terça-feira, 3 de novembro de 2015

Aula 27/2015 - Assédio ou abuso?



A estreia do programa MasterChef Júnior, que reúne crianças de 9 a 13 anos cozinhando "que nem gente grande", foi marcada não pelos pratos feitos pelos participantes. O reality, que sempre tem muita repercussão na internet, dessa vez ganhou imensa repercussão devido aos comentários com teor sexual direcionados a uma das participantes, Valentina, de 12 anos.
Depois de expostos na rede pela jornalista Carol Patrocínio, no artigo "Quando uma menina de 12 anos no MasterChef Júnior desperta o desejo de homens adultos precisamos falar sobre a cultura do estupro", os tweets foram apagados. Mas não podem nem devem ser ignorados.
É proibido por lei ter relações sexuais com crianças. Ponto. Está no código penal, é crime ter relações sexuais ou cometer ato libidinoso com criança ou adolescente menor de 14 anos. Ato libidinoso é todo ato de satisfação do desejo ou apetite sexual de alguém. E, sim, algumas das mensagens publicadas no Twitter podem ser consideradas criminosas.
Motivadas pela discussão a respeito dos comentários sobre Valentina, mulheres começaram a contar no Twitter sobre as primeiras vezes que foram assediadas. E é comum encontrar histórias de mulheres que sofreram seus primeiros assédios aos 7, 8, 9 anos. Mas o fato de ser comum não faz, nem pode fazer isso ser normal.

O fato é que esse tipo de assédio a crianças e adolescentes é muito mais comum do que se imagina, especialmente com meninas. Quase todas as mulheres têm uma história dessas para contar - e é tão comum que esse tipo de relato não surpreende nenhuma mulher.
Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/estilo-de-vida/m-trends/primeiro-assedio-caso-valentina-do-masterchef-junior-abre-discussao-sobre-pedofilia-e-assedio-sexual


TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR
Assédio virtual após programa surpreendeu, diz mãe de chef mirim
Uma menina de 12 anos aparece na televisão. Na internet, alguns homens se manifestam: "Se tiver consenso é pedofilia?"; "A culpa da pedofilia é dessa molecada gostosa"; "Com 14 anos, vai virar aquelas secretárias de filmes pornô". A vítima do assédio foi uma participante do "MasterChef Júnior", um reality show de culinária com crianças de 9 a 13 anos de idade que estreou na terça­feira (20) na Band e foi assunto nas redes sociais durante a semana. À Folha, a mãe da participante, que pediu para não ser identificada, diz que "pessoas mal intencionadas existem muito antes da internet, as redes sociais são apenas mais um canal de propagação desse comportamento."
"Estávamos preparados e preparamos a nossa filha para a exposição e repercussão positiva e negativa. No entanto, fomos surpreendidos por essas abordagens descabidas, mas, como estávamos atentos, conseguimos protegê­la do conteúdo", afirma.
O ataque à criança impeliu Juliana de Faria, idealizadora da campanha Chega de Fiu Fiu, contra o assédio, a criar uma iniciativa para que mulheres relatassem o primeiro assédio que sofreram. Cerca de 22 mil usuários haviam publicado mensagens no Twitter com a hashtag #primeiroassédio até sexta­feira (23), segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados. O Twitter não conseguiu fazer levantamento das informações até a conclusão desta edição.
"Pai de uma amiga, bêbado, passou a mão em mim, sorriu e disse que cresci rápido. Eu tinha dez anos e senti que a culpa era minha."
"No meu aniversário de sete anos. Filho da amiga da minha mãe. Dormi e acordei com ele me tocando."
"Tinha 11 anos. Réveillon na casa de uma tia. Ex­marido dela se deitou comigo, pediu beijo e passou a mão entre minhas pernas."
"Oito anos de idade: homem coloca a mão bruscamente dentro da minha calcinha, enquanto uma parente minha dorme ao seu lado."
"Doze anos: no cinema, cara ao lado começa a se masturbar olhando para mim."

TEXTO 2 – #meuprimeiroassedio
Valentina tem 12 anos e se parece com uma criança de 12 anos. Mas, ainda que parecesse mais velha, esses tipos de comentários seriam permitidos? Para Viviana Santiago, especialista em gênero da Plan International, que combate a violência sexual contra meninas, não. "Cada vez que as pessoas dizem que não sabiam que Valentina era uma criança, ou que ela não se parece com uma criança, elas estão dizendo que, com a mulher, [esse tipo de comentário] pode", diz. "Mais grave que transformar essa menina em uma mulher, é assumir que essa mulher deveria ser estuprada".
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Muitos dos mais de 29.000 relatos, contabilizadas até a publicação desta reportagem, são chocantes. Faz pensar o quanto as mulheres, desde criança, estão expostas a uma violência que para o mundo é silenciosa, mas que deixam marcas duradouras. "Esse episódio mostra para a gente como existe uma cultura de que os corpos das mulheres não importam", diz Viviana Santiago.
Para começar a reverter essa cultura, segundo Viviana, é preciso rever a forma como a educação dentro de casa é dada às crianças. "Precisamos revisitar a maneira como a gente socializa as meninas e os meninos", diz. Isso, segundo ela, vai desde a organização das tarefas domésticas, ao lugar que as meninas são colocadas na família. Isso significa mudar o lugar de poder concedido aos meninos e o de subalterna para as meninas. E é por essa cultura que muitos relatos publicados no Twitter envolvem um primo ou um irmão que, ainda que mais velhos, também eram menores de idade quando praticaram o assédio. "A cultura do estupro começa tão cedo na nossa vida, que a gente acha que nasceu assim."

TEXTO 3 – Elogio ou assédio?
Na infância, quando algum homem passava por mim e me assediava, eu respondia à minha maneira infantil: fazendo uma bela careta para ele. Bem ou mal, funcionava. Baixavam a cabeça e iam embora. Talvez restasse um pouco de orgulho naqueles caras e eles percebessem que estavam assediando uma criança e que aquilo era errado.
Em alguns desses assédios, minha mãe e minha avó me observavam à distância. Era repreendida pelas duas. Segundo elas, era feio fazer caretas e eu deveria agradecer os elogios.
Isso me lembrou de quando eu era ainda menor, devia ter uns 6 anos. Enquanto minha mãe usava um telefone público, eu olhava as mercadorias de um camelô. Ele, então, perguntou se eu sabia que eu era linda. Respondi que sim. Então, ele falou de forma ríspida que eu era convencida. Minha mãe, que observava, disse que eu deveria agradecer o elogio e nunca dizer que sei que sou linda. Ou seja, além de ser condicionada a receber elogios baratos de estranhos, eu também tinha que aprender a ser falsa modesta.
Acontece que aceitar esses elogios de estranhos me incomodava. Até porque os olhos daqueles caras diziam muito mais do que um simples: você é linda! Era amedrontador. Não me parecia um elogio, mas um constrangimento, uma ameaça. Eu nunca sabia se pararia só no elogio ou se eu corria algum risco. Afinal, cresci ouvindo historias de estupros nos bairros em que morei e eles quase sempre começavam com papo furado ou elogios de estranhos para garotas como eu.

TEXTO 4 – Músico debocha de campanha que denúncia assédio contra mulheres.
Campanha em que mulheres denunciam o assédio infantil e relatam primeiros casos de abuso que sofreram na vida mobiliza milhares nas redes sociais. Apesar do apoio recebido, músico Roger Moreira fez piada com o #PrimeiroAssédio.
Apesar da campanha receber muito apoio nas redes sociais, algumas pessoas a ironizaram, como o cantor Roger Rocha Moreira, vocalista da banda “Ultraje a Rigor”. Utilizando a hashtag em tom de deboche, ele contou sobre um caso de “abuso” que ocorreu entre ele e a empregada doméstica quando ele tinha 10 anos de idade.
“#PrimeiroAssédio Acho que tinha uns 10 anos. Uma empregada me deixou pegar nos peitos dela. Foi bom pra cac***”, escreveu o artista no Twitter.
Depois da publicação, o artista foi criticado por milhares de internautas.
“Você realmente acha que uma tag séria como a #PrimeiroAssédio pode virar uma piada? Assédio infantil é engraçado para você?”, questionou o jornalista Fernando Mola, de 25 anos.
“Oras, não se esperava um comentário mais inteligente de você. Sua mensagem faz jus à sua insolência ignorante”, escreveu um outro usuário.

TEXTO 5 – Pai defende babá
Pai defende babá após sexo com o seu filho de 11 anos: ‘Ele é tarado e preparado’
Segundo o advogado de defesa, o menino tinha dito ter 15 anos
Uma babá presa por fazer sexo com um menino de 11 anos, na Inglaterra, foi defendida pelo pai do garoto. O caso aconteceu na cidade de Swindon. Segundo a imprensa britânica, o pai do menino contou que o filho é “tarado e está preparado para a experiência”.
Jade Hatt, 21 anos, que fez sexo com o menino durante 45 segundos, foi condenada a seis meses de prisão.  “Ele é tarado, vê a experiência como pontos marcados e não foi afetado por ela de forma alguma”, contou o pai em nota oficial, segundo o “Metro”.
Segundo o advogado de defesa, o menino tinha dito ter 15 anos. A pena foi suspensa por dois anos. Ela ficará sob observação da Justiça. Jade teve o nome incluído na lista de criminosos sexuais.

TEXTO 6 – Algumas imagens




TEXTO 7 – O documentário Chega de Fiu-Fiu
O que mais me intrigava quando comecei a pensar sobre o tema era: quanto de direito as mulheres realmente têm no acesso ao espaço público? Qual é o espaço das mulheres na cidade?
Com isso na cabeça, decidi que gostaria de mostrar como o assédio acontece e quem o pratica, e comecei a pensar num modo de contar essa história. A linguagem audiovisual foi a escolhida – inspirada pelo documentário belga "Femme de la rue" e por ser um jeito de aprofundar o debate, mostrar a complexidade do tema e sensibilizar mais pessoas.
No início de 2014, eu e outras mulheres decidimos fazer o documentário Chega de Fiu Fiu, e passamos a explorar nosso corpo como ferramenta para esse registro. Para entender como o assédio acontece, decidimos percorrer pontos com denúncias no Mapa Chega de Fiu Fiu, uma ferramenta colaborativa criada pela Olga em que as mulheres compartilham suas histórias.
Começamos usando uma câmera GoPro e um gravador, mas as imagens não ficavam na altura correta. Foi aí que a Fernanda Frazão, fotógrafa e também diretora do filme, percebeu que precisávamos de outra metodologia: ela trouxe um óculos com microcâmera escondida para o projeto. A experiência se tornou muito mais natural e espontânea.
Os óculos nos permitiram ser protagonistas da situação e obter uma imagem muito subjetiva, em que o agressor olha no olho do espectador.  Nós utilizamos o aparelho em situações do dia a dia, a caminho do trabalho ou da padaria, por exemplo. Quando ouvimos um assédio, não passamos reto nem fingimos que não ouvimos: paramos para conversar com o agressor. Perguntamos por que mexeu com a gente, se ele sabe o que é assédio e o quanto aquela situação é constrangedora para nós mulheres.
Depois das conversas, o uso do óculos espião foi revelado. Talvez por não verem nada de errado na conduta ou fazerem pouco das denúncias, todos os entrevistados consentiram o uso das imagens. (https://www.youtube.com/watch?v=W6WL75vRwOg)
Ao longo do ano o filme foi crescendo, e mais mulheres pediram para participar da experiência com os óculos. Mesmo para nós, que filmamos as situações que aparecem no teaser, foi impressionante assistir às imagens gravadas e constatar o impacto das cenas. Agora, decidimos lançar nosso projeto no Catarse para ampliar a rede de pessoas interessadas e também trazer o fôlego que precisamos para ampliar o documentário, mostrar como o assédio acontece nos vários Estados brasileiros, fazer uma edição profissional e divulgar o filme.

TEXTO 8 – Gerald Thomas  X  Nicole Bahls - A cultura do estupro gritando – e ninguém ouve
O diretor de teatro Gerald Thomas publicou há pouco em seu site pessoal, suas considerações sobre episódio de ontem, quando, durante o lançamento de seu livro Arranhando a Superfície, na Livraria Travessa, no Rio de Janeiro, . Ele também apalpou o órgão sexual do personagem “Tucano Huck" e mostrou sua própria genitália aos fotógrafos. Confira a íntegra abaixo:
O programa se chama “PANICO” ! E eles vem com tudo! Mas são gente finíssima. Depois das brincadeiras, cameras e luzes apagadas, nós nos damos as mãos (tanto em SP quanto aqui no Rio) e rimos de tudo, nos damos abraços e falamos “valeu, foi ótimo!”.
Um dia depois, a imprensa ESCROTA (mas é o trabalho dela), explora somente o lado sensasionalista da coisa: “GERALD THOMAS ESTUPRA NICOLE BAHLS!!”
Vem uma menina, de (praticamente) bunda de fora, salto alto de “fuck me”, seios a mostra, dentro de um contexto chamado PANICO e eu (que não deixo me intimidar e gosto desse pessoal) entro no jogo e viro as cartas – e os intimido ! (que nada! Brincadeira também!) (TUDO BRINCADEIRA, GENTALIA HIPOCRITA que abriu uma facebook Page e debate e me massacra e passa dias editorializando e “moralizando”uma questão tão simples e tão absolutamente inútil:
Eu, Gerald Thomas, faço a olho nu, na frente dos fotógrafos, das câmeras, das luzes, o que esse bando de carecas e pseudo moralistas gostaria de estar fazendo atrás de portas fechadas, com as luzes apagadas!
Somos todos da classe teatral e nossa função é apontar as VOSSAS falhas. E se VOCES se revoltam TANTO, então, já fico contente porque os alertei pra alguma coisa. O que? SIM:
1-        a mulher não é um objeto. Mas não deveria se apresentar como tal
2-        E os homens jamais deveriam se utilizar desse objeto de forma alguma

Não deixe de assistir:

Chega de Fiu Fiu! Cantada não é elogio | Juliana de Faria | TEDxSaoPaulo à https://www.youtube.com/watch?v=BpRyQ_yFjy8



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