A estreia do programa MasterChef Júnior, que reúne crianças
de 9 a 13 anos cozinhando "que nem gente grande", foi marcada não
pelos pratos feitos pelos participantes. O reality, que sempre tem muita
repercussão na internet, dessa vez ganhou imensa repercussão devido aos
comentários com teor sexual direcionados a uma das participantes, Valentina, de
12 anos.
Depois de expostos na rede pela jornalista Carol Patrocínio,
no artigo "Quando uma menina de 12 anos no MasterChef Júnior desperta o
desejo de homens adultos precisamos falar sobre a cultura do estupro", os
tweets foram apagados. Mas não podem nem devem ser ignorados.
É proibido por lei ter relações sexuais com crianças. Ponto.
Está no código penal, é crime ter relações sexuais ou cometer ato libidinoso
com criança ou adolescente menor de 14 anos. Ato libidinoso é todo ato de
satisfação do desejo ou apetite sexual de alguém. E, sim, algumas das mensagens
publicadas no Twitter podem ser consideradas criminosas.
Motivadas pela discussão a respeito dos comentários sobre
Valentina, mulheres começaram a contar no Twitter sobre as primeiras vezes que
foram assediadas. E é comum encontrar histórias de mulheres que sofreram seus
primeiros assédios aos 7, 8, 9 anos. Mas o fato de ser comum não faz, nem pode
fazer isso ser normal.
O fato é que esse tipo de assédio a crianças e adolescentes
é muito mais comum do que se imagina, especialmente com meninas. Quase todas as
mulheres têm uma história dessas para contar - e é tão comum que esse tipo de
relato não surpreende nenhuma mulher.
Fonte: http://mdemulher.abril.com.br/estilo-de-vida/m-trends/primeiro-assedio-caso-valentina-do-masterchef-junior-abre-discussao-sobre-pedofilia-e-assedio-sexual
TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR
Assédio virtual após programa surpreendeu, diz mãe de chef
mirim
Uma menina de 12 anos aparece na televisão. Na internet,
alguns homens se manifestam: "Se tiver consenso é pedofilia?";
"A culpa da pedofilia é dessa molecada gostosa"; "Com 14 anos,
vai virar aquelas secretárias de filmes pornô". A vítima do assédio foi
uma participante do "MasterChef Júnior", um reality show de culinária
com crianças de 9 a 13 anos de idade que estreou na terçafeira (20) na Band e foi
assunto nas redes sociais durante a semana. À Folha, a mãe da participante, que
pediu para não ser identificada, diz que "pessoas mal intencionadas
existem muito antes da internet, as redes sociais são apenas mais um canal de
propagação desse comportamento."
"Estávamos preparados e preparamos a nossa filha para a
exposição e repercussão positiva e negativa. No entanto, fomos surpreendidos
por essas abordagens descabidas, mas, como estávamos atentos, conseguimos
protegêla do conteúdo", afirma.
O ataque à criança impeliu Juliana de Faria, idealizadora da
campanha Chega de Fiu Fiu, contra o assédio, a criar uma iniciativa para que
mulheres relatassem o primeiro assédio que sofreram. Cerca de 22 mil usuários
haviam publicado mensagens no Twitter com a hashtag #primeiroassédio até
sextafeira (23), segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de
Dados. O Twitter não conseguiu fazer levantamento das informações até a
conclusão desta edição.
"Pai de uma amiga, bêbado, passou a mão em mim, sorriu e
disse que cresci rápido. Eu tinha dez anos e senti que a culpa era minha."
"No meu aniversário de sete anos. Filho da amiga da
minha mãe. Dormi e acordei com ele me tocando."
"Tinha 11 anos. Réveillon na casa de uma tia. Exmarido
dela se deitou comigo, pediu beijo e passou a mão entre minhas pernas."
"Oito anos de idade: homem coloca a mão bruscamente
dentro da minha calcinha, enquanto uma parente minha dorme ao seu lado."
"Doze anos: no cinema, cara ao lado começa a se
masturbar olhando para mim."
TEXTO 2 – #meuprimeiroassedio
Valentina tem 12 anos e se parece com uma criança de 12 anos.
Mas, ainda que parecesse mais velha, esses tipos de comentários seriam
permitidos? Para Viviana Santiago, especialista em gênero da Plan International,
que combate a violência sexual contra meninas, não. "Cada vez que as
pessoas dizem que não sabiam que Valentina era uma criança, ou que ela não se
parece com uma criança, elas estão dizendo que, com a mulher, [esse tipo de
comentário] pode", diz. "Mais grave que transformar essa menina em
uma mulher, é assumir que essa mulher deveria ser estuprada".
..................
Muitos dos mais de 29.000 relatos, contabilizadas até a
publicação desta reportagem, são chocantes. Faz pensar o quanto as mulheres,
desde criança, estão expostas a uma violência que para o mundo é silenciosa,
mas que deixam marcas duradouras. "Esse episódio mostra para a gente como
existe uma cultura de que os corpos das mulheres não importam", diz
Viviana Santiago.
Para começar a reverter essa cultura, segundo Viviana, é
preciso rever a forma como a educação dentro de casa é dada às crianças.
"Precisamos revisitar a maneira como a gente socializa as meninas e os
meninos", diz. Isso, segundo ela, vai desde a organização das tarefas
domésticas, ao lugar que as meninas são colocadas na família. Isso significa
mudar o lugar de poder concedido aos meninos e o de subalterna para as meninas.
E é por essa cultura que muitos relatos publicados no Twitter envolvem um primo
ou um irmão que, ainda que mais velhos, também eram menores de idade quando
praticaram o assédio. "A cultura do estupro começa tão cedo na nossa vida,
que a gente acha que nasceu assim."
TEXTO 3 – Elogio
ou assédio?
Na infância, quando algum homem passava
por mim e me assediava, eu respondia à minha maneira infantil: fazendo uma bela
careta para ele. Bem ou mal, funcionava. Baixavam a cabeça e iam embora. Talvez
restasse um pouco de orgulho naqueles caras e eles percebessem que estavam
assediando uma criança e que aquilo era errado.
Em alguns desses assédios, minha mãe e
minha avó me observavam à distância. Era repreendida pelas duas. Segundo elas,
era feio fazer caretas e eu deveria agradecer os elogios.
Isso me lembrou de quando eu era ainda
menor, devia ter uns 6 anos. Enquanto minha mãe usava um telefone público, eu
olhava as mercadorias de um camelô. Ele, então, perguntou se eu sabia que eu
era linda. Respondi que sim. Então, ele falou de forma ríspida que eu era
convencida. Minha mãe, que observava, disse que eu deveria agradecer o elogio e
nunca dizer que sei que sou linda. Ou seja, além de ser condicionada a receber
elogios baratos de estranhos, eu também tinha que aprender a ser falsa modesta.
Acontece que aceitar esses elogios de
estranhos me incomodava. Até porque os olhos daqueles caras diziam muito mais
do que um simples: você é linda! Era amedrontador. Não me parecia um elogio,
mas um constrangimento, uma ameaça. Eu nunca sabia se pararia só no elogio ou
se eu corria algum risco. Afinal, cresci ouvindo historias de estupros nos
bairros em que morei e eles quase sempre começavam com papo furado ou elogios
de estranhos para garotas como eu.
TEXTO 4 – Músico debocha de
campanha que denúncia assédio contra mulheres.
Campanha em que mulheres denunciam o assédio infantil e
relatam primeiros casos de abuso que sofreram na vida mobiliza milhares nas
redes sociais. Apesar do apoio recebido, músico Roger Moreira fez piada com o
#PrimeiroAssédio.
Apesar da campanha receber muito apoio nas redes sociais,
algumas pessoas a ironizaram, como o cantor Roger Rocha Moreira, vocalista da banda
“Ultraje a Rigor”. Utilizando a hashtag em tom de deboche, ele contou sobre um
caso de “abuso” que ocorreu entre ele e a empregada doméstica quando ele tinha
10 anos de idade.
“#PrimeiroAssédio Acho que tinha uns 10 anos. Uma empregada
me deixou pegar nos peitos dela. Foi bom pra cac***”, escreveu o artista no
Twitter.
Depois da publicação, o artista foi criticado por milhares de
internautas.
“Você realmente acha que uma tag séria como a
#PrimeiroAssédio pode virar uma piada? Assédio infantil é engraçado para
você?”, questionou o jornalista Fernando Mola, de 25 anos.
“Oras, não se esperava um comentário mais inteligente de
você. Sua mensagem faz jus à sua insolência ignorante”, escreveu um outro
usuário.
TEXTO 5 – Pai defende babá
Pai defende
babá após sexo com o seu filho de 11 anos: ‘Ele é tarado e preparado’
Segundo o
advogado de defesa, o menino tinha dito ter 15 anos
Uma babá
presa por fazer sexo com um menino de 11 anos, na Inglaterra, foi defendida
pelo pai do garoto. O caso aconteceu na cidade de Swindon. Segundo a imprensa
britânica, o pai do menino contou que o filho é “tarado e está preparado para a
experiência”.
Jade Hatt, 21
anos, que fez sexo com o menino durante 45 segundos, foi condenada a seis meses
de prisão. “Ele é tarado, vê a
experiência como pontos marcados e não foi afetado por ela de forma alguma”,
contou o pai em nota oficial, segundo o “Metro”.
Segundo o
advogado de defesa, o menino tinha dito ter 15 anos. A pena foi suspensa por
dois anos. Ela ficará sob observação da Justiça. Jade teve o nome incluído na
lista de criminosos sexuais.
TEXTO 6 – Algumas imagens
TEXTO 7 – O documentário
Chega de Fiu-Fiu
O que mais me
intrigava quando comecei a pensar sobre o tema era: quanto de direito as
mulheres realmente têm no acesso ao espaço público? Qual é o espaço das
mulheres na cidade?
Com isso na
cabeça, decidi que gostaria de mostrar como o assédio acontece e quem o
pratica, e comecei a pensar num modo de contar essa história. A linguagem
audiovisual foi a escolhida – inspirada pelo documentário belga "Femme de
la rue" e por ser um jeito de aprofundar o debate, mostrar a complexidade
do tema e sensibilizar mais pessoas.
No início de
2014, eu e outras mulheres decidimos fazer o documentário Chega de Fiu Fiu, e
passamos a explorar nosso corpo como ferramenta para esse registro. Para entender
como o assédio acontece, decidimos percorrer pontos com denúncias no Mapa Chega
de Fiu Fiu, uma ferramenta colaborativa criada pela Olga em que as mulheres
compartilham suas histórias.
Começamos
usando uma câmera GoPro e um gravador, mas as imagens não ficavam na altura
correta. Foi aí que a Fernanda Frazão, fotógrafa e também diretora do filme,
percebeu que precisávamos de outra metodologia: ela trouxe um óculos com
microcâmera escondida para o projeto. A experiência se tornou muito mais
natural e espontânea.
Os óculos nos
permitiram ser protagonistas da situação e obter uma imagem muito subjetiva, em
que o agressor olha no olho do espectador.
Nós utilizamos o aparelho em situações do dia a dia, a caminho do
trabalho ou da padaria, por exemplo. Quando ouvimos um assédio, não passamos
reto nem fingimos que não ouvimos: paramos para conversar com o agressor.
Perguntamos por que mexeu com a gente, se ele sabe o que é assédio e o quanto aquela
situação é constrangedora para nós mulheres.
Depois das
conversas, o uso do óculos espião foi revelado. Talvez por não verem nada de
errado na conduta ou fazerem pouco das denúncias, todos os entrevistados
consentiram o uso das imagens. (https://www.youtube.com/watch?v=W6WL75vRwOg)
Ao longo do
ano o filme foi crescendo, e mais mulheres pediram para participar da
experiência com os óculos. Mesmo para nós, que filmamos as situações que
aparecem no teaser, foi impressionante assistir às imagens gravadas e constatar
o impacto das cenas. Agora, decidimos lançar nosso projeto no Catarse para
ampliar a rede de pessoas interessadas e também trazer o fôlego que precisamos
para ampliar o documentário, mostrar como o assédio acontece nos vários Estados
brasileiros, fazer uma edição profissional e divulgar o filme.
TEXTO 8 – Gerald Thomas X Nicole
Bahls - A cultura do estupro gritando – e ninguém ouve
O diretor de
teatro Gerald Thomas publicou há pouco em seu site pessoal, suas considerações
sobre episódio de ontem, quando, durante o lançamento de seu livro Arranhando a
Superfície, na Livraria Travessa, no Rio de Janeiro, . Ele também apalpou o
órgão sexual do personagem “Tucano Huck" e mostrou sua própria genitália
aos fotógrafos. Confira a íntegra abaixo:
O programa se
chama “PANICO” ! E eles vem com tudo! Mas são gente finíssima. Depois das
brincadeiras, cameras e luzes apagadas, nós nos damos as mãos (tanto em SP
quanto aqui no Rio) e rimos de tudo, nos damos abraços e falamos “valeu, foi
ótimo!”.
Um dia
depois, a imprensa ESCROTA (mas é o trabalho dela), explora somente o lado
sensasionalista da coisa: “GERALD THOMAS ESTUPRA NICOLE BAHLS!!”
Vem uma
menina, de (praticamente) bunda de fora, salto alto de “fuck me”, seios a
mostra, dentro de um contexto chamado PANICO e eu (que não deixo me intimidar e
gosto desse pessoal) entro no jogo e viro as cartas – e os intimido ! (que
nada! Brincadeira também!) (TUDO BRINCADEIRA, GENTALIA HIPOCRITA que abriu uma
facebook Page e debate e me massacra e passa dias editorializando e
“moralizando”uma questão tão simples e tão absolutamente inútil:
Eu, Gerald
Thomas, faço a olho nu, na frente dos fotógrafos, das câmeras, das luzes, o que
esse bando de carecas e pseudo moralistas gostaria de estar fazendo atrás de
portas fechadas, com as luzes apagadas!
Somos todos
da classe teatral e nossa função é apontar as VOSSAS falhas. E se VOCES se
revoltam TANTO, então, já fico contente porque os alertei pra alguma coisa. O
que? SIM:
1- a mulher não é um objeto. Mas não
deveria se apresentar como tal
2- E os homens jamais deveriam se utilizar
desse objeto de forma alguma
Não deixe de
assistir:
Chega de Fiu
Fiu! Cantada não é elogio | Juliana de Faria | TEDxSaoPaulo à https://www.youtube.com/watch?v=BpRyQ_yFjy8
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