segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Aula 03/2018 - Intervenção Militar no Rio de Janeiro



Conteúdo da Aula

TEXTO 1 – Fato motivador - Senado autoriza intervenção na segurança pública do estado do Rio de Janeiro
O plenário do Senado Federal aprovou pouco antes da meia-noite desta terça-feira (20) o decreto do presidente da República, Michel Temer, que impõe intervenção do governo federal na área de segurança pública do estado do Rio de Janeiro. Foram 55 votos a favor, 13 contrários e uma abstenção. A matéria será promulgada.
É a própria Constituição que determina que a intervenção federal é competência da União, só podendo ser decretada e executada pelo presidente da República. A norma máxima do país também dá poderes para o Congresso Nacional aprovar ou suspender a intervenção federal.
O Decreto 9.288/2018 foi aprovado por meio do Projeto de Decreto Legislativo (PDS) 4/2018, relatado em plenário pelo senador Eduardo Lopes (PRB-RJ). Em substituição à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), Lopes apresentou parecer favorável à aprovação do decreto, o qual considerou como medida extrema e excepcional, porém necessária diante da realidade do estado.
Segundo o relator, o estado do Rio de Janeiro enfrenta onda grave de violência e a população vive com medo e em “situação de paranoia”. Ele afirmou que a situação da segurança pública no estado atingiu tal patamar que exige medidas fortes e efetivas do poder central para garantir os direitos à vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade previstos pela Constituição a todos os brasileiros.
— A situação não é exclusiva do Rio de Janeiro, mas quando vemos bandidos assaltando carrinho de cachorro quente com fuzil, vemos que a situação é grave. A população vive assustada e com medo — disse o relator.
A medida autoriza ainda que o interventor requisite “bens, serviços e servidores” das áreas das secretarias estaduais de Segurança e de Administração Penitenciária e do Corpo de Bombeiros Militar para emprego nas ações por ele determinadas. Também ficam subordinadas ao interventor as polícias civil, militar e penitenciária do estado.
Quando da aprovação do decreto na Câmara dos Deputados, a relatora, deputada Laura Carneiro (PMDB-RJ), incluiu duas sugestões ao Poder Executivo em seu parecer. Ela pediu que o governo federal apresente recursos federais em caráter continuado, a serem usados na segurança pública e nas áreas de assistência social.
A deputada também sugere que o Poder Executivo regulamente o poder de polícia das Forças Armadas e estabeleça diálogos com o Ministério Público e com o Judiciário para o controle externo da operação. Os dois pedidos foram feitos na forma de indicação, que são opinativos e não vinculam a atuação do Executivo federal, já que não é possível apresentar emendas ao decreto de intervenção.

TEXTO 2 – A intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro pode dar certo?
A intervenção federal no Rio de Janeiro é a primeira sob a regência da Constituição de 1988. As polícias Civil e Militar, os bombeiros e o sistema prisional do Estado ficam sob a responsabilidade direta de um general do Exército que responderá diretamente ao Presidente da República e recebeu a difícil missão de "pôr termo a grave comprometimento da ordem pública no Estado" em apenas dez meses.
Há muita incerteza sobre como isso será feito, dada a falta de anúncio das medidas operacionais e de gestão que serão adotadas pelo interventor. Há muito a fazer e a maioria das ações passa por uma gestão básica da política de segurança, além da revisão de práticas que resultam em uma polícia tão cara quanto imune ao combate de regras ineficientes ou de condutas inaceitáveis.
A presença de tropas federais na segurança policial, porém, não é um fato novo. A experiência de outros países que passaram por processos semelhantes de crise e de reestruturação do sistema de segurança pública indica a existência de riscos que ameaçam a capacidade de a intervenção controlar o problema.
Lições importantes podem ser aprendidas com os casos da Georgia, Colômbia e mesmo com países muito mais pobres e com instituições muito mais frágeis do que o Brasil e o Rio de Janeiro, como Honduras.
Por fim, a intervenção deve derrotar o controle do crime organizado e das milícias sobre populosas áreas do Rio. É preciso aposentar as incursões típicas de contrainsurgência, celebrizadas pelo Bope, em nome de um policiamento agressivo, combinado com o de proximidade onde for cabível, como fazem a Rota e a Força Tática em São Paulo. Nada disso existe na PM do Rio. Em dez meses, não dá para construir. Em cinco anos, talvez. Nesse contexto de adversidade, deve-se proteger as estruturas internas da Secretaria de Segurança que produzem as estatísticas criminais. Sem informações confiáveis, como as que hoje o Instituto de Segurança Pública produz, e sem organizações independentes monitorando as ações das polícias e das Forças Armadas, será difícil formar uma coalizão estável e majoritária na sociedade em apoio à intervenção.
A sociedade está dividida e muitos são abertamente hostis à intervenção. As críticas devem ser tratadas com respeito quase reverencial, ao invés de cinismos —o Ministro do Interior da Argentina dizia que não publicava estatísticas criminais porque, se as notícias eram ruins, todos o criticavam, e se eram boas, todos diziam que estava mentindo.
Sem cinismos e sem atalhos, será preciso coragem e qualidade de gestão para enfrentar as balas dos criminosos, a reestruturação da Polícia Militar, corrupção e malfeitos daqueles que deveriam nos proteger, além da hostilidade de quem se está a servir.

TEXTO 3 – Intervenção federal no Rio gera onda de informações falsas nas redes sociais, veja as principais
São boatos como a de que quem estiver na rua depois das 22h sem um documento de identificação e a carteira de trabalho assinada "será levado sob custódia para um quartel (ainda a ser definido) na vila militar", como diz um dos textos que viralizaram na internet.
Na terça-feira, o Senado aprovou o decreto presidencial que autoriza a intervenção no Rio de Janeiro. A ação será válida até dia 31 de dezembro deste ano e foi aprovada por 55 votos favoráveis e 13 contra, com uma abstenção. Era necessária a maioria simples dos senadores para que o texto fosse aprovado.
Abaixo, você confere as principais informação falsas que vêm circulando nas redes sociais e por que são boatos. Em nota enviada à BBC Brasil, o Exército afirmou que "não comenta informações inverídicas".
Informação falsa: Prisão para quem não portar documento de identificação com carteira de trabalho assinada após 22h do dia 18 de fevereiro
- Não existe Ministério do Exército. O Exército é subordinado ao Ministério da Defesa, assim como a Marinha e a Aeronáutica.
- Os boletins internos do Exército não são intitulados SPOEX, mas SGEx.
- Não há dispositivo legal que obrigue o cidadão a portar documento de identificação. Além disso, a carteira de trabalho só é obrigatória a quem venha a prestar algum tipo de serviço profissional no Brasil. Sendo assim, nem toda a população a possui.
- Os detalhes da intervenção federal ainda não foram divulgados.
Informação falsa: Plano Estadual de Intervenção Militar é divulgado
- Não existe Ministério do Exército. O Exército é subordinado ao Ministério da Defesa, junto com a Marinha e a Aeronáutica.
- Os detalhes da intervenção federal ainda não foram divulgados.
- O interventor federal é o general do Exército Walter Souza Braga Netto. Ivan Cosme de Oliveira Pinheiro é coronel da reserva do Exército, professor universitário e diretor de Comunicação Social do Clube Militar.
Informação falsa: Colaboração da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a tropa de elite da PM de São Paulo) com a PM do Rio para revista de carros, caminhões e ônibus na rodovia Presidente Dutra, que liga os dois Estados
- Os detalhes da intervenção federal ainda não foram divulgados.
- Não há registro de reunião envolvendo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), sobre possível ajuda ao Rio de Janeiro.
- Houve, sim, uma reunião, mas entre os secretários de Segurança Pública de São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais com o objetivo de traçar estratégias conjuntas para prevenção de crimes nas divisas dos três Estados com o Rio de Janeiro.
Informação falsa: Lista dos militares que vão comandar os Batalhões da PM do Rio de Janeiro
- Há 41 BPMs (Batalhões da Polícia Militar) no Rio de Janeiro, e não 27.
- O general Alfredo Barbosa foi comandante da 3ª Brigada de Cavalaria do Exército brasileiro entre 1909 e 1910.
- O general Rui Brito é um "Brigadeiro-General Piloto Aviador" da Força Aérea de Portugal.
Informação falsa: Discurso do general Gramoza
- O "general Gramoza" não existe.
- O texto é de autoria do general da Reserva Paulo Chagas, publicado em seu blog em janeiro de 2015. Chagas buscava a exclusão do nome do pai, Floriano Aguilar Chagas, do relatório da Comissão Nacional da Verdade. A família do militar havia ingressado na Justiça contra a comissão descrevendo as ações dele como adido do Exército na Embaixada do Brasil em Buenos Aires, nos anos da ditadura, como "meramente diplomáticas".
Informação falsa: Vídeo mostra tanques na rodovia Presidente Dutra
- O vídeo circula desde 2013 e não foi gravado na Via Dutra, mas sim na Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte.
- Os blindados foram enviados para a Escola de Sargento das Armas do Exército, em Três Corações, no sul de Minas Gerais, segundo disse na ocasião o tenente-coronel Marcus Vinicius Messeder, chefe da assessoria de comunicação da 4ª Região Militar, ao jornal mineiro O Tempo.
Informação falsa: Foto mostra militar revistando crianças no Rio de Janeiro
- A foto já havia circulado em agosto do ano passado, quando o Rio de Janeiro registrou um recorde de 26,9 mil alunos sem aula por causa do temor da violência. A imagem, na verdade, é de 1994.

TEXTO 4 – 'Não dá para culpar militares se intervenção no Rio der errado', diz ministra do Superior Tribunal Militar
intervenção federal no Rio de Janeiro - que deve durar pelo menos até dezembro de 2018 - deixa as Forças Armadas pela primeira vez no comando total da segurança de um Estado brasileiro. Mas para a ministra do Supremo Tribunal Militar Maria Elizabeth Rocha, os militares não devem ser culpabilizados caso a estratégia não tenha o efeito desejado.
"Os militares estão subordinados ao poder civil. Receberam uma missão e têm que cumpri-la na melhor forma. Mas é preciso saber exatamente qual a missão", disse em entrevista por telefone à BBC Brasil.
Primeira e única mulher a ser nomeada para a corte mais antiga do país - e a presidi-la -, a juíza mineira critica o uso das Forças Armadas para a segurança pública e diz que papel de soldados no Rio não deve ser "sair com um fuzil no meio da rua e barbarizar o cidadão".
Rocha também defende que a possibilidade de possíveis abusos cometidos na intervenção serem julgados por um tribunal militar não deve preocupar a população.
Confira os principais trechos da entrevista:
BBC Brasil - As Forças Armadas são consideradas um meio ainda conservador e machista. No entanto, você encampou a defesa dos direitos das mulheres e dos homossexuais desde que ingressou no STM. Acredita ter conseguido avançar no tema?
Rocha - Acho que os avanços são significativos. Hoje a antiga política norte-americana do "Don't ask, don't tell" ("Não pergunte, não conte", em tradução livre) que predominava nas Forças Armadas brasileiras acabou. A pessoa tem direito a assumir a sua identidade e a não ser perseguida por causa disso.
BBC Brasil - O que exatamente a Justiça Militar pode julgar?
Rocha - O artigo 9º do Código Penal Militar especifica todas as situações em que o crime é de natureza militar. Falando em termos gerais, os crimes militares são aqueles que ofendem a administração militar e as Forças Armadas mesmo se aplicadas por civis. Por isso, nossa competência abarca não só militares contra militares ou militares contra civis, mas até civis contra civis.
BBC Brasil - Como vê a intervenção militar no Rio de Janeiro?
Rocha - Eu não vou discutir se a decisão política do Poder Executivo foi acertada ou não. Ela foi feita dentro dos parâmetros constitucionais - porque a nossa Constituição prevê e autoriza a intervenção federal e, como cidadã, espero que ela dê resultado.
BBC Brasil - Mas o interventor nomeado para o Rio é um militar. Não vai ser difícil para as pessoas não culparem os militares se algo der errado?
Rocha - Pois é. Mas o militar cumpre ordens. Esse plano de intervenção tem que vir de cima para baixo. Eles estão lá para cumprir a missão, mas é preciso dizer especificamente qual é a missão. Porque a missão não é sair com um fuzil no meio da rua e barbarizar o cidadão, não é sair com o fuzil e subir o morro.
Sempre achei que o papel das Forças Armadas não é o de capitão do mato, de fazer segurança pública. As Forças Armadas têm uma missão completamente diferente, estão lidando com a soberania do Estado. Defendem fronteiras, trabalham em missões humanitárias, na defesa da nossa biodiversidade.
BBC Brasil - Críticos também dizem quem uma intervenção federal de natureza militar prejudicando a execução de outras atividades de responsabilidade das Forças Armadas. Isso pode realmente acontecer?
Rocha - Com certeza. Os contingentes militares hoje não são muito grandes, sobretudo se considerarmos a dimensão do Brasil, as Forças Armadas não estão aparelhadas como deveriam, porque os cortes orçamentários são imensos, e ainda vão perder grande parte dos seus homens, que vão para uma missão que não é exatamente aquela para a qual eles foram preparados.



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