domingo, 14 de fevereiro de 2016

Aula 01/2016 - Zika, acaso ou descaso?



Vírus conhecido pela medicina desde o fim dos anos 40, o Zika passou a ser assunto nos lares brasileiros depois que foi confirmado que filhos de gestantes infectadas podem nascer com microcefalia, uma malformação irreversível. Segundo a infectologista da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Eliana Bicudo, já foi relatado na literatura médica que o Zika pode ser transmitido pelo leite materno e pelo esperma.
A transmissão mais conhecida deste vírus, que começou a circular fortemente no Brasil este ano, é pelo mosquito Aedes aegypti, também transmissor da dengue e da febre chikungunya. Até o começo de novembro, 18 estados tinham registrado transmissão interna de Zika, onde mais de 17 mil casos foram notificados.
Além de causar microcefalia, já está registrado na literatura médica que o Zika também pode desencadear a síndrome de Síndrome de Guillain-Barré, que é uma reação autoimune do organismo, geralmente relacionada a infecção por alguns vírus ou bactéria.

Segundo o Ministério da Saúde, os sintomas febre, olhos vermelhos, manchas vermelhas com coceira, dores no corpo acometem apenas cerca 20% dos infectados, os outros não percebem que foram contaminados com o vírus. “Aí é que está o perigo, você pode estar com uma doença silenciosa,que trás um risco alto para grávidas e pode transmití-la”, pontuou a especialista.

Esse tema é bem amplo e questões podem ser feitas em diferentes disciplinas, desde epidemias históricas, aspectos geográficos propícios e globalização até na Química e principalmente Biologia.
O objetivo dessa primeira aula de 2016 é analisar não só a doença, mas as relações com as ações do governo e atitudes da população, bem como desmistificar algumas lendas que circulam as redes sociais.

Material da aula
TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR
Órgãos de saúde internacionais vêm emitindo alertas a pessoas viajando para o Brasil por causa da prevalência de doenças como a dengue e, desde o final do ano passado, o vírus zika.
Mas, na opinião de cientistas ouvidos pela BBC Brasil, o surto dessa nova doença revela uma mudança de realidade sanitária: por uma combinação de fatores que causou sua ascensão no cenário internacional na última década, o país está muito mais exposto à chegada de enfermidades do que no passado.
O argumento é que zika é um perfeito exemplo do aumento na vulnerabilidade brasileira para mazelas "desconhecidas".
Apesar de não ser o único país do mundo atingido pelo vírus que durante anos esteve "dormente" na África, o Brasil apresentou, segundo especialistas, um cenário mais favorável para seu alastramento e que vai além de uma prelavência forte do mosquito Aedes aegypti em território nacional.
Nos últimos anos, o crescimento econômico do Brasil foi acompanhado por um aumento na chegada de turistas e imigrantes. O país ficou bem mais inserido no mundo globalizado, cujo ápice se deu com a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Mas, com isso, também entrou no caminho de mais doenças.
...
"Qualquer doença tem potencial de chegar a qualquer país no mundo em que vivemos hoje. A ciência precisa desenvolver melhores métodos de vigilância, mas isso fica ainda mais complicado diante de um vírus como o zika, que é majoritariamente assintomático", acrescenta o especialista.
Cientistas citam pelo menos três vírus que, em teoria, poderiam chegar ao Brasil, todos eles transmitidos por mosquitos: o O'nyong'nyong, a febre do Nilo Ocidental, e a febre do Vale de Rift (RVF).
Este último, que também tem como vetor mosquitos da família Aedes, parece hoje em dia confinado ao continente africano ─ onde, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, o CDC, matou mais de 600 pessoas em um surto no Egito, em 1977.

TEXTO 2 – O QUE É FALSO E O QUE É VERDADEIRO NOS BOATOS SOBRE ZIKA
Nas últimas semanas, mensagens escritas e em áudio nas redes sociais – especialmente no WhatsApp – têm criado alarme na população ao narrar cenários catastróficos sobre o surto de zika vírus e sua relação com a epidemia de microcefalia no país.
Até o dia 30 de janeiro, foram notificados, segundo o Ministério da Saúde, 4.783 casos suspeitos de microcefalia, má-formação que prejudica o desenvolvimento do cérebro do bebê.
Destes, 404 casos de microcefalia foram confirmados - 17 têm ligação confirmada com o zika vírus, os outros estão sendo investigados. Outros 709 foram descartados e 3.670 continuam sob investigação.
O Ministério da Saúde, a Fiocruz e especialistas consultados pela BBC Brasil explicam o que é falso, o que é verdadeiro e o que ainda não está totalmente confirmado entre as afirmações dessas mensagens.
Há aumento expressivo de casos de síndromes neurológicas associadas à zika                                           à Não há confirmação
Crianças de 1 a 7 anos e idosos estão apresentando 'sequelas neurológicas graves' após zika à Falso
Zika pode ser transmitida por fluidos corporais (sêmen, saliva, urina, leite materno, etc.)                             à Em estudo
A melhor proteção contra a zika é combater o mosquito Aedes aegypti                                                            à Verdade

TEXTO 3 – AEDES AEGYPTI: POR QUE É TÃO DIFÍCIL VENCER O MOSQUITO?
Mesmo após décadas de combate, o mosquito permanece disseminado pelo território nacional
Mutirões de limpeza, ações de conscientização, reforço nas visitas domiciliares. Com o surgimento das epidemias de zika e de chikungunya, para além da já conhecida dengue, gestores de Saúde em todo o país declararam guerra contra o Aedes aegypti, contando, inclusive, com o apoio das Forças Armadas.
Mesmo após décadas de combate, o mosquito permanece disseminado pelo território nacional. E por que é tão difícil acabar com ele? Há muitas interrogações sobre o que deu errado nesse processo, bem como em relação aos desafios impostos para o controle de doenças.
àRefazendo o percurso da chegada do mosquito ao Brasil, o hematologista e pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, Ademir Martins, ressalta que no início do século XX o Aedes já era um problema por transmitir a febre amarela urbana. Por esse motivo, ele foi erradicado em 1955, mas foi reintroduzido no país no final da década de 1960.
àO pesquisador também critica o fato de as campanhas de combate ao mosquito terem se baseado, por muito tempo, no uso de inseticidas. “Nós utilizamos uma quantidade tão grande de maneira errada que hoje pelo Brasil afora dificilmente encontramos uma população de Aedes que seja suscetível aos inseticidas. Quando chega o momento de uma epidemia, eles não funcionam”.
àO crescimento desorganizado dos centros urbanos e a consequente falta de infraestrutura tornaram o combate ao vetor mais complexo, se comparado ao cenário de décadas anteriores. Conforme explica a infectologista do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), Gerusa Figueiredo, a situação se complica em razão da facilidade de adaptação do mosquito, que já se reproduz em águas com certo nível de impureza.
à“As pessoas têm dificuldade de entender a importância de participar do processo. É um inseto muito bem adaptado ao ambiente doméstico, convivendo com os humanos dentro de casa. Aí não é visto como inimigo, principalmente porque pica de dia e incomoda muito pouco. Cada um precisa fazer a sua parte, verificando sua casa”.
àPor outro lado, o professor enfatiza que as campanhas contra o mosquito não devem priorizar apenas o verão. “A campanha deve ser desencadeada no outono e no inverno, a fim de eliminar os ovos do mosquito que irão eclodir no verão. O inimigo estaria mais frágil para ser vencido”, indica.
àÉ preciso investir em vacinas, diz pesquisador
àA liberação de mosquitos contaminados pela bactéria Wolbachia, que impede que o inseto transmita os vírus. O estudo da Fiocruz é testado no Rio de Janeiro.


TEXTO 4 – ALGUMAS IMAGENS.
     



TEXTO 5 – MICROCEFALIA




Adriana Melo é médica de gestações de alto risco na maternidade pública de Campina Grande, que atende todos os municípios do sertão da Paraíba. Não é pouca coisa, mas ela se destacou por outro motivo: ela foi a primeira a apresentar provas da relação entre o vírus da zika e os crescentes casos de microcefalia na região, em novembro de 2015.
Adriana levou um dia para achar uma solução para o enigma que intrigava as autoridades de saúde do Nordeste desde agosto, mas demorou quase dois meses para que conseguisse colocar em prática sua ideia. Neste período, conta, conviveu com reprovações de companheiros de jaleco, foi tachada de arrogante e alarmista. Intrigada, ela ligou para a primeira paciente e confirmou que a grávida teve as manchas vermelhas na oitava semana de gestação e a suspeita era de zika.
Adriana então passou a madrugada pesquisando em site de artigos médicos, mas encontrou só dez estudos sobre o vírus. O sono perdido foi suficiente para descobrir que o zika estava vinculado à síndrome de Guillain-Barré.
Eu disse: esse vírus gosta de nervos
A coisa foi se encaixando, e ela buscou a Secretaria Estadual de Saúde. A Vigilância Epidemiológica retornou sua ligação e, segundo ela, nem deixou que se explicasse. Ela disse que ouviu um sermão e um retumbante não.
O assunto virou uma obsessão para Adriana, e até sua família pediu que mudasse de assunto. Mas ela mudou os destinatários do seu discurso. Fez uma reunião com outros profissionais de saúde que atendem grávidas em Campina Grande e comunicou a suspeita a um amigo médico, que indicou uma conhecida na Fiocruz do Rio de Janeiro.
Adriana ligou e pediram para que escrevesse um e-mail. Foi graças a ele que recebeu um telefonema em 5 de novembro, dia do seu aniversário. Por duas horas, no meio da festa em comemoração aos seus 45 anos, elas conversaram sobre como mandar o líquido amniótico das pacientes para a Fiocruz, enquanto os convidados ficavam sem a anfitriã. As amostras foram retiradas na clínica particular da médica e enviadas ao Rio - tudo custeado por ela.




Como a microcefalia pode cair no vestibular


Uma doença que tem tirado o sono de muitas gestantes Brasil afora: a microcefalia, uma condição neurológica em que a cabeça do recém-nascido fica menor que o padrão esperado para os bebês. Essa malformação congênita pode ser consequência de vários fatores. O uso de substâncias químicas durante a gravidez e a contaminação bacteriana ou viral são algumas delas.
Recentemente descobriu-se que um antigo vilão da saúde brasileira está diretamente relacionado ao aumento dos casos de microcefalia. O mosquito transmissor da dengue, o aedes aegypti, que volta e meia cai em questões de Biologia e Geografia, também é o vetor de uma outra enfermidade, o zika vírus (febre que virou epidemia no Brasil em 2015). Médicos e cientistas que estão tratando de casos de microcefalia descobriam que as gestantes estavam infectadas pelo zika vírus.
Pouco se sabe sobre o zika vírus, mas alguns surtos em outros países já foram registrados. Em 2013, a Polinésia Francesa registrou uma grande epidemia, e 17 crianças nasceram com malformação do sistema nervoso central. Acredita-se que o número de casos de microcefalia tenha sido menor porque na Polinésia o aborto é liberado (no Brasil, só é permitido quando há risco à vida da mãe, quando a gravidez é resultante de um estupro e no caso de fetos anencéfalos).
Revirando os nossos arquivos, encontramos algumas questões de vestibulares com abordagens que podem reaparecer por conta desse triste episódio.
1) Transmissão
Como já escrevemos, quem transmite o zika vírus é o aedes aegypti, o mesmo vilão da dengue. Uma questão interessante que encontramos foi esta, cobrada no Enem de 2010, que exige conhecimentos sobre o ciclo reprodutor do mosquito.
Captura de Tela 2015-12-08 às 14.28.18

2) Prevenção
Uma das formas de se atacar qualquer uma das doenças transmitidas pelo inseto não é o tratamento, mas a prevenção. Como o transmissor é o mesmo, os resultados na redução dos casos tende a ser o mesmo. Veja nesta questão do Enem de 2007 como a prevenção ao mosquito pode cair na prova:
Captura de Tela 2015-12-08 às 14.14.58
3) A diferença entre dengue, chikungunya e zika
Além dos vírus da dengue e zika, o chikungunya (isso mesmo, chi-kun-gu-nya) também é transmitido pelo aedes aegypti. As três doenças têm sintomas parecidos, como febre e dores musculares. No entanto, apesar de o zika vírus trazer consequências sérias para o feto das gestantes infectadas, o vírus da dengue é o mais perigoso deles.
Os vestibulares de 2016 e o próximo Enem podem  cobrar as diferenças entre os três tipos de vírus, principalmente nos sintomas. Confira:
Dengue: Caracteriza-se por ter uma febre repentina, fortes dores musculares, falta de ar e moleza corporal. Quando o quadro se agrava, a doença traz hemorragias e pode levar à morte.
Chikungunya: O primeiro sintoma são dores nas articulações. O vírus ataca fortemente durante os primeiros 15 dias, mas as dores podem permanecer por meses e, em casos mais graves, anos.
Zika vírus: Seus sintomas são mais leves e se limitam a no máximo 7 dias. Não há registro de mortes pela doença, mas sim a relação direta com a microcefalia.
Para qualquer uma dessas doenças, o tratamento é o mesmo: repouso e ingestão de muito líquido.



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