domingo, 11 de junho de 2017

Aula 09/2017 - O brasileiro e as piadas com o sofrimento (Memes)



TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR - Fora meme? Como o Governo Temer virou inimigo da indústria das piadas na Internet
Sandro Sanfelice, um analista comercial de 28 anos que mora em Curitiba (PR), recebeu na semana passada uma mensagem que nunca havia visto em seus dez anos à frente da Capinaremos, uma das muitas páginas de memes do país. O Governo o avisava de que as fotografias divulgadas a partir da Presidência “estão liberadas para uso jornalístico e divulgação das ações governamentais. Para outras finalidades, é necessária autorização prévia da Secretaria de Imprensa da Presidência da República”.
Sanfelice ficou perplexo. A mesma mensagem fora enviada à Ah Negão e a outras grandes líderes do complexo industrial de memes brasileiro. Ninguém entendia muito bem o que se queria dizer. Estariam avisando que eles não poderiam mais usar fotografias do presidente em suas páginas? Estaria o governo, que atualmente luta para sobreviver a uma grave crise política com medidas cada vez mais autoritárias, tentando conter a criação de piadas sobre ele na internet? “Num primeiro momento, ficamos apreensivos”, disse Sanfelice ao EL PAÍS. “Os memes são uma forma de expressão, como um artigo de jornal ou uma charge. Não faz sentido proibir nem coibir sua produção”.
A Secretaria de Imprensa não ajudou a resolver a dúvida. A um jornalista de um site local de Novo Hamburgo (RS) foi dito que as imagens não poderiam ser usadas para fazer memes e que, se continuassem a fazê-lo sem dar credito ao autor, ficariam "sujeitos a análise a possível sanção”. A Sanfelice, disseram que os criadores de memes interpretaram “errado” a mensagem. Ouvida pelo EL PAÍS, uma mulher da Secretaria reclamou que havia passado a semana inteira esclarecendo essa questão. “A medida busca democratizar o acesso ao acervo fotográfico produzido pelo departamento, sobretudo a veículos de comunicação que não mantêm profissionais de imagem credenciados no Palácio do Planalto”, afirmou.
Na quarta-feira, o rebuliço era enorme. A nova crise política, justamente, gerou uma produção tão extraordinária que esta acabou virando objeto de reportagens e programas de televisão. Se o que o Governo pretendia era apenas abrir a sua base de dados, estava transmitindo uma imagem de que se queria, na verdade, blindar as fotografias. E, se o que ele pretendia era conter o excesso de memes, estava conseguindo obter o oposto. “Em um dia normal o número de memes com o presidente como temática não passaria de 10%”, diz Sanfelice. “Mas, depois do e-mail, acredito que uns 70% o tinham. Tudo o que os criadores precisam é de uma fonte de inspiração”. O Partido dos Trabalhadores soltou uma nota à imprensa anunciando que as fotos de seu Flickr podiam ser usadas para se produzirem novos memes.
Ao longo de toda a polêmica, uma questão esteve sempre presente: pode um Governo proibir, literalmente, os memes? A mensagem enviada citava um artigo da lei brasileira sobre os Direitos Autorais em que se fala do direito moral do autor de uma determinada imagem de ser “citado na reprodução” da mesma (Lei 9.610/98, artigo 24), o que é impossível por causa da forma como se produzem os memes. Menciona-se também que uma pessoa –por exemplo, o presidente Michel Temer— pode querer denunciar que se sente humilhada pelos memes. “Em tese, o presidente Temer tem o direito de pleitear indenizações pelo uso indevido de sua imagem”, admite Marcelo Crespo, do escritório de advocacia Patrícia Peck Pinheiro. “Mas, caso isso tenha sido feito em um contexto de humor pu crítica política, é menos provável que ele venha a receber a proteção do judiciário”.
Tudo recai em uma zona cinzenta, cheia de ambiguidades, uma espécie de dupla face do ponto de vista legal. Por um lado, a lei serve como refúgio para os criadores de memes. Por outro, permite que o poder lance ameaças de vez em quando. “Temer procurou intimidar os criadores de memes”, avalia Viktor Chagas, professor da Universidade Federal Fluminense e um dos criadores do Museu dos Memes. Trata-se de uma possibilidade tentadora para qualquer governo. Alguns chegaram, inclusive, a ir mais longe. “Na China, se usa muito um humor cifrado para lidar com o intenso controle sobre a liberdade de expressão. Na Rússia, Putin tentou proibir imagens que traziam seu rosto maquilado com as cores do arco-íris. No México e em alguns outros países, tramitam projetos de lei cujo objetivo é censurar ou controlar a circulação de conteúdos digitais que contenham sátiras políticas”.

TEXTO 2 – Origem dos memes
Meme é um termo criado em 1976 por Richard Dawkins no seu bestseller O Gene Egoísta e é para a memória o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros). No que diz respeito à sua funcionalidade, o meme é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se. Os memes podem ser ideias ou partes de ideias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida como unidade autônoma. O estudo dos modelos evolutivos da transferência de informação é conhecido como memética.
Na sua forma mais básica,é tudo aquilo que os utilizadores da Internet repetem, um tipo de carinha é um Meme de Internet é simplesmente uma ideia que é propagada através da World Wide Web. Esta ideia pode assumir a forma de um hiperlink, vídeo, imagem, website, hashtag, ou mesmo apenas uma palavra ou frase. Este meme pode se espalhar de pessoa para pessoa através das redes sociais, blogs, e-mail direto, fontes de notícias e outros serviços baseados na web tornando-se geralmente viral.
Um meme de Internet pode permanecer o mesmo ou pode evoluir ao longo do tempo, por acaso ou por meio de comentários, imitações, paródia, ou mesmo através da recolha de relatos na imprensa sobre si mesmo. Memes de Internet podem evoluir e se espalhar mais rapidamente, chegando às vezes a popularidade em todo o mundo e desaparecendo completamente em poucos dias. Eles estão distribuídos de forma orgânica, voluntariamente, e peer-to-peer, ao invés de por meio predeterminado ou automatizado. Uma importante característica de um meme é poder ser recriado ou reutilizado por qualquer pessoa.
Seu rápido crescimento e impacto chamou a atenção de pesquisadores e da indústria. Os pesquisadores criaram modelos para explicar como eles evoluem e prever quais os memes que vão sobreviver e se espalhar pela web. Comercialmente, eles são usados ​​ativamente no marketing viral, visto como uma forma livre de publicidade de massa. A comunidade da Internet em si tem cultivado métodos para estimular a geração e a divulgação de memes bem sucedidos (exemplos: TED Talks, digg, hashtags)[
TEXTO 3 – O início foi com as charges
Você que está acostumado a divertir-se com as charges presentes em revistas, sites e jornais impressos, sabia que elas constituem um gênero textual? Sim, as charges não são apenas ilustrações que refletem a opinião de quem desenha, são tipos de enunciados que podem ser objeto de uma rica análise linguística.

Aliando linguagem verbal e não verbal, as charges são mais do que piadas gráficas permeadas pelo humor e por uma fina ironia. São tipos de textos que podem ser usados para denunciar e criticar as mais diversas situações do cotidiano relacionadas com a política e a sociedade. Como prova de sua relevância, estão cada vez mais presentes nas provas de concursos e vestibulares, quando o candidato tem sua habilidade de interpretação de texto colocada em análise.
As charges são utilizadas em provas de vestibular e cabe ao candidato compreender os significados que se escondem por detrás das imagens e palavras. Ao interpretarmos uma charge, podemos perceber que diversas informações podem estar nela circunscritas, o que nos obrigará a recorrer aos processos de construção de inferências e analogias para compreendê-la em sua totalidade. Se não lançarmos mão desses processos, dificilmente o conteúdo da charge será apreendido.
Podemos dizer que o principal objetivo de uma charge é transmitir uma visão crítica sobre determinado assunto que esteja sob alvo de discussões na sociedade. Por isso as charges podem ficar datadas, ou seja, podem perder seu objetivo por estarem marcadas cronologicamente. Normalmente elas são publicadas nas seções de artigos de opinião e cartas dos leitores, justamente por indicarem opiniões e juízos de valores por parte de quem enuncia, no caso, o chargista. Gostou de conhecer mais sobre esse gênero textual que alia bom humor, desenho e opiniões? Mergulhe no universo das charges e surpreenda-se!

TEXTO 4 - A zoeira dos brasileiros na internet não tem limites e irrita usuários de outros países
Faz um tempo que ando observando a maneira como costumamos comentar nos tópicos, artigos na internet, posts de Facebook... E sempre fico bem impressionado.
Sugiro como exemplo, aqui, um post que o pessoal de conteúdo colocou na página do PapodeHomem no Facebook: "Filha de ex-chefe do Mossad (o serviço de espionagem israelense) recusou o exército israelense".
"Eu me recuso a alistar-me no exército de Israel. Não posso fazer parte de um exército que desnecessariamente implementa uma política que violenta e viola os direitos humanos mais básicos. Como a maioria dos meus colegas, eu também não ouso questionar a ética do exército israelense. Mas quando visitei os Territórios Ocupados, percebi que há uma realidade completamente diferente, violenta, opressiva, extrema e que precisa ter um fim.
Eu acredito em servir a a sociedade da qual faço parte, e é precisamente por isso que eu me recuso a tomar parte nos crimes de guerra cometidos por meu país. A violência não vai trazer qualquer tipo de solução e não vou cometer a violência, venha o que vier. "
Esta é uma amostra pequena dos comentários que seguiram – inviável reproduzir aqui toda a enxurrada, e também desnecessário, visto que o teor não varia muito:
O ponto é que, por algum motivo, qualquer coisa facilmente, quase automaticamente, vira motivo de zoeira. Parece que temos um hábito irresistível de bater os olhos, fazer algumas guerrinhas de opinião e irmos embora. E tudo geralmente com grandes doses de irritação e ironia barata.
Por algum motivo, temos dificuldade pra olhar as coisas com um mínimo de cuidado, com sensação de pertencimento, com empatia, como algo que diz respeito a nós mesmos e ao mundo onde estamos com os pés agora. Parece um hábito cultural, uma predisposição que vamos inadvertidamente replicando em todo lugar. Se não sentimos que é da gente, não cuidamos.
Lembro de uma metáfora usada por Michel Serres, que explica que os bichos tendem a sujar apenas os lugares onde eles não vivem, da mesma forma que nós sentimos que é é OK jogar lixo pela janela do carro – porque não sentimos que a rua é nossa casa, mas só um lugar de passagem, de ninguém ou de alguém que nunca vamos encontrar.
Então, é de se esperar que não nos surja algum senso de responsabilidade. Nem imaginamos que fazer uma piadinha ruim como a do exemplo aí em cima é igual a sermos racistas ou machistas. Nem imaginamos o tamanho da confusão e sofrimento humano que isso implica. Nem imaginamos que conversar e debater é algo para ser aprendido. Que, no mínimo, estamos jogando no lixo o nosso bem mais precioso – esquecemos da morte com facilidade e com gosto.
Não sei se entendo bem este comportamento. Fico por aqui pensando o que isso sinaliza, de fato, quais são as dinâmicas que geram hábitos assim. De qualquer forma, desconfio seriamente que não é nada muito bom, e que é mais sério do que quer parecer.
E no meio da incerteza e da bagunça, pra mim, penso ser melhor não perder muito tempo, melhor falar menos inutilmente, fazer menos piadinhas, usar menos ironia e lembrar o óbvio: estamos sempre tratando com a vida das pessoas.
Não tem sido fácil.
Fonte: https://papodehomem.com.br/melhor-falar-menos-ou-nem-falar/

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