de resolver os mais variados
problemas”, destaca ao registrar que isto vai da mais prosaica discussão em uma
rede social até casos onde as ditas vias de fato acabam se concretizando. “É a
brutalidade sendo incorporada no tecido social”, assevera.
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