domingo, 1 de outubro de 2017

Aula 17/2017 - A arte, o conceito e as redes sociais




TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR 1 - Santander cancela mostra de arte após pressão do MBL
A exposição "Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira", que estava em cartaz desde 15 de agosto no Santander Cultural, em Porto Alegre, foi cancelada após protestos em redes sociais liderados, principalmente, pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e por religiosos. A mostra ficaria em cartaz até 8 de outubro, com 270 obras relacionadas a questões de gênero, de 85 artistas, como Adriana Varejão, Cândido Portinari e Ligia Clark.
"Nos últimos dias, recebemos diversas manifestações críticas sobre a exposição Queermuseu - Cartografias da diferença na Arte Brasileira. Pedimos sinceras desculpas a todos os que se sentiram ofendidos por alguma obra que fazia parte da mostra", respondeu o Santander, em nota divulgada em rede social, na qual anunciava o cancelamento da mostra.
O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, tinha compartilhado a nota do Santander Cultural, afirmando que a exposição "mostrava imagens de pedofilia e zoofilia". O MBL, que fez uma série de publicações contra a mostra, adotou o mesmo discurso: "O Santander cancelou uma amostra (sic) de 'arte' com material que contém pedofilia e zoofilia direcionado a publico escolar após pressão nas redes do MBL e de outros grupos de direita."

TEXTO 2 – FATO MOTIVADOR 2 - Museu é acusado de pedofilia após interação de criança com homem nu em exposição
A participação de uma criança em uma performance protagonizada por um homem nu deu início a nova polêmica sobre a liberdade artística nas redes sociais, desde a noite desta quinta-feira. Fotos e vídeos registrados no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) mostram uma menina, que aparenta ter em torno de cinco anos, tocando os pés de um artista nu que estava imóvel e deitado sobre o chão.
Em nota divulgada no Facebook, o MAM ressalta que a criança estava acompanhada da mãe e que a sala onde ocorria a performance estava "devidamente sinalizada sobre o teor da apresentação, incluindo a nudez artística". O museu também garante que o trabalho, entitulado "La Bête", não tem qualquer conteúdo erótico.
A apresentação ocorreu na abertura da "Mostra Panorama da Arte Brasileira", realizada na última terça-feira. Trata-se de uma leitura interpretativa da obra "Bicho", de Lygia Clark, segundo o MAM. O coreógrafo Wagner Schwartz se posiciona nu sobre um tatame, manipulando um origami de papel, de forma a sugerir a interação. Em fotos de divulgação, participantes o abraçam, o mudam de posição e grande parte o filma.

TEXTO 3 – “Caso Queermuseu mostra que são tempos de intolerância. Da direita, mas também da esquerda”
A polêmica em torno da exposição, que apresentava trabalhos que discutiam diversidade de gêneros e de sexualidade, acabou acendendo o debate sobre os limites das expressões artísticas e a censura. Isso, no entanto, não parece ter pego de surpresa Cássio Oliveira, doutor em Estética e Filosofia da Arte pela UFMG. Para ele, o fechamento prematuro da mostra só foi praticado porque hoje nós temos um contexto de pouco apreço à liberdade de expressão, que ameaça o poder transgressor da arte.
Pergunta. Existe limite para a liberdade de expressão na arte?
Resposta. Em princípio, não existiria um limite. A arte deve e pode falar sobre tudo que ela quiser. Isso não significa que a liberdade de alguns artistas não seja limitada por alguns aspectos pontuais. P. Uma das principais críticas dos grupos que pediram o fim da mostra foi que ela fazia apologia à pedofilia e a zoofilia. O que fez, inclusive, um promotor ir ao local verificar a acusação, o que não foi constatado.
P. Na sua opinião, o que houve foi censura ou boicote como alegam os movimentos contrários à exposição?
R. O resultado de toda essa polêmica e da decisão final foi censura. Não foi simplesmente um boicote. Ainda que a censura não tenha sido assumida como objetivo pelos que disseram que a mostra não deveria existir, isso já está implícito no simples fato de haver um salto entre afirmar que as obras são ruins ou que são criminosas e a ideia que você não deve exibir isso. O argumento possível é: essas obras são criminosas então não devem ser exibidas.
P. Um dos argumentos para pedir o fechamento da mostra foi que ela era aberta ao público infantil. Faltou classificação etária na mostra?
R. Sim, toda essa discussão poderia ser resolvida levantando a pauta da classificação indicativa. Não seria o caso de rever como as obras estão expostas se existe uma insatisfação importante do público? A classificação indicativa é um instrumento para resolver questões de desacordo à liberdade de expressão. Isso pouco se falou, não houve uma mobilização sobre esse tema.
P. A polêmica é só mais um reflexo do momento de intolerância que vivemos atualmente?
R. Ela é reflexo de um acirramento de ânimos que a gente tem visto no país. A situação política do país é essa e tem se refletido desde 2014 e vai se revelar outra vez nas eleições do ano que vem. Há uma polaridade evidente e o MBL, como movimento que surgiu desse processo mais recente, exibe bem essas características de ter uma postura agressiva contra aquilo que eles não concordam. Vivemos tempos de intolerância. E não é apenas uma coisa da direita contra a esquerda. A esquerda também é intolerante hoje. Acho que a mesma coisa que aconteceu nesse caso de Porto Alegre, acontece com muita frequência na mobilização que movimentos da esquerda fazem contra aquilo que eles consideram equivocado. Por exemplo, muitos movimentos de minoria são organizados e movidos pelo ímpeto do politicamente correto e atuam de forma contrária a arte. Às vezes querem impedir a divulgação de filmes com conteúdo machista, certas obras não devem ser exibidas porque estão ofendendo movimento de minorias X ou Y. Isso acontece muito hoje.
P. Na sua opinião, obras que mostram cenas eróticas e que tocam temas de religião continuarão sempre como tabu?
R. A arte que provoca, que tem a intenção de ser chocante e ser transgressora, sempre vai estar enfrentando algum tipo de condição, de estabilização de valores que ela quer confrontar. É natural que haja polêmica, o que não é natural é que a gente não valorize o papel da expressão artística.
P. A decisão do Santander encerrar a mostra abre precedente para novos protestos contra a arte?
R. Acho que ela faz parte de uma série de acontecimentos relativos a falta de apreço à liberdade de expressão dos últimos tempos. Como foi o caso do festival audiovisual de Pernambuco, o Cine PE, em que cineastas de esquerda tiraram seus filmes da mostra porque não queriam que eles fossem exibidos com filmes de direita, ligados a perspectivas liberais e conservadoras.
TEXTO 4 - Análise: Má interpretação da arte gera equívocos que duram séculos
Há quase meio século, em 1970, no auge da ditadura militar, o artista português Antonio Manuel, radicado no Brasil, fez uma performance no Museu de Arte Moderna do Rio (MAM/RJ), exatamente como a da noite de terça-feira, 26, quando o coreógrafo Wagner Schwartz abriu a 35.ª edição do Panorama da Arte Brasileira no MAM/SP.
As propostas das duas performances eram diferentes, mas o objetivo era o mesmo: fazer uma crítica à repressão que conduz a interpretações equivocadas da arte. Há um evidente retrocesso quando a sociedade, 47 anos depois da performance no MAM carioca, ainda considera escandalosa a nudez artística.
Evoque-se que o Brasil tinha três anos quando Michelangelo concebeu o Tondo Doni (Uffizi), uma pintura tão enigmática que tomou os últimos anos de vida do crítico americano Leo Steinberg. O ensaísta escandalizou os puritanos ao chamar a atenção para a presença de grupos de homossexuais nus no mesmo espaço em que posa a Sagrada Família. Se Michelangelo vivesse hoje, certamente o Tondo Doni não existiria. Nem a Capela Sistina. Ou mesmo seu Davi. Quem perderia com isso seria a própria sociedade.
A performance de Wagner Schwartz, La Bête, parte de uma ideia simples – ser o simulacro de um ‘bicho’ (peça de metal articulada) de Lygia Clark – para criticar o sistema de comercialização da arte, que supervaloriza o objeto e despreza o artista. Um ‘bicho’ de Lygia Clark pode atingir hoje US$ 2 milhões.
Os museus não deixam o público sequer tocar no objeto, o que contraria a intenção original de Lygia Clark. Assim, Schwartz resolveu se expor ao público no lugar do ‘bicho’, sujeitando-se à manipulação. Não houve nenhum apelo à pedofilia, como sugerem os gritos histéricos na internet. A sala do MAM estava sinalizada sobre o conteúdo da exposição. Muitos museus fazem isso. No Masp, a sala do fotógrafo Miguel Rio Branco traz a mesma advertência. Entra quem quer. Entende quem for capaz.
Se o crítico fosse um moralista, permaneceríamos todos na ignorância.

TEXTO 5 - Arte Conceitual – o que propõe
A Arte Conceitual é uma vanguarda artística moderna e contemporânea que surgiu nos anos 60 e 70 na Europa e nos Estados Unidos e, como o próprio nome indica, trata-se de uma expressão artística mais pautada nos conceitos, reflexões e ideias, em detrimento da própria estética (aparência) da arte.
Em outras palavras, a arte conceitual é uma “arte-ideia” em detrimento da “arte-visual”, sendo o principal material da arte a "linguagem". Diante disso, os artistas conceituais preocupam-se em criar reflexões visuais para seus espectadores.
Esse movimento artístico que critica o formalismo e propõe a autonomia da obra artística, foi capaz de revolucionar muitos aspectos da arte, sendo o termo “arte conceitual” utilizado pela primeira vez pelo artista, escritor e filósofo estadunidense Henry Flynt, em 1961. Sobre a arte conceitual, afirma o escultor estadunidense Sol LeWitt (1928-2007): “a própria ideia, mesmo se não é tornada visual, é uma obra de arte tanto quanto qualquer produto”.
Para muitos estudiosos, Marcel Duchamp (1887-1968) foi um dos precursores da arte conceitual, na década de 50, no momento em que colocou um mictório no museu e o chamou de arte. Ali, a ideia dos “ready mades” (Já feito), considerado uma antiarte, não era o produto artístico, mas sim o conceito de arte que o artista quis demostrar, que levava mais ao processo reflexivo, em detrimento do visual. A grande questão da arte conceitual era definir os limites e fronteiras do fazer artístico, ou seja, ela é baseada na indagação:
O que é arte?
Principais Caraterísticas
As principais caraterísticas da arte conceitual são:
Crítica ao formalismo e ao mercado da arte
Crítica ao materialismo e ao consumo
Oposição ao hermetismo da arte minimalista
Popularização da arte como veículo de comunicação
Arte mental e reflexiva
Radicalismo e culto a “antiarte”
Ruptura com a arte clássica e formal
Uso de fotografias, textos, vídeos, instalações, performances (teatro, dança)

TEXTO 6 – Algumas charges


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