TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Fora meme? Como o Governo
Temer virou inimigo da indústria das piadas na Internet
Sandro Sanfelice, um analista comercial de 28 anos que mora
em Curitiba (PR), recebeu na semana passada uma mensagem que nunca havia visto
em seus dez anos à frente da Capinaremos, uma das muitas páginas de memes do
país. O Governo o avisava de que as fotografias divulgadas a partir da
Presidência “estão liberadas para uso jornalístico e divulgação das ações
governamentais. Para outras finalidades, é necessária autorização prévia da
Secretaria de Imprensa da Presidência da República”.
Sanfelice ficou perplexo. A mesma mensagem fora enviada à Ah
Negão e a outras grandes líderes do complexo industrial de memes brasileiro.
Ninguém entendia muito bem o que se queria dizer. Estariam avisando que eles
não poderiam mais usar fotografias do presidente em suas páginas? Estaria o
governo, que atualmente luta para sobreviver a uma grave crise política com
medidas cada vez mais autoritárias, tentando conter a criação de piadas sobre
ele na internet? “Num primeiro momento, ficamos apreensivos”, disse Sanfelice
ao EL PAÍS. “Os memes são uma forma de expressão, como um artigo de jornal ou
uma charge. Não faz sentido proibir nem coibir sua produção”.
A Secretaria de Imprensa não ajudou a resolver a dúvida. A um
jornalista de um site local de Novo Hamburgo (RS) foi dito que as imagens não
poderiam ser usadas para fazer memes e que, se continuassem a fazê-lo sem dar
credito ao autor, ficariam "sujeitos a análise a possível sanção”. A
Sanfelice, disseram que os criadores de memes interpretaram “errado” a
mensagem. Ouvida pelo EL PAÍS, uma mulher da Secretaria reclamou que havia
passado a semana inteira esclarecendo essa questão. “A medida busca
democratizar o acesso ao acervo fotográfico produzido pelo departamento,
sobretudo a veículos de comunicação que não mantêm profissionais de imagem
credenciados no Palácio do Planalto”, afirmou.
Na quarta-feira, o rebuliço era enorme. A nova crise
política, justamente, gerou uma produção tão extraordinária que esta acabou
virando objeto de reportagens e programas de televisão. Se o que o Governo
pretendia era apenas abrir a sua base de dados, estava transmitindo uma imagem
de que se queria, na verdade, blindar as fotografias. E, se o que ele pretendia
era conter o excesso de memes, estava conseguindo obter o oposto. “Em um dia
normal o número de memes com o presidente como temática não passaria de 10%”, diz
Sanfelice. “Mas, depois do e-mail, acredito que uns 70% o tinham. Tudo o que os
criadores precisam é de uma fonte de inspiração”. O Partido dos Trabalhadores
soltou uma nota à imprensa anunciando que as fotos de seu Flickr podiam ser
usadas para se produzirem novos memes.
Ao longo de toda a polêmica, uma questão esteve
sempre presente: pode um Governo proibir, literalmente, os memes? A mensagem enviada citava um artigo da lei
brasileira sobre os Direitos Autorais em que se fala do direito moral do autor
de uma determinada imagem de ser “citado na reprodução” da mesma (Lei 9.610/98,
artigo 24), o que é impossível por causa da forma como se produzem os memes.
Menciona-se também que uma pessoa –por exemplo, o presidente Michel Temer— pode
querer denunciar que se sente humilhada pelos memes. “Em tese, o presidente
Temer tem o direito de pleitear indenizações pelo uso indevido de sua imagem”,
admite Marcelo Crespo, do escritório de advocacia Patrícia Peck Pinheiro. “Mas,
caso isso tenha sido feito em um contexto de humor pu crítica política, é menos
provável que ele venha a receber a proteção do judiciário”.
Tudo recai em uma zona cinzenta, cheia de ambiguidades, uma
espécie de dupla face do ponto de vista legal. Por um lado, a lei serve como
refúgio para os criadores de memes. Por outro, permite que o poder lance
ameaças de vez em quando. “Temer procurou intimidar os criadores de memes”,
avalia Viktor Chagas, professor da Universidade Federal Fluminense e um dos
criadores do Museu dos Memes. Trata-se de uma possibilidade tentadora para
qualquer governo. Alguns chegaram, inclusive, a ir mais longe. “Na China, se
usa muito um humor cifrado para lidar com o intenso controle sobre a liberdade
de expressão. Na Rússia, Putin tentou proibir imagens que traziam seu rosto
maquilado com as cores do arco-íris. No México e em alguns outros países,
tramitam projetos de lei cujo objetivo é censurar ou controlar a circulação de
conteúdos digitais que contenham sátiras políticas”.
TEXTO 2 – Origem dos memes
Meme é um termo criado em 1976 por Richard Dawkins no seu
bestseller O Gene Egoísta e é para a memória o análogo do gene na genética, a
sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se
multiplica de cérebro em cérebro ou entre locais onde a informação é armazenada
(como livros). No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado
uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se. Os
memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos,
capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser
aprendida facilmente e transmitida como unidade autônoma. O estudo dos modelos
evolutivos da transferência de informação é conhecido como memética.
Na sua forma mais básica,é tudo aquilo que os utilizadores da
Internet repetem, um tipo de carinha é um Meme de Internet é simplesmente uma
ideia que é propagada através da World Wide Web. Esta ideia pode assumir a
forma de um hiperlink, vídeo, imagem, website, hashtag, ou mesmo apenas uma
palavra ou frase. Este meme pode se espalhar de pessoa para pessoa através das
redes sociais, blogs, e-mail direto, fontes de notícias e outros serviços
baseados na web tornando-se geralmente viral.
Um meme de Internet pode permanecer o mesmo ou pode evoluir
ao longo do tempo, por acaso ou por meio de comentários, imitações, paródia, ou
mesmo através da recolha de relatos na imprensa sobre si mesmo. Memes de
Internet podem evoluir e se espalhar mais rapidamente, chegando às vezes a
popularidade em todo o mundo e desaparecendo completamente em poucos dias. Eles
estão distribuídos de forma orgânica, voluntariamente, e peer-to-peer, ao invés
de por meio predeterminado ou automatizado. Uma importante característica de um
meme é poder ser recriado ou reutilizado por qualquer pessoa.
Seu rápido crescimento e impacto chamou a atenção de
pesquisadores e da indústria. Os pesquisadores criaram modelos para explicar
como eles evoluem e prever quais os memes que vão sobreviver e se espalhar pela
web. Comercialmente, eles são usados ativamente no marketing viral, visto
como uma forma livre de publicidade de massa. A comunidade da Internet em si
tem cultivado métodos para estimular a geração e a divulgação de memes bem
sucedidos (exemplos: TED Talks, digg, hashtags)[
TEXTO 3 – O início foi com
as charges
Você que está acostumado a divertir-se com as charges
presentes em revistas, sites e jornais impressos, sabia que elas constituem um
gênero textual? Sim, as charges não são apenas ilustrações que refletem a
opinião de quem desenha, são tipos de enunciados que podem ser objeto de uma
rica análise linguística.
Aliando linguagem verbal e não verbal, as charges são mais do
que piadas gráficas permeadas pelo humor e por uma fina ironia. São tipos de
textos que podem ser usados para denunciar e criticar as mais diversas
situações do cotidiano relacionadas com a política e a sociedade. Como prova de
sua relevância, estão cada vez mais presentes nas provas de concursos e
vestibulares, quando o candidato tem sua habilidade de interpretação de texto
colocada em análise.
As charges são utilizadas em provas de vestibular e cabe ao
candidato compreender os significados que se escondem por detrás das imagens e
palavras. Ao interpretarmos uma charge, podemos perceber que diversas
informações podem estar nela circunscritas, o que nos obrigará a recorrer aos
processos de construção de inferências e analogias para compreendê-la em sua
totalidade. Se não lançarmos mão desses processos, dificilmente o conteúdo da
charge será apreendido.
Podemos dizer que o principal objetivo de uma charge é
transmitir uma visão crítica sobre determinado assunto que esteja sob alvo de
discussões na sociedade. Por isso as charges podem ficar datadas, ou seja,
podem perder seu objetivo por estarem marcadas cronologicamente. Normalmente
elas são publicadas nas seções de artigos de opinião e cartas dos leitores,
justamente por indicarem opiniões e juízos de valores por parte de quem
enuncia, no caso, o chargista. Gostou de conhecer mais sobre esse gênero
textual que alia bom humor, desenho e opiniões? Mergulhe no universo das
charges e surpreenda-se!
TEXTO 4 - A zoeira dos
brasileiros na internet não tem limites e irrita usuários de outros países
Faz um tempo que ando observando a maneira como costumamos
comentar nos tópicos, artigos na internet, posts de Facebook... E sempre fico
bem impressionado.
Sugiro como exemplo, aqui, um post que o pessoal de conteúdo
colocou na página do PapodeHomem no Facebook: "Filha de ex-chefe do Mossad
(o serviço de espionagem israelense) recusou o exército israelense".
"Eu me recuso a alistar-me no exército de Israel. Não
posso fazer parte de um exército que desnecessariamente implementa uma política
que violenta e viola os direitos humanos mais básicos. Como a maioria dos meus
colegas, eu também não ouso questionar a ética do exército israelense. Mas
quando visitei os Territórios Ocupados, percebi que há uma realidade
completamente diferente, violenta, opressiva, extrema e que precisa ter um fim.
Eu acredito em servir a a sociedade da qual faço parte, e é
precisamente por isso que eu me recuso a tomar parte nos crimes de guerra
cometidos por meu país. A violência não vai trazer qualquer tipo de solução e
não vou cometer a violência, venha o que vier. "
Esta é uma amostra pequena dos comentários que seguiram –
inviável reproduzir aqui toda a enxurrada, e também desnecessário, visto que o
teor não varia muito:
O ponto é que, por algum motivo, qualquer coisa facilmente,
quase automaticamente, vira motivo de zoeira. Parece que temos um hábito
irresistível de bater os olhos, fazer algumas guerrinhas de opinião e irmos
embora. E tudo geralmente com grandes doses de irritação e ironia barata.
Por algum motivo, temos dificuldade pra olhar as coisas com
um mínimo de cuidado, com sensação de pertencimento, com empatia, como algo que
diz respeito a nós mesmos e ao mundo onde estamos com os pés agora. Parece um
hábito cultural, uma predisposição que vamos inadvertidamente replicando em
todo lugar. Se não sentimos que é da gente, não cuidamos.
Lembro de uma metáfora usada por Michel Serres, que explica
que os bichos tendem a sujar apenas os lugares onde eles não vivem, da mesma
forma que nós sentimos que é é OK jogar lixo pela janela do carro – porque não
sentimos que a rua é nossa casa, mas só um lugar de passagem, de ninguém ou de
alguém que nunca vamos encontrar.
Então, é de se esperar que não nos surja algum senso de
responsabilidade. Nem imaginamos que fazer uma piadinha ruim como a do exemplo
aí em cima é igual a sermos racistas ou machistas. Nem imaginamos o tamanho da
confusão e sofrimento humano que isso implica. Nem imaginamos que conversar e
debater é algo para ser aprendido. Que, no mínimo, estamos jogando no lixo o
nosso bem mais precioso – esquecemos da morte com facilidade e com gosto.
Não sei se entendo bem este comportamento. Fico por aqui
pensando o que isso sinaliza, de fato, quais são as dinâmicas que geram hábitos
assim. De qualquer forma, desconfio seriamente que não é nada muito bom, e que
é mais sério do que quer parecer.
E no meio da incerteza e da bagunça, pra mim, penso ser
melhor não perder muito tempo, melhor falar menos inutilmente, fazer menos
piadinhas, usar menos ironia e lembrar o óbvio: estamos sempre tratando com a
vida das pessoas.
Não tem sido fácil.
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