domingo, 14 de outubro de 2018

Aula 17/2018 - Nova revolta da vacina?




TEXTO 1 – Fato motivador - Grupos contrários à vacinação avançam no país; movimento preocupa Ministério da Saúde
Embora o Brasil tenha um dos mais reconhecidos programas públicos de vacinação do mundo, com os principais imunizantes disponíveis a todos gratuitamente, vêm ganhando força no país grupos que se recusam a vacinar os filhos ou a si próprios.
Esses movimentos estão sendo apontados como um dos principais fatores responsáveis por um recente surto de sarampo na Europa, onde mais de 7 mil pessoas já foram contaminadas. No Brasil, os grupos são impulsionados por meio de páginas temáticas no Facebook que divulgam, sem base científica, supostos efeitos colaterais das vacinas.
O avanço desses movimentos já preocupa o Ministério da Saúde, que observa queda no índice de cobertura de alguns imunizantes oferecidos no Sistema Único de Saúde (SUS). No ano passado, por exemplo, a cobertura da segunda dose da vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, teve adesão de apenas 76,7% do público-alvo.
"Isso preocupa e causa um alerta para nós porque são doenças imunopreveníveis, que podem voltar a circular se a cobertura vacinal cair, principalmente em um contexto em que temos muitos deslocamentos entre diferentes países", diz João Paulo Toledo, diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, que ressalta que todas as vacinas oferecidas no País são seguras.
A disseminação de informações contra as vacinas ocorre principalmente em grupos de pais nas redes sociais. O Estadão encontrou no Facebook cinco deles, reunindo mais de 13,2 mil pessoas. Nesses espaços, os pais compartilham notícias publicadas em blogs, a maioria de outros países e em inglês, sobre as supostas reações às vacinas --por exemplo, relacionando-as ao autismo.

TEXTO 2– Movimento antivacina gera surto de doenças nos EUA
Surtos de doenças como sarampo, caxumba ou coqueluche costumam ser associados a países pobres da África ou da Ásia, onde grande parte da população não tem acesso a vacinação e cuidados médicos.
No entanto, nos últimos anos essas doenças vêm ressurgindo com força nos EUA. Somente no ano passado, foram registrados mais de 24 mil casos de coqueluche no país, segundo dados preliminares do Centers for Disease Control and Prevention (Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças, ou CDC, na sigla em inglês), ligado ao Departamento de Saúde dos EUA.
No ano anterior, o número chegou a 48,2 mil, o maior desde 1955. Em 2013, o país registrou ainda 438 casos de caxumba e 189 de sarampo, todas doenças que podem ser prevenidas por vacinas existentes há vários anos.
"No caso da coqueluche, parte dos surtos parece estar ligada ao problema de que a vacina mais amplamente usada não é tão eficaz quanto costumava ser. Mas os casos de caxumba e, especialmente, sarampo, acho que estão relacionados ao movimento antivacina", disse à BBC Brasil a especialista em saúde global Laurie Garrett, do Council on Foreign Relations (CFR).
"Os níveis de vacinação na Grã-Bretanha para doenças como sarampo, caxumba e rubéola vêm despencando. Há comunidades inteiras em que a cobertura está abaixo de 50%. No caso de uma doença tão contagiosa como o sarampo, qualquer nível abaixo de 90% é perigoso", diz Garrett.
Autismo
O movimento antivacina ganhou força a partir de 1998, quando o pesquisador britânico Andrew Wakefield publicou um estudo que relacionava a vacina Tríplice Viral (contra sarampo, caxumba e rubéola) ao autismo.
Diversas pesquisas posteriores nunca acharam qualquer ligação entre a vacina e o autismo, e em 2010 uma comissão de ética descobriu que Wakefield havia falsificado dados de seu estudo. Wakefield teve sua licença médica cassada e o estudo foi retirado das publicações.
Mas apesar do descrédito do estudo e de seu autor, a teoria se espalhou, com a ajuda da internet, entre pais temerosos de que a vacina pudesse causar problemas a seus filhos.
Número de vacinas
Fisher diz que seu objetivo não é convencer pais a não vacinarem seus filhos, mas lutar pelo direito à informação.
"Queremos educar as pessoas para que entendam sobre os riscos de complicações das vacinas, para que possam tomar decisões bem informadas", disse Fisher à BBC Brasil.
Assim como outros adeptos do movimento, Fisher reclama do poder da indústria farmacêutica e do número de vacinas recomendadas pelo governo americano.
"Esse número triplicou nos últimos 30 anos. Em 1982, eram 23 doses de sete diferentes vacinas até os seis anos de idade. Hoje, o governo recomenda 69 doses de 16 vacinas até os 18 anos", afirma.
As crianças americanas são obrigadas a apresentarem comprovante de vacinação para ingressar na escola. Mas todos os 50 Estados do país permitem isenções médicas, para crianças que, por motivos de saúde, não podem ser vacinadas.
Perfil
"Estudos mostram que muitas crianças não vacinadas têm pais com altos níveis de educação e renda", disse à BBC Brasil a epidemiologista Allison Fisher, do CDC.
Uma análise das áreas onde ocorrem os surtos também dá dicas sobre o perfil das famílias que optam por não vacinar seus filhos.
"Se nosso mapa interativo englobasse os anos 1950, veríamos que, naquela época, os surtos estavam associados à falta de infraestrutura para levar as vacinas às crianças pobres", diz Garrett.
"Isso não ocorre mais. Atualmente o governo federal dos EUA e a maioria dos governos estaduais têm programas de vacinação muito fortes nas comunidades carentes e áreas rurais", afirma.
"Hoje, os surtos nos EUA ocorrem entre populações mais ricas. E isso tem relação com comunidades em que há maior pressão política para acabar com as exigências de vacinação para crianças na escola", diz Garrett.
Riscos
Segundo Allison Fisher, do CDC, como certas doenças não eram vistas havia muito tempo nos EUA, alguns pais simplesmente pensam que elas não existem mais.
"Tentamos chegar aos pais e profissionais de saúde e reforçar que a decisão de não vacinar traz riscos", diz.
Garrett observa que, antes da introdução das vacinas, doenças como sarampo estavam entre as principais causas de morte de crianças nos EUA.
"É imperdoável que hoje em dia, em um país como os EUA, uma criança pegue sarampo", afirma.
"A ironia é que você volta aos EUA e ouve todas essas pessoas dizendo: 'Não queremos vacinas'."
TEXTO 3– 'Festas da catapora' são populares nos EUA
Comuns até meados dos anos 1990, antes da introdução da vacina, as chamadas "Festas da Catapora" continuam a ganhar adeptos nos EUA. Auxiliados pela internet, pais de todos os cantos do país trocam informações sobre como colocar seus filhos em contato com crianças infectadas pelo vírus causador da catapora – ou varicela (Varicela-Zóster).
O objetivo é tentar fazer com que os filhos contraiam uma doença que, acreditam, se manifesta de forma bem mais branda em crianças do que em adultos, e fiquem assim imunizados para o resto da vida.
Para muitos pais, expor os filhos à doença "naturalmente" é menos arriscado do que optar pela vacina.
"Somos um grupo nacional de pais unidos no apoio ao vírus da catapora na infância em vez da vacina", diz a apresentação da página Pox Party USA, no Facebook.
Na página, uma das várias dedicadas ao tema na rede social, integrantes trocam dicas sobre as "Festas da Catapora" mais próximas de onde moram e debatem prós e contras da vacina e de contrair a doença.
"Este é um grupo para indivíduos/famílias que, por diversos motivos pessoais, preferem a exposição natural à catapora do que a vacina contra a varicela", afirma outro grupo, Chicken Pox Parties – Southeast US.
Pirulitos
Além do temor de que a vacina possa provocar efeitos colaterais graves – o que, segundo especialistas, não tem comprovação científica –, alguns pais questionam sua eficácia. O Centers for Disease Control and Prevention (Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças, ou CDC, na sigla em inglês), agência ligada ao Departamento de Saúde dos EUA, afirma que a eficácia da vacina é de 98%.
Mas o fato de serem recomendadas duas doses – a primeira dos 12 aos 15 meses e a segunda dos quatro aos seis anos de idade – provoca desconfiança em certos pais, que acham mais seguro garantir a imunidade contraindo a doença.
Há inclusive os que recorrem a outros métodos, como enviar ou receber pelo correio pirulitos lambidos ou roupas usadas por crianças infectadas.
A prática ganhou as manchetes há cerca de dois anos, quando autoridades tiveram de alertar que quem enviasse materiais do tipo pelo correio estaria infringindo a lei e sujeito a pena de prisão.
Riscos
"Alguns pais acham que a vacina contra varicela não é necessária, porque lembram que tiveram a doença quando crianças e, apesar do desconforto, ficaram bem", disse à BBC Brasil a epidemiologista Allison Fisher, do CDC.
"Acham que contrair a doença naturalmente é melhor que a vacina", afirma Fisher. "É nossa função alertá-los sobre os riscos de não vacinar."
Seja na forma de "Festas da Catapora" ou do compartilhamento de pirulitos, especialistas afirmam que expor as crianças ao vírus propositalmente é arriscado.
De acordo com o CDC, até o início dos anos 1990 a doença atingia uma média de 4 milhões de pessoas por ano nos EUA. Destas, entre 10,5 mil e 13 mil tinham de ser hospitalizadas e entre cem e 150 morriam a cada ano.


TEXTO 4– A nova revolta da vacina
Ao lado dos antibióticos, as vacinas estão entre as grandes conquistas da medicina. Desde que o médico britânico Edward Jenner decidiu inocular um garoto de sete anos com o conteúdo extraído de uma pústula de varíola, em 1796, e descobriu que isso garantia proteção contra a enfermidade, as doenças infecciosas passaram a figurar entre aquelas contra as quais a ciência finalmente possuía alguma forma de controle.
SURTOS CATASTRÓFICOS
A responsabilidade dos anti-vacina no recrudescimento no número de casos de doenças preveníveis voltou à discussão com o surto de sarampo enfrentado na Europa, com sete mil pessoas contaminadas, e em Minnesota, nos Estados Unidos. Desde abril, foram registrados por lá 69 casos da doença. Desses, 65 ocorreram em crianças que não foram imunizadas e um atingiu um bebê que havia recebido apenas uma das duas doses recomendadas.
POR QUE AS VACINAS SÃO IMPORTANTES
– Elas estão entre as principais conquistas da medicina, ao lado dos antibióticos
– Derrubaram o número de casos de doenças infecciosas graves e são responsáveis pela erradicação de outras, como a varíola
– Protegem o indivíduo e também a comunidade
COMO A CIÊNCIA RESPONDE AOS ARGUMENTOS DO MOVIMENTO ANTI-VACINA*
A imunidade natural seria superior à induzida pela vacina
Não é razoável pensar em expor as crianças à doenças como sarampo para que adquiram imunidade. Depois, as vacinas oferecem imunidade duradoura e eficiente, embora algumas precisem de reforço
Não há evidência cientificamente sustentável de que isso ocorra
Há presença de mercúrio, que poderia prejudicar o desenvolvimento
O metal é encontrado somente em frascos de múltiplas doses. E estudo do Centro de Controle de Doenças, com mais de 1000 crianças acompanhadas, não encontrou diferença neurológica, psicológica ou de desenvolvimento nas que receberam maiores quantidades de mercúrio
Elas enfraquecem o sistema imunológico
Algumas podem causar suspensão temporária de respostas imunes, mas elas são de curta duração e não aumentam risco de infecção por outros agentes infecciosos

TEXTO 5 – Desabafo contra o movimento anti-vacina
Uma mãe americana intensificou o debate entre os que são a favor e contra a obrigatoriedade da vacinação de crianças após postar no Facebook um desabafo sobre o perigo que sua filha, Ashley, correu ao ser exposta a uma criança com varicela, não vacinada. Ashley, de 11 anos, precisou realizar um transplante de rim quando tinha apenas 2 anos de idade, e isso a impede de tomar vacinas com vírus vivo, como é o caso da vacina contra varicela. Assim, basta uma pessoa aderir ao movimento antivacina e deixar de tomar as doses necessárias para que a menina fique ameaçada.
Por causa da exposição desnecessária à doença, Ashley foi parar na emergência. A mãe, a enfermeira Camille Echols, postou que tem visto na internet "memes pseudo-inteligentes questionando: 'por que meus filhos não vacinados seriam uma ameaça para seus filhos vacinados, se você tem tanta certeza de que eles funcionam?'". Em seguida, ela explicou que algumas crianças, como a própria filha, são imunodeprimidas e, caso se exponham ao vírus presente na vacina, não desenvolverão anticorpos, mas sim a própria doença.
"Ela chegou a tomar uma dose da vacina contra varicela, mas não conseguiu tomar a segunda porque ela estava imunossuprimida [por causa do transplante] e, em vez de desenvolver imunidade, ela teria contraído o vírus", afirmou Camille.
Sete dias depois de a criança dar entrada na emergência, ela está considerada saudável, sem sinal de ter contraído varicela. A mãe fez um post de agradecimento em suas redes sociais àqueles que desejaram sorte.

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