domingo, 15 de novembro de 2015

Aula 28/2015 - Mariana, negligência, tragédia e descaso.

Até quando!



Material da aula
TEXTO 1 – Rompimento de barragem
O rompimento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco, cujos donos são a Vale a anglo-australiana BHP, causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, na tarde desta quinta-feira (5).
O Corpo de Bombeiros de Ouro Preto, que tem equipes no local, confirmou uma morte e 15 desaparecidos até o momento. A vítima seria um homem que teve um mal súbito quando houve o rompimento. A identidade dele ainda não foi divulgada.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Extração de Ferro e Metais Básicos de Mariana (Metabase), Valério Vieira dos Santos, afirma que entre 15 e 16 pessoas teriam morrido e 45 estão desaparecidas, mas ainda não há números oficiais de vítimas.
Um dos sobreviventes da tragédia, Andrew Oliveira, que trabalha como sinaleiro na empresa Integral, uma terceirizada da Samarco, disse que, na hora do almoço, houve “um abalo”, mas os empregados continuaram trabalhando normalmente.
"Começou a praticamente ter um terremoto", disse sobre o momento que as barragens se romperam.

TEXTO 2 – 5 perguntas
O que causou o rompimento?
A Samarco disse ter registrado dois pequenos tremores na área duas horas antes do rompimento, por volta das 16h20 de quinta-feira, segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura de Mariana. Não se sabe o que teria causado estes tremores - se seriam abalos sísmicos ou a força do próprio rompimento.
A lama pode ser tóxica?
Sabe-se que as barragens continham água e rejeitos empregados na mineração, que podem conter altos níveis de alumínio, ferro, manganês, entre outros elementos. Técnicos estão fazendo análises para checar se há possibilidade de contaminação.
No entanto, a maioria deste material é considerada de baixo potencial poluidor, segundo artigo da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto.
Há risco de novos rompimentos?
Estradas foram interrompidas e acesso a áreas é realizado apenas por helicópteros
O Corpo de Bombeiros está monitorando uma terceira barragem para verificar o risco de rompimento.
Não é a primeira vez que barragens se rompem em Minas Gerais. Em 2014, um acidente em Itabirito, a cerca de 60 km de Belo Horizonte, deixou três trabalhadores mortos.
Quantas pessoas podem ter sido afetadas?
Distrito de Bento Rodrigues, a cerca de 2km do acidente, foi o mais afetado
O distrito de Bento Rodrigues tem cerca de 600 moradores. Outros vilarejos foram atingidos pela lama, mas seus habitantes foram alertados a tempo e muitos puderam buscar abrigo.
Por que informações de vítimas são conflitantes?
Sobreviventes foram socorridos na quinta-feira à noite, mas teme-se que haja mais feridos e soterrados
A incerteza se deve em parte ao acesso restrito ao distrito de Bento Rodrigues, realizado apenas por helicóptero. Imagens aéreas de TV mostraram casas completamente destruídas e soterradas por lama.

TEXTO 3 – O que sabemos sobre
A semana que se encerra ficou marcada pelo desmoronamento de duas barragens de rejeitos da mineradora Samarco nesta quinta-feira (5) no distrito de Bento Rodrigues, em Minas Gerais. Mesmo com incessantes trabalhos de busca no município de Mariana, ainda não se sabe ao certo quais as causas, o número de mortos e de desaparecidos na tragédia.
O que há de confirmado é uma morte e 500 moradores de áreas afetadas resgatados pelo Corpo de Bombeiros. Abalos sísmicos foram registrados na região, mas não foram confirmados como causa. Outra possibilidade é erro humano, já que a barragem passava por uma obra para aumentar a capacidade de uma das represas no momento do rompimento.
Até o final desta sexta-feira (6), 13 funcionários da Samarco estavam desaparecidos. Os Bombeiros chegaram a declarar que os desaparecidos no incidente poderiam ser dados como mortos.
As barragens tinham as certificações legais e garantias de estabilidade. De acordo com Ricardo Vescovi, presidente da empresa, foram vistoriadas por autoridades ambientais em julho de 2015 e os laudos foram emitidos em setembro.
O desmoronamento liberou 62 milhões de metros cúbicos de água e rejeitos de mineração. Santarém tinha 7 milhões de metros cúbicos, o total da capacidade. Fundão tinha 55 dos 60 milhões de metros cúbicos da capacidade total. Uma terceira está sendo investigada quanto a riscos de novo desmoronamento.

TEXTO 4 – Acidente ou crime?
O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse em entrevista à BBC Brasil que é precipitado no momento fazer avaliações sobre qual a responsabilidade da mineradora Samarco no rompimento de duas de suas barragens na região central de Minas Gerais, acontecimento que provocou uma enxurrada devastadora de lama sobre o município de Mariana.
Questionado a respeito da avaliação do governo sobre o rompimento das barragens ser acidente ou crime ambiental, Braga disse que "agora qualquer informação é prematura com relação ao episódio, a não ser o fato de lamentarmos profundamente o episódio pela magnitude, (pela) forma como aconteceu".
Ainda segundo o Estado de Minas , o Ministério Público analisa quatro hipóteses:
o cumprimento das condicionantes de licenciamento da Samarco;
a explosão de uma mina da Vale próximo ao local;
o possível abalo sísmico; e
se as obras de alteamento (elevação) da barragem causaram o rompimento
Impactos da mineração
A tragédia de Mariana chama atenção para os riscos e impactos da exploração de minério. Há três anos, está em debate no Congresso Nacional o novo Código de Mineração, que deve reciclar as regras do setor.
O projeto de lei foi enviado em junho de 2013 pelo governo federal em regime de urgência, mas a discussão acabou se arrastando até hoje.
Doações de mineradoras
Os movimentos críticos ao setor, porém, dizem que as mineradoras têm maior poder de influência sobre os parlamentares devido às doações que fazem para suas campanhas.
Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase),vários deputados da Comissão Especial que analisa o código receberam doações de mineradoras, entre eles Quintão (PMDM-MG), e o presidente da comissão, Gabriel Guimarães (PT-MG).
Em entrevista à BBC Brasil, Quintão disse que as doações que recebeu são legais e que o código de mineração não afeta uma empresa específica, mas várias. O deputado disse ainda que foi "inocentado" no Supremo Tribunal Federal (STF) e na Câmara – onde o então presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB) arquivou uma representação contra ele em 2014.
Royalties
Como argumento para sustentar que não estaria favorecendo as mineradoras, Quintão afirma que manteve no seu relatório a elevação da cobrança de royalties (um tipo de tributo) sobre a produção mineral proposta pelo governo. No caso do minério de ferro, a alíquota passaria do atual patamar de 2% para 4%.
Os royalties são vistos como uma importante fonte de compensação para reduzir impactos da atividade e permitir que as cidades afetadas invistam no desenvolvimento de outras atividades econômicas, reduzindo a dependência da mineração.

TEXTO 5 – Algumas imagens






TEXTO 6 – Dano irreversível
A avalanche de rejeitos gerada em Minas Gerais pelo rompimento de duas barragens da mineradora Samarco, controlada pela Vale e a australiana BPH, causou danos ambientais imensuráveis e irreversíveis. Apesar da lama não ter um teor tóxico, ela pavimentou os mais de 500 km por onde passou devastando, com impacto ainda difícil de calcular completamente para grande parte do ecossistema da região. “Podemos dizer que 80% do que foi danificado lá é perda, não há como pensar em um plano de recuperação ambiental”, explica Marcus Vinícius Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão. O projeto ambiental, da Universidade Federal de Minas Gerais, monitora a atividade econômica e seus impactos ambientais nas bacias hidrográficas e trabalha com a revitalização dos principais rios mineiros.
Pergunta. Qual a dimensão do estrago ambiental causado pelo rompimento das barragens?
Resposta. É de uma magnitude que eu diria imensurável a princípio. Há várias situações. A extensão do dano é tal que estamos com a lama chegando na foz do Rio Doce, no Estado do Espírito Santo, a mais de 500 km do local do rompimento da barragem. A avalanche de lama rompeu e despejou cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Apesar dessa lama não ter aparentemente uma composição tóxica do ponto de vista químico, a densidade por si é altamente impactante, porque ela foi fazendo um tsunami de rejeitos que por todos os lugares em que passou devastou, matou e impactou. Uma mesma onda produziu três efeitos. Ela devastou, já que arrebentou tudo que viu pela frente, ela impactou porque se consolidou, não foi passageira, se espalhou ao longo de todo esse trajeto. Ela praticamente produziu os três efeitos simultaneamente.
P. E como fica o ecossistema?
R. A onda foi pavimentando o trajeto, porque aquilo é uma massa com certa densidade, não é essa lama de enchente que é mais rala, ela tem densidade e uma liga, dessa forma foi pavimentando onde passou. Ela ocupou tanto o leito do curso d’água como as margens. Dependendo da região, chegou a uma faixa de 50 a 100 metros para além da borda do rio. As comunidades que estavam no caminho perderam todas as suas propriedades, perderam seu meio de vida, porque tinham pequenos agricultores que tiveram as fazendas devastadas, sem contar todo o prejuízo do ecossistema que substituído. Imagina que o ecossistema aquático foi totalmente ocupado por esse material de rejeitos.
P. E qual situação dos rios da região?
R. Essa tsunami toda chegou rapidamente aos rios. A lama saiu de um afluente, que era o Guaxalu , passou para o Rio do Carmo e atingiu o Doce que é o rio principal, que configura a bacia. Então foi descendo rio abaixo, trazendo outros efeitos, matando todos os peixes já que a densidade da lama retirou o oxigênio da água. Há cenas chocantes de peixes pulando para fora da água. Um quadro absolutamente tétrico, horrível, inimaginável. O rio Doce tinha uma biodiversidade bem diversificada, cerca de 80 espécies diferentes. Todos os sistemas se interligam, tem espécie no fundo do rio outro debaixo de pedra, isso foi tudo alterado, são danos imensuráveis, porque o que perdeu em cada metro que a onda passou é absurdo, você perdeu e terá um reflexo na qualidade e quantidade da diversidade aquática que sobreviveu.
P. Há uma previsão de recuperação do rio Doce?
R. No caso do rio Doce, como ele é maior, como tem outros afluentes, isso ajuda na recuperação. Acho que em 10 anos talvez ele consiga ter um padrão melhor, mas mesmo assim, dada a dimensão, ainda é uma estimativa que não vai ter como medir.
P. E as comunidades ribeirinhas qual a extensão do dano?
R. Todas as comunidades também ao longo do curso da água tiveram seu abastecimento comprometidos. Quanto mais próximo do rompimento, maior o comprometimento. Essas comunidades vão ficar sem água potável por um tempo que a gente ainda não dá para calcular. Como a intensidade foi diminuindo ao longo do percurso, existe uma tendência que o rio Doce em alguns pontos melhore essa qualidade de uma forma mais rápida. Talvez no prazo de uma semana a água possa ser tratada e distribuída para a população. Mas, em compensação, esse material foi todo sedimentando ao longo do rio. E essa situação pode piorar no próximo período das chuvas, já que grande parte do material que foi despejado pela lama de resíduos vai ser levado para dentro do rio, contribuindo de uma forma absolutamente incalculável para o assoreamento do rio Doce, de importância nacional que esse ano já teve dificuldade para conseguir chegar até a foz nesse época de seca.
P. Ou seja a chuva criaria uma nova enxurrada de lama?
R. Sim, pois a chuva vai lavar tudo que está pavimentado. Dessa forma, o monitoramento das águas do rio Doce terão que ser muito frequentes para garantir a qualidade da água e a saúde das pessoas que moram no entorno da região.
P. Há alguma possibilidade de retirar essa lama concretada antes do período chuvoso?
R. Sem chance. Imagina tirar 62 milhões de metros cúbicos de resíduos que se espalharam numa distância de mais de 100 km? Não há como retirar esse material, nem para onde levar. Como isso foi feito ao longo do rio, há lugares que você nem tem acesso. A realidade é que tivemos danos ambientais irreparáveis. Quem vê dá televisão não tem dimensão da real situação do que foi essa situação. Esses danos são irreversíveis. Podemos dizer que 80% do que foi danificado lá é perda, não há como pensar em um plano de recuperação ambiental. Não existe. Esse acidente vai ficar para sempre na história de Minas, será sempre uma cicatriz da questão ambiental do Estado e um alerta para que realmente a gente faça uma gestão ambiental comprometida com a vida e com o meio ambiente.




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