domingo, 19 de novembro de 2017

Aula 21/2017 - Uma nova Guerra Fria?






TEXTO 1 – FATO MOTIVADOR  - Estados Unidos e Rússia projetam 'nova Guerra Fria'
No auge da Guerra Fria, na década de 1980, os EUA tinham cerca de 300 mil militares baseados na Europa, de prontidão para resistir a uma invasão soviética. Com o fim da URSS em 1991, Washington trouxe para casa quase todo esse pessoal.
Hoje restam apenas 30 mil americanos no Velho Continente. Ironicamente, estão voltando a ter o mesmo papel dissuasivo de antes, à medida que crescem as tensões com o principal Estado sucessor da URSS, a Rússia.
Os EUA, e em menor grau o Reino Unido, a França e outros aliados da Europa ocidental estão agora realizando cada vez mais manobras militares na parte oriental do continente, em países como Lituânia, Bulgária e Polônia.
Os efetivos são meramente simbólicos —por exemplo, uma brigada blindada americana foi enviada à Polônia (com 4.000 homens e 90 tanques pesados M1 Abrams). O objetivo é garantir a segurança dos novos aliados contra aventuras russas, como foram a tomada da Crimeia e o ataque à Geórgia. A Rússia ficou particularmente indignada com a expansão a leste da aliança militar Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) porque são países que antes eram seus aliados do Pacto de Varsóvia. O ano de 2017 pode estar vendo o começo de uma nova Guerra Fria. Assim como no clássico conflito entre URSS e EUA, é difícil chegar a um consenso sobre quando começou.
Pode-se argumentar que já em 1917 foram lançadas as sementes do conflito. Em outubro, será comemorado o centenário da Revolução Russa. Instalou-se, então, um regime político diferente de todos os outros, e que argumentava que não poderia existir convivência com os odiados países capitalistas. Vários países intervieram com tropas para eliminar o nascente Estado socialista. A lembrança dessa intervenção alimenta a tradicional paranoia russa, assim como o ataque surpresa dos alemães em 1941.
Os historiadores costumam usar um discurso de 1947 do presidente americano Harry Truman (1884-1972) como o marco inicial da Guerra Fria. A chamada Doutrina Truman foi criada para combater a expansão geopolítica da URSS. Ela implicava o apoio americano a países ameaçadas pelo comunismo. Os primeiros recipientes dessa ajuda econômica e militar foram Grécia —que viveu uma guerra civil com a guerrilha de esquerda— e Turquia. Em 5 de março de 1946, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill fez um famoso discurso nos EUA, com Truman presente, em que dizia que uma "cortina de ferro" tinha descido na Europa.

TEXTO 2 – Manobras militares russas na fronteira da NATO geram medo e conspirações
Quando um Governo tem de esclarecer publicamente em várias ocasiões que os exercícios militares que o Exército está a planear não são o prelúdio de uma invasão, falar de simples desconfiança será uma subvalorização. Foi o que aconteceu nas semanas que antecederam as grandes manobras militares russas e bielorrussas que começam esta quinta-feira e duram até dia 20.
Moscovo tem tentado acalmar o nervosismo sentido em algumas capitais de Estados-membros da NATO que nos próximos dias terão a poucas centenas de quilómetros das suas fronteiras uma mobilização maciça de activos militares russos. “Algumas pessoas chegam ao ponto de dizer que os exercícios Zapad vão ser usados como uma rampa de lançamento para ocupar a Lituânia, Polónia ou Ucrânia. Nenhuma destas versões paradoxais tem a ver com a realidade”, afirmou no final de Agosto o vice-ministro russo da Defesa, Alexander Fomin, num encontro com adidos militares ocidentais.
Todos os anos, numa metodologia que remonta à era soviética, o Exército russo organiza os seus principais exercícios numa das quatro regiões militares prioritárias – Zapad, que significa Oeste; Vostok, que é Leste; Tsentr, na região central do país, e Kavkaz, no Cáucaso. Ou seja, de quatro em quatro anos, a Rússia mobiliza milhares de soldados, tanques, peças de artilharia, aviação e alguns navios para testar as suas capacidades de defesa junto à sua fronteira ocidental, partilhada com a Aliança Atlântica. Segundo o Ministério da Defesa, os exercícios da edição deste ano terão lugar na Bielorrússia, e nas regiões russas de Leningrado e Pskov, e também no exclave de Kaliningrado, entre a Polónia e a Lituânia.
Mas desde o último Zapad, em 2013, muito mudou nas relações entre a NATO e a Rússia. A Península da Crimeia foi anexada depois de uma rápida ocupação militar por forças russas; grupos rebeldes tomaram de assalto grande parte do Leste da Ucrânia, com alegado apoio de Moscovo; a intervenção do Exército russo na guerra na Síria alterou de forma profunda o desenrolar do conflito a favor do regime de Bashar al-Assad; o Ocidente diz-se vítima de uma ciberguerra lançada por operacionais ligados ao Kremlin para desacreditar as suas instituições democráticas, com destaque para a alegada interferência russa nas eleições dos EUA.
Desconfiança
É neste clima de profunda desconfiança entre os dois blocos, com ecos da Guerra Fria, que as manobras militares em ambos os lados ganham novos contornos. Na sequência da anexação da Crimeia, a NATO reforçou a sua presença nos países limítrofes a Leste, enviando batalhões de “intervenção rápida” que vão rodar entre os três Estados bálticos (Estónia, Letónia e Lituânia) e a Polónia. Em Julho, um exercício liderado pelos EUA mobilizou 25 mil soldados provenientes de mais de vinte países que se dividiram entre a Hungria, Roménia e Bulgária.

TEXTO 3 –'Nova guerra fria' pós-Trump divide Alasca, ex-território russo
No Alasca, a previsão do tempo diária para as cidades de Anchorage, Fairbanks e Juneau divide a tela da TV com as temperaturas previstas para as regiões russas de Chukotka e Kamchatka, do outro lado do estreito de Bering.
O costume só causa estranheza aos turistas, já que, para os moradores do Alasca, a Rússia é um vizinho mais próximo que a maioria dos outros 49 Estados americanos –e não só pela distância de 3,8 km que separa as ilhas de Big Diomede, na Rússia, e Little Diomede, nos EUA. O Alasca guarda até hoje a herança de seus tempos de "América Russa", quando esteve sob domínio do país euroasiático, e seus moradores recusam o clima de "nova guerra fria" desde que o Kremlin foi acusado de interferir nas eleições de 2016.
"A situação política entre a Rússia e os EUA não é o reflexo do que são esses dois países", diz o padre John Zabinko, 62, neto de russos que se diz apaixonado pelas duas nações. "Sou mais americano, mas o meu 'ser americano' é manter as tradições da minha família", explica. Na sua casa, não faltam as tradicionais "borscht", uma sopa de beterraba, e "pirozhki", uma torta de peixe. "Meu filho faz um ótimo 'kulich' [o pão de páscoa russo]", orgulha-se Zabinko, titular da Catedral Ortodoxa Russa Santo Inocêncio, em Anchorage. O religioso diz tentar não trazer a política para a igreja, mas, quando questionado a respeito das investigações sobre a Rússia, ele não hesita:
"Tenho certeza que eles interferiram nas eleições". "Não acho que seja nada novo, é só porque agora eles foram pegos", completa, rindo. Segundo Zabinko, cerca de 200 fieis frequentam a igreja com as tradicionais cúpulas em forma de bulbo, dos quais três quartos são membros de comunidades nativas do Alasca.
Ainda hoje, bonecas matrioskas e garrafas de vodka estão entre os itens mais populares nas lojas de souvenir.
O técnico de manutenção John Oleksa, 38, descendente de russos e americanos, se diz orgulhoso das tradições "dos dois lados", mas nem sempre foi assim. Ele lembra de, ainda criança, na Guerra Fria, não contar para os colegas de escola no Alasca que iria viajar com os pais para Moscou. "Achava que eles iam pensar que éramos comunistas", conta.
O Alasca começou a ser explorado pelos russos perto de 1780, quando os EUA já tinham declarado independência do Reino Unido. Há 150 anos, decidiram vender o 1,55 milhão de km ; para os americanos por US$ 7,2 milhões (US$ 126 milhões em valores atualizados, ou R$ 392 milhões – US$ 87 por km ). Nacionalistas russos defendem que o Alasca volte a ser território do país e chamam o Estado de "Crimeia Americana", em referência à região ucraniana anexada em 2014. No mesmo ano, uma petição criada no site da Casa Branca pedindo a independência do Alasca dos EUA e sua reanexação à Rússia teve mais de 37 mil assinaturas.
"Os EUA pagaram US$ 7,2 milhões em 1867. Hoje o Alasca gera, em poucas horas, um valor muito maior que esse em produção de petróleo."

TEXTO 4 – Não é somente a Rússia!
A história mostra que os Estados Unidos se valeram muitas vezes da sua condição de superpotência para ditar o comportamento de outros países. Desde a política de intervenção do Big Stick (O Grande Porrete) de Theodore Roosevelt, no começo do século XX, até a invasão do Iraque, 100 anos depois, os americanos eram os diretores da escola mundial, distribuindo tanto conselhos como advertências pela classe. Agora, um de seus melhores alunos já dá palpites na vida dos mestres. A China não se considera mais um mero receptor de discursos de Washington sobre economia - ou democracia. Logo após o rebaixamento da nota dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos pela Standard&Poor’s, no último dia 5, os chineses cobraram mudanças na conduta americana. “A China, o maior credor da única superpotência do mundo, tem todo o direito de exigir que os Estados Unidos resolvam seus problemas estruturais da dívida e garantam a segurança dos ativos chineses em dólares”, afirmou uma nota da agência oficial do país, Xinhua. Horas depois, a Casa Branca se manifestou. Sem mencionar os chineses, o porta-voz Jay Carney admitiu que os EUA “precisam melhorar” na tarefa de enfrentar os problemas de sua economia. Na Guerra Fria que se configura neste século XXI, a voz de Pequim está mais grossa do que nunca.



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