TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Estados Unidos e Rússia projetam 'nova
Guerra Fria'
No auge da
Guerra Fria, na década de 1980, os EUA tinham cerca de 300 mil militares
baseados na Europa, de prontidão para resistir a uma invasão soviética. Com o
fim da URSS em 1991, Washington trouxe para casa quase todo esse pessoal.
Hoje restam
apenas 30 mil americanos no Velho Continente. Ironicamente, estão voltando a
ter o mesmo papel dissuasivo de antes, à medida que crescem as tensões com o
principal Estado sucessor da URSS, a Rússia.
Os EUA, e em
menor grau o Reino Unido, a França e outros aliados da Europa ocidental estão
agora realizando cada vez mais manobras militares na parte oriental do
continente, em países como Lituânia, Bulgária e Polônia.
Os efetivos
são meramente simbólicos —por exemplo, uma brigada blindada americana foi
enviada à Polônia (com 4.000 homens e 90 tanques pesados M1 Abrams). O objetivo
é garantir a segurança dos novos aliados contra aventuras russas, como foram a
tomada da Crimeia e o ataque à Geórgia. A Rússia ficou particularmente
indignada com a expansão a leste da aliança militar Otan (Organização do
Tratado do Atlântico Norte) porque são países que antes eram seus aliados do
Pacto de Varsóvia. O ano de 2017 pode estar vendo o começo de uma nova Guerra
Fria. Assim como no clássico conflito entre URSS e EUA, é difícil chegar a um
consenso sobre quando começou.
Pode-se
argumentar que já em 1917 foram lançadas as sementes do conflito. Em outubro,
será comemorado o centenário da Revolução Russa. Instalou-se, então, um regime
político diferente de todos os outros, e que argumentava que não poderia
existir convivência com os odiados países capitalistas. Vários países
intervieram com tropas para eliminar o nascente Estado socialista. A lembrança
dessa intervenção alimenta a tradicional paranoia russa, assim como o ataque
surpresa dos alemães em 1941.
Os
historiadores costumam usar um discurso de 1947 do presidente americano Harry
Truman (1884-1972) como o marco inicial da Guerra Fria. A chamada Doutrina
Truman foi criada para combater a expansão geopolítica da URSS. Ela implicava o
apoio americano a países ameaçadas pelo comunismo. Os primeiros recipientes
dessa ajuda econômica e militar foram Grécia —que viveu uma guerra civil com a
guerrilha de esquerda— e Turquia. Em 5 de março de 1946, o primeiro-ministro
britânico Winston Churchill fez um famoso discurso nos EUA, com Truman
presente, em que dizia que uma "cortina de ferro" tinha descido na
Europa.
TEXTO 2 – Manobras militares russas na fronteira da NATO
geram medo e conspirações
Quando um
Governo tem de esclarecer publicamente em várias ocasiões que os exercícios
militares que o Exército está a planear não são o prelúdio de uma invasão,
falar de simples desconfiança será uma subvalorização. Foi o que aconteceu nas
semanas que antecederam as grandes manobras militares russas e bielorrussas que
começam esta quinta-feira e duram até dia 20.
Moscovo tem
tentado acalmar o nervosismo sentido em algumas capitais de Estados-membros da
NATO que nos próximos dias terão a poucas centenas de quilómetros das suas
fronteiras uma mobilização maciça de activos militares russos. “Algumas pessoas
chegam ao ponto de dizer que os exercícios Zapad vão ser usados como uma rampa
de lançamento para ocupar a Lituânia, Polónia ou Ucrânia. Nenhuma destas
versões paradoxais tem a ver com a realidade”, afirmou no final de Agosto o
vice-ministro russo da Defesa, Alexander Fomin, num encontro com adidos
militares ocidentais.
Todos os anos,
numa metodologia que remonta à era soviética, o Exército russo organiza os seus
principais exercícios numa das quatro regiões militares prioritárias – Zapad,
que significa Oeste; Vostok, que é Leste; Tsentr, na região central do país, e
Kavkaz, no Cáucaso. Ou seja, de quatro em quatro anos, a Rússia mobiliza
milhares de soldados, tanques, peças de artilharia, aviação e alguns navios
para testar as suas capacidades de defesa junto à sua fronteira ocidental,
partilhada com a Aliança Atlântica. Segundo o Ministério da Defesa, os
exercícios da edição deste ano terão lugar na Bielorrússia, e nas regiões
russas de Leningrado e Pskov, e também no exclave de Kaliningrado, entre a
Polónia e a Lituânia.
Mas desde o
último Zapad, em 2013, muito mudou nas relações entre a NATO e a Rússia. A
Península da Crimeia foi anexada depois de uma rápida ocupação militar por
forças russas; grupos rebeldes tomaram de assalto grande parte do Leste da
Ucrânia, com alegado apoio de Moscovo; a intervenção do Exército russo na guerra
na Síria alterou de forma profunda o desenrolar do conflito a favor do regime
de Bashar al-Assad; o Ocidente diz-se vítima de uma ciberguerra lançada por
operacionais ligados ao Kremlin para desacreditar as suas instituições
democráticas, com destaque para a alegada interferência russa nas eleições dos
EUA.
Desconfiança
É neste clima
de profunda desconfiança entre os dois blocos, com ecos da Guerra Fria, que as
manobras militares em ambos os lados ganham novos contornos. Na sequência da
anexação da Crimeia, a NATO reforçou a sua presença nos países limítrofes a
Leste, enviando batalhões de “intervenção rápida” que vão rodar entre os três
Estados bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia) e a Polónia. Em Julho, um
exercício liderado pelos EUA mobilizou 25 mil soldados provenientes de mais de
vinte países que se dividiram entre a Hungria, Roménia e Bulgária.
TEXTO 3 –'Nova guerra fria' pós-Trump
divide Alasca, ex-território russo
No Alasca, a previsão
do tempo diária para as cidades de Anchorage, Fairbanks e Juneau divide a tela
da TV com as temperaturas previstas para as regiões russas de Chukotka e
Kamchatka, do outro lado do estreito de Bering.
O costume só causa
estranheza aos turistas, já que, para os moradores do Alasca, a Rússia é um
vizinho mais próximo que a maioria dos outros 49 Estados americanos –e não só
pela distância de 3,8 km que separa as ilhas de Big Diomede, na Rússia, e
Little Diomede, nos EUA. O Alasca guarda até hoje a herança de seus tempos de
"América Russa", quando esteve sob domínio do país euroasiático, e
seus moradores recusam o clima de "nova guerra fria" desde que o
Kremlin foi acusado de interferir nas eleições de 2016.
"A situação
política entre a Rússia e os EUA não é o reflexo do que são esses dois
países", diz o padre John Zabinko, 62, neto de russos que se diz apaixonado
pelas duas nações. "Sou mais americano, mas o meu 'ser americano' é manter
as tradições da minha família", explica. Na sua casa, não faltam as
tradicionais "borscht", uma sopa de beterraba, e "pirozhki",
uma torta de peixe. "Meu filho faz um ótimo 'kulich' [o pão de páscoa
russo]", orgulha-se Zabinko, titular da Catedral Ortodoxa Russa Santo Inocêncio,
em Anchorage. O religioso diz tentar não trazer a política para a igreja, mas,
quando questionado a respeito das investigações sobre a Rússia, ele não hesita:
"Tenho certeza
que eles interferiram nas eleições". "Não acho que seja nada novo, é
só porque agora eles foram pegos", completa, rindo. Segundo Zabinko, cerca
de 200 fieis frequentam a igreja com as tradicionais cúpulas em forma de bulbo,
dos quais três quartos são membros de comunidades nativas do Alasca.
Ainda hoje, bonecas
matrioskas e garrafas de vodka estão entre os itens mais populares nas lojas de
souvenir.
O técnico de
manutenção John Oleksa, 38, descendente de russos e americanos, se diz
orgulhoso das tradições "dos dois lados", mas nem sempre foi assim. Ele
lembra de, ainda criança, na Guerra Fria, não contar para os colegas de escola
no Alasca que iria viajar com os pais para Moscou. "Achava que eles iam
pensar que éramos comunistas", conta.
O Alasca começou a ser
explorado pelos russos perto de 1780, quando os EUA já tinham declarado
independência do Reino Unido. Há 150 anos, decidiram vender o 1,55 milhão de km
; para os americanos por US$ 7,2 milhões (US$ 126 milhões em valores
atualizados, ou R$ 392 milhões – US$ 87 por km ). Nacionalistas russos defendem
que o Alasca volte a ser território do país e chamam o Estado de "Crimeia
Americana", em referência à região ucraniana anexada em 2014. No mesmo
ano, uma petição criada no site da Casa Branca pedindo a independência do
Alasca dos EUA e sua reanexação à Rússia teve mais de 37 mil assinaturas.
"Os EUA pagaram
US$ 7,2 milhões em 1867. Hoje o Alasca gera, em poucas horas, um valor muito
maior que esse em produção de petróleo."
TEXTO 4 – Não é somente a Rússia!
A história mostra que
os Estados Unidos se valeram muitas vezes da sua condição de superpotência para
ditar o comportamento de outros países. Desde a política de intervenção do Big
Stick (O Grande Porrete) de Theodore Roosevelt, no começo do século XX, até a
invasão do Iraque, 100 anos depois, os americanos eram os diretores da escola
mundial, distribuindo tanto conselhos como advertências pela classe. Agora, um
de seus melhores alunos já dá palpites na vida dos mestres. A China não se
considera mais um mero receptor de discursos de Washington sobre economia - ou
democracia. Logo após o rebaixamento da nota dos títulos do Tesouro dos Estados
Unidos pela Standard&Poor’s, no último dia 5, os chineses cobraram mudanças
na conduta americana. “A China, o maior credor da única superpotência do mundo,
tem todo o direito de exigir que os Estados Unidos resolvam seus problemas
estruturais da dívida e garantam a segurança dos ativos chineses em dólares”,
afirmou uma nota da agência oficial do país, Xinhua. Horas depois, a Casa
Branca se manifestou. Sem mencionar os chineses, o porta-voz Jay Carney admitiu
que os EUA “precisam melhorar” na tarefa de enfrentar os problemas de sua
economia. Na Guerra Fria que se configura neste século XXI, a voz de Pequim
está mais grossa do que nunca.
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