TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Televisão estatal síria diz
que líder do Estado Islâmico foi morto
A televisão estatal da Síria avançou, este domingo de manhã,
que Abu Bakr al-Baghdadi, presumível líder do autoproclamado Estado Islâmico
(EI), foi abatido como resultado de uma operação aérea na cidade de Raqa.
A notícia tem sido divulgada pela imprensa mas não foi
confirmada por mais nenhum órgão, nem pela Amaq (a agência de notícias afeta
aos radicais), nem pela Sana (agência de notícias da Síria), nem pelo
Observatório Sírio dos Direitos Humanos.
A Sana noticiou, este domingo, que o exército sírio
bombardeou vários postos militares de combatentes do EI em Raqa, e que, na
sequência dos ataques, vários radicais foram mortos ou ficaram feridos, mas não
indica que Al-Baghdadi tenha sido uma das baixas do grupo.
A ofensiva terrestre contra Raqa, principal reduto sírio do
grupo extremista Estado Islâmico, começou na semana passada, sob o comando das
Forças Democráticas da Síria (FSD), lideradas por milícias curdas e apoiadas
pela coligação ocidental liderada pelos Estados Unidos.
Esta não é a primeira vez que a imprensa COMUNICA a morte de
Al-Baghdadi. Em 2016, por exemplo, a Amaq noticiou que o radical islâmico tinha
sido morto durante um ataque aéreo, no quinto dia do Ramadão.
TEXTO 2 – Por que há uma
guerra na Síria: 10 perguntas para entender o conflito
1. O que foi o 'ataque
químico' que motivou a reação dos EUA?
De acordo com o grupo britânico de monitoramento do
Observatório Sírio para os Direitos Humanos, 86 pessoas - 27 delas crianças -
foram mortas no incidente químico em Khan Sheikhoun, na província de Idlib.
Tanto a Organização Mundial da Saúde quanto a instituição de
caridade médica Médicos Sem Fronteiras disseram que algumas das vítimas
apresentavam sintomas consistentes de exposição a agentes que afetam o sistema
nervoso.
2. O que dizem os líderes
americanos?
"Eu vou te dizer, aconteceu que minha visão em relação à
Síria e Assad mudou muito", afirmou Trump após o ataque. Antes, ele citava
o presidente do país em guerra como um aliado na luta contra o grupo extremista
autodenominado Estado Islâmico, que controla algumas regiões sírias.
Questionado durante uma reunião com o rei Abdullah da Jordânia
na Casa Branca sobre estar formulando uma nova política em relação ao país do
Oriente Médio, o americano disse a repórteres: "Vocês verão".
3. O que dizem os russos?
A Rússia reconheceu que os aviões sírios atacaram Khan
Sheikhoun, mas diz que a aeronave atingiu um depósito que produzia armas
químicas para serem usadas por militantes no Iraque.
A "aviação da Síria fez um ataque contra um grande
depósito de munição terrorista e uma concentração de equipamento militar nos
subúrbios a leste da cidade de Khan Sheikhoun", disse o porta-voz do
Ministério da Defesa russo, Igor Konoshenkov.
O governo russo condenou o ataque americano, classificando o
bombardeio com uma "agressão contra uma nação soberana".
4. Assad já usou armas
químicas antes?
O governo sírio foi acusado por potências ocidentais de
disparar foguetes de sarin (composto químico que age no sistema nervoso) em
Ghouta, Damasco, matando centenas de pessoas em agosto de 2013.
O presidente Assad negou a acusação e culpou os rebeldes, mas
concordou em destruir o arsenal químico da Síria. Apesar disso, a Organização
pela Proibição de Armas Químicas continuou a reportar o uso de produtos
químicos tóxicos em ataques no país.
5. Qual era a situação na
Síria antes da guerra - e o que levou ao conflito?
Antes do início do conflito, muitos sírios se queixavam de um
alto nível de desemprego, corrupção em larga escala, falta de liberdade
política e repressão pelo governo Bashar al-Assad - que havia sucedido seu pai,
Hafez, em 2000.
Em março de 2011, adolescentes que haviam pintado mensagens
revolucionárias no muro de uma escola na cidade de Deraa, no sul do país, foram
presos e torturados pelas forças de segurança.
O fato provocou protestos por mais liberdades no país,
inspirados na Primavera Árabe - manifestações populares que naquele momento se
estendiam pelos países árabes.
6. Como começou a guerra
civil?
À medida que os levantes da oposição aumentavam, a resposta
violenta do regime se intensificava. Simpatizantes do grupo antigoverno
começaram a pegar em armas - primeiro para se defender e depois para expulsar
as forças de segurança de suas regiões.
Assad prometeu "esmagar" o que chamou de
"terrorismo apoiado por estrangeiros" e restaurar o controle do
Estado.
A violência rapidamente aumentou no país: grupos rebeldes se
reuniram em centenas de brigadas para combater as forças oficiais e retomar o
controle das cidades e vilarejos.
7. Quem está lutando contra
quem?
A rebelião armada da oposição evoluiu significativamente
desde suas origens.
O número de membros da oposição moderada secular foi superado
pelo de radicais e jihadistas - partidários da "guerra santa"
islâmica. Entre eles estão o autointitulado Estado Islâmico e a Frente Nusra,
afiliada à al-Qaeda.
Os combatentes do EI - cujas táticas brutais chocaram o mundo
- criaram uma "guerra dentro da guerra", enfrentando tanto os
rebeldes da oposição moderada síria quanto os jihadistas da Frente Nusra.
Também combatem o Exército curdo, um dos grupos que os
Estados Unidos estão apoiando no norte da Síria.
8. Qual é o envolvimento das
potências internacionais?
Na era Obama, os Estados Unidos culpavam Assad pela maior
parte das atrocidades cometidas no conflito e exigiam que ele deixasse o poder
como pré-condição para a paz.
Trump, por sua vez, dizia que derrubar o presidente sírio não
era uma prioridade, mas sim derrotar o Estado Islâmico - e que Assad era um
aliado nessa batalha. Após o aparente ataque químico ocorrido na última terça,
porém, seu discurso mudou.
Já a Rússia apoia a permanência de Assad no poder, o que é
crucial para defender os interesses de Moscou no país.
O Irã, de maioria xiita, é o aliado mais próximo de Bashar
al-Assad. A Síria é o principal ponto de trânsito de armamentos que Teerã envia
para o movimento Hezbollah no Líbano - a milícia também enviou milhares de combatentes
para apoiar as forças sírias.
9. Por que a guerra está
durando tanto?
Um fator chave é a intervenção de potências regionais e
internacionais.
Seu apoio militar, financeiro e político tanto para o governo
quanto para a oposição tem contribuído diretamente para a continuidade e
intensificação dos enfrentamentos, e transformado a Síria em campo para uma
guerra indireta.
A intervenção externa também é responsabilizada por fomentar
o sectarismo no que costumava ser um Estado até então secular (imparcial em
relação às questões religiosas).
As divisões entre a maioria sunita e a minoria alauita no
poder alimentou atrocidades de ambas as partes, não apenas causando a perda de
vidas, mas a destruição de comunidades, afastando a esperança de uma solução
pacífica.
10. Qual é o impacto da
guerra?
O enviado da ONU para a Síria, Steffan de Mistura, estimou
que a guerra já matou 400 mil pessoas.
Para a organização Observatório Sírio de Direitos Humanos,
sediada em Londres, até setembro a cifra de mortos passava de 465 mil.
Já o Centro Sírio para Pesquisa de Políticas, outro grupo de
estudos, calcula que o conflito já tenha causado a morte de mais de 470 mil
pessoas.
Não há cifras confiáveis para estabelecer o número de mortos
no conflito sírio
Segundo a ONU, até fevereiro de 2016 mais de 5 milhões de
pessoas haviam fugido do país - a maioria mulheres e crianças.
O êxodo de refugiados, um dos maiores da história recente,
colocou sob pressão os países vizinhos - Líbano, Jordânia e Turquia.
Cerca de 10% deles buscam asilo na Europa, provocando
divisões entre os países do bloco europeu sobre como dividir essas
responsabilidades.
TEXTO 3 – Entendendo as
origens - Primavera Árabe
A Primavera Árabe teve início em 2010 na Tunísia, localizada
ao norte do continente africano. Naquele ano, um jovem tunisiano, revoltado com
a sua situação financeira, ateou fogo em seu próprio corpo, como forma de
protesto. Estes protestos se espalharam pelo país fazendo com que, dez dias
depois, o presidente Zeni El Abdine Ben Ali fosse deposto. O povo da Tunísia já
não concordava mais com a política de governo do presidente, uma vez que ele
estava no poder desde novembro de 1987 e nada havia feito para melhorar a
qualidade de vida da população, seja estimulando a criação de empregos ou
melhorando o acesso à saúde e à educação.
Após o sucesso dos tunisianos, os egípicios foram às ruas,
exigindo a saída do presidente Hosni Mubarak, acusando-o de ditador, por estar
no poder há 30 anos. A maior parte das manifestações se deram na Praça Tahrir
(ou Praça da Libertação, no Cairo, capital do Egito). Mubarak renunciou ao
poder 18 dias após o início das manifestações. Em ambos os países, protestos
foram marcados por intensa violência, empreendida tanto pelo povo nas ruas
quanto pelas forças aliadas aos presidentes.
Após a queda dos presidentes, ambos os países foram às urnas
para novas eleições, os partidos islâmicos conseguiram se eleger nos dois
países. Na Tunísia fora eleito o partido Enna Hda e no Egito, a Irmandade
Muçulmana.
A Líbia também fez parte da Primavera Árabe. Muamar Kadaffi,
presidente por 42 anos, foi derrubado do poder após uma longa guerra civil com
duração de 8 meses. A tática dos rebeldes foi avançar lentamente em direção às
cidades dominadas por Kadaffi, como Trípole, por exemplo. Em Sirte, cidade
natal do presidente, os rebeldes capturaram o presidente, escondido dentro de
um canal de esgoto. Após sua captura, Kadaffi foi torturado e morto pelos
rebeldes.
O Iêmen foi o último país a conseguir derrubar o seu
presidente. Ali Abdulhah Saleh foi alvo de um ataque contra a mesquita do
palácio presidencial, em Sanaa. Com receio de ser assassinado, assinou um
acordo para deixar o poder logo após o ocorrido. O vice presidente Abd Rabbuh
Mansur Al Radi assumiu o poder, anunciando a criação de um governo de
conciliação nacional.
Em alguns países da Primavera Árabe, as estruturas de governo
permanecem intactas. É o caso de Marrocos, Argélia, Jordânia, Cisjordânia, Iraque,
Irã, Kuwait, Bahren, Arábia Saudita, Omã e Síria.
TEXTO 4 - A zoeira dos
brasileiros na internet não tem limites e irrita usuários de outros países
“A América enfrentará um inimigo que não respeita regras de
moralidade”, disse George W. Bush em março de 2003, quando anunciava o novo passo
na sua “guerra ao terror”: derrubar Saddam Hussein. O ditador caiu rapidinho,
mas, em vez de um “país unido, estável e livre”, como diziam os EUA, o que
surgiu foi o autoproclamado Estado Islâmico – um grupo jihadista sanguinário,
que não apenas desrespeita “regras de moralidade”, como também planeja
estabelecer um império islâmico global sob a liderança de seu líder, Abu Bakr
al-Baghdadi – que chegou a passar um ano preso no Iraque pelos americanos, em
2004, junto com outros futuros cabeças do IS. Ou seja: as prisões militares
serviram como universidade jihadista.
Mas a raiz dos problemas do Iraque é bem mais antiga: remonta
a 1916, quando a França e o Reino Unido esboçaram as fronteiras de Iraque,
Síria, Jordânia, Líbano e Palestina – territórios artificiais onde conviveriam
diferentes etnias, religiões e tribos. No caso iraquiano, uma maioria xiita no Sudeste,
uma minoria sunita no centro e uma minoria curda no Nordeste.
Saddam, no fim do século 20, perseguia a minoria curda do seu
país e, como bom sunita, marginalizava a maioria árabe xiita. Com o ditador destronado
e a introdução de eleições livres, veio a vingança. Os xiitas, que formam mais
de 60% da população, ganharam a perspectiva de permanecer eternamente no poder.
Não era um grande problema para os curdos, que tinham conquistado sua região
autônoma, mas tratava-se de um desastre para os sunitas, que ressentiam a perda
de poder. Na insurgência contra a invasão americana, destacava-se um grupo
jihadista sunita.
Enquanto os EUA estiveram no Iraque, o ISI foi apenas um
grupo insurgente. Isso mudou em dezembro de 2011, quando Barack Obama cumpriu sua
promessa de campanha: abandonar o país. “O que alcançamos foi um Iraque com
governo próprio, inclusivo e com um potencial enorme”, disse, hesitante, ao
lado do primeiro-ministro iraquiano, o xiita Nouri al-Maliki.
No dia seguinte à retirada americana, Maliki iniciou a
marginalização política dos sunitas com um mandato de prisão do vice-presidente,
sunita. Protestos foram crescendo até que, em abril de 2013, as forças de
segurança de Maliki chacinaram os membros de uma manifestação pacífica. Foi o
ponto de virada para que sunitas apoiassem o ISI e comprassem o discurso de Abu
Bakr: protestos pacíficos jamais acabariam com a perseguição; seria necessária
a violência para devolver os territórios sunitas aos sunitas. Também em abril
de 2013, o ISI anunciava sua entrada oficial na Síria, aproveitando os enormes
vazios de poder deixados pela guerra entre o ditador Bashar al-Assad e os
vários grupos rebeldes. Roubando para si parte dos militantes da Frente Nusra,
aүliada à Al-Qaeda, Abu Bakr refundava seu grupo como Estado Islâmico do Iraque
e da Síria – o ISIS.
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