domingo, 21 de abril de 2019

Aula 05/2019 - Ataque em Suzano

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TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR -  "O massacre de Suzano foi um ato terrorista?"
"O terror tem o poder de nos marcar, independentemente das motivações. O que importa é o resultado: sempre lembraremos do 11 de setembro, sempre lembraremos de Brumadinho e sempre nos lembraremos do sequestro da menina Eloá. Eventos diferentes, mas que marcam. Esse é o poder do terror: marcar a nossa mente com memórias assustadoras. Nessa mesma toada, é quase que desnecessário – também por ser muito doloroso – rememorar os acontecimentos aterrorizantes que ocorreram em Suzano, município da Região Metropolitana de São Paulo, no dia 13 de março.
Um adolescente e um outro homem, ambos encapuzados, adentraram a Escola Estadual Professor Raul Brasil e, armados com um revólver, uma besta, um arco, flechas e, aparentemente, coquetéis molotov, mataram cinco adolescentes (estudantes) e dois funcionários da escola, matando-se na sequência, vitimando antes um comerciante da região. Ao total, já são dez mortes contabilizadas no ataque (entre elas, as dos agentes do crime) e 11 feridos, quase todos estudantes.
Como todo fato de repercussão nacional e mundial, de pronto foi demandada uma resposta, tanto social como judicial, para o lastimável evento. Desta maneira, como passo seguinte, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de São Paulo anunciou que, ainda naquela quarta-feira, dia 13, um Procedimento Investigatório Criminal havia sido instaurado para investigar o ocorrido. Segundo o órgão, o objetivo da investigação seria apurar se alguma organização criminosa teria colaborado com os eventos no intuito de cometer crimes relacionados com o chamado “terrorismo doméstico”, como apontariam alguns indícios preliminares. Em suma, caberá ao Gaeco verificar, de forma imparcial, se no caso concreto, além do terror, houve um ato de terrorismo – e considera-se como “terrorismo doméstico”, em brevíssimas linhas, um ato terrorista em que o cidadão que o comete atenta contra o seu próprio povo ou o seu próprio governo.
Não há como negar que é importante conferir uma resposta a acontecimentos como o de Suzano. Contudo, igualmente importante é que a resposta seja juridicamente certa e adequada, até mesmo para que não reste frustrado o objetivo do processo que busca apurar a verdade dos fatos e atribuir a resolução cabível.
Antes de adentrar em uma análise mais detida do tipo penal do crime de terrorismo, é indispensável registrar que esta opinião se dá com base nas informações atuais, não podendo, eventualmente e futuramente, ser lida de maneira anacrônica. O artigo 2.º da Lei 13.260/2016, conhecida como “Lei Antiterrorismo”, tipifica, no Brasil, o crime de terrorismo. Da leitura deste artigo conseguimos extrair que, para que uma conduta seja juridicamente considerada como terrorismo, é necessária a presença de três elementos, considerados como um tripé; faltando qualquer um dos “apoios”, pode-se até falar em outro crime, mas não em crime de terrorismo. É necessário, portanto, que exista: 1. um ato terrorista; 2. uma motivação terrorista; e 3. uma finalidade terrorista.".

TEXTO 2 –Veja o que se sabe até agora sobre o ataque em Suzano
Um ataque a tiros cometido por dois encapuzados na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, deixou alunos e funcionários mortos e feridos, na manhã desta quarta-feira (13). Veja o que se sabe até agora sobre o massacre:
Quem são os atiradores?
Os autores do crime são Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, ex-alunos da escola. Um vídeo registrou a chegada dos dois ao local do massacre em um carro branco, que havia sido roubado momentos antes.
Luiz Henrique de Castro e Guilherme eram vizinhos e ex-alunos da Escola Estadual Raul Brasil. O mais novo havia abandonado a escola no ano passado e, de vez em quando, fazia alguns trabalhos em lanchonetes no centro de Suzano. Mas passava a maior parte do tempo com o amigo. Segundo vizinhos, os dois às vezes ficavam o dia inteiro conversando, sentados na frente de casa. E passavam pelo menos três noites por semana em uma lan house perto de casa jogando games como Counter Strike e Mortal Combat, além do Call of Duty. Castro trabalharia de vez em quando com o pai, capinando o mato.
Um pouco antes do massacre, Guilherme postou em sua página no Facebook 30 fotos com máscara de caveira - semelhante à encontrado na escola - e arma. Nas imagens, ele faz gestos obscenos e mostra a arma. Em uma outra imagem, ele faz um sinal de arma com os dedos e aponta para a cabeça.
O que aconteceu?
No começo da manhã, Guilherme e Luiz Henrique foram à locadora de Jorge Antonio Moraes, de 51 anos. Lá, eles atiraram contra Jorge, que era tio de Guilherme, e deixaram o local em um carro Chevrolet Onix branco em direção ao colégio.
Como ex-aluno da escola estadual, Guilherme pediu para entrar no colégio, por volta das 9h40, e foi autorizado. Era o horário de intervalo das aulas, muitos estudantes lanchavam e vários estavam fora das classes.
Não se sabe em que momento Guilherme colocou a máscara para não ser reconhecido, mas a primeira pessoa atingida foi a coordenadora Marilena Ferreira Vieira Umezo, 59 anos, depois Eliana Regina de Oliveira Xavier, 38 anos, funcionária do colégio. Os dois atiradores estavam juntos logo na entrada.
Com base nos primeiros depoimentos, a polícia acredita que os dois atiradores partiram para o ataque juntos. Quando eles se deparam no Centro de Línguas com a porta fechada e perceberam que estavam encurralados pelos policiais da força tática teriam se desesperado. A polícia foi acionada por causa do assalto à locadora de veículos e chegou à escola em oito minutos. Ao serem surpreendidos pelos policiais, os dois jovens estavam preparados para entrar em uma sala lotada de alunos.
A Policia Militar chegou a conclusão de que um dos atiradores matou o comparsa e depois se matou. A corporação, no entanto, não detalhou de quem teria atirado contra quem. Imagens da câmera de segurança mostram que o adolescente estava com a arma de fogo a todo tempo e é mais provável que ele tenha atacado o amigo e depois se matado. Os dois foram encontrados mortos após serem cercados por policiais no interior da escola.
Motivação
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, João Camilo Pires de Campo, e o comandante da Polícia Militar, coronel Marcelo Salles, disseram que a motivação do crime ainda não é conhecida. A Polícia Civil busca compreender o crime e já sabe que houve um plano meticulosamente organizado.
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, João Camilo Pires de Campos, disse que policiais coletam depoimentos e provas. A polícia investiga que os dois jovens que abriram fogo faziam parte de um grupo que joga em rede o game Call of Duty, de guerra, e neste fórum teriam planejado o crime. Os investigadores estão ouvindo os pais dos rapazes sobre essa questão, mas suspeitam que pode ter ligação com o massacre.
As armas
Os autores do ataque tinham um revólver .38, uma besta, uma machadinha e um arco e flecha. A polícia ainda não sabe como ou onde as armas foram compradas.
As vítimas
Por volta das 17h, havia informação sobre a morte de oito vítimas.
Feridos
Onze feridos pelos atiradores na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, continuam internados em hospitais. Sete pessoas estão em hospitais estaduais, duas estão em hospitais municipais de Suzano e outras duas em hospital particular.
Repercussão
O presidente Jair Bolsonaro postou mensagem na rede social Twitter em que prestou condolências aos parentes das vítimas do massacre na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo. Na mensagem, o presidente chama a tragédia de "monstruosidade e covardia sem tamanho".
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, também lamentou o ocorrido e apontou os jogos violentos de videogame como influências negativas para os jovens.

TEXTO 3 – Após Mourão relacionar massacre de Suzano com jogos, gamers se defendem
Adeptos dos videogames reclamam das declarações e tornaram a hashtag #SomosGamersNãoAssassinos uma das mais comentadas no Twitter nesta quinta-feira
Após o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, relacionar o massacre na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), com videogames de conteúdo violento, gamers protestaram na internet e saíram em defesa dos jogos virtuais.
Ao ser questionado, na quarta-feira (13/03), sobre as 10 mortes na escola da cidade paulista, o vice-presidente afirmou que "os jovens estão muito viciados em videogames violentos", dando a entender que videogames poderiam ter estimulado os ataques.
Além de Mourão, investigadores desconfiam que o planejamento do crime guarda semelhanças com um jogo, pelo menos no modo como o ataque foi executado. O que corrobora ainda mais para essa suspeita é o fato de que os dois atiradores eram aficionados por games e um deles ser assíduo frequentador de lan houses.
A reação dos gamers se deu por meio de postagens na internet e do uso da hashtag #SomosGamersNãoAssassinos, que na manhã desta quinta-feira (14/3) se tornou uma das mais comentadas na rede social no Twitter.
Um das frases mais postadas pelos internautas que aderiram ao protesto dizia: "Por que eu nunca me tornei uma encanador ou rico por jogar Mário e Banco Imobiliário?"..

TEXTO 4 – Para especialistas, massacre de Suzano revela culto às armas e estado de barbárie
Especialistas ouvidos pelo GLOBO avaliam que o ataque à Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano , exige reflexões sobre violência que vão além de facilitar ou dificultar o acesso a armas de fogo. Com os atiradores Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, foram encontrados itens variados, como um revólver calibre .38 com numeração raspada, machados, equipamento para preparar coquetéis molotov e uma balestra — misto de espingarda com arco e flecha.
A origem dos armamentos ainda não foi totalmente esclarecida. Paulo Storani, antropólogo e ex-capitão do Bope, alerta que a conduta dos criminosos traz à tona um “estado de barbárie".
— É uma tolice, neste momento, discutir a ferramenta utilizada antes de investigar a motivação por trás daquilo. Chamou a minha atenção o segundo rapaz, que entra com o machado e desfere golpes em pessoas que já estavam mortas. É um nível de selvageria inexplicável — afirmou Storani. — O problema é muito mais grave do que armar ou não a população. Estamos falando de um ambiente de falta de respeito à vida do outro.

TEXTO 5 – Suzano: discurso de ódio incentiva violência
Em um primeiro momento é difícil não tentar estabelecer um paralelo entre a tragédia ocorrida nessa manhã na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP) com a realidade análoga dos Estados Unidos, um país cujo histórico de chacinas em estabelecimentos de ensino são datadas desde 1764, quando ainda era uma colônia inglesa. Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, invadiram a escola da Região metropolitana de São Paulo e mataram cinco alunos e duas funcionárias.
No entanto, para Renan Theodoro de Oliveira, mestre em sociologia e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo (USP), “Isso acontece lá há muito tempo. Há pelo menos 30 anos notícias sobre isso naquele país são divulgadas aqui. A grande pergunta é porque isso começa a acontecer no Brasil?”.
Oliveira, que no momento de sua conversa com o Extra Classe estava no NEV monitorando o acontecimento em Suzano, afirma ser impossível fazer uma análise “sob o arrepio dos acontecimentos”, mas aponta três elementos para uma importante reflexão: escola, suicídio e aceitação da violência para a resolução de conflitos.
A instituição escola, na reflexão do pesquisador, tem nos últimos anos sido constantemente vítima dos mais variados ataques que a torna um ambiente que pode virar explosivo. “A escola é lugar de convivência. A Escola não combina com violência”, destaca. Atos como as tentativas de descrédito de professores, bullyings, com certeza para Oliveira são elementos fortes no quebra cabeças.
Já a questão suicídio, na análise do integrante do NEV, apesar de também presente na maioria dos casos americanos, aponta em seu entender a série de mudanças sociais que o Brasil tem passado nos últimos anos, como falta de perspectivas para a juventude e desemprego. Para ilustrar, Oliveira destaca dados oficiais do Ministério da Saúde que registram “uma curva ascendente” de casos, entre os anos de 2007 para 2018.
Hoje, no Brasil, o suicídio é a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos e, entre os homens nesta faixa etária, é o terceiro motivo mais comum. Entre as mulheres, o oitavo.
Encerrando sua reflexão, não menos importante para Oliveira é que cada vez mais o Brasil passa a ser um ambiente extremamente tolerante para o uso da violência para a resolução de conflitos. “Passamos para uma certa aceitação social da violência como forma de resolver os mais variados problemas”, destaca ao registrar que isto vai da mais prosaica discussão em uma rede social até casos onde as ditas vias de fato acabam se concretizando. “É a brutalidade sendo incorporada no tecido social”, assevera.

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