TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Apagão na Venezuela
Diferentes
regiões da Venezuela seguem sem energia elétrica mais de 90 horas após o início
de um apagão que começou na quinta-feira (7). A queda de força é um problema a
mais para a população, que já enfrenta uma longa crise econômica,
hiperinflação, desabastecimento e distúrbios sociais devido à situação política
do país.
Praticamente
o país inteiro foi afetado pelo apagão, em maior ou menor extensão. Segundo a
agência AFP, além da capital, 22 dos 23 estados do país tiveram cortes na
eletricidade. De acordo com um membro do comitê executivo da Federação dos
Trabalhadores da Indústria Elétrica da Venezuela, Alexis Rodríguez, três
estados -- Mérida, Lara e Zulia – que seguiam com falta de energia nesta
segunda, serão os últimos a tê-la restabelecida.
As agências
do setor elétrico da Venezuela, do governo de Nicolás Maduro, falam em
"sabotagem criminosa e brutal contra o sistema de geração elétrica"
na usina de Guri, no estado de Bolívar, a mais importante do país e uma das
principais da América Latina. Especialistas acusam o governo de Maduro de não
ter investido na manutenção da infraestrutura por conta da crise econômica. O
autoproclamado presidente interino e líder da oposição Juan Guaidó disse que o
apagão é decorrente de corrupção e falta de manutenção.
-Há relatos
de que pacientes morreram em hospitais em decorrência da falta de energia
elétrica, mas não existe balanço oficial. Organizações não governamentais
contabilizam ao redor de 20 mortos.
-No
Instituto Médico Legal da capital, onde as famílias aguardam a identificação
dos mortos, as câmaras frias pararam de funcionar e os cadáveres entraram em
putrefação.
-Dezenas de
moradores de Caracas precisaram recorrer ao Rio Guaire, um dos mais poluídos da
Venezuela, para buscar água, devido aos problemas no abastecimento provocados
pelo apagão.
-Apesar de a
estatal de petróleo PDVSA garantir os suprimentos de combustível, muitos postos
fecharam por falta de energia.
-A retirada
de dinheiro nos caixas eletrônicos foi suspensa.
-A telefonia
celular falhou.
-Muitas
pessoas perderam comida que tinham em suas geladeiras, num país com problema de
abastecimento.
-O governo
suspendeu a jornada de trabalho e as aulas nas escolas desde o início do corte
de energia elétrica.
TEXTO 2 – Cinco mitos sobre a crise na Venezuela (e o que
acontece de verdade)
Nos últimos três
anos, a crise na Venezuela se agravou, a ponto de fomentar relatos, dentro e
fora do país, pintando um cenário bastante catastrófico da situação no país.
Mas até que
ponto as coisas estão tão ruins no país - que foi rico e hoje é pobre.
Destacamos cinco
tópicos que parecem estar enraizados na opinião de muitos sobre a Venezuela.
1.
"Na Venezuela há fome"
Em algumas
regiões da Venezuela se passa fome, mas não a maioria da população.
90% dos
venezuelanos disse em 2015 ao levantamento Encovi que está comendo menos e com
menor qualidade.
De fato, a crise
alimentar se aprofundou em 2016; se veem mais filas e são relatados mais casos
de subnutrição, com mais pessoas que comem duas ou menos vezes por dia.
De acordo com a
Fundación Bengoa, especialista nesta área, a desnutrição está entre 20% e 25%.
Mas duas mortes
(de fome) por dia a cada 10 mil pessoas não parece um número factível neste
momento.
Especialistas
venezuelanos concordam que o que acontece no país não é o mesmo que na Etiópia
nos anos 80 ou na Coreia do Norte em 1990.
Mas muita gente
tem alertado: "estamos à beira da fome."
2.
"Venezuela é igual a Cuba"
Em geral, três
elementos permitem que argumentar que "a Venezuela se cubanizou",
como alguns dizem: as filas para comprar produtos racionados, a dualidade da
economia e da militarização do governo (onde a inteligência e o governo cubano
têm influência).
Mas essa
comparação só pode ser feita até aí.
A Venezuela é um
país capitalista onde o setor privado tem certa atividade, apesar das
restrições e expropriações do Estado - que adquire cada vez mais controle sobre
a economia. Em Cuba, o setor privado é mínimo.
Na Venezuela, a
internet é a mais lenta da região, mas quase todos têm conexão com acesso ao
Facebook, Netflix e meios de comunicação internacionais críticos ao governo. Em
Cuba não.
3.
"A Venezuela é uma ditadura"
É um debate
acadêmico que leva alguns anos: se na Venezuela há uma "ditadura
moderna" ou um "regime híbrido".
Mas são poucos
os especialistas, no país e no exterior, que falam de uma ditadura tradicional.
Primeiro, eles
dizem, porque há oposição, por mais que não tenha acesso a recursos que o
partido governista tem - e apesar das prisões e restrições a que representantes
seus tenham sido sujeitados.
E há eleições,
embora tenham removido alguns poderes da Assembleia Nacional - eleita com votos
- quando ela passou a ser controlada pela oposição.
Em segundo
lugar, a imprensa independente na Venezuela, apesar dos problemas - falta de
papel, pressão do governo e com muitos de seus jornalistas em julgamento ou na
prisão - existe.
O grau de
democracia no país parece ser medido de acordo com a posição política da pessoa
que o faz: se poucos analistas falam em "ditadura total", somente uma
minoria também acredita que haja "uma plena democracia".
4.
"Todo mundo odeia Maduro"
Muitos fora do
país perguntam como é possível que Maduro ainda esteja no poder.
De acordo com
várias pesquisas, ele tem entre 20% e 30% de apoio.
Estas são as
pessoas que o sentimento de apreço pelos benefícios sociais do passado impede
de criticar abertamente o governo.
Ou as pessoas com
medo de perder a casa, pensão ou vales-alimentação que recebem do governo.
Em todo o caso,
o apoio de 30% é mais do que tem os presidentes de Chile e Colômbia.
Alguns dizem que
o chavismo é doente terminal, mas Chavez continua a registrar 60% de aprovação,
por isso, é difícil pensar no fim do chavismo, por mais aguda que seja crise.
5.
"Você não pode sair de casa"
A criminalidade
desenfreada e o medo levou alguns a preferirem assistir a um filme em casa do
que ir a um bar à noite.
Mas ainda há
muitos, não só em Caracas, mas em todo o país, que vão a discotecas, bares e
restaurantes.
Paradoxalmente,
no lugar onde há mais assassinatos, nos bairros populares, a noite é tão ativa
como em qualquer cidade, mas nas áreas de classe média e alta as ruas ficam desertas
após as 21h.
Na Venezuela
deve-se ter um perfil discreto, não falar no celular nem mostrar uma câmera na
rua. Quanto mais velho for o carro e as roupas que se veste, melhor.
Apesar disso, os
centros das cidades e vilarejos são durante o dia são tão ou mais agitados do
que em qualquer outro lugar na América Latina.
Fonte 1: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-36863392
TEXTO
3 – Por que a crise na Venezuela interessa tanto países como Rússia, China e
Turquia
O que há de tão especial na Venezuela que atrai a atenção de
tantos países?
China de olho nos seus investimentos
A razão da China para acompanhar de perto o que acontece na
Venezuela tem 11 números.
O país asiático é o maior credor de Caracas. Enquanto o resto
dos agentes econômicos duvidava cada vez mais da capacidade do país
sul-americano de saldar suas dívidas, Pequim emprestou mais de US$ 50 bilhões
para a Venezuela (alguns analistas estimam que o valor seja ainda maior, na
ordem de US$ 67 bilhões).
Acredita-se que boa parte desse empréstimo já tenha sido paga
pelo país sul-americano. Segundo Carlos de Sousa, especialista na América
Latina da empresa de análise e previsão econômica Oxford Economics, ainda
faltaria pagar pelo menos cerca de US$ 16 bilhões.
Mas a decisão chinesa de investir na Venezuela é estratégica.
"(A China) sempre teve uma visão de longo prazo em relação à Venezuela:
sendo este o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, fazia sentido
investir ali como uma forma de garantir uma fonte de petróleo, (produto) que é
necessário para seu crescimento", disse Carlos de Sousa, da Oxford
Economics.
Porém, Guaidó já tentou dissipar as dúvidas e os receios
chineses. "Nosso governo vai agir com respeito às leis e às obrigações
internacionais (da Venezuela)", disse Guaidó em entrevista ao jornal
chinês South China Morning Post, no início de fevereiro. "Todos os acordos
que foram assinados com a China de acordo com a lei serão respeitados."
Pequim, por ora, já demostrou seu apoio a Maduro. Mas também
admitiu ter falado com "todas as partes" do conflito. Mais do que
fidelidade política, a prioridade chinesa é assegurar seus interesses
econômicos.
A Venezuela tem forte presença na mídia russa e
até no Parlamento do país.
Para a Rússia, a Venezuela representa um interesse
geopolítico "muito importante" para "neutralizar os
interesses" dos Estados Unidos em áreas tradicionalmente consideradas de
influência russa, explicou Carlos de Sousa.
"(O envolvimento dos EUA no confronto com a Ucrânia) foi
uma situação muito incômoda para a Rússia". Então, o governo Putin está
fazendo o mesmo na Venezuela: 'bem, agora sou eu que te incomodo'. Então, (a
questão venezuelana) não é algo essencial, mas é interessante para que a Rússia
tenha alguma influência no 'quintal' dos EUA", acrescentou o especialista.
Para os russos, a Venezuela não apenas representa um campo de
batalha externo, mas também interno.
O editor do serviço russo da BBC, Famil Ismailov, afirmou em
dezembro: "Geralmente, o povo russo está cansado de ajudar governos como o
sírio e o venezuelano, em vez de ver esse dinheiro investido dentro do país.
Mas o governo russo tem uma máquina de propaganda muito forte".
O presidente Vladimir Putin apoia fortemente Maduro, e a
imprensa russa oficial questiona o apoio popular à oposição venezuelana.
"Também há interesses econômicos muito importantes. A
Rússia investiu cerca de US$ 10 bilhões (na Venezuela)", apontou Sousa.
Alguns analistas acreditam que o número pode ser ainda superior, de cerca de
US$ 17 bilhões.
"Os russos viram (a situação da Venezuela) de forma
oportunista. A recessão no país e a queda na produção de petróleo já haviam
começado. Então, a Rússia viu uma oportunidade de comprar ativos da indústria
petrolífera a preços muito baratos", disse o analista da Oxford Economics.
Irã e a 'venezualização'
Apesar de estarem separados por mais de 12 mil quilômetros, o
Irã e a Venezuela mantêm uma relação que, segundo o ex-presidente venezuelano
Hugo Chávez, é "sagrada". O Irã tem sido um dos poucos países a
demonstrar apoio a Maduro, chamando a autoproclamação de Guaidó de
"tentativa de golpe".
Chávez e o ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad foram
os responsáveis por fortalecer os laços entre os dois países. Desde então,
ocorreram diversas visitas oficiais dos dois lados.
Mas a aliança entre a Venezuela e o Irã é de natureza
diferente, como explica o editor da emissora persa da BBC, Ebrahim Khalili:
"O governo apoia a Venezuela porque sua estratégia é ser contra tudo que
os Estados Unidos são a favor. Fala abertamente que devemos estar perto dos
inimigos dos nossos inimigos".
Turquia em busca de ouro venezuelano
Maduro também é muito conhecido na Turquia. Em setembro do
ano passado, por exemplo, um vídeo do venezuelano saindo de um restaurante de
luxo em Istambul provocou controvérsia.
Era a quarta visita de Maduro à Turquia desde 2016, quando as
relações entre as duas nações começaram a florescer. Naquele ano, o presidente
turco Recep Tayyip Erdogan sofreu uma tentativa de golpe, e Maduro foi um dos
primeiros líderes mundiais a apoiá-lo.
Não surpreende, então, que Erdogan tenha criticado os Estados
Unidos por apoiarem Guaidó.
O parlamento turco tem, inclusive, um grupo dedicado à
"amizade" turco-venezuelana. Segundo seu presidente, Kerem Ali
Surekli, do partido de Erdogan, "ambos os países resistem a intervenções
externas, rechaçam intervenções externas e bastam a si mesmos".
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47312442
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