domingo, 21 de abril de 2019

Aula 03/2019 - Coletes Amarelos


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TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR -  Na França, coletes amarelos são acusados de antissemitismo
No 14º final de semana seguido de manifestações dos coletes amarelos na capital francesa, ofensas consideradas antissemitas chamaram atenção. O presidente do país, Emmanuel Macron, condenou ataques verbais feitos a um proeminente intelectual judeu francês, o filósofo Alain Finkielkraut, no último sábado, dia 16.
A polícia interveio para formar uma barreira depois que um grupo de indivíduos envolvidos no protesto confrontou o filósofo e começou a insultá-lo verbalmente. O acadêmico judeu de 69 anos disse ao jornal "Le Parisien" que ouviu pessoas o chamando, aos berros, de "sujo sionista" e ouviu gritos como "jogue-se no canal".
O presidente Macron disse que este episódio foi uma "negação absoluta" do que fez a França grande e que isso não seria tolerado. Alain Finkielkraut disse ao "Journal du Dimanche" que sentiu um "ódio absoluto" dirigido a ele, e teria tido medo em relação à sua segurança se a polícia não estivesse lá, embora tenha enfatizado que nem todos os manifestantes foram agressivos. O episódio ocorre pouco depois de o ministro do Interior da França alertar que o antissemitismo está "se espalhando como veneno" no país, com uma série de incidentes similares registrados no centro de Paris no final de semana passado. Grupos judaicos também têm alertado para o crescimento do antissemitismo e do ódio contra outras minorias em toda a Europa, promovidos pelo crescimento da extrema-direita.
Dados oficiais da Alemanha, divulgados na semana passada, revelam que as infrações de caráter antissemita aumentaram 10% no último ano — incluindo um aumento de 60% no que diz respeito a ataques físicos.

TEXTO 2 – Veja quem são os "coletes amarelos" que protestam na França
Os manifestantes na França, denominados “coletes amarelos”, reúnem aposentados, artesãos, diaristas, camareiras, desempregados, operários e pequenos empresários. Eles lideraram por três semanas uma onda de protestos no país, protagonizando cenas de violência em Paris, e levando o presidente francês, Emmanuel Macron, a suspender o reajuste do imposto sobre combustíveis.
"Eu queria ver Macron e [o primeiro-ministro, Édouard] Philippe vivendo com 1.100 euros líquidos por mês [o equivalente a cerca de R$ 4.700,00]", disse à Agência EFE Michel Arnald, que é caminhoneiro. Outro manifestante que se identificou apenas como “Michel”, pai de cinco filhos, disse que o momento é de continuar a luta.
Desde 17 de novembro, quando foi convocado o primeiro grande protesto nacional por meio das redes sociais, dezenas de "coletes amarelos" - que ganharam esse nome por usarem uma jaqueta fluorescente obrigatória nos carros da França para o caso de acidente - estão nas rotatórias da cidade.
Os “coletes amarelos” defendem o aumento dos valores do salário mínimo e das aposentadorias e também a renúncia de Macron. Todos os dias os manifestantes fazem uma fogueira improvisada em locais turísticos de Paris. O colete amarelo virou uma espécie de símbolo de luta social.

TEXTO 3 – Conheça o movimento francês dos 'coletes amarelos' em cinco perguntas
Veja a seguir cinco dados sobre este movimento apolítico e sem líder visível que tem levado milhares de franceses às ruas mediante convocações feitas nas redes sociais.
- Quem são os 'coletes amarelos'? -
O movimento dos "coletes amarelos" nasceu em poucas semanas à margem dos sindicatos e partidos políticos. O estopim: a alta dos preços dos combustíveis.
Seu nome faz referência à vestimenta fosforescente utilizada por todo motorista na Franca em caso de incidente em uma estrada para ter mais visibilidade. Apoiado principalmente pelas pessoas que vivem na periferia, em províncias ou zona rurais, se tornou um movimento mais amplo contra a política tributária do governo, que muitos consideram que favorece os mais ricos.
"Não estão questionando o imposto em si, mas a ideia de que não está sendo dividido de forma equitativa", declara Alexis Spire, diretor de pesquisa do CNRS.
Mas as reivindicações dos "coletes amarelos" são diversas. Alguns pedem que seja restabelecido um imposto aos mais ricos, enquanto outros, medidas para aumentar o poder aquisitivo, e os mais radicais querem a renúncia de Macron.
- No que difere de outros movimentos? -
Alguns o comparam com a revolta dos "gorros vermelhos" bretões que obrigaram o governo socialista de François Hollande (2012-2017) a eliminar um imposto aos caminhões para lutar contra a contaminação.
Mas para Danielle Tartakowsky, professora de História Contemporânea, este é "inédito" em vários aspectos. "Primeiro porque nasceu nas redes sociais (...) e segundo porque recorre a um novo modelo de organização", desligado dos corpos intermediários.
E apesar de ter semelhanças com o "Nuit Débout", a versão francesa dos "Indignados" do 15-M na Espanha, os analistas concordam que, sociologicamente, não se trata das mesmas bases.
Os "Indignados franceses" eram jovens urbanos, formados, preocupados com a falta de oportunidades, enquanto os "coletes amarelos" são operários, funcionários precários, de zonas rurais ou cidades de tamanho médio, assinala Jérôme Sainte-Marie, diretor do instituto de pesquisas PollingVox.
"Estes territórios sofreram uma diminuição dos serviços públicos nos últimos anos. Seus habitantes se sentem abandonados pelos poderes públicos e ignorados pelos políticos", aponta Spire.
- Quão grande é este movimento? -
No sábado, 17 de novembro, primeiro dia de ação nacional convocado pelos "coletes amarelos", 300 mil pessoas participaram de protestos em todo o país, com um balanço de dois mortos e mais de 600 feridos.
Os protestos esporádicos continuaram ao longo da semana, com bloqueios de estradas e de depósitos de combustíveis.
No sábado passado (24) apenas participaram pouco mais de 100 mil pessoas em manifestações em toda a França, oito mil delas em Paris.
A atenção foi focada na capital francesa, onde aconteceram confusões enfre manifestantes e a polícia na avenida dos Champs-Élysées, com um balanço de 103 detidos.
- O que Macron anunciou? -
Apesar de, segundo as pesquisas, a maioria dos franceses apoiar o movimento, Emmanuel Macron anunciou nesta terça-feira (27) que não deixará de aumentar este imposto diante do "alerta ambiental".
"Fim do mundo ou fim do mês, precisamos trata as duas" questões, assinalou o presidente, reafirmando a necessidade de conciliar as exigências sociais e a urgência ambiental. Entretanto, anunciou que imposto sobre a gasolina e o diesel será adaptado em função da flutuação do preço do barril de petróleo. Concretamente, se o preço subir, o governo poderia decidir suspender ou reduzir este aumento. Mas, por enquanto, se mantém como planejado e entrará em vigor em 1º de janeiro de 2019.
Anunciou também uma "grande consulta" sobre "a transição ecológica e social", um pacote de medidas para estimular os franceses a adotar modos de vida e de transporte menos poluentes, pelo que justifica a alta dos combustíveis.
- Este movimento pode durar? -
Até o momento, os "coletes amarelos" gozam de um amplo apoio público. Uma pesquisa realizada na semana passada mostrou que 70% dos perguntados considerava os protestos justificados.
Mas a queda da participação nas manifestações sugere que o movimento está caindo.
"O movimento poderia desaparecer por desgaste", adverte Jérôme Sainte-Marie.
"Se no próximo sábado só saírem às ruas 50 mil pessoas, poderia ser o seu fim", previu.
"Mas o que fez o movimento aflorar - a rejeição à política de Macron - não desaparecerá tão fácil", concluiu.

TEXTO 4 – Maio de 1968: as origens e os ecos do movimento
No dia 10 de maio de 1968, um grupo de pelo menos 20 mil estudantes franceses ergueu barricadas feitas de carros virados, carteiras e outros móveis destruídos, transformando o Quartier Latin, bairro estudantil da região central de Paris, numa espécie de ilha ou de território autônomo em relação a todo o restante da capital.
A divisão, criada fisicamente pelos destroços acumulados ao longo de dias de protestos e de enfrentamento com a polícia, era, em si, a representação tangível de outras divisões, muito maiores e mais profundas, que mantinham os protagonistas daquela geração em confronto aberto com os valores dominantes da sociedade de então.
As barricadas do Maio de 1968, em Paris, representavam a separação irreconciliável de duas gerações, de pais e filhos, a separação moral da sociedade e dos costumes, entre conservadores e liberais, e, por fim, a separação política e econômica de boa parte do mundo, entre comunistas e capitalistas, no auge do enfrentamento ideológico entre esses dois blocos, personificados pelos Estados Unidos, de um lado, e pela URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), de outro, com dezenas de outros países, movimentos e personalidades orbitando ao redor.
De Paris, o movimento se espalhou pelo mundo, e, após 1968, pelo tempo.
Para entender a dimensão dos eventos daquele período e sua influência sobre o presente, é preciso percorrer a linha do tempo, conhecer seus protagonistas e também as críticas às pretensões dos que falaram em nome daqueles protestos, que agora completam meio século.
“Maio de 68” é uma expressão que se refere a um conjunto de eventos espaçados no tempo e no mundo, que, na verdade, tiveram início em março, não em maio; e cujo berço foi uma universidade em Nanterre, nos arredores de Paris. Esses eventos tiveram início com uma onda de debates no meio universitário francês, seguidos de ocupações, atos públicos, discursos, assembleias e protestos de rua, que rapidamente evoluíram para o enfrentamento aberto com a polícia e com toda estrutura formal de força e de poder na França – fosse no núcleo familiar, nos embates geracionais de fundo moral, por exemplo, sobre questões ligadas a gênero e sexualidade, fosse de maneira mais ampla na sociedade, no questionamento à figura do presidente, do primeiro-ministro e até do Estado, em si, assim como das leis, do dinheiro e da religião. O movimento teve como bandeira um pacote de reivindicações que partiram de demandas extremamente pontuais, como reformas na grade curricular, passando por pautas estruturais, como o fim da Guerra no Vietnã e o fim do capitalismo, até chegar às reivindicações de cunho filosófico e existencial – como no lema “seja realista, queira o impossível”, que expressava o caráter artístico, poético e ilimitado que seus protagonistas atribuíam à própria forma de lutar contra estruturas que eram consideradas pesadas, antigas, opressoras, desiguais, superadas e obsoletas.
A onda de Maio de 1968 teve como primeiro e principal ator o movimento estudantil, seguido imediatamente pelos sindicatos de trabalhadores e, na sequência, por artistas e intelectuais não apenas da França, mas de muitos outros países, incluindo o Brasil.
Juventude, ruptura, rebeldia e liberdade nunca foram condições exclusivas da Paris de 1968, tampouco eram monopólio francês. A onda de contestação geracional, moral e política se alastrava por boa parte do mundo desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, tendo como vetor as transmissões via satélite, a literatura, o cinema e, principalmente, a música pop.
Para entender como o espírito de 1968 se espalhou geograficamente pelo mundo, é preciso saber, de saída, que a maior parte dos estudantes e dos trabalhadores envolvidos nesse movimento estava conectada à ideia de construção de uma política de esquerda, baseada em algum tipo de socialismo utópico, igualitário e fraterno. Para muitos dos protagonistas do movimento de 1968, esse socialismo idealizado não estava, por certo, presente no capitalismo. O Maio de 1968 contestou tanto a repressão militar de direita que tinha apoio dos EUA quanto a repressão militar de esquerda, sob batuta da URSS
A Primavera de Praga, ocorrida em 1968 na Tchecoslováquia, sob a liderança de Alexander Dubcek, tentava construir um “socialismo com face humana” no país, em contraposição ao modelo centralizador, censor e ditatorial imposto pelos soviéticos. “O que as cabeças pensantes [de Maio de 1968] diziam era uma coletânea de ideias malucas de grupos de esquerda: revisionistas socialista, trotskistas, maoístas, anarquistas, surrealistas e marxistas. Eles eram anticomunistas tanto quanto anticapitalistas. Alguns pareciam ser anti-industriais, anti-institucionais e até antirracionais”, definiu Peter Steinfels, jornalista do The New York Times que, em maio de 1968, era um dos estudantes envolvidos nos protestos no Quartier Latin, em Paris.
Maio de 1968 nutriu e se nutriu, por exemplo, do movimento americano pela defesa dos direitos civis – de negros, mulheres e gays – e de oposição à guerra no Vietnã, na qual os EUA haviam entrado quatro anos antes.
Na América Latina, o movimento conectou-se com a luta dos estudantes e dos trabalhadores do México. Eles reivindicavam mudanças na condução política do país que, desde 1929, estava nas mãos do PRI (Partido Revolucionário Institucional). O movimento também reverberou no Brasil. Desde 1964, o país estava sob ditadura militar. O movimento estudantil era perseguido e seus membros estavam sujeitos a prisão, tortura e morte. Em 1968, as contestações ao regime ganharam força. Artistas e intelectuais se uniram aos estudantes no mês de junho na “Passeata dos Cem Mil”. Em dezembro, os militares decretaram o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que suprimiu uma série de garantias individuais e inaugurou o período mais duro da repressão. O Maio de 1968 repercutiu em todos esses contextos – fossem de repressão militar de direita com apoio dos EUA, fosse de repressão militar de esquerda, sob batuta da URSS – inspirando jovens que tinham em comum alguma forma de rebeldia contra o que estava estabelecido como poder.

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